O Grupo Rio Pardo (Proterozoico médio a superior) : uma cobertura paraplataformal da margem sudeste do Cráton do São Francisco

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Karmann, Ivo
Data de Publicação: 1987
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/44/44131/tde-25042014-095059/
Resumo: A bacia do Grupo Rio Pardo localiza-se na margem sudeste do Cráton do São Francisco, marcando a transição do domínio cratônico para o de faixa dobrada nesta área. O Grupo Rio Pardo inicia-se na base com metapsefitos e psamitos imaturos da Formação Panelinha, depositados em leques aluviais com correntes detríticas subaquáticas, associados a um relêvo acidentado conseqüente do abatimento de blocos e formação de bacias do tipo \"graben\" ou \"hemi-graben\". Sugere-se que a subsidência destes blocos crustais ocorreu devido a um regime tracional da crosta siálica, relacionado provavelmente com a intrusão de diques básicos freqüentes no embasamento da bacia, datados por volta de 1.100 m.a.. Seguiu-se uma fase de calmaria tectônica, com transgressão dos metapelitos, metapsamitos finos e rochas metacarbonatadas com intercalações psamíticas dos Membros Camacã, Água Preta, Serra do Paraíso e Santa Maria, que constituem variações faciológicas laterais da Formação Itaimbé. Os dois primeiros representam um sistema deposicional deltaico, com um fácies proximal de planície deltáica que passa para o frontal mais interno da bacia. Os Membros Serra do Paraíso e Santa Maria correspondem a um depósito de plataforma marinha carbonática com fácies de planície de maré e zonas mais profundas, adjacentes ao sistema deltaico. A Formação Salobro, topo da seqüência do Rio Pardo, com metapsamitos, metapsefitos imaturos, é produto de uma fase epirogenética do embasamento, com reativação de falhamentos normais, que produziram um relevo emerso, que condicionou a erosão parcial das unidades subjacentes, alimentando fluxos detríticos subaquáticos com caráter turbidítico. A estratigrafia aqui apresentada, com somente três formações, difere das várias colunas recentemente propostas, com no mínimo cinco formações, devido às evidências de importantes variações faciológicas e repetições tectônicas. Compartimentou-se a bacia do Grupo Rio Pardo em duas ) unidades litoestruturais. A unidade litoestrutural 1 abrange o setor nordeste da bacia, sendo limitada a sudoeste pela falha inversa Rio Pardo - Água Preta de direção NW-SE e vergência para NE. Caracteriza um bloco antóctone com dobramentos abertos e clivagem ardosiana a norte, que se intensificam no sentido SW, através da presença de megadobras inversas e xistosidade, associadas a primeira fase de deformação. Esta causou um encurtamento de no máximo 15% na cobertura metassedimentar. A unidade lito-estrutural 2 inicia-se a sudoeste da falha inversa Rio Pardo - Água Preta, caracterizando um bloco sub-autóctone com dobramentos fechados relacionados principalmente à segunda fase de deformação e com transporte tectônico para NE. O encurtamento devido à segunda fase foi avaliado em 35% a 40%, o que condicionou um descolamento generalizado da cobertura metassedimentar deste bloco. Registrou-se, localmente nesta unidade, um terceiro evento deformacional com vergência ENE e dobras locais de terceira fase, sendo consequüente da tectônica compressiva de blocos do embasamento ao longo de falhamentos inversos NS na borda oeste da bacia e localmente no inerior da mesma. O metamorfismo da bacia está associado à primeira fase de deformação, sendo crescente de NE para SW, desde o grau incipiente, atingindo o grau fraco na unidade litoestrutural 2, caracterizando um metamorfismo regional intermediário do tipo Barroviano na zona da clorita e biotita. A idade máxima do Grupo Rio Pardo foi restringida a cerca de 1.100 m.a. (final do Proterozóico Médio), sendo a idade de 550 m.a. mínima, correspondendo ao metamorfismo do ciclo Brasiliano. Em função da ausência de magmatismo, das características litológicas e estruturais da bacia, conclui-se que o Grupo Rio Pardo constitui uma cobertura cratônica gerada no final do proterozóico Médio e início do Superior, num regime paraplataformal do cráton do São Francisco). Posteriormente sofreu parcialmente a tecnogênese brasiliana, associada à instalação da faixa de dobramentos Araçuaí, adjacente à borda sudeste do cráton. Nesta fase, a bacia do Grupo Rio Pardo insere-se num contexto de antepaís em relação à faixa Aracuaí. O limite geológico do cráton do São Francisco nesta área foi traçado ao longo da falha inversa Rio Pardo - Água Preta que limita o domínio de faixa dobada da região considerada pericratônica a cratônica a unidade lito-estrutural 2 pertence portanto à Faixa Araçuaí. No contexto do cráton do São Francisco, correlacionou-se as Formações Salobro e Bebedouro, em função de suas semelhantes litológicas e devido à presença de ambas de uma importante discordância erosiva, conseqüente de uma fase epirogenética generalizada do cráton no final do Proterozóico Médio. Esta discordância marca o topo do Grupo Chapada Diamantina e a base da Formação Bebedouro na cobertura do cráton (distante do Rio Pardo de 240 Km), como também das unidades correlatas no domínio da faixa Araçuaí. Desta forma, as Formações Panelinha e Itambé são correspondentes, estratigraficamente, às unidades superiores do Grupo Chapada Diamantina e Supergrupo Espinhaço. Em relação à unidade da Faixa do Congo Ocidental, que constituiu juntamente com a Faixa Araçuaí um orógeno brasiliano/pan-africano intracontinental com vergência centrífuga, o Grupo Rio Pardo é correlacionado aos Grupos Sansikwa e Haut Shiloango, ou a parte superior do Supergrupo Mayombiano e parte inferior ao Supergrupo Oeste Congoliano.
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Seguiu-se uma fase de calmaria tectônica, com transgressão dos metapelitos, metapsamitos finos e rochas metacarbonatadas com intercalações psamíticas dos Membros Camacã, Água Preta, Serra do Paraíso e Santa Maria, que constituem variações faciológicas laterais da Formação Itaimbé. Os dois primeiros representam um sistema deposicional deltaico, com um fácies proximal de planície deltáica que passa para o frontal mais interno da bacia. Os Membros Serra do Paraíso e Santa Maria correspondem a um depósito de plataforma marinha carbonática com fácies de planície de maré e zonas mais profundas, adjacentes ao sistema deltaico. A Formação Salobro, topo da seqüência do Rio Pardo, com metapsamitos, metapsefitos imaturos, é produto de uma fase epirogenética do embasamento, com reativação de falhamentos normais, que produziram um relevo emerso, que condicionou a erosão parcial das unidades subjacentes, alimentando fluxos detríticos subaquáticos com caráter turbidítico. A estratigrafia aqui apresentada, com somente três formações, difere das várias colunas recentemente propostas, com no mínimo cinco formações, devido às evidências de importantes variações faciológicas e repetições tectônicas. Compartimentou-se a bacia do Grupo Rio Pardo em duas ) unidades litoestruturais. A unidade litoestrutural 1 abrange o setor nordeste da bacia, sendo limitada a sudoeste pela falha inversa Rio Pardo - Água Preta de direção NW-SE e vergência para NE. Caracteriza um bloco antóctone com dobramentos abertos e clivagem ardosiana a norte, que se intensificam no sentido SW, através da presença de megadobras inversas e xistosidade, associadas a primeira fase de deformação. Esta causou um encurtamento de no máximo 15% na cobertura metassedimentar. A unidade lito-estrutural 2 inicia-se a sudoeste da falha inversa Rio Pardo - Água Preta, caracterizando um bloco sub-autóctone com dobramentos fechados relacionados principalmente à segunda fase de deformação e com transporte tectônico para NE. O encurtamento devido à segunda fase foi avaliado em 35% a 40%, o que condicionou um descolamento generalizado da cobertura metassedimentar deste bloco. Registrou-se, localmente nesta unidade, um terceiro evento deformacional com vergência ENE e dobras locais de terceira fase, sendo consequüente da tectônica compressiva de blocos do embasamento ao longo de falhamentos inversos NS na borda oeste da bacia e localmente no inerior da mesma. O metamorfismo da bacia está associado à primeira fase de deformação, sendo crescente de NE para SW, desde o grau incipiente, atingindo o grau fraco na unidade litoestrutural 2, caracterizando um metamorfismo regional intermediário do tipo Barroviano na zona da clorita e biotita. A idade máxima do Grupo Rio Pardo foi restringida a cerca de 1.100 m.a. (final do Proterozóico Médio), sendo a idade de 550 m.a. mínima, correspondendo ao metamorfismo do ciclo Brasiliano. Em função da ausência de magmatismo, das características litológicas e estruturais da bacia, conclui-se que o Grupo Rio Pardo constitui uma cobertura cratônica gerada no final do proterozóico Médio e início do Superior, num regime paraplataformal do cráton do São Francisco). Posteriormente sofreu parcialmente a tecnogênese brasiliana, associada à instalação da faixa de dobramentos Araçuaí, adjacente à borda sudeste do cráton. Nesta fase, a bacia do Grupo Rio Pardo insere-se num contexto de antepaís em relação à faixa Aracuaí. O limite geológico do cráton do São Francisco nesta área foi traçado ao longo da falha inversa Rio Pardo - Água Preta que limita o domínio de faixa dobada da região considerada pericratônica a cratônica a unidade lito-estrutural 2 pertence portanto à Faixa Araçuaí. No contexto do cráton do São Francisco, correlacionou-se as Formações Salobro e Bebedouro, em função de suas semelhantes litológicas e devido à presença de ambas de uma importante discordância erosiva, conseqüente de uma fase epirogenética generalizada do cráton no final do Proterozóico Médio. Esta discordância marca o topo do Grupo Chapada Diamantina e a base da Formação Bebedouro na cobertura do cráton (distante do Rio Pardo de 240 Km), como também das unidades correlatas no domínio da faixa Araçuaí. Desta forma, as Formações Panelinha e Itambé são correspondentes, estratigraficamente, às unidades superiores do Grupo Chapada Diamantina e Supergrupo Espinhaço. Em relação à unidade da Faixa do Congo Ocidental, que constituiu juntamente com a Faixa Araçuaí um orógeno brasiliano/pan-africano intracontinental com vergência centrífuga, o Grupo Rio Pardo é correlacionado aos Grupos Sansikwa e Haut Shiloango, ou a parte superior do Supergrupo Mayombiano e parte inferior ao Supergrupo Oeste Congoliano.The proterozoic Rio Pardo Group, located in the southeastern part of Bahia State, begins with the immature coarse clastics of the Panelinha Formation, formed by alluvial fans and subaqueous debris flows. The subsidence of its granulitic basement resulted probably from tractional stress in the crust, with associated normal faulting and intrusion of basic dikes. These are at least 1.100 My old, from the radiometric evidence. The overlying Itaimbé Formation is related to a transgression during a period of low tectonic activity. It is made up of the Camacã (metapelites with local carbonates), Água Preta (fine metapsamites and local carbonates), Serra do Paraíso and Santa Maria (metapsamites interstratified with metacarbonates) Members. The general environent seems to have been a deltaic system adjacent to a marine carbonate platform, with tidal flats and shallow marine siliclastic facies. The Salobro Formation consists of immature coarse and local fine clastic rocks, disconformably overlying the Itaimbé Formation. The rocks were mainly deposited as subaqueous debris flows with local turbidites, within a submarine fan system. The three fold stratigraphy here proposed for the Rio Pardo Group, differs from the already existent stratigraphic columns, all them with at least five formations. This is due to the recognition of important lateral facies variations, as well as tectonic repetitions of the sequences, as described in the present work. Two litho-structural units can be described for the Rio Pardo Group, the first one occupying the northeastern part of the basin, and the second in the southwestern part of the basin, the limit between them being clearly marked by the Rio Pardo-Água Preta inverse fault, trending NW-SE and dipping southwesterly. The first unit is autochthonous, displaying open folds and slaty cleavage, but grading southwesterly into large overturned folds with axial plane schistosity. This unit is monophasic and exhibits tectonic shortening of 15%. The second unit is polyphasic and exhibits large folds with a northeastern vergence. Tectonic shortening of about 40% is produced mainly during the second and most important deformational phase. A third folding phase is locally conspicuous, displays a E-NE vergence, and increases in intensity towards the western border of the basin. Regional metamorphism of the Rio Pardo Group is associated with the first phase of folding, and can be described as an intermediate Barrowian type in the chlorite and biotite zone. A lower limit to the depositional age of the Rio Pardo Group is given by some radiometric determinations on basic dikes intruding the basement, which yielded apparent K-Ar ages of about 1.100 My. The upper limit is set by Rb-Sr ages of about 550 My, which correspond to the late tectonic phases of the Brasiliano orogeny. On the basis of structural pattern and absence of magmatism, the Rio Pardo Group can be classified as a cratonic cover, whose sedimentation occured during a paraplataformal stage of the São Francisco craton. It was affected by intense tectonism due to the development of the Araçuaí fold belt, at the southeastern border of the craton. Moreover, the Rio Pardo-Água Preta fault is here assumed as the tectonic boundary between the São Francisco craton and the Araçuaí folded belt, which means that, in the author\'s opinion, the south-western part of the Rio Pardo Group, tectonized and regionally metamorphosed, really belongs to the Araçuaí belt of the Brasiliano orogeny. In the context of the São Francisco craton, the Salobro Formation can be correlated, on the basis of lithologic similarities, with the Bebebdouro Formation. The both began upon an important disconformity, probably due to a regional epeirogenes of the craton in the late Proterozoic. The Panelinha and Itaimbé Formations of the Rio Pardo Group are here considered as stratigraphically equivalent to the upper Chapada Diamantina Group and upper Espinhaço Supergroup. The Rio Pardo Group can also be correlated either with the Sanksikwa and Haut Shiloango Groups of the West Congo Belt (Africa), or with the upper part of the Mayombe Supergroup and the lower unit of the West Congolian Supergroup.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPTrompette, Roland RaymundKarmann, Ivo1987-09-03info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/44/44131/tde-25042014-095059/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2016-07-28T16:11:49Zoai:teses.usp.br:tde-25042014-095059Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212016-07-28T16:11:49Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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A unidade litoestrutural 1 abrange o setor nordeste da bacia, sendo limitada a sudoeste pela falha inversa Rio Pardo - Água Preta de direção NW-SE e vergência para NE. Caracteriza um bloco antóctone com dobramentos abertos e clivagem ardosiana a norte, que se intensificam no sentido SW, através da presença de megadobras inversas e xistosidade, associadas a primeira fase de deformação. Esta causou um encurtamento de no máximo 15% na cobertura metassedimentar. A unidade lito-estrutural 2 inicia-se a sudoeste da falha inversa Rio Pardo - Água Preta, caracterizando um bloco sub-autóctone com dobramentos fechados relacionados principalmente à segunda fase de deformação e com transporte tectônico para NE. O encurtamento devido à segunda fase foi avaliado em 35% a 40%, o que condicionou um descolamento generalizado da cobertura metassedimentar deste bloco. Registrou-se, localmente nesta unidade, um terceiro evento deformacional com vergência ENE e dobras locais de terceira fase, sendo consequüente da tectônica compressiva de blocos do embasamento ao longo de falhamentos inversos NS na borda oeste da bacia e localmente no inerior da mesma. O metamorfismo da bacia está associado à primeira fase de deformação, sendo crescente de NE para SW, desde o grau incipiente, atingindo o grau fraco na unidade litoestrutural 2, caracterizando um metamorfismo regional intermediário do tipo Barroviano na zona da clorita e biotita. A idade máxima do Grupo Rio Pardo foi restringida a cerca de 1.100 m.a. (final do Proterozóico Médio), sendo a idade de 550 m.a. mínima, correspondendo ao metamorfismo do ciclo Brasiliano. Em função da ausência de magmatismo, das características litológicas e estruturais da bacia, conclui-se que o Grupo Rio Pardo constitui uma cobertura cratônica gerada no final do proterozóico Médio e início do Superior, num regime paraplataformal do cráton do São Francisco). Posteriormente sofreu parcialmente a tecnogênese brasiliana, associada à instalação da faixa de dobramentos Araçuaí, adjacente à borda sudeste do cráton. Nesta fase, a bacia do Grupo Rio Pardo insere-se num contexto de antepaís em relação à faixa Aracuaí. O limite geológico do cráton do São Francisco nesta área foi traçado ao longo da falha inversa Rio Pardo - Água Preta que limita o domínio de faixa dobada da região considerada pericratônica a cratônica a unidade lito-estrutural 2 pertence portanto à Faixa Araçuaí. 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