A ditadura militar na cidade, no trabalho e na casa de cidadãos brasileiros: um estudo de depoimentos

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Jardim, Luis Eduardo Franção
Data de Publicação: 2016
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47134/tde-16082016-154853/
Resumo: O objetivo desta pesquisa é analisar, com base em depoimentos, os impactos psicológicos da ditadura civil-militar no cotidiano de brasileiros. A investigação pretende identificar e discutir como traços psicossociais ligados ao regime autoritário podem ter impactado psicologicamente o cotidiano de muitos brasileiros, opositores ou aderidos ao golpe. A vida cotidiana abrange o cidadão nos âmbitos da família, no trabalho e na cidade. É a vida que diz respeito a todos. Nela, os homens participam em meio à pluralidade com todos os aspectos da sua singularidade, sentimentos, paixões, ideologias. Partiu-se da hipótese de que a ditadura influiu sobre o cotidiano do trabalho, da cidade e da família para sondar traços psicossociais dessa influência a partir da memória de depoentes que viveram os anos da ditadura. Na pesquisa, foram considerados nove depoimentos, de três mulheres e seis homens, que apresentaram elementos significativos para compreensão da experiência cotidiana na casa, no trabalho e nos espaços públicos da cidade. Em sua maioria, os depoentes empenham ou empenharam atividade militante, moram nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, possuem terceiro grau completo e consideram-se pertencentes à classe média. Os entrevistados são pessoas com ligações nas áreas da educação, saúde, cultura, comunicação, militar e funcionalismo público. A investigação buscou interrogar sobre as formas pelas quais a ditadura abriu novos espaços de relação do brasileiro com seu cotidiano, construindo novos sentidos à sua experiência pessoal. Com base nos depoimentos, há indicações de que os ambientes de trabalho tenham sido marcados pelo traço do medo, explicitado na vigilância, desconfiança, autocensura, autopreservação, silenciamento, moderação, cuidado, precaução. O medo parece ter invadido o cotidiano das famílias e fragilizado relações de parentesco, trazido a vigilância e controle para dentro do lar. Nas instituições de convívio e na circulação pelas ruas, o medo imprime suas marcas no cotidiano do cidadão. Os depoimentos também trouxeram indícios de que o ambiente instaurado nos anos da ditadura pela censura, repressão, violência tenha sido favorável a um par de traços psicossociais ligados, primeiramente, à solidariedade, a busca por unidade, apoio daqueles que experienciam indignação e sofrimento semelhantes; e, junto com a solidariedade, a coragem alcançada coletivamente, um poder constituído na reunião de um com o outro para se posicionar, se manifestar contra o regime e lutar politicamente por mudanças nos âmbitos públicos. Ciente dos limites qualitativos e quantitativos que a seleção dos depoentes representa, a pesquisa não pretende generalizar suas observações para todos os brasileiros, mas começar um estudo mais amplo sobre os impactos psicológicos da ditadura. Portanto, essa investigação é um ponto de partida, um início a ser continuado, ampliado e aprofundado futuramente com a escuta também de cidadãos trabalhadores rurais, operários, representantes das classes pauperizadas, de outros grandes centros urbanos e regiões interioranas, com posicionamento mais conservador ou progressista, pessoas que possam ter sido beneficiadas ou prejudicadas pelo regime, os filhos criados no período, as gerações seguintes que conviveram com pais ou parentes no período da ditadura
id USP_68a8da6e4e692f31ff4f73257e4ce6f7
oai_identifier_str oai:teses.usp.br:tde-16082016-154853
network_acronym_str USP
network_name_str Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
repository_id_str 2721
spelling A ditadura militar na cidade, no trabalho e na casa de cidadãos brasileiros: um estudo de depoimentosThe military dictatorship in the city, at work and at the home of Brazilian citizens: A study of testimonialsCotidianoDailyDitadura militarMemóriaMemoryMilitary dictatorshipPsicologia socialPsychosocial traitSocial psychologyTraço psicossocialO objetivo desta pesquisa é analisar, com base em depoimentos, os impactos psicológicos da ditadura civil-militar no cotidiano de brasileiros. A investigação pretende identificar e discutir como traços psicossociais ligados ao regime autoritário podem ter impactado psicologicamente o cotidiano de muitos brasileiros, opositores ou aderidos ao golpe. A vida cotidiana abrange o cidadão nos âmbitos da família, no trabalho e na cidade. É a vida que diz respeito a todos. Nela, os homens participam em meio à pluralidade com todos os aspectos da sua singularidade, sentimentos, paixões, ideologias. Partiu-se da hipótese de que a ditadura influiu sobre o cotidiano do trabalho, da cidade e da família para sondar traços psicossociais dessa influência a partir da memória de depoentes que viveram os anos da ditadura. Na pesquisa, foram considerados nove depoimentos, de três mulheres e seis homens, que apresentaram elementos significativos para compreensão da experiência cotidiana na casa, no trabalho e nos espaços públicos da cidade. Em sua maioria, os depoentes empenham ou empenharam atividade militante, moram nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, possuem terceiro grau completo e consideram-se pertencentes à classe média. Os entrevistados são pessoas com ligações nas áreas da educação, saúde, cultura, comunicação, militar e funcionalismo público. A investigação buscou interrogar sobre as formas pelas quais a ditadura abriu novos espaços de relação do brasileiro com seu cotidiano, construindo novos sentidos à sua experiência pessoal. Com base nos depoimentos, há indicações de que os ambientes de trabalho tenham sido marcados pelo traço do medo, explicitado na vigilância, desconfiança, autocensura, autopreservação, silenciamento, moderação, cuidado, precaução. O medo parece ter invadido o cotidiano das famílias e fragilizado relações de parentesco, trazido a vigilância e controle para dentro do lar. Nas instituições de convívio e na circulação pelas ruas, o medo imprime suas marcas no cotidiano do cidadão. Os depoimentos também trouxeram indícios de que o ambiente instaurado nos anos da ditadura pela censura, repressão, violência tenha sido favorável a um par de traços psicossociais ligados, primeiramente, à solidariedade, a busca por unidade, apoio daqueles que experienciam indignação e sofrimento semelhantes; e, junto com a solidariedade, a coragem alcançada coletivamente, um poder constituído na reunião de um com o outro para se posicionar, se manifestar contra o regime e lutar politicamente por mudanças nos âmbitos públicos. Ciente dos limites qualitativos e quantitativos que a seleção dos depoentes representa, a pesquisa não pretende generalizar suas observações para todos os brasileiros, mas começar um estudo mais amplo sobre os impactos psicológicos da ditadura. Portanto, essa investigação é um ponto de partida, um início a ser continuado, ampliado e aprofundado futuramente com a escuta também de cidadãos trabalhadores rurais, operários, representantes das classes pauperizadas, de outros grandes centros urbanos e regiões interioranas, com posicionamento mais conservador ou progressista, pessoas que possam ter sido beneficiadas ou prejudicadas pelo regime, os filhos criados no período, as gerações seguintes que conviveram com pais ou parentes no período da ditaduraThe aim of the research is to analyze the psychological impact of the civil-military dictatorship in Brazilian daily based on testimonials. The research aims to identify and discuss how some psychosocial traits relevant to the authoritarian regime may have psychologically affected the daily life of most Brazilians, opponents or supporters of the coup. Everyday life covers the citizen in the family areas, at work and in the city. It is life that concerns us all, in it, the men participate in the plurality, with all aspects of its singularity, feelings, passions, ideologies. We started from the hypothesis that dictatorship influenced over the daily work, the city and the family to probe psychosocial traits of that influence from the interviewees memory who lived through the years of the dictatorship. In the survey, they were considered nine testimonies of three women and six men, who showed significant elements to understand the everyday experience in the home, at work and in public spaces in the city. Most of the interviewees engage or engaged militant activity, live in São Paulo and Rio de Janeiro, have College grade and considered to belong to the middle class. Respondents are persons connected in the areas of education, health, culture, communication, military and civil service. The study aimed to wonder about the ways in which the dictatorship opened new relationship spaces to Brazilian with their daily lives, creating new meanings to his personal experience. Based on the testimonies, there are indications that the work environments are marked by the trait of fear, explained in surveillance, suspicion, self-censorship, self-preservation, silence, moderation, caution, precaution. The fear seems to have invaded the daily lives of families and solve family relations, brought surveillance and control into the home. In convivial institutions and circulation through the streets, fear prints its marks in citizen\'s daily life. The testimonies also brought evidence that the environment established in the years of dictatorship by censorship, repression, violence has been in favor of a pair of psychosocial traits linked to solidarity, the search for unity, support of those who experience indignation and suffering; and, together with solidarity, courage achieved collectively, a power established in meeting with each other to position themselves, speak out against the regime and fight politically for change in public areas. Aware of the qualitative and quantitative limits of the selection of deponents, the research does not intend to generalize their observations to all Brazilians, but getting a broader study on the psychological impact of the dictatorship. Therefore, this research is a starting point, a start to be continued, broadened and deepened in the future by listening also: peasants, workers, representatives of the impoverished classes, citizens of other big cities and inland regions, people conservative and progressive, people who might have benefited or harmed by the regime, the children, the following generations who lived with parents or relatives affected by the period of dictatorshipBiblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPGoncalves Filho, Jose MouraJardim, Luis Eduardo Franção2016-05-06info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47134/tde-16082016-154853/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2017-09-04T21:05:35Zoai:teses.usp.br:tde-16082016-154853Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212017-09-04T21:05:35Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
dc.title.none.fl_str_mv A ditadura militar na cidade, no trabalho e na casa de cidadãos brasileiros: um estudo de depoimentos
The military dictatorship in the city, at work and at the home of Brazilian citizens: A study of testimonials
title A ditadura militar na cidade, no trabalho e na casa de cidadãos brasileiros: um estudo de depoimentos
spellingShingle A ditadura militar na cidade, no trabalho e na casa de cidadãos brasileiros: um estudo de depoimentos
Jardim, Luis Eduardo Franção
Cotidiano
Daily
Ditadura militar
Memória
Memory
Military dictatorship
Psicologia social
Psychosocial trait
Social psychology
Traço psicossocial
title_short A ditadura militar na cidade, no trabalho e na casa de cidadãos brasileiros: um estudo de depoimentos
title_full A ditadura militar na cidade, no trabalho e na casa de cidadãos brasileiros: um estudo de depoimentos
title_fullStr A ditadura militar na cidade, no trabalho e na casa de cidadãos brasileiros: um estudo de depoimentos
title_full_unstemmed A ditadura militar na cidade, no trabalho e na casa de cidadãos brasileiros: um estudo de depoimentos
title_sort A ditadura militar na cidade, no trabalho e na casa de cidadãos brasileiros: um estudo de depoimentos
author Jardim, Luis Eduardo Franção
author_facet Jardim, Luis Eduardo Franção
author_role author
dc.contributor.none.fl_str_mv Goncalves Filho, Jose Moura
dc.contributor.author.fl_str_mv Jardim, Luis Eduardo Franção
dc.subject.por.fl_str_mv Cotidiano
Daily
Ditadura militar
Memória
Memory
Military dictatorship
Psicologia social
Psychosocial trait
Social psychology
Traço psicossocial
topic Cotidiano
Daily
Ditadura militar
Memória
Memory
Military dictatorship
Psicologia social
Psychosocial trait
Social psychology
Traço psicossocial
description O objetivo desta pesquisa é analisar, com base em depoimentos, os impactos psicológicos da ditadura civil-militar no cotidiano de brasileiros. A investigação pretende identificar e discutir como traços psicossociais ligados ao regime autoritário podem ter impactado psicologicamente o cotidiano de muitos brasileiros, opositores ou aderidos ao golpe. A vida cotidiana abrange o cidadão nos âmbitos da família, no trabalho e na cidade. É a vida que diz respeito a todos. Nela, os homens participam em meio à pluralidade com todos os aspectos da sua singularidade, sentimentos, paixões, ideologias. Partiu-se da hipótese de que a ditadura influiu sobre o cotidiano do trabalho, da cidade e da família para sondar traços psicossociais dessa influência a partir da memória de depoentes que viveram os anos da ditadura. Na pesquisa, foram considerados nove depoimentos, de três mulheres e seis homens, que apresentaram elementos significativos para compreensão da experiência cotidiana na casa, no trabalho e nos espaços públicos da cidade. Em sua maioria, os depoentes empenham ou empenharam atividade militante, moram nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, possuem terceiro grau completo e consideram-se pertencentes à classe média. Os entrevistados são pessoas com ligações nas áreas da educação, saúde, cultura, comunicação, militar e funcionalismo público. A investigação buscou interrogar sobre as formas pelas quais a ditadura abriu novos espaços de relação do brasileiro com seu cotidiano, construindo novos sentidos à sua experiência pessoal. Com base nos depoimentos, há indicações de que os ambientes de trabalho tenham sido marcados pelo traço do medo, explicitado na vigilância, desconfiança, autocensura, autopreservação, silenciamento, moderação, cuidado, precaução. O medo parece ter invadido o cotidiano das famílias e fragilizado relações de parentesco, trazido a vigilância e controle para dentro do lar. Nas instituições de convívio e na circulação pelas ruas, o medo imprime suas marcas no cotidiano do cidadão. Os depoimentos também trouxeram indícios de que o ambiente instaurado nos anos da ditadura pela censura, repressão, violência tenha sido favorável a um par de traços psicossociais ligados, primeiramente, à solidariedade, a busca por unidade, apoio daqueles que experienciam indignação e sofrimento semelhantes; e, junto com a solidariedade, a coragem alcançada coletivamente, um poder constituído na reunião de um com o outro para se posicionar, se manifestar contra o regime e lutar politicamente por mudanças nos âmbitos públicos. Ciente dos limites qualitativos e quantitativos que a seleção dos depoentes representa, a pesquisa não pretende generalizar suas observações para todos os brasileiros, mas começar um estudo mais amplo sobre os impactos psicológicos da ditadura. Portanto, essa investigação é um ponto de partida, um início a ser continuado, ampliado e aprofundado futuramente com a escuta também de cidadãos trabalhadores rurais, operários, representantes das classes pauperizadas, de outros grandes centros urbanos e regiões interioranas, com posicionamento mais conservador ou progressista, pessoas que possam ter sido beneficiadas ou prejudicadas pelo regime, os filhos criados no período, as gerações seguintes que conviveram com pais ou parentes no período da ditadura
publishDate 2016
dc.date.none.fl_str_mv 2016-05-06
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/doctoralThesis
format doctoralThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47134/tde-16082016-154853/
url http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47134/tde-16082016-154853/
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.relation.none.fl_str_mv
dc.rights.driver.fl_str_mv Liberar o conteúdo para acesso público.
info:eu-repo/semantics/openAccess
rights_invalid_str_mv Liberar o conteúdo para acesso público.
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.coverage.none.fl_str_mv
dc.publisher.none.fl_str_mv Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
publisher.none.fl_str_mv Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
dc.source.none.fl_str_mv
reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
instname:Universidade de São Paulo (USP)
instacron:USP
instname_str Universidade de São Paulo (USP)
instacron_str USP
institution USP
reponame_str Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
collection Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
repository.name.fl_str_mv Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)
repository.mail.fl_str_mv virginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.br
_version_ 1809090775461396480