Vidas, Lutas e Resistências: O \"não-lugar\" da pobreza na Recife globalizada (Sobre moradia popular, 2003/2019)

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Marques, Paulo Alexandre Xavier
Data de Publicação: 2021
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-29092021-161505/
Resumo: Esta tese problematiza as relações conflitantes entre atores sociais a partir de suas histórias de vida, tendo a cidade de Recife como palco e, ao mesmo tempo, como produto dessas relações, no contexto das intervenções urbanísticas ocorridas entre 2003 e 2019. A narrativa se desenvolve com base na hipótese de que, no jogo das ações observadas não houve vítimas ou vilões, mas sujeitos que lutaram movidos pela ânsia de se apropriarem da cidade e de seus espaços, de nela se reproduzirem, viverem, produzirem renda e terem acesso aos bens e produtos nela existentes. Tais sujeitos são definidos pela sua condição social. Esta levou os mais pobres a defenderem seus interesses locais, enquanto as elites, conectadas aos mecanismos de dominação capitalista global, buscavam a prioridade sobre o uso do espaço da cidade e o domínio sobre os recursos e mercadorias nela produzidos, sendo ela própria a mercadoria mais valiosa. Quanto aos objetos e às fontes, esta pesquisa classifica-se como bibliográfica, documental e de campo, pois foram utilizados livros, periódicos, trabalhos acadêmicos, fotografias assim como foram produzidas fontes a partir de levantamentos de campo, como observações, entrevistas, coletas de informações e de opiniões. Como fontes secundárias, foram utilizados livros das áreas de urbanismo, vida política, sociologia e história que tratam do tema das relações da cidade com a pobreza, assim como trabalhos acadêmicos das áreas de urbanismo, vida política, sociologia e história. A grande questão, que motivou e dirigiu esta pesquisa foi: como o cotidiano dos moradores pobres da cidade de Recife foram impactados pelas intervenções urbanísticas ocorridas entre os anos de 2003 e 2019, e de que forma eles reagiram a esse processo? Em relação à hipótese inicial, pode-se afirmar que se confirmou como verdadeira. A análise dos dados também permitiu a verificação da relação de continuidade que existe entre as raízes históricas, fincadas no capitalismo mercantilista do período colonial, e as injustiças sociais produtoras da pobreza na área urbana da contemporaneidade. Pôde-se também constatar que a resistência e a luta travada pelos moradores mais pobres da cidade de Recife diante dos desafios que lhes foram impostos pelo poder público através de reformas urbanísticas não foram revolucionárias, mas do tipo tático. Ela não visou à mudança do sistema político ou econômico, mas o acesso a eles, ou seja, a inclusão social, como meio para ter efetivado o direito à cidade. Nesse sentido, sem desistir nunca de lutar e de resistir contra as expulsões, os ataques discursivos, a lama, o lixo e os ratos, os pobres também não deixaram de sonhar com a realização do direito a uma moradia digna, garantida a eles pela Constituição Federal, mas negada pelos fatos em si. Porém, ao perceberem que a realização de seus sonhos tinha trazido consigo o seu oposto, ou seja, um pesadelo no qual tropeçaram, fizeram da queda o apoio para um contragolpe. Alguns deles conseguiram o mais difícil, o que parecia mesmo impossível: a própria inclusão no mercado da renda e dos lucros imobiliários. Tudo aconteceu, no entanto, não de acordo com o que foi previsto pelos planejadores, mas de acordo com a criatividade e a capacidade intuitiva dos sujeitos, que tiraram proveito de todas as ocasiões e oportunidades, de modo especial em situações que ameaçavam a sua sobrevivência e de suas famílias.
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Esta levou os mais pobres a defenderem seus interesses locais, enquanto as elites, conectadas aos mecanismos de dominação capitalista global, buscavam a prioridade sobre o uso do espaço da cidade e o domínio sobre os recursos e mercadorias nela produzidos, sendo ela própria a mercadoria mais valiosa. Quanto aos objetos e às fontes, esta pesquisa classifica-se como bibliográfica, documental e de campo, pois foram utilizados livros, periódicos, trabalhos acadêmicos, fotografias assim como foram produzidas fontes a partir de levantamentos de campo, como observações, entrevistas, coletas de informações e de opiniões. Como fontes secundárias, foram utilizados livros das áreas de urbanismo, vida política, sociologia e história que tratam do tema das relações da cidade com a pobreza, assim como trabalhos acadêmicos das áreas de urbanismo, vida política, sociologia e história. A grande questão, que motivou e dirigiu esta pesquisa foi: como o cotidiano dos moradores pobres da cidade de Recife foram impactados pelas intervenções urbanísticas ocorridas entre os anos de 2003 e 2019, e de que forma eles reagiram a esse processo? Em relação à hipótese inicial, pode-se afirmar que se confirmou como verdadeira. A análise dos dados também permitiu a verificação da relação de continuidade que existe entre as raízes históricas, fincadas no capitalismo mercantilista do período colonial, e as injustiças sociais produtoras da pobreza na área urbana da contemporaneidade. Pôde-se também constatar que a resistência e a luta travada pelos moradores mais pobres da cidade de Recife diante dos desafios que lhes foram impostos pelo poder público através de reformas urbanísticas não foram revolucionárias, mas do tipo tático. Ela não visou à mudança do sistema político ou econômico, mas o acesso a eles, ou seja, a inclusão social, como meio para ter efetivado o direito à cidade. Nesse sentido, sem desistir nunca de lutar e de resistir contra as expulsões, os ataques discursivos, a lama, o lixo e os ratos, os pobres também não deixaram de sonhar com a realização do direito a uma moradia digna, garantida a eles pela Constituição Federal, mas negada pelos fatos em si. Porém, ao perceberem que a realização de seus sonhos tinha trazido consigo o seu oposto, ou seja, um pesadelo no qual tropeçaram, fizeram da queda o apoio para um contragolpe. Alguns deles conseguiram o mais difícil, o que parecia mesmo impossível: a própria inclusão no mercado da renda e dos lucros imobiliários. Tudo aconteceu, no entanto, não de acordo com o que foi previsto pelos planejadores, mas de acordo com a criatividade e a capacidade intuitiva dos sujeitos, que tiraram proveito de todas as ocasiões e oportunidades, de modo especial em situações que ameaçavam a sua sobrevivência e de suas famílias.This thesis discuss the conflicting relationships between social actors based on their life stories, having the city of Recife as a stage and, at the same time, as a product of these relationships, in the context of urban interventions that took place between 2003 and 2019. The narrative is developed based on the hypothesis that, in the game of observed actions, there were no victims or villains, but subjects who fought moved by the anxiety of appropriating the city and its spaces, of reproducing, living, producing income and having access to goods and existing products. Such subjects are defined by their social condition. This led the poorest to defend their local interests, while the elites, connected to the mechanisms of global capitalist domination, sought priority over the use of city space and dominion over the resources and goods produced in it, being itself the most important commodity. As for objects and sources, this research is classified as bibliographic, documentary, and field, since books, periodicals, academic works, and photographs were used, together with sources produced from field surveys, such as observations, interviews, collections of information, and opinions. As secondary sources, books were referenced in the areas of urbanism, political life, sociology, and history that deal with the theme of the city\'s relations with poverty, as well as academic works in the areas of urbanism, political life, sociology, and history. The big question that motivated and directed this research was: how were the daily lives of the poor residents of the city of Recife impacted by the urban interventions that took place between the years 2003 and 2019, and how did they react to this process? Regarding the initial hypothesis, it can be said that it was confirmed as true. The data analysis also allowed the verification of the relationship of continuity between the historical roots, embedded in the mercantilist capitalism of the colonial period, and the social injustices that produce poverty in the contemporary urban area. It was also possible to verify that the resistance and the struggle waged by the poorest residents of the city of Recife in the face of the challenges imposed by the public power through urban reforms were not revolutionary, but of the tactical type. It did not aim at changing the political or economic system, but at accessing them, that is, social inclusion, as a means to have made the right to the city effective. In this sense, without ever giving up fighting and resisting expulsions, discursive attacks, mud, garbage, and rats, the poor also did not stop dreaming of the realization of the right to decent housing, guaranteed to them by the Federal Constitution, but denied by the facts themselves. However, when they realized that the fulfillment of their dreams had brought the opposite with them, that is, a nightmare in which they stumbled, they made the fall the support for a counter-coup. Some of them achieved the most difficult, which seemed even impossible: the inclusion of real estate income and profits in the market. Everything happened, however, not according to what was predicted by the planners, but according to the creativity and intuitive ability of the subjects, who took advantage of all occasions and opportunities, especially in situations that threatened their survival and of their families.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPAranha, Gervacio BatistaSilva, Marcos Antonio daMarques, Paulo Alexandre Xavier2021-07-16info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-29092021-161505/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2021-09-29T20:02:02Zoai:teses.usp.br:tde-29092021-161505Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212021-09-29T20:02:02Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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