Percepção e aprendizagem no Museu de Zoologia: uma análise das conversas dos visitantes

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Natalia Ferreira Campos
Data de Publicação: 2013
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://doi.org/10.11606/D.81.2013.tde-22072014-165445
Resumo: Este trabalho apresenta uma análise de aspectos da aprendizagem presentes nas conversas de visitantes adultos em uma exposição de zoologia. Adotamos a perspectiva sociocultural de aprendizagem e desenvolvimento de Vigotski (2009), segundo a qual o uso da linguagem é entendido como forma de compartilhar e desenvolver conhecimentos conjuntamente, mas também como ferramenta que orienta os processos psicológicos internos do indivíduo. Nesse sentido exploramos o processo cognitivo de percepção verbalizada, ou seja, mediada pela linguagem (VIGOTSKI, 2009; LURIA, 1970), além da aprendizagem colaborativa entre pares (MERCER, 2000). Nosso objetivo foi analisar como a linguagem verbalizada é utilizada na interação para qualificar e ampliar as percepções sobre os elementos da exposição e para construir significados conjuntamente sobre os objetos e conteúdos apresentados. Para isso, buscamos caracterizar as conversas dos sujeitos ao longo da exposição por meio da análise das operações epistêmicas realizadas na fala e também das formas de interação como caracterizadas por Mercer (2000) (conversas acumulativas, disputativas e exploratórias). As operações epistêmicas foram organizadas em três grupos: operações dirigidas pela percepção; operações de conexão com conhecimentos e experiências; e operações de maior elaboração conceitual. Nossos sujeitos foram adultos, integrantes do ensino médio na modalidade Educação de Jovens e Adultos, visitando em duplas a exposição Fauna da América do Sul, que é centrada na apresentação de animais preservados e dioramas de ambientes naturais, do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, em agosto de 2011. Observou-se que a maior parte das conversas se desenvolveu de forma colaborativa para aprendizagem, em geral com construção positiva, mas não crítica, dos parceiros sobre as falas uns dos outros (conversas acumulativas), sendo raras as conversas centradas na argumentação de pontos divergentes (exploratórias). Durante as visitas as conversas foram majoritariamente centradas em elementos da exposição, indicando a atratividade dos objetos. Por meio das operações epistêmicas de Nomeação, Apontamento, Afetividade e Caracterização os sujeitos direcionaram a atenção dos parceiros, qualificaram e compartilharam percepções, atuando na construção conjunta de significados para os objetos; dentre essas se ressalta a importância da Nomeação dos objetos para os visitantes, que promoveu em algumas ocasiões discussões e um engajamento mais profundo na exposição. Também observamos, porém com menor ocorrência, as operações de Conexão com o conhecimento, Suposição e Explicação que indicavam conversas de maior elaboração conceitual. Ressalta-se, entretanto, que as conversas mais elaboradas em geral apresentaram maior articulação das operações epistêmicas, incluindo sobreposições, como por exemplo, no caso de Explicações constituídas por Conexões com o conhecimento ou Caracterizações, o que indica a importância das operações dirigidas pela percepção para as operações mais elaboradas conceitualmente. Os questionamentos também apresentaram papel relevante na promoção de operações epistêmicas. As conversas mais elaboradas foram desenvolvidas tanto em função da percepção dos objetos, como por demandas da própria conversa, apontando a relevância da experiência concreta com os objetos e dos aspectos da interação social para a aprendizagem. Esperamos que este estudo contribua para a compreensão do papel educativo de exposições, e para a compreensão de como visitantes adultos compartilham percepções, negociam e constroem significados relacionados aos conhecimentos e objetos musealizados.
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spelling info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesis Percepção e aprendizagem no Museu de Zoologia: uma análise das conversas dos visitantes Perception and Learning in the Museum of Zoology 2013-11-01Martha MarandinoMarcelo Giordan SantosDouglas Falcão SilvaNatalia Ferreira CamposUniversidade de São PauloEnsino de CiênciasUSPBR Aprendizagem colaborativa Biologia (estudo e ensino) Biology (study and teaching) Collaborative learning Conhecimento compartilhado Educação em museus Language and cognition Learning Linguagem e cognição Museum education Percepção Perception Shared knowledge Este trabalho apresenta uma análise de aspectos da aprendizagem presentes nas conversas de visitantes adultos em uma exposição de zoologia. Adotamos a perspectiva sociocultural de aprendizagem e desenvolvimento de Vigotski (2009), segundo a qual o uso da linguagem é entendido como forma de compartilhar e desenvolver conhecimentos conjuntamente, mas também como ferramenta que orienta os processos psicológicos internos do indivíduo. Nesse sentido exploramos o processo cognitivo de percepção verbalizada, ou seja, mediada pela linguagem (VIGOTSKI, 2009; LURIA, 1970), além da aprendizagem colaborativa entre pares (MERCER, 2000). Nosso objetivo foi analisar como a linguagem verbalizada é utilizada na interação para qualificar e ampliar as percepções sobre os elementos da exposição e para construir significados conjuntamente sobre os objetos e conteúdos apresentados. Para isso, buscamos caracterizar as conversas dos sujeitos ao longo da exposição por meio da análise das operações epistêmicas realizadas na fala e também das formas de interação como caracterizadas por Mercer (2000) (conversas acumulativas, disputativas e exploratórias). As operações epistêmicas foram organizadas em três grupos: operações dirigidas pela percepção; operações de conexão com conhecimentos e experiências; e operações de maior elaboração conceitual. Nossos sujeitos foram adultos, integrantes do ensino médio na modalidade Educação de Jovens e Adultos, visitando em duplas a exposição Fauna da América do Sul, que é centrada na apresentação de animais preservados e dioramas de ambientes naturais, do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, em agosto de 2011. Observou-se que a maior parte das conversas se desenvolveu de forma colaborativa para aprendizagem, em geral com construção positiva, mas não crítica, dos parceiros sobre as falas uns dos outros (conversas acumulativas), sendo raras as conversas centradas na argumentação de pontos divergentes (exploratórias). Durante as visitas as conversas foram majoritariamente centradas em elementos da exposição, indicando a atratividade dos objetos. Por meio das operações epistêmicas de Nomeação, Apontamento, Afetividade e Caracterização os sujeitos direcionaram a atenção dos parceiros, qualificaram e compartilharam percepções, atuando na construção conjunta de significados para os objetos; dentre essas se ressalta a importância da Nomeação dos objetos para os visitantes, que promoveu em algumas ocasiões discussões e um engajamento mais profundo na exposição. Também observamos, porém com menor ocorrência, as operações de Conexão com o conhecimento, Suposição e Explicação que indicavam conversas de maior elaboração conceitual. Ressalta-se, entretanto, que as conversas mais elaboradas em geral apresentaram maior articulação das operações epistêmicas, incluindo sobreposições, como por exemplo, no caso de Explicações constituídas por Conexões com o conhecimento ou Caracterizações, o que indica a importância das operações dirigidas pela percepção para as operações mais elaboradas conceitualmente. Os questionamentos também apresentaram papel relevante na promoção de operações epistêmicas. As conversas mais elaboradas foram desenvolvidas tanto em função da percepção dos objetos, como por demandas da própria conversa, apontando a relevância da experiência concreta com os objetos e dos aspectos da interação social para a aprendizagem. Esperamos que este estudo contribua para a compreensão do papel educativo de exposições, e para a compreensão de como visitantes adultos compartilham percepções, negociam e constroem significados relacionados aos conhecimentos e objetos musealizados. This study presents an analysis of aspects of learning through the conversations of adult visitors at an exhibition of zoology. We adopt the sociocultural perspective of learning and development of Vygotsky (2009), according to which the use of language is understood as a way to share and develop knowledge together, but also as a tool that guides the internal psychological processes of the individual. Accordingly, we explore the cognitive process of perception verbalized, i.e., mediated by language (Vygotsky, 2009; LURIA, 1970), and the collaborative learning among peers (Mercer, 2000). Our goal was to analyze how language is used in the voiced interaction to qualify and expand perceptions of the elements of the exhibition and to jointly construct meaning about objects and contents. For this, we seek to characterize the conversations of the subjects throughout the exhibition, through the analysis of epistemic operations performed in speech and also the forms of interaction as characterized by Mercer (2000) (cumulative, disputational and exploratory talk). Epistemic operations were organized into three groups: operations guided by perception; operations connecting to knowledge and experiences; and operations of greater conceptual elaboration. Our subjects were adults, members of school in the modality of Youth and Adult Education, visiting in pairs the exhibition Fauna of South America, which was focused on the presentation of preserved animals and habitat dioramas, at the Museum of Zoology, University of São Paulo, in August 2011. It was observed that most of the conversations developed collaboratively to learning, often with partners building positively, but uncritically, on what the other has said (cumulative talk), being rare conversations centered in arguing divergent points (exploratory talk). During the visits, the conversations were mostly focused on elements of the display, indicating the attractiveness of objects. Through the epistemic operations of Naming, Pointing, Affectivity and Characterization subjects directed the attention of partners, qualified and shared perceptions, acting on the joint construction of meanings about objects. Among these stands out the importance of Naming objects for visitors, that has promoted discussions on some occasions and deeper engagement in the exhibition. We also observed, but with lower occurrence, the operations of Knowledge-connection, Supposition and Explanation, which indicated talks with greater conceptual elaboration. It is noteworthy, however, that more elaborated conversations generally showed greater articulation of epistemic operations, including overlapping, such as in the case of Explanations constituted by Knowledge- connections or Characterizations, which indicates the importance of operations guided by perception for operations of greater conceptual elaboration. Questions also had an important role in promoting epistemic operations. Operations of greater conceptual elaboration were developed as both a function of the perception of objects as per demands of conversation itself, indicating the relevance of concrete experience with objects and aspects of social interaction for learning. We hope that this study may contribute to understanding the role of educational exhibits, and to understanding how adult visitors share perceptions, negotiate and construct meanings related to musealized knowledge and objects. https://doi.org/10.11606/D.81.2013.tde-22072014-165445info:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USP2023-12-21T19:53:00Zoai:teses.usp.br:tde-22072014-165445Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212023-12-22T13:08:37.874453Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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