Identidade profissional do psicólogo com atuação no Poder Judiciário em São Paulo
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2022 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
Texto Completo: | https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59141/tde-06012023-162237/ |
Resumo: | A Psicologia Jurídica é uma especialidade composta por um conjunto de designações e subáreas interessadas no comportamento humano em interlocução com o Direito e a lei. Como campo de atuação profissional, no Brasil, teve suas bases genealógicas associadas à análise de testemunhos e à aplicação da ciência psicológica aos interesses do Direito, tomando por princípio a busca pela verdade de fatos tal como requerida pelos atos processuais. A demanda pela produção de peças técnico-científicas para subsidiar a ação do Poder Judiciário permanece no bojo de atribuições levadas aos psicólogos, seja pelo tradicional instituto da perícia psicológica, seja por procedimentos mais recentes no contexto brasileiro, como a inquirição de crianças e adolescentes. Esse enquadre histórico e institucional levanta questões sobre a configuração de identidades de psicólogos judiciários, na medida que a área incide no ser e no fazer profissional. Para este estudo, buscou-se subsídio na Teoria da Construção de Si de Jean Guichard, pela qual a identidade decorre de atribuições sociais que são processadas cognitivamente e, por fim, subjetivadas num sistema dinâmico que oportuniza uma interpretação de si, e na Sociologia das Identidades Profissionais de Claude Dubar, que compreende o autoconceito profissional emergente de um processo de socialização consistente da dualidade de processos biográficos e de reconhecimento do trabalho por instituições. Esta investigação objetivou conhecer os processos de construção da identidade profissional dos psicólogos judiciários que atuam no Tribunal de Justiça de São Paulo e, de forma subsidiária, compreender os processos de construção e de negociação identitária na pertença institucional e profissional. Para tanto, foram realizados dois estudos. O primeiro se deu por levantamento de informações sobre o campo de atuação de 95 psicólogos judiciários, tendo os dados sido analisados por meio de estatística descritiva. O segundo se constituiu de um conjunto de entrevistas com nove participantes daquele primeiro estudo. Os dados foram submetidos à análise de conteúdo de Laurence Bardin e com o apoio do software MAXQDA 2022 Analytics Pro. Os resultados permitiram notar que os psicólogos judiciários se identificam como uma categoria de um ofício intelectualizado e que procura no trabalho técnico-científico uma forma de afirmar sua singularidade no campo do Direito, permitindo que o Tribunal de Justiça seja uma fonte identitária, muito embora haja atribuições que extrapolam os limites da autonomia profissional e dos próprios contornos da Psicologia, produzindo contra-identidades. O Depoimento Especial foi referido como atribuição que exorbita as possibilidades de os psicólogos se verem no exercício da profissão. Foi possível também reunir indicativos de que a categoria tende a se sentir atacada em sua identidade profissional mais frequentemente nas ingerências à forma de atender do que quando tópicos propostos pelo Direito não são reconhecíveis pela ciência psicológica. Discute-se que, muito embora o campo da Psicologia Jurídica já esteja consolidado enquanto especialidade, as disputas em torno da verdade desvelam um processo de crise identitária que impõe riscos a sua profissionalidade. Propõe-se que os psicólogos judiciários possam participar da elaboração da atribuição do trabalho prescrito para poderem se reconhecer nas funções para além do aspecto da empregabilidade. |
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Identidade profissional do psicólogo com atuação no Poder Judiciário em São PauloPracticer psychologist´s professional identity on São Paulo Law Court of JusticeForensic psychologyIdentidade profissionalLegal psychologyProfessional identityPsicologia forensePsicologia jurídicaA Psicologia Jurídica é uma especialidade composta por um conjunto de designações e subáreas interessadas no comportamento humano em interlocução com o Direito e a lei. Como campo de atuação profissional, no Brasil, teve suas bases genealógicas associadas à análise de testemunhos e à aplicação da ciência psicológica aos interesses do Direito, tomando por princípio a busca pela verdade de fatos tal como requerida pelos atos processuais. A demanda pela produção de peças técnico-científicas para subsidiar a ação do Poder Judiciário permanece no bojo de atribuições levadas aos psicólogos, seja pelo tradicional instituto da perícia psicológica, seja por procedimentos mais recentes no contexto brasileiro, como a inquirição de crianças e adolescentes. Esse enquadre histórico e institucional levanta questões sobre a configuração de identidades de psicólogos judiciários, na medida que a área incide no ser e no fazer profissional. Para este estudo, buscou-se subsídio na Teoria da Construção de Si de Jean Guichard, pela qual a identidade decorre de atribuições sociais que são processadas cognitivamente e, por fim, subjetivadas num sistema dinâmico que oportuniza uma interpretação de si, e na Sociologia das Identidades Profissionais de Claude Dubar, que compreende o autoconceito profissional emergente de um processo de socialização consistente da dualidade de processos biográficos e de reconhecimento do trabalho por instituições. Esta investigação objetivou conhecer os processos de construção da identidade profissional dos psicólogos judiciários que atuam no Tribunal de Justiça de São Paulo e, de forma subsidiária, compreender os processos de construção e de negociação identitária na pertença institucional e profissional. Para tanto, foram realizados dois estudos. O primeiro se deu por levantamento de informações sobre o campo de atuação de 95 psicólogos judiciários, tendo os dados sido analisados por meio de estatística descritiva. O segundo se constituiu de um conjunto de entrevistas com nove participantes daquele primeiro estudo. Os dados foram submetidos à análise de conteúdo de Laurence Bardin e com o apoio do software MAXQDA 2022 Analytics Pro. Os resultados permitiram notar que os psicólogos judiciários se identificam como uma categoria de um ofício intelectualizado e que procura no trabalho técnico-científico uma forma de afirmar sua singularidade no campo do Direito, permitindo que o Tribunal de Justiça seja uma fonte identitária, muito embora haja atribuições que extrapolam os limites da autonomia profissional e dos próprios contornos da Psicologia, produzindo contra-identidades. O Depoimento Especial foi referido como atribuição que exorbita as possibilidades de os psicólogos se verem no exercício da profissão. Foi possível também reunir indicativos de que a categoria tende a se sentir atacada em sua identidade profissional mais frequentemente nas ingerências à forma de atender do que quando tópicos propostos pelo Direito não são reconhecíveis pela ciência psicológica. Discute-se que, muito embora o campo da Psicologia Jurídica já esteja consolidado enquanto especialidade, as disputas em torno da verdade desvelam um processo de crise identitária que impõe riscos a sua profissionalidade. Propõe-se que os psicólogos judiciários possam participar da elaboração da atribuição do trabalho prescrito para poderem se reconhecer nas funções para além do aspecto da empregabilidade.Legal Psychology is an especialty area arrenged by a set of definitions and sub-disciplines focused on human behavior on interface with Law and Justice. As a field of professional practice, its epistemological basis is related to testimony analisys and Applied Psychology to the interests of Law, assuming as a principle the search of factual truth as it is notice on lawsuits and in justice courts. The demand for technical and cientifical assets to support the Justice System remains within forensic psychologists responsabilities, wether on psychological expert testimonies or, more recently, on child and adolescent inquisition proceedings. That historical and institutional background addresses issues on how forensic psychologists configure their professional identity, as Legal Psychology definitions may define professional ways of being and working on the area. In order to engage the present investigation, we sought theorical support on Jean Guichard´s Self-Construction Theory, which states that identity comes from social offers that are cognitively processed on a certain view of oneself, and also on Claude Dubar´s Sociology of Professional Identities, which states that professional identities emerge from a socialization process that considers the duality set by biographical referentials and also by the recognition from institutions and social groups. The current study sought to comprehend the professional identity development processes by forensic psychologists that work on São Paulo Law Court and, on second place, understand indentity construction and mediation processes that take part on organizational and professional belongings. In order to accomplish that, two studies were designed. The first study was a data collection survey with 95 forensic psychologists about their practice. Data analysis was supported by descriptive statistics. The second study was based on a set of interviews with nine of the survey participants. Data was submitted to Laurence Bardin´s Content Analysis with MAXQDA 2022 Analytics Pro application support. Results allow to aknowledge that forensic psychologists presents themselves as a professional category with a intellectualized work that seeks on a technical-cientific expertise some sort of recognition and a way to stand its singularity within Law, enabling the Law Court itself as an identity source, though there are demands and tasks that exorbitate their professional identity limits and Psychology´s outlines as well, producing counter-identities. Brazil´s Special Testimony was pointed as a procedure that breaksthrough psychologists possibilities to pay alligiance to their professional practice. It was possible to gather evidence that psychologists tend to feel that their professional identity is under attack more often when law institution intervene in the way they attend the public users than when topics from outside Psychology domains are proposed. We discuss that although Legal Psychology field has gained strength as a specialty, disputes concerning the construction of the truth by legal actions reveal an identity crisis that may keep them off of Psychology profissionality itself. We propose that forensic psychologists should take part on the development of institutional assignments as a way to see themselves on their own work beyond a simple sense of employability.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPSilva, Lucy Leal MeloNakamura, Carlos Renato2022-12-07info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59141/tde-06012023-162237/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2023-01-09T12:48:33Zoai:teses.usp.br:tde-06012023-162237Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212023-01-09T12:48:33Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false |
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