Os conteúdos sociais da crise ecológica: a reprodução do espaço urbano e a ocupação da Guarapiranga

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Bertolotti, Frederico
Data de Publicação: 2011
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8136/tde-15062011-083921/
Resumo: O objetivo central do trabalho repousa na tese de que a crise ecológica tem um conteúdo eminentemente social. Para tanto, localizamos a problemática da ocupação das áreas de mananciais da represa Guarapiranga na história da produção do espaço urbano capitalista na metrópole de São Paulo. Realizamos um percurso teórico usando o método regressivo-progressivo como caminho necessário para localizar a problemática dos mananciais no seio dos conteúdos da produção do espaço urbano, possibilitando destacar os fundamentos, processos e contradições sociais obscurecidos pela ótica que representa e reduz a problemática dos mananciais a uma questão ecológica. Nos dedicamos a entender a natureza desse fenômeno social, tentando desvendar os processos, sujeitos e contradições que justificaram a formação e expansão da periferia urbana em todas as direções dos extremos da metrópole de São Paulo; nas últimas décadas essa expansão vem promovendo a ocupação das áreas do entorno da Guarapiranga. Também nos empenhamos criticamente sobre a representação da crise de abastecimento hídrico, na qual buscamos desmistificar a linha de pensamento que responsabiliza os moradores pobres das áreas de mananciais pela crise de abastecimento hídrico. A pesquisa demonstrou que a formação e expansão da periferia urbana de São Paulo foi um dos resultados da industrialização na primeira parte do século XX e mantevese nas últimas décadas, quando a indústria foi perdendo hegemonia como principal pólo indutor da acumulação capitalista na capital paulistana, sendo substituída parcialmente pelo setor terciário moderno - capitaneado pelo capital financeiro. O processo de constituição da maior metrópole do país deu-se assentado em relações sociais contraditórias, resultando numa urbanização que não apenas reforçou as contradições sociais derivadas da introdução das relações capitalistas de produção, como elevou-as a patamares superiores, na condição de contradições do espaço. A ocupação das áreas de mananciais utilizadas no abastecimento público na região sul é resultado direto da lógica de acumulação que se consolidou em São Paulo, promotora da precarização do trabalho, por um lado, e da valorização do espaço por outro, resultando na deterioração das condições de vida da classe trabalhadora ao promover a segregação sócio-espacial e a deterioração das condições ambientais da cidade, ao forçar grande parte da população a habitar nas áreas menos valorizadas, em boa parte localizadas nas áreas de proteção ambiental. A representação hegemônica desse fenômeno reforça uma ideologia que responsabiliza o morador de periferia pela crise de água para o abastecimento público, obscurecendo todas as contradições e fundamentos que estão na base do processo de urbanização, os interesses do setor imobiliário num dos últimos recantos de natureza da metrópole e também joga uma cortina de fumaça sobre as diferentes estratégias envolvidas na utilização dos recursos hídricos da bacia do Alto Tietê. A pesquisa revelou que a crise de abastecimento hídrico resulta, sobretudo, das estratégias do setor energético na bacia, da gestão dos serviços de saneamento básico na metrópole e do estabelecimento da água como mais uma mercadoria a serviço da diferenciação social através do consumo.
id USP_58f3c48348265b49db18b316a08ce107
oai_identifier_str oai:teses.usp.br:tde-15062011-083921
network_acronym_str USP
network_name_str Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
repository_id_str 2721
spelling Os conteúdos sociais da crise ecológica: a reprodução do espaço urbano e a ocupação da GuarapirangaThe social contents of the ecological crisis: the reproduction of the urban space and the occupation of GuarapirangaAbastecimento hídricoIndústriaIndustryMananciaisPeriferia urbanaProduçãoProductionReproduçãoReproductionSpringsUrban peripheryWater supplyO objetivo central do trabalho repousa na tese de que a crise ecológica tem um conteúdo eminentemente social. Para tanto, localizamos a problemática da ocupação das áreas de mananciais da represa Guarapiranga na história da produção do espaço urbano capitalista na metrópole de São Paulo. Realizamos um percurso teórico usando o método regressivo-progressivo como caminho necessário para localizar a problemática dos mananciais no seio dos conteúdos da produção do espaço urbano, possibilitando destacar os fundamentos, processos e contradições sociais obscurecidos pela ótica que representa e reduz a problemática dos mananciais a uma questão ecológica. Nos dedicamos a entender a natureza desse fenômeno social, tentando desvendar os processos, sujeitos e contradições que justificaram a formação e expansão da periferia urbana em todas as direções dos extremos da metrópole de São Paulo; nas últimas décadas essa expansão vem promovendo a ocupação das áreas do entorno da Guarapiranga. Também nos empenhamos criticamente sobre a representação da crise de abastecimento hídrico, na qual buscamos desmistificar a linha de pensamento que responsabiliza os moradores pobres das áreas de mananciais pela crise de abastecimento hídrico. A pesquisa demonstrou que a formação e expansão da periferia urbana de São Paulo foi um dos resultados da industrialização na primeira parte do século XX e mantevese nas últimas décadas, quando a indústria foi perdendo hegemonia como principal pólo indutor da acumulação capitalista na capital paulistana, sendo substituída parcialmente pelo setor terciário moderno - capitaneado pelo capital financeiro. O processo de constituição da maior metrópole do país deu-se assentado em relações sociais contraditórias, resultando numa urbanização que não apenas reforçou as contradições sociais derivadas da introdução das relações capitalistas de produção, como elevou-as a patamares superiores, na condição de contradições do espaço. A ocupação das áreas de mananciais utilizadas no abastecimento público na região sul é resultado direto da lógica de acumulação que se consolidou em São Paulo, promotora da precarização do trabalho, por um lado, e da valorização do espaço por outro, resultando na deterioração das condições de vida da classe trabalhadora ao promover a segregação sócio-espacial e a deterioração das condições ambientais da cidade, ao forçar grande parte da população a habitar nas áreas menos valorizadas, em boa parte localizadas nas áreas de proteção ambiental. A representação hegemônica desse fenômeno reforça uma ideologia que responsabiliza o morador de periferia pela crise de água para o abastecimento público, obscurecendo todas as contradições e fundamentos que estão na base do processo de urbanização, os interesses do setor imobiliário num dos últimos recantos de natureza da metrópole e também joga uma cortina de fumaça sobre as diferentes estratégias envolvidas na utilização dos recursos hídricos da bacia do Alto Tietê. A pesquisa revelou que a crise de abastecimento hídrico resulta, sobretudo, das estratégias do setor energético na bacia, da gestão dos serviços de saneamento básico na metrópole e do estabelecimento da água como mais uma mercadoria a serviço da diferenciação social através do consumo.The central objective of the study focuses on the theory that the ecological crisis has an eminently social content. To this end, we find problematic occupation of the watershed areas of Guarapirangas reservoir in the history of capitalist production of urban space in the metropolis of Sao Paulo. We performed a theoretical route using the regressive-progressive method as necessary way to locate the problem of water sources within the content production of urban space, allowing to highlight the fundamentals, processes and social contradictions obscured by the perspective that represents and reduces the problem of the watershed to an ecological issue. We have dedicated to understanding the nature of this social phenomenon, trying to unravel the processes, subjects and contradictions that justified the creation and expansion of the urban periphery in all directions of the extremes of the metropolis of Sao Paulo; this expansion in recent decades has been promoting the occupation of Guarapirangas surroundings. We also endeavored critically on the representation of the water supply crisis in which we seek to demystify the line of thought that blames the poor residents of the watershed areas by the water supply crisis. The research showed that the formation and expansion of the urban periphery of Sao Paulo was an outcome of industrialization in the first part of the twentieth century and remained in recent decades, when the industry was losing hegemony as the primary inductor pole of capitalist accumulation in the capital city, being partially replaced by modern tertiary sector - headed by finance capital. The process of constituting the largest metropolis in the country was based on the contradictory social relations, resulting in a development that not only strengthened the social contradictions arising from the introduction of capitalist relations of production, but also rose them to upper levels, on the condition of contradictions of space. The occupation of the watershed areas used for public supply in the southern region is a direct result of the logic of accumulation that was consolidated in Sao Paulo, the promoter of precarious employment on the one hand, and the valuation of space on the other, resulting in deterioration of life conditions of the working class by promoting the socio-spatial segregation and deterioration of environmental conditions in the city, forcing much of the population live in areas less valued, largely located in areas of environmental protection. The hegemonic representation of this phenomenon reinforces an ideology that blames the resident of the periphery by the crisis of water for public supply, obscuring all the contradictions and fundamentals that underlie the process of urbanization, the interests of real estate in one of the past \"nooks of nature\" of the metropolis and also throws a pall over the different strategies involved in the use of water resources in the basin of Alto Tietê. The survey has revealed that the water supply crisis results mainly from the energy sector strategies in the basin, from the management of basic sanitation services in the metropolis and from the establishment of water as another commodity in the service of social differentiation through consumption.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPCarlos, Ana Fani AlessandriBertolotti, Frederico2011-02-02info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8136/tde-15062011-083921/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2016-07-28T16:10:29Zoai:teses.usp.br:tde-15062011-083921Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212016-07-28T16:10:29Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
dc.title.none.fl_str_mv Os conteúdos sociais da crise ecológica: a reprodução do espaço urbano e a ocupação da Guarapiranga
The social contents of the ecological crisis: the reproduction of the urban space and the occupation of Guarapiranga
title Os conteúdos sociais da crise ecológica: a reprodução do espaço urbano e a ocupação da Guarapiranga
spellingShingle Os conteúdos sociais da crise ecológica: a reprodução do espaço urbano e a ocupação da Guarapiranga
Bertolotti, Frederico
Abastecimento hídrico
Indústria
Industry
Mananciais
Periferia urbana
Produção
Production
Reprodução
Reproduction
Springs
Urban periphery
Water supply
title_short Os conteúdos sociais da crise ecológica: a reprodução do espaço urbano e a ocupação da Guarapiranga
title_full Os conteúdos sociais da crise ecológica: a reprodução do espaço urbano e a ocupação da Guarapiranga
title_fullStr Os conteúdos sociais da crise ecológica: a reprodução do espaço urbano e a ocupação da Guarapiranga
title_full_unstemmed Os conteúdos sociais da crise ecológica: a reprodução do espaço urbano e a ocupação da Guarapiranga
title_sort Os conteúdos sociais da crise ecológica: a reprodução do espaço urbano e a ocupação da Guarapiranga
author Bertolotti, Frederico
author_facet Bertolotti, Frederico
author_role author
dc.contributor.none.fl_str_mv Carlos, Ana Fani Alessandri
dc.contributor.author.fl_str_mv Bertolotti, Frederico
dc.subject.por.fl_str_mv Abastecimento hídrico
Indústria
Industry
Mananciais
Periferia urbana
Produção
Production
Reprodução
Reproduction
Springs
Urban periphery
Water supply
topic Abastecimento hídrico
Indústria
Industry
Mananciais
Periferia urbana
Produção
Production
Reprodução
Reproduction
Springs
Urban periphery
Water supply
description O objetivo central do trabalho repousa na tese de que a crise ecológica tem um conteúdo eminentemente social. Para tanto, localizamos a problemática da ocupação das áreas de mananciais da represa Guarapiranga na história da produção do espaço urbano capitalista na metrópole de São Paulo. Realizamos um percurso teórico usando o método regressivo-progressivo como caminho necessário para localizar a problemática dos mananciais no seio dos conteúdos da produção do espaço urbano, possibilitando destacar os fundamentos, processos e contradições sociais obscurecidos pela ótica que representa e reduz a problemática dos mananciais a uma questão ecológica. Nos dedicamos a entender a natureza desse fenômeno social, tentando desvendar os processos, sujeitos e contradições que justificaram a formação e expansão da periferia urbana em todas as direções dos extremos da metrópole de São Paulo; nas últimas décadas essa expansão vem promovendo a ocupação das áreas do entorno da Guarapiranga. Também nos empenhamos criticamente sobre a representação da crise de abastecimento hídrico, na qual buscamos desmistificar a linha de pensamento que responsabiliza os moradores pobres das áreas de mananciais pela crise de abastecimento hídrico. A pesquisa demonstrou que a formação e expansão da periferia urbana de São Paulo foi um dos resultados da industrialização na primeira parte do século XX e mantevese nas últimas décadas, quando a indústria foi perdendo hegemonia como principal pólo indutor da acumulação capitalista na capital paulistana, sendo substituída parcialmente pelo setor terciário moderno - capitaneado pelo capital financeiro. O processo de constituição da maior metrópole do país deu-se assentado em relações sociais contraditórias, resultando numa urbanização que não apenas reforçou as contradições sociais derivadas da introdução das relações capitalistas de produção, como elevou-as a patamares superiores, na condição de contradições do espaço. A ocupação das áreas de mananciais utilizadas no abastecimento público na região sul é resultado direto da lógica de acumulação que se consolidou em São Paulo, promotora da precarização do trabalho, por um lado, e da valorização do espaço por outro, resultando na deterioração das condições de vida da classe trabalhadora ao promover a segregação sócio-espacial e a deterioração das condições ambientais da cidade, ao forçar grande parte da população a habitar nas áreas menos valorizadas, em boa parte localizadas nas áreas de proteção ambiental. A representação hegemônica desse fenômeno reforça uma ideologia que responsabiliza o morador de periferia pela crise de água para o abastecimento público, obscurecendo todas as contradições e fundamentos que estão na base do processo de urbanização, os interesses do setor imobiliário num dos últimos recantos de natureza da metrópole e também joga uma cortina de fumaça sobre as diferentes estratégias envolvidas na utilização dos recursos hídricos da bacia do Alto Tietê. A pesquisa revelou que a crise de abastecimento hídrico resulta, sobretudo, das estratégias do setor energético na bacia, da gestão dos serviços de saneamento básico na metrópole e do estabelecimento da água como mais uma mercadoria a serviço da diferenciação social através do consumo.
publishDate 2011
dc.date.none.fl_str_mv 2011-02-02
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/masterThesis
format masterThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8136/tde-15062011-083921/
url http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8136/tde-15062011-083921/
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.relation.none.fl_str_mv
dc.rights.driver.fl_str_mv Liberar o conteúdo para acesso público.
info:eu-repo/semantics/openAccess
rights_invalid_str_mv Liberar o conteúdo para acesso público.
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.coverage.none.fl_str_mv
dc.publisher.none.fl_str_mv Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
publisher.none.fl_str_mv Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
dc.source.none.fl_str_mv
reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
instname:Universidade de São Paulo (USP)
instacron:USP
instname_str Universidade de São Paulo (USP)
instacron_str USP
institution USP
reponame_str Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
collection Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
repository.name.fl_str_mv Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)
repository.mail.fl_str_mv virginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.br
_version_ 1809090743160012800