Opinião verdadeira e opinião pública no "Mênon" de Platão.

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Poliseli, Romualdo Vicentin
Data de Publicação: 2003
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8133/tde-20052003-141051/
Resumo: O tema central, enfocado nesta leitura do Mênon de Platão, é a relação entre dóxa alethés e opinião pública. São temas secundários, o ensino da virtude, o contexto político, as matemáticas e a epistéme aplicada à política. A questão nasce da pergunta inicial do diálogo sobre a maneira de adquirir a virtude. Mênon desejava a virtude tal como era concebida em seu meio: a glória, a fama, a boa reputação e, por conseguinte, o poder, ou seja, ele desejava a virtude política. O conturbado processo político da polis rumo à democratização, aliado à noção de virtude como fama, torna evidente a importância da dinamização da opinião pública na luta entre as facções e no reconhecimento da virtude política. Platão admite essa condição da prática política. Segundo o Timeu, o único conhecimento possível do mundo dos sólidos é o conhecimento opiniático. A prática política se desenrola no mundo dos sólidos, portanto é guiada pela opinião. Porém, há opiniões que são verdadeiras e há opiniões que conduzem à aporia, além de serem fugidias, pois o objeto deste tipo de conhecimento são os sólidos, que estão no mundo do devir. O Timeu ensina que o demiurgo tem sempre opiniões verdadeiras sobre o mundo por ele ordenado, porque também repousa os olhos no que é sempre o mesmo, ou seja, ele tem a episteme do que é sempre. O rei-filósofo da República é o demiurgo da cidade; ele tem sempre opiniões verdadeiras na administração da polis, porque tem a episteme. Porém, Platão reconhece, na República, que a verdade conhecida pelo filósofo não pode se efetivar sem a anuência da opinião pública. Freqüentemente, a opinião pública caminha para a aporia, mas não é impossível que chegue ao acerto. É possível conjugar verdade e política. Se a ciência filosófica estiver ausente, resta contar com a proteção divina, que é casual. Sócrates propôs que seu interlocutor procurasse saber o que é a virtude em si. Em razão da aporia de Mênon, Sócrates ensinou o caminho da ciência pela teoria da reminiscência, que principia justamente pelo reconhecimento das aporias. Mênon, porém, não estava disposto a buscar a episteme do filósofo. O último argumento do diálogo conclui que a virtude é opinião verdadeira, que advém por um favor dos deuses. Trata-se de uma segunda via, mais apropriada a Mênon, para manter alguma articulação entre política e verdade. Antes de se despedir, Sócrates avisa Mênon que a investigação deve ser retomada do início.
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spelling Opinião verdadeira e opinião pública no "Mênon" de Platão.True opinion and public opinion in Plato's Meno.Greek political theoryMenoMênonopinião públicaopinião verdadeiraPlatãoPlatopublic opinionteoria política gregatrue opinionO tema central, enfocado nesta leitura do Mênon de Platão, é a relação entre dóxa alethés e opinião pública. São temas secundários, o ensino da virtude, o contexto político, as matemáticas e a epistéme aplicada à política. A questão nasce da pergunta inicial do diálogo sobre a maneira de adquirir a virtude. Mênon desejava a virtude tal como era concebida em seu meio: a glória, a fama, a boa reputação e, por conseguinte, o poder, ou seja, ele desejava a virtude política. O conturbado processo político da polis rumo à democratização, aliado à noção de virtude como fama, torna evidente a importância da dinamização da opinião pública na luta entre as facções e no reconhecimento da virtude política. Platão admite essa condição da prática política. Segundo o Timeu, o único conhecimento possível do mundo dos sólidos é o conhecimento opiniático. A prática política se desenrola no mundo dos sólidos, portanto é guiada pela opinião. Porém, há opiniões que são verdadeiras e há opiniões que conduzem à aporia, além de serem fugidias, pois o objeto deste tipo de conhecimento são os sólidos, que estão no mundo do devir. O Timeu ensina que o demiurgo tem sempre opiniões verdadeiras sobre o mundo por ele ordenado, porque também repousa os olhos no que é sempre o mesmo, ou seja, ele tem a episteme do que é sempre. O rei-filósofo da República é o demiurgo da cidade; ele tem sempre opiniões verdadeiras na administração da polis, porque tem a episteme. Porém, Platão reconhece, na República, que a verdade conhecida pelo filósofo não pode se efetivar sem a anuência da opinião pública. Freqüentemente, a opinião pública caminha para a aporia, mas não é impossível que chegue ao acerto. É possível conjugar verdade e política. Se a ciência filosófica estiver ausente, resta contar com a proteção divina, que é casual. Sócrates propôs que seu interlocutor procurasse saber o que é a virtude em si. Em razão da aporia de Mênon, Sócrates ensinou o caminho da ciência pela teoria da reminiscência, que principia justamente pelo reconhecimento das aporias. Mênon, porém, não estava disposto a buscar a episteme do filósofo. O último argumento do diálogo conclui que a virtude é opinião verdadeira, que advém por um favor dos deuses. Trata-se de uma segunda via, mais apropriada a Mênon, para manter alguma articulação entre política e verdade. Antes de se despedir, Sócrates avisa Mênon que a investigação deve ser retomada do início. The central theme which has been put into focus by this reading of Meno is the relation between dóxa alethés and public opinion. The teaching of virtue, the public context, the mathematics and the epistéme applied to politics offer themselves as secondary themes. The question emerges from the initial question of the dialog about how virtue can be acquired. Meno longed for the virtue as it was conceived within its medium: glory, fame, good reputation and, therefore, power; he desired, in other words, the political virtue. The disturbed political process of the polis towards democracy makes clear - together with virtue as fame – the importance of the dynamism of public opinion in the struggle between factions and within the acknowledgment of political virtue. Plato acknowledges these conditions amongst practical politics. According to Timaeus, the only possible knowledge of the world of solids is the opinionated knowledge. The political practice develops itself within the world of solids, and is therefore guided by opinion. However, there are true opinions and opinions which take us to aporia and which are, moreover, quite fleeting – because their object are the solids, which found themselves within the world of becoming. Timaeus also teaches us that the demiurge has always true opinions about the world he has arranged - because he looks at that which never changes, i. e., he holds the epistéme of that which always is. The king-philosopher of the Republic is, so to say, the city’s demiurge; he always has true opinions about the management of the polis - because he holds the epistéme. Nevertheless, Plato acknowledges in the Republic that the truth granted by the philosopher cannot accomplish itself without the consent of public opinion. Frequently, the public opinion leads to aporia but, on the other hand, is not impossible to it to succeed. It is possible to coordinate truth and politics. Without philosophical science, we can only rely on the divine protection, which happens to be fortuitous. Socrates has put forth that his interlocutor should try to learn what virtue in itself is. Due to Meno's aporia, Socrates has taught the way to science through the theory of reminiscence, which sets off precisely from the recognition of the aporia. Meno, however, was not willing to search the philosophical epistéme. The last argument of the dialog ends up saying that virtue is the true opinion – which is granted by a favor of gods. It happens to be a second road - much more appropriated to Meno – in order to keep politics and truth well-connected. Before signing off, Socrates tells Meno that the search must be considered from the start.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPWatanabe, Lygia AraujoPoliseli, Romualdo Vicentin2003-04-22info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8133/tde-20052003-141051/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2016-07-28T16:08:16Zoai:teses.usp.br:tde-20052003-141051Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212016-07-28T16:08:16Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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