Usos do imaginário nos estudos afro-brasileiros e no culto umbandista

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Fábio Ricardo Leme
Data de Publicação: 2006
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://doi.org/10.11606/D.59.2006.tde-22052009-153752
Resumo: A psicologia analítica de Jung é umas das principais vertentes psicológicas de estudo das religiões afro-brasileiras, contribuindo na compreensão desse universo. Os pesquisadores desta tradição são atraídos por estas religiões por serem povoadas por fenômenos, como a vidência, o transe, a incorporação, entre outros, que têm importância vital na existência de seus praticantes, e que são classificados como da ordem do imaginário por algumas correntes acadêmicas, e, as vezes, tratados como uma falsa percepção da realidade, ao serem tomados como subprodutos da imaginação. Nunca se averiguou em que medida os trabalhos junguianos refletem esta posição ou não, e, em que medida têm conseguido refletir a cosmovisão do campo. O objetivo desta pesquisa é o de: 1- Proceder a uma explicitação da concepção umbandista sobre este imaginário; 2- Contrastar esta concepção com um dos principais modelos teóricos aplicados aos estudos afro-brasileiros, a psicologia analítica; 3-Contribuir para um diálogo entre a psicologia científica e a cosmovisão desenvolvida no âmbito da religiosidade afro-brasileira. Os colaboradores (médiuns videntes) foram selecionados a partir do contato com terreiros de umbanda em Ribeirão Preto e Piracicaba. Devido a seus talentos imaginativos, foram acompanhados caso a caso, relatando suas experiências, sendo observados em performances rituais, nas quais se presta especial atenção aos processos da imaginação (estados de transe, previsões, sonhos, vidências, lembranças do passado, etc.). Para além da observação participante utilizaram-se, na coleta de dados, gravações em áudio das narrativas obtidas a partir de entrevistas semi-estruturadas e anotações em caderno de campo de dados e impressões. Em paralelo, foi feita uma análise sobre os estudos junguianos a respeito da religiosidade afro-brasileira. Sobre o material, de campo e acadêmico, foi feita a sistematização das suas respostas para uma tripla pergunta: Qual o estatuto ontológico, epistemológico e psicológico do imaginário? A partir das respostas obtidas levantou-se subsídios para a discussão dos pontos de divergências e semelhanças entre os dois modelos que, não obstante as suas diferenças, permitiu mostrar intersecções, relacionar incompatibilidades e, principalmente, resgatar nuances do fenômeno que escapem ao modelo acadêmico. Os resultados mostram que termos como individuação, inconsciente coletivo, arquétipo, tipos psicológicos, nem sempre são utilizados como conceitos efetivamente junguianos, o que parece indicar que adquiriram um valor heurístico que ultrapassa as fronteiras da psicologia analítica. Os trabalhos junguianos analisados superam a postura patologizante freqüentemente atribuída aos fenômenos do imaginário por pesquisadores clássicos como Nina Rodrigues, Arthur Ramos e o próprio Jung, porém não escapam a vieses psicologizantes, que, muitas vezes, distorcem, à cosmovisão do campo, o que contribui para a redução dos fenômenos a conceitos cunhados a partir de modelos etnocêntricos (CNPq).
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spelling info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesis Usos do imaginário nos estudos afro-brasileiros e no culto umbandista Usages from the imaginary in the african-brazilian studies and in the umbanda cult 2006-02-03Jose Francisco Miguel Henriques BairraoGeraldo RomanelliJose Jorge de Morais ZachariasFábio Ricardo LemeUniversidade de São PauloPsicologiaUSPBR African-Brazilian Afro-brasileiro Analytical Psychology Clairvoyance Ethnopsychology Etnopsicologia Psicologia analítica Umbanda Umbanda Vidência A psicologia analítica de Jung é umas das principais vertentes psicológicas de estudo das religiões afro-brasileiras, contribuindo na compreensão desse universo. Os pesquisadores desta tradição são atraídos por estas religiões por serem povoadas por fenômenos, como a vidência, o transe, a incorporação, entre outros, que têm importância vital na existência de seus praticantes, e que são classificados como da ordem do imaginário por algumas correntes acadêmicas, e, as vezes, tratados como uma falsa percepção da realidade, ao serem tomados como subprodutos da imaginação. Nunca se averiguou em que medida os trabalhos junguianos refletem esta posição ou não, e, em que medida têm conseguido refletir a cosmovisão do campo. O objetivo desta pesquisa é o de: 1- Proceder a uma explicitação da concepção umbandista sobre este imaginário; 2- Contrastar esta concepção com um dos principais modelos teóricos aplicados aos estudos afro-brasileiros, a psicologia analítica; 3-Contribuir para um diálogo entre a psicologia científica e a cosmovisão desenvolvida no âmbito da religiosidade afro-brasileira. Os colaboradores (médiuns videntes) foram selecionados a partir do contato com terreiros de umbanda em Ribeirão Preto e Piracicaba. Devido a seus talentos imaginativos, foram acompanhados caso a caso, relatando suas experiências, sendo observados em performances rituais, nas quais se presta especial atenção aos processos da imaginação (estados de transe, previsões, sonhos, vidências, lembranças do passado, etc.). Para além da observação participante utilizaram-se, na coleta de dados, gravações em áudio das narrativas obtidas a partir de entrevistas semi-estruturadas e anotações em caderno de campo de dados e impressões. Em paralelo, foi feita uma análise sobre os estudos junguianos a respeito da religiosidade afro-brasileira. Sobre o material, de campo e acadêmico, foi feita a sistematização das suas respostas para uma tripla pergunta: Qual o estatuto ontológico, epistemológico e psicológico do imaginário? A partir das respostas obtidas levantou-se subsídios para a discussão dos pontos de divergências e semelhanças entre os dois modelos que, não obstante as suas diferenças, permitiu mostrar intersecções, relacionar incompatibilidades e, principalmente, resgatar nuances do fenômeno que escapem ao modelo acadêmico. Os resultados mostram que termos como individuação, inconsciente coletivo, arquétipo, tipos psicológicos, nem sempre são utilizados como conceitos efetivamente junguianos, o que parece indicar que adquiriram um valor heurístico que ultrapassa as fronteiras da psicologia analítica. Os trabalhos junguianos analisados superam a postura patologizante freqüentemente atribuída aos fenômenos do imaginário por pesquisadores clássicos como Nina Rodrigues, Arthur Ramos e o próprio Jung, porém não escapam a vieses psicologizantes, que, muitas vezes, distorcem, à cosmovisão do campo, o que contribui para a redução dos fenômenos a conceitos cunhados a partir de modelos etnocêntricos (CNPq). Jungs analytical psychology is one of the main psychological approaches in the study of the African-Brazilian religions, contributing with the understanding of this universe. This traditions researchers are attracted by these religions for being them crowded with phenomena, like the clairvoyance, trance, impersonation, among others, which have vital importance in the existence of their followers, and that are classified as belonging to the imaginary by some academic currents and, sometimes, they are treated as a false perception of the reality, at being considered as imagination subproducts. People have never checked whether the Jungian works reflect this position or not and how they have been able to reflect the fields cosmovision. The goal of this research is: 1) gather an explicitation on the umbanda conception about this imaginary; 2) contrast this conception with one of the main theoretical models applied to the African-Brazilian studies, the analytical psychology; 3) contribute for a dialogue between the scientific psychology and the cosmovision developed in the scope of the African-Brazilian religiosity. The contributors (clairvoyant mediums) have been selected from the contact with umbanda yards in Ribeirao Preto and Piracicaba. Due to their imaginative talents, they have been followed individually, reporting their experiences, being observed in ritual performances, in which we pay attention to the imagination processes (trance state, previsions, dreams, clairvoyance, past memories etc). For reaching beyond the participant observation, audio recordings from the narratives, obtained from semi-structured interviews, notes on a field data notebook, as well as impressions were used. In parallel, an analysis about the Jungian studies regarding the African-Brazilian religiosity was made. About the field and academic material, the systemization of their replies was made on a triple question: Which is the ontological, epistemological and psychological statute from the imaginary? From the obtained replies, subsides were raised for discussing divergence points and similarities between both models which, despite their differences, allowed us to show intersections, to relate incompatibilities and, mainly, to rescue nuances from the phenomenon which escape the academic model. The results show that terms like individuation, group unconsciousness, archetype, and psychological types are not always used as effective Jungian concepts, which seems to indicate that they have acquired a heuristic value which trespasses the borders of the analytical psychology. The Jungian works under analysis overcome the pathologizing posture frequently attributed to the phenomena of the imaginary by classic researchers like Nina Rodrigues, Arthur Ramos and Jung himself, but they do not escape psychologizing biases which, mostly distort the fields cosmovision, contributing to the reduction of phenomena enhanced from ethnocentric models (CNPq). https://doi.org/10.11606/D.59.2006.tde-22052009-153752info:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USP2023-12-21T19:51:47Zoai:teses.usp.br:tde-22052009-153752Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212023-12-22T13:07:56.756451Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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