\"O que não tem remédio, remediado está\": medicalização da vida e algumas implicações da presença do saber médico na educação.

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Renata Lauretti Guarido
Data de Publicação: 2008
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://doi.org/10.11606/D.48.2008.tde-16062008-140514
Resumo: O presente estudo discute a medicalização dos discursos escolares. A pesquisa buscou evidenciar que a medicalização dos discursos escolares ganha novos contornos a partir do desenvolvimento das pesquisas em biologia e neurociências (desde a segunda metade do século XX), bem como discute o uso cada vez maior de medicações, especialmente as psiquiátricas, no mundo contemporâneo. Evidencia que a descrição dos fenômenos humanos em termos de seu funcionamento orgânico contribui para a naturalização das experiências escolares, bem como para sua patologização. O trabalho aponta que as propostas higienistas do inicio do século XX levaram a um controle disciplinar e uma moralização das práticas de educação, tanto escolares como familiares. Na atualidade, no entanto, a difusão das pesquisas da área médica em neurociências - que buscam no funcionamento cerebral os fundamentos da aprendizagem e as explicações dos sofrimentos psíquicos - determina outro panorama para o que se tem chamado de medicalização do discurso escolar. Para tratar das formas assumidas hoje pela medicalização, este estudo investiga a difusão do saber médico ao longo da modernidade, tomando por referência os estudos de Foucault sobre as práticas disciplinares e sobre o Bio-poder. Além da revisão teórica, este estudo analisa a produção de um veículo da mídia dirigida aos professores, a revista Nova Escola (Editora Abril), buscando evidenciar como o saber médico está presente na informação atualmente oferecida a esses profissionais. A análise da produção da revista permitiu reconhecer que tais informações têm aderido a uma descrição biológica dos fenômenos humanos e a uma decifração do processo de aprendizagem em termos do funcionamento cerebral. Além disso, instrumentos de diagnóstico médico passam a ser oferecidos como informação necessária para que o professor possa identificar as problemáticas apresentadas pelas crianças na escola. Observa-se, assim, uma demanda social de que o professor seja uma extensão do especialista no interior da escola. Na conclusão do trabalho, discutem-se algumas das possíveis implicações que a presença atual do saber médico no discurso pedagógico tem para a educação. Tal discussão está fundamentada na análise de Hannah Arendt sobre as transformações no campo da política e do espaço público no mundo moderno, bem como em algumas contribuições da psicanálise para pensar a crise na educação na atualidade. Salienta-se a desresponsabilização dos adultos pela dimensão formativa da educação e a outorga de poder aos remédios como recurso para dar conta da tarefa educacional no mundo contemporâneo.
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Evidencia que a descrição dos fenômenos humanos em termos de seu funcionamento orgânico contribui para a naturalização das experiências escolares, bem como para sua patologização. O trabalho aponta que as propostas higienistas do inicio do século XX levaram a um controle disciplinar e uma moralização das práticas de educação, tanto escolares como familiares. Na atualidade, no entanto, a difusão das pesquisas da área médica em neurociências - que buscam no funcionamento cerebral os fundamentos da aprendizagem e as explicações dos sofrimentos psíquicos - determina outro panorama para o que se tem chamado de medicalização do discurso escolar. Para tratar das formas assumidas hoje pela medicalização, este estudo investiga a difusão do saber médico ao longo da modernidade, tomando por referência os estudos de Foucault sobre as práticas disciplinares e sobre o Bio-poder. Além da revisão teórica, este estudo analisa a produção de um veículo da mídia dirigida aos professores, a revista Nova Escola (Editora Abril), buscando evidenciar como o saber médico está presente na informação atualmente oferecida a esses profissionais. A análise da produção da revista permitiu reconhecer que tais informações têm aderido a uma descrição biológica dos fenômenos humanos e a uma decifração do processo de aprendizagem em termos do funcionamento cerebral. Além disso, instrumentos de diagnóstico médico passam a ser oferecidos como informação necessária para que o professor possa identificar as problemáticas apresentadas pelas crianças na escola. Observa-se, assim, uma demanda social de que o professor seja uma extensão do especialista no interior da escola. Na conclusão do trabalho, discutem-se algumas das possíveis implicações que a presença atual do saber médico no discurso pedagógico tem para a educação. Tal discussão está fundamentada na análise de Hannah Arendt sobre as transformações no campo da política e do espaço público no mundo moderno, bem como em algumas contribuições da psicanálise para pensar a crise na educação na atualidade. Salienta-se a desresponsabilização dos adultos pela dimensão formativa da educação e a outorga de poder aos remédios como recurso para dar conta da tarefa educacional no mundo contemporâneo. The present study discusses the medicalization of school discourses. The research sought to evidence that the medicalization of school discourses has gained new contours as research in biology and neurosciences developed (from the mid twentieth century onwards), as well as discuss the ever-increasing use of medications, especially psychiatric, in the contemporary world. It provides evidence that the description of human phenomena, in terms of their organic functioning, contributes to the naturalization of school experiences, as well as to their pathologization. The work reveals that the medicalization present in the hygienist proposals of the early 20th century took place by way of disciplinary control and the moralization of educational practices, both in school and in the family. At present, however, widespread research in the medical field of neurosciences - which seek to identify in the functioning of the brain the foundations of learning and the explanations for psychic suffering- determines other contours to what has been called the medicalization of school discourse. As it addresses the forms medicalization has taken today, this study investigates the diffusion of medical knowledge throughout modernity, drawing on the studies by Foucault on disciplinary practices and on Bio-power. In addition to the theoretical review, this study analyzes the production of a media vehicle catering to teachers, magazine Nova Escola (New School), published by Editora Abril, in an attempt to demonstrate how the medical knowledge is embedded in the information presently provided to these professionals. The analysis of the magazine\'s production enabled the recognition that such information has adhered to a biological description of human phenomena and to a deciphering of the learning process in terms of brain functioning. Moreover, we noticed the spread of medical diagnosis tools as necessary information for the teacher to identify school-related problems in children. We observe thus a social demand for the teacher to be an extension of the specialist within the school. In the conclusion, we discuss some of the possible implications to education of the current presence of the medical knowledge in the pedagogical discourse. Building on Hannah Arendt\'s analysis of the transformations in the field of politics and on public space in the modern world, as well as on some contributions by psychoanalysis toward the thinking of the crisis in the education of our times, we underscore the deresponsibilization of adults for the formative dimension of education and the relinquishing of power to medication as a resource towards the carrying out of the educational endeavor in the contemporary world. https://doi.org/10.11606/D.48.2008.tde-16062008-140514info:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USP2023-12-21T19:06:28Zoai:teses.usp.br:tde-16062008-140514Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212023-12-22T12:44:55.607631Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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