Captura e reconfiguração do jornalismo digital independente e alternativo: o papel da filantropia das fundações internacionais
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2024 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
Texto Completo: | https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27164/tde-02072024-122316/ |
Resumo: | Esta tese trata da investigação do financiamento do jornalismo digital independente e alternativo no Brasil por fundações filantrópicas internacionais. Há, na contemporaneidade, um investimento crescente de recursos financeiros, bem como de recursos imateriais representados por fomentos a capacitações profissionais e outros tipos de articulações, advindos sobretudo de fundações internacionais, institutos nacionais e empresas de plataformas direcionados ao jornalismo realizado fora do circuito mainstream. Temos como premissa que o investimento de caráter filantrópico advindo das potências globais ocidentais é representativo de práticas hegemônicas com função determinada na reprodução social do valor, propagação ideológica e consequente manutenção da forma econômica, política e sociocultural capitalista, com caráter intrinsecamente imperialista. Levantamos a hipótese de que no Brasil, o jornalismo digital independente e alternativo passa por um processo de captura e reconfiguração, no qual suas práticas de organização e gestão do trabalho e da comunicação são potencialmente determinadas pelas estruturas de financiamento filantrópico. Nosso objetivo é identificar como as estratégias de investimento filantrópico impactam a constituição destas mídias e suas condições de produção, tendo como objeto particular a articulação e o financiamento especificamente proveniente de fundações privadas internacionais. Desse modo, duas questões de pesquisa mobilizaram o arcabouço teórico e empírico da tese, a saber: por quais mecanismos a filantropia captura e reconfigura a produção jornalística digital independente e alternativa? e; quais aspectos na formatação dessa produção indicam sua reconfiguração? Para respondê-las, adotamos uma abordagem empírica multimétodos que consiste, primeiramente, no mapeamento de informações online. O segundo método destacado é a identificação dos financiadores e a respectiva análise de seus bancos de dados públicos a partir de um recorte temporal entre os anos de 2020 e 2023. Foram, então, selecionados para o estudo as seguintes instituições: Open Society Foundations, Ford Foundation, Luminate, Oak Foundation e Fundação Heinrich Böll. Para complementar o levantamento, foram realizadas entrevistas semiestruturadas de caráter institucional com representantes tanto dos financiadores quanto dos favorecidos. Os resultados apontam a existência, no período, de 93 projetos distribuídos em 40 organizações, totalizando 17 milhões de dólares investidos. Observou-se, ainda, que estes valores são subestimados, tendo em vista a perda do rastro de investimento quando não há dados públicos ou quando são repassados para organizações intermediárias. Identificamos a existência de uma rede de poder, formada a partir da articulação conjunta entre os financiadores. A captura e a reconfiguração do jornalismo operam por meio da normatização e padronização de práticas e discursos, bem como da distribuição de papéis entre as instituições favorecidas, com atenção particular aos intermediários de financiamento e de articulação. Há, como efeito desse processo, a naturalização da formas sem fins lucrativos e crescente onguização do jornalismo. Concluímos que a reconfiguração do setor é mobilizada por estratégias filantrópicas, mas não apenas, e compõe parte de um movimento maior de plataformização do jornalismo. |
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Há, na contemporaneidade, um investimento crescente de recursos financeiros, bem como de recursos imateriais representados por fomentos a capacitações profissionais e outros tipos de articulações, advindos sobretudo de fundações internacionais, institutos nacionais e empresas de plataformas direcionados ao jornalismo realizado fora do circuito mainstream. Temos como premissa que o investimento de caráter filantrópico advindo das potências globais ocidentais é representativo de práticas hegemônicas com função determinada na reprodução social do valor, propagação ideológica e consequente manutenção da forma econômica, política e sociocultural capitalista, com caráter intrinsecamente imperialista. Levantamos a hipótese de que no Brasil, o jornalismo digital independente e alternativo passa por um processo de captura e reconfiguração, no qual suas práticas de organização e gestão do trabalho e da comunicação são potencialmente determinadas pelas estruturas de financiamento filantrópico. Nosso objetivo é identificar como as estratégias de investimento filantrópico impactam a constituição destas mídias e suas condições de produção, tendo como objeto particular a articulação e o financiamento especificamente proveniente de fundações privadas internacionais. Desse modo, duas questões de pesquisa mobilizaram o arcabouço teórico e empírico da tese, a saber: por quais mecanismos a filantropia captura e reconfigura a produção jornalística digital independente e alternativa? e; quais aspectos na formatação dessa produção indicam sua reconfiguração? Para respondê-las, adotamos uma abordagem empírica multimétodos que consiste, primeiramente, no mapeamento de informações online. O segundo método destacado é a identificação dos financiadores e a respectiva análise de seus bancos de dados públicos a partir de um recorte temporal entre os anos de 2020 e 2023. Foram, então, selecionados para o estudo as seguintes instituições: Open Society Foundations, Ford Foundation, Luminate, Oak Foundation e Fundação Heinrich Böll. Para complementar o levantamento, foram realizadas entrevistas semiestruturadas de caráter institucional com representantes tanto dos financiadores quanto dos favorecidos. Os resultados apontam a existência, no período, de 93 projetos distribuídos em 40 organizações, totalizando 17 milhões de dólares investidos. Observou-se, ainda, que estes valores são subestimados, tendo em vista a perda do rastro de investimento quando não há dados públicos ou quando são repassados para organizações intermediárias. Identificamos a existência de uma rede de poder, formada a partir da articulação conjunta entre os financiadores. A captura e a reconfiguração do jornalismo operam por meio da normatização e padronização de práticas e discursos, bem como da distribuição de papéis entre as instituições favorecidas, com atenção particular aos intermediários de financiamento e de articulação. Há, como efeito desse processo, a naturalização da formas sem fins lucrativos e crescente onguização do jornalismo. Concluímos que a reconfiguração do setor é mobilizada por estratégias filantrópicas, mas não apenas, e compõe parte de um movimento maior de plataformização do jornalismo.This thesis investigates the funding of independent and alternative digital journalism in Brazil by international philanthropic foundations. In contemporary times, there is a growing investment of financial resources, as well immaterial resources represented by professional training and other types of articulations, mainly from international foundations, national institutes, and platform companies directed towards journalism conducted outside the mainstream circuit. We premise that philanthropic investment from Western global powers is representative of hegemonic practices with a specific function in the social reproduction of value, ideological propagation, and consequent maintenance of the capitalist economic, political, and socio-cultural form, with an inherently imperialistic character. We hypothesize that in Brazil, independent and alternative digital journalism undergoes a process of capture and reconfiguration, in which its organizational and labor management practices are potentially determined by philanthropic funding structures. Our objective is to identify how philanthropic investment strategies impact the constitution of these media and their production conditions, with a research focus on the articulation and funding specifically from international private foundations. Thus, two key research questions mobilized the theoretical and empirical framework of the thesis, namely: through which mechanisms does philanthropy capture and reconfigure independent and alternative digital journalistic production? and which aspects in the formatting of this production indicate its reconfiguration? To answer them, we adopted a multimethod empirical approach consisting firstly of mapping online information. The second highlighted method is the identification of funders and the respective analysis of their public grants databases from a time frame between 2020 and 2023. The following foundations were selected for the study: Open Society Foundations, Ford Foundation, Luminate, Oak Foundation, and Heinrich Böll Foundation. To complement the investigation, institutional semi-structured interviews were conducted with representatives of both funders and recipients. The results indicate the existence, during the period, of 93 projects distributed among 40 organizations, totaling 17 million dollars invested. It was also observed that this amount is underestimated, considering the loss of investment trace when there are no public data or when they are passed on to intermediary organizations. We identified the existence of a power network formed from joint articulation among funders. The capture and reconfiguration of journalism operate through the standardization of practices and discourses, as well as the distribution of roles among favored institutions, with particular attention to funding and articulation intermediaries. As a result of this process, there is a naturalization of the non-profit form and a growing NGO-ization of journalism. We conclude that the sector\'s reconfiguration is mobilized by philanthropic strategies, but not solely, and it constitutes part of a larger movement towards the platformization of journalism.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPPaulino, Roseli Aparecida FigaroCamargo, Camila Acosta2024-06-14info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27164/tde-02072024-122316/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2024-08-22T20:25:02Zoai:teses.usp.br:tde-02072024-122316Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212024-08-22T20:25:02Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false |
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Esta tese trata da investigação do financiamento do jornalismo digital independente e alternativo no Brasil por fundações filantrópicas internacionais. Há, na contemporaneidade, um investimento crescente de recursos financeiros, bem como de recursos imateriais representados por fomentos a capacitações profissionais e outros tipos de articulações, advindos sobretudo de fundações internacionais, institutos nacionais e empresas de plataformas direcionados ao jornalismo realizado fora do circuito mainstream. Temos como premissa que o investimento de caráter filantrópico advindo das potências globais ocidentais é representativo de práticas hegemônicas com função determinada na reprodução social do valor, propagação ideológica e consequente manutenção da forma econômica, política e sociocultural capitalista, com caráter intrinsecamente imperialista. Levantamos a hipótese de que no Brasil, o jornalismo digital independente e alternativo passa por um processo de captura e reconfiguração, no qual suas práticas de organização e gestão do trabalho e da comunicação são potencialmente determinadas pelas estruturas de financiamento filantrópico. Nosso objetivo é identificar como as estratégias de investimento filantrópico impactam a constituição destas mídias e suas condições de produção, tendo como objeto particular a articulação e o financiamento especificamente proveniente de fundações privadas internacionais. Desse modo, duas questões de pesquisa mobilizaram o arcabouço teórico e empírico da tese, a saber: por quais mecanismos a filantropia captura e reconfigura a produção jornalística digital independente e alternativa? e; quais aspectos na formatação dessa produção indicam sua reconfiguração? Para respondê-las, adotamos uma abordagem empírica multimétodos que consiste, primeiramente, no mapeamento de informações online. O segundo método destacado é a identificação dos financiadores e a respectiva análise de seus bancos de dados públicos a partir de um recorte temporal entre os anos de 2020 e 2023. Foram, então, selecionados para o estudo as seguintes instituições: Open Society Foundations, Ford Foundation, Luminate, Oak Foundation e Fundação Heinrich Böll. Para complementar o levantamento, foram realizadas entrevistas semiestruturadas de caráter institucional com representantes tanto dos financiadores quanto dos favorecidos. Os resultados apontam a existência, no período, de 93 projetos distribuídos em 40 organizações, totalizando 17 milhões de dólares investidos. Observou-se, ainda, que estes valores são subestimados, tendo em vista a perda do rastro de investimento quando não há dados públicos ou quando são repassados para organizações intermediárias. Identificamos a existência de uma rede de poder, formada a partir da articulação conjunta entre os financiadores. A captura e a reconfiguração do jornalismo operam por meio da normatização e padronização de práticas e discursos, bem como da distribuição de papéis entre as instituições favorecidas, com atenção particular aos intermediários de financiamento e de articulação. Há, como efeito desse processo, a naturalização da formas sem fins lucrativos e crescente onguização do jornalismo. Concluímos que a reconfiguração do setor é mobilizada por estratégias filantrópicas, mas não apenas, e compõe parte de um movimento maior de plataformização do jornalismo. |
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