Espectros vencidos: a teorização negativa do sistema internacional em Marx e Engels

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Ricardo Martins Rizzo
Data de Publicação: 2015
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://doi.org/10.11606/T.8.2015.tde-05112015-132622
Resumo: Parte significativa dos escritos de Marx Engels sobre política internacional são marcados por uma dificuldade teórica, que não deixou de causar desconforto na própria tradição marxista: diante dos êxitos da contra-revolução após 1848, e de uma perspectiva revolucionária plasmada na crítica ao sistema internacional herdado do Congresso de Viena em 1815, as categorias centrais do materialismo hitórico pareciam perder capacidade de formulação política. Se o avanço da concorrência capitalista no mercado mundial possibilitava que as contradições sociais dos países mais avançados fossem universalizadas, por meio da universalização das relações de produção burguesas, o sistema internacional parecia atuar em sentido contrário, permitindo que os tempos sociais do atraso arbitrassem o ritmo das transformações políticas na Europa. Negada pelo sistema internacional, a marcha da história social em Marx e Engels dá lugar a uma teorização negativa. Suas categorias clássicas dão lugar a outras. Classes sociais cedem terreno, em Engels, aos povos sem história. Em Marx, a causalidade é substituída pela analogia; processos, por indivíduos; realidades sociais concretas, por encarnações abstratas. A contemporaneidade política de tempos sociais divergentes que caracteriza a complexa duração do absolutismo na Europa fornece o terreno em que os problemas da teorização negativa eclodem. O fato de que o Estado absolutista de tipo oriental por excelência, a Rússia czarista, pudesse de alguma forma empregar, por meio de sua diplomacia, a coerção de tipo feudal encarnada em sua própria formação para arbitrar o ritmo das revoluções burguesas no ocidente, em pleno século XIX, constitui a principal negatividade com que Marx e Engels se depararam ao pretenderem retomar a marcha revolucionária interrompida em 1815.
id USP_6bdffe031c4a6373d73fffc4af945407
oai_identifier_str oai:teses.usp.br:tde-05112015-132622
network_acronym_str USP
network_name_str Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
repository_id_str 2721
spelling info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesis Espectros vencidos: a teorização negativa do sistema internacional em Marx e Engels Defeated spectra: the negative theorization of the international system in Marx and Engels 2015-06-26Jorge Luis da Silva GrespanValerio ArcaryOsvaldo Luis Angel CoggiolaRicardo MusseMarco Aurélio Nogueira de Oliveira e SilvaRicardo Martins RizzoUniversidade de São PauloHistória SocialUSPBR Capitalism Capitalismo Diplomacia Diplomacy Engels Engels England História moderna da Europa Inglaterra International relations International system Marx Marx Marxism Marxismo Mercado mundial Modern European History Nineteenth century politics Relações internacionais Revolução Revolution Russia Russia Século XIX Sistema internacional World market Parte significativa dos escritos de Marx Engels sobre política internacional são marcados por uma dificuldade teórica, que não deixou de causar desconforto na própria tradição marxista: diante dos êxitos da contra-revolução após 1848, e de uma perspectiva revolucionária plasmada na crítica ao sistema internacional herdado do Congresso de Viena em 1815, as categorias centrais do materialismo hitórico pareciam perder capacidade de formulação política. Se o avanço da concorrência capitalista no mercado mundial possibilitava que as contradições sociais dos países mais avançados fossem universalizadas, por meio da universalização das relações de produção burguesas, o sistema internacional parecia atuar em sentido contrário, permitindo que os tempos sociais do atraso arbitrassem o ritmo das transformações políticas na Europa. Negada pelo sistema internacional, a marcha da história social em Marx e Engels dá lugar a uma teorização negativa. Suas categorias clássicas dão lugar a outras. Classes sociais cedem terreno, em Engels, aos povos sem história. Em Marx, a causalidade é substituída pela analogia; processos, por indivíduos; realidades sociais concretas, por encarnações abstratas. A contemporaneidade política de tempos sociais divergentes que caracteriza a complexa duração do absolutismo na Europa fornece o terreno em que os problemas da teorização negativa eclodem. O fato de que o Estado absolutista de tipo oriental por excelência, a Rússia czarista, pudesse de alguma forma empregar, por meio de sua diplomacia, a coerção de tipo feudal encarnada em sua própria formação para arbitrar o ritmo das revoluções burguesas no ocidente, em pleno século XIX, constitui a principal negatividade com que Marx e Engels se depararam ao pretenderem retomar a marcha revolucionária interrompida em 1815. An important part of Marx and Engels\'s writings on international politics is characterized by a theoretical difficulty, one which has been the cause of significant uneasiness in the Marxist tradition itself. Faced with the strides of counter-revolution in Europe after 1848, and departing from a revolutionary standpoint centered on the criticism of the international system as set forth by the Vienna Congress in 1815, the core categories of dialectic materialism seemed to loose power of political formulation. If the advancement of capitalist competition in the world market was bound to universalize the social contradictions of the most advanced countries, by the universalization of bourgeois production, the international system, on the other hand, appeared as the medium by means of which the social temporalities of backwardness managed to impose themselves on the European political order. Denied by the international system, the march of social history in Marx and Engels gives room to the a negative theorization. Its classic categories give way to new ones. In Engels, social classes give way to nonhistorial peoples; in Marx, causality is replaced by analogy, processes by individuals, concrete social realities by abstract representations. The international coexistence of different political temporalities that characterizes the complex duration of absolutism in Europe sets the stage for the problems of the negative theorization. The fact that the most typical form of oriental absolutist State, czarist Russia, could successfully deploy its feudal coercion, through its diplomacy, to dictate the rhythm of bourgeois revolutions in the West in the nineteenth century constitutes the main negativity with which Marx and Engels are faced in their quest to resume historys course after its interruption in 1815. https://doi.org/10.11606/T.8.2015.tde-05112015-132622info:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USP2023-12-21T18:17:34Zoai:teses.usp.br:tde-05112015-132622Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212023-12-22T12:11:31.237339Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
dc.title.pt.fl_str_mv Espectros vencidos: a teorização negativa do sistema internacional em Marx e Engels
dc.title.alternative.en.fl_str_mv Defeated spectra: the negative theorization of the international system in Marx and Engels
title Espectros vencidos: a teorização negativa do sistema internacional em Marx e Engels
spellingShingle Espectros vencidos: a teorização negativa do sistema internacional em Marx e Engels
Ricardo Martins Rizzo
title_short Espectros vencidos: a teorização negativa do sistema internacional em Marx e Engels
title_full Espectros vencidos: a teorização negativa do sistema internacional em Marx e Engels
title_fullStr Espectros vencidos: a teorização negativa do sistema internacional em Marx e Engels
title_full_unstemmed Espectros vencidos: a teorização negativa do sistema internacional em Marx e Engels
title_sort Espectros vencidos: a teorização negativa do sistema internacional em Marx e Engels
author Ricardo Martins Rizzo
author_facet Ricardo Martins Rizzo
author_role author
dc.contributor.advisor1.fl_str_mv Jorge Luis da Silva Grespan
dc.contributor.referee1.fl_str_mv Valerio Arcary
dc.contributor.referee2.fl_str_mv Osvaldo Luis Angel Coggiola
dc.contributor.referee3.fl_str_mv Ricardo Musse
dc.contributor.referee4.fl_str_mv Marco Aurélio Nogueira de Oliveira e Silva
dc.contributor.author.fl_str_mv Ricardo Martins Rizzo
contributor_str_mv Jorge Luis da Silva Grespan
Valerio Arcary
Osvaldo Luis Angel Coggiola
Ricardo Musse
Marco Aurélio Nogueira de Oliveira e Silva
description Parte significativa dos escritos de Marx Engels sobre política internacional são marcados por uma dificuldade teórica, que não deixou de causar desconforto na própria tradição marxista: diante dos êxitos da contra-revolução após 1848, e de uma perspectiva revolucionária plasmada na crítica ao sistema internacional herdado do Congresso de Viena em 1815, as categorias centrais do materialismo hitórico pareciam perder capacidade de formulação política. Se o avanço da concorrência capitalista no mercado mundial possibilitava que as contradições sociais dos países mais avançados fossem universalizadas, por meio da universalização das relações de produção burguesas, o sistema internacional parecia atuar em sentido contrário, permitindo que os tempos sociais do atraso arbitrassem o ritmo das transformações políticas na Europa. Negada pelo sistema internacional, a marcha da história social em Marx e Engels dá lugar a uma teorização negativa. Suas categorias clássicas dão lugar a outras. Classes sociais cedem terreno, em Engels, aos povos sem história. Em Marx, a causalidade é substituída pela analogia; processos, por indivíduos; realidades sociais concretas, por encarnações abstratas. A contemporaneidade política de tempos sociais divergentes que caracteriza a complexa duração do absolutismo na Europa fornece o terreno em que os problemas da teorização negativa eclodem. O fato de que o Estado absolutista de tipo oriental por excelência, a Rússia czarista, pudesse de alguma forma empregar, por meio de sua diplomacia, a coerção de tipo feudal encarnada em sua própria formação para arbitrar o ritmo das revoluções burguesas no ocidente, em pleno século XIX, constitui a principal negatividade com que Marx e Engels se depararam ao pretenderem retomar a marcha revolucionária interrompida em 1815.
publishDate 2015
dc.date.issued.fl_str_mv 2015-06-26
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/doctoralThesis
format doctoralThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv https://doi.org/10.11606/T.8.2015.tde-05112015-132622
url https://doi.org/10.11606/T.8.2015.tde-05112015-132622
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.publisher.none.fl_str_mv Universidade de São Paulo
dc.publisher.program.fl_str_mv História Social
dc.publisher.initials.fl_str_mv USP
dc.publisher.country.fl_str_mv BR
publisher.none.fl_str_mv Universidade de São Paulo
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
instname:Universidade de São Paulo (USP)
instacron:USP
instname_str Universidade de São Paulo (USP)
instacron_str USP
institution USP
reponame_str Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
collection Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
repository.name.fl_str_mv Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)
repository.mail.fl_str_mv virginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.br
_version_ 1794502497569603584