Lésbicas e mulheres bissexuais: uma leitura interseccional do cuidado à saúde
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2018 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
Texto Completo: | http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5137/tde-21032019-105431/ |
Resumo: | A invisibilidade das lésbicas e das mulheres bissexuais, bem como a escassez de conhecimento científico a seu respeito ainda se faz presente no Brasil. Nas políticas de saúde brasileira elas são incluídas na Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher de 2003 e na Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transgêneros de 2010. No entanto, é imprescindível conhecer suas concepções e práticas de saúde, no sentido de possibilitar interpelar as políticas elaboradas e identificar desvantagens sociais relacionadas aos processos de discriminação a que são submetidas. Este trabalho, de vertente qualitativa, teve por objetivo analisar como as lésbicas e mulheres bissexuais vivenciam a sexualidade e experienciam o cuidado à saúde em geral e à saúde sexual, em particular, a partir da abordagem da interseccionalidade. Participaram da pesquisa 17 mulheres com 18 anos ou mais que se auto referiram lésbicas ou bissexuais. A produção dos dados empíricos se deu por meio de entrevistas semiestruturadas seguindo roteiro temático previamente elaborado. Os cuidados éticos incluíram explicação detalhada acerca dos objetivos da pesquisa, de modo a garantir a participação voluntária e a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O estudo foi aprovado pelo comitê de ética da USP. Todas as entrevistas foram gravadas e transcritas. Para análise dos dados utilizamos a abordagem da interseccionalidade, compreendendo como os marcadores sociais da diferença dialogam com o cuidado à saúde. A idade das participantes variou de 19 a 68 anos; seis eram negras, nove brancas e duas pardas; doze eram lésbicas e cinco bissexuais. Raça/cor e orientação sexual foram auto referidos. A diversidade na composição das participantes foi uma escolha metodológica para abarcar diferentes marcas identitárias quanto à raça, classe social, geração e orientação sexual. A intersecção entre sexualidade e geração opera vulnerabilizando mulheres jovens, pois estão expostas a intenso sofrimento psíquico em função da dependência financeira de familiares. Questões raciais surgiram no discurso de mulheres negras como marca identitária e de opressão em situações para além de contexto de saúde. O sentido e a visibilidade em torno da orientação sexual dependem, entre outras coisas, de experiências racistas. Finalmente, o intercruzamento entre sexualidade e classe social foi apreendida a partir da noção de territorialidade. A periferia de São Paulo parece interferir na maneira como as mulheres se apropriam e performatizam gênero. Percebemos relação entre regiões centrais e maior flexibilidade na expressão de gênero e de orientação sexual. No tocante aos temas relativos à saúde e à saúde sexual, os resultados apontam para a invisibilidade bissexual no contexto clínico. As dificuldades de lésbicas e bissexuais na consulta ginecológica vão desde receios quanto à exposição da orientação sexual até a não validação de sua sexualidade, quando sua vivência sexual com mulher é classificada como não sexo pelo profissional que a atende. A consulta em ginecologia opera com preponderância dos aspectos reprodutivos em detrimentos dos sexuais e é marcada por pressupostos heteronormativos. A intersecção entre orientação sexual e gênero pode produzir invisibilidade às bissexuais, que são lidas socialmente enquanto heterossexuais ou homossexuais |
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Lésbicas e mulheres bissexuais: uma leitura interseccional do cuidado à saúdeLesbian and bisexual women: an intersectional approach to health careAssistência integral à saúdeBisexualityBissexualidadeComprehensive health careConstrução social da identidadeInterseccionalidadeIntersectionalityLesbianLésbicaSexualidadeSexualitySocial constructions of identityA invisibilidade das lésbicas e das mulheres bissexuais, bem como a escassez de conhecimento científico a seu respeito ainda se faz presente no Brasil. Nas políticas de saúde brasileira elas são incluídas na Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher de 2003 e na Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transgêneros de 2010. No entanto, é imprescindível conhecer suas concepções e práticas de saúde, no sentido de possibilitar interpelar as políticas elaboradas e identificar desvantagens sociais relacionadas aos processos de discriminação a que são submetidas. Este trabalho, de vertente qualitativa, teve por objetivo analisar como as lésbicas e mulheres bissexuais vivenciam a sexualidade e experienciam o cuidado à saúde em geral e à saúde sexual, em particular, a partir da abordagem da interseccionalidade. Participaram da pesquisa 17 mulheres com 18 anos ou mais que se auto referiram lésbicas ou bissexuais. A produção dos dados empíricos se deu por meio de entrevistas semiestruturadas seguindo roteiro temático previamente elaborado. Os cuidados éticos incluíram explicação detalhada acerca dos objetivos da pesquisa, de modo a garantir a participação voluntária e a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O estudo foi aprovado pelo comitê de ética da USP. Todas as entrevistas foram gravadas e transcritas. Para análise dos dados utilizamos a abordagem da interseccionalidade, compreendendo como os marcadores sociais da diferença dialogam com o cuidado à saúde. A idade das participantes variou de 19 a 68 anos; seis eram negras, nove brancas e duas pardas; doze eram lésbicas e cinco bissexuais. Raça/cor e orientação sexual foram auto referidos. A diversidade na composição das participantes foi uma escolha metodológica para abarcar diferentes marcas identitárias quanto à raça, classe social, geração e orientação sexual. A intersecção entre sexualidade e geração opera vulnerabilizando mulheres jovens, pois estão expostas a intenso sofrimento psíquico em função da dependência financeira de familiares. Questões raciais surgiram no discurso de mulheres negras como marca identitária e de opressão em situações para além de contexto de saúde. O sentido e a visibilidade em torno da orientação sexual dependem, entre outras coisas, de experiências racistas. Finalmente, o intercruzamento entre sexualidade e classe social foi apreendida a partir da noção de territorialidade. A periferia de São Paulo parece interferir na maneira como as mulheres se apropriam e performatizam gênero. Percebemos relação entre regiões centrais e maior flexibilidade na expressão de gênero e de orientação sexual. No tocante aos temas relativos à saúde e à saúde sexual, os resultados apontam para a invisibilidade bissexual no contexto clínico. As dificuldades de lésbicas e bissexuais na consulta ginecológica vão desde receios quanto à exposição da orientação sexual até a não validação de sua sexualidade, quando sua vivência sexual com mulher é classificada como não sexo pelo profissional que a atende. A consulta em ginecologia opera com preponderância dos aspectos reprodutivos em detrimentos dos sexuais e é marcada por pressupostos heteronormativos. A intersecção entre orientação sexual e gênero pode produzir invisibilidade às bissexuais, que são lidas socialmente enquanto heterossexuais ou homossexuaisThe invisibility of lesbians and bisexual women, as well as the scarcity of scientific knowledge about them, is still present in Brazil. In Brazilian health policies, they are included in the National Policy for Integral Attention to Women\'s Health of 2003 and in the National Policy of Integral Health Care for Lesbian, Gay, Bisexual, Transgender and Transgender of 2010. However, it is imperative to know their conceptions and health practices, in order to make it possible to question the policies elaborated and to identify social disadvantages related to the discrimination processes to which they are submitted. This qualitative study aimed to analyze how lesbians and bisexual women experience sexuality and experience general health care and sexual health, in particular, from the intersectionality approach. The study was attended by 17 women aged 18 years or over who reported on lesbians or bisexuals. The production of the empirical data was done through semi-structured interviews following the thematic route previously elaborated. Ethical care included a detailed explanation of the research objectives, in order to guarantee voluntary participation and the signing of the Informed Consent Term. The study was approved by the ethics committee of USP. All interviews were recorded and transcribed. To analyze the data we use the intersectionality approach, understanding how the social markers of difference dialogue with health care. The participants\' ages ranged from 19 to 68 years; six were black, nine were white, and two were brown; twelve were lesbian and five bisexual. Race / color and sexual orientation were self-reported. The diversity in the composition of the participants was a methodological choice to embrace different identity marks regarding race, social class, generation and sexual orientation. The intersection between sexuality and generation operates by vulnerabilizing young women, as they are exposed to intense psychological suffering due to the financial dependence of their families. Racial questions have emerged in the discourse of black women as an identity mark and oppression in situations beyond a health context. The sense and visibility of sexual orientation depend, among other things, on racist experiences. Finally, the interbreeding between sexuality and social class was apprehended from the notion of territoriality. The periphery of São Paulo seems to interfere with the way women appropriate and performatize gender. We perceive the relationship between central regions and greater flexibility in the expression of gender and sexual orientation. Regarding health and sexual health issues, the results point to bisexual invisibility in the clinical context. The difficulties of lesbians and bisexuals in the gynecological consultation range from fears about the exposure of sexual orientation to the non-validation of their sexuality, when their sexual experience with women is classified as non-sex by the professional who attends her. The consultation in gynecology operates with preponderance of the reproductive aspects in detriments of the sexual and is marked by heteronormative assumptions. The intersection between sexual orientation and gender can produce invisibility to bisexuals, who are read socially as heterosexual or homosexualBiblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPFalcão, Marcia Thereza CoutoRodrigues, Julliana Luiz2018-12-11info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5137/tde-21032019-105431/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2024-08-05T14:54:02Zoai:teses.usp.br:tde-21032019-105431Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212024-08-05T14:54:02Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false |
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