Niilismo: estrada para a emancipação. O destino literário das personagens femininas russas na época das Grandes Reformas (1855-1866)

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Fonseca Filho, Odomiro Barreiro
Data de Publicação: 2017
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8155/tde-08062020-151026/
Resumo: Esta tese tem como objetivo mostrar como o fenômeno social do Niilismo Russo influenciou a mudança de atitude da personagem feminina durante o período das Grandes Reformas, que compreende o espaço temporal entre 1855 e 1866, tempo em que o tsar Alexandre II manteve-se aberto à discussão das pautas liberais. Durante a primeira metade do século XIX, a mulher foi representada pela literatura masculina como uma musa repleta de qualidades desejadas como fetiches pelos escritores, como a beleza, a fidelidade e a resiliência. Enquanto isso, a literatura escrita por mulheres ainda dava seus primeiros passos, imitando os modelos estéticos da literatura oficial, masculina. Com o amadurecimento dos debates liberais e a abertura política oferecida pelo novo tsar, a década de 1850 assistiu a uma intensa discussão sobre os destinos estéticos que a literatura russa deveria seguir, a fim de se tornar um instrumento ainda mais poderoso para a divulgação de ideias progressistas. Destarte, a Questão Feminina entrou na pauta literária, e, para o surgimento de um novo Realismo mais didático e próximo da linguagem popular , urgia a presença dessa nova mulher: emancipada, desafiadora e ativa. Estudaremos a evolução desse novo tipo literário por meio das personagens: Liôlienka, da novela A Moça do Internato (1860), da escritora Nadiêjda Khvoshchínskaia; e Maria Schettína, do romance Tempos Difíceis (1865), de Vassíli Sleptsov. Nossa análise buscará cotejar as obras supracitadas com outros trabalhos basilares com quem dialogavam, entre eles, os romances Na Véspera (1860) e Pais e Filhos (1862), ambos de Ivan Turguêniev, e O Que Fazer? (1863), de Nikolai Tchernichévski. Outrossim, a lembrança tardia de Sofia Kovaliêvskaia, na novela A Garota Niilista (1890), rememora aspectos fundamentais dessa literatura niilista. Num ambiente em que literatura e realidade se influenciavam conjuntamente, a construção de uma imagem que agradasse, estética e politicamente, era uma necessidade que envolvia destino e identidade nacional. As interpretações acerca dessa personagem movimentavam adversários políticos, e não tardou para que uma versão negativa da atuação feminina e que também se pretendia Realista movimentasse um modelo de literatura anti-niilista, que teve em Nikolai Leskov e Aleksei Píssemski, seus nomes mais engajados. A construção do tipo feminino niilista atingiu uma repercussão gigantesca, tornando-se um símbolo cultural russo na segunda metade do século XIX; suas reinterpretações e deformações extrapolaram as fronteiras do imenso país e o ar de mistério e revolução que sua imagem suscitava, atraiu a atenção de escritores ao redor do mundo. Entre eles, o irlandês Oscar Wilde e o brasileiro, Gonzaga Duque, cujas contribuições analisaremos no último capítulo da tese.
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Enquanto isso, a literatura escrita por mulheres ainda dava seus primeiros passos, imitando os modelos estéticos da literatura oficial, masculina. Com o amadurecimento dos debates liberais e a abertura política oferecida pelo novo tsar, a década de 1850 assistiu a uma intensa discussão sobre os destinos estéticos que a literatura russa deveria seguir, a fim de se tornar um instrumento ainda mais poderoso para a divulgação de ideias progressistas. Destarte, a Questão Feminina entrou na pauta literária, e, para o surgimento de um novo Realismo mais didático e próximo da linguagem popular , urgia a presença dessa nova mulher: emancipada, desafiadora e ativa. Estudaremos a evolução desse novo tipo literário por meio das personagens: Liôlienka, da novela A Moça do Internato (1860), da escritora Nadiêjda Khvoshchínskaia; e Maria Schettína, do romance Tempos Difíceis (1865), de Vassíli Sleptsov. Nossa análise buscará cotejar as obras supracitadas com outros trabalhos basilares com quem dialogavam, entre eles, os romances Na Véspera (1860) e Pais e Filhos (1862), ambos de Ivan Turguêniev, e O Que Fazer? (1863), de Nikolai Tchernichévski. Outrossim, a lembrança tardia de Sofia Kovaliêvskaia, na novela A Garota Niilista (1890), rememora aspectos fundamentais dessa literatura niilista. Num ambiente em que literatura e realidade se influenciavam conjuntamente, a construção de uma imagem que agradasse, estética e politicamente, era uma necessidade que envolvia destino e identidade nacional. As interpretações acerca dessa personagem movimentavam adversários políticos, e não tardou para que uma versão negativa da atuação feminina e que também se pretendia Realista movimentasse um modelo de literatura anti-niilista, que teve em Nikolai Leskov e Aleksei Píssemski, seus nomes mais engajados. A construção do tipo feminino niilista atingiu uma repercussão gigantesca, tornando-se um símbolo cultural russo na segunda metade do século XIX; suas reinterpretações e deformações extrapolaram as fronteiras do imenso país e o ar de mistério e revolução que sua imagem suscitava, atraiu a atenção de escritores ao redor do mundo. Entre eles, o irlandês Oscar Wilde e o brasileiro, Gonzaga Duque, cujas contribuições analisaremos no último capítulo da tese.This thesis aims to show how the social phenomenon of Russian Nihilism influenced the change of attitude of the female character during the period of the Great Reforms, which comprises the space between 1855 and 1866, at which time Tsar Alexander II remained open to Discussion of liberal guidelines. During the first half of the nineteenth century, woman was represented by male literature as a muse replete with fetish qualities desired by the writers themselves, such as beauty, fidelity, and resilience. Meanwhile, literature written by women was still taking its first steps, imitating the aesthetic models of \"official literature\", masculine. With the maturing of liberal debates and the political overture offered by the new tsar, the 1850s lived an intense dispute about the aesthetic\'s destinies which Russian Literature should follow in order to become an even more powerful instrument for the dissemination of Progressive ideas. Thus, the Women Question entered in the literary agenda with the emergence of a new Realism - more didactic and close to the popular language. Thereunto urged the presence of a new female character: emancipated, challenging and active. We will also discuss the evolution of this new literary type through the characters: Liôlienka, from the novel \"The Boarding-School Girl\" (1860), by the writer Nadezhda Khvoshchinskaya; and also Maria Schettína, from the novel \"Hard Times\" (1865), by Vasily Sleptsov. Our analysis will compare the mentioned works with other contemporary narratives with whom they dialogue, as the novels \"On the Eve\" (1860) and \"Fathers and Sons\" (1862), both by Ivan Turgenev, and \"What Is To Be Done?\" (1863), by Nikolai Chernyshevsky. In addition, the testimonial of Sofia Kovalevskaia, in the novel \"Nihilist Girl\" (1890), recalls fundamental aspects of the nihilist literature from the sixties. In a context in which literature and reality influenced each other, the construction of an image with political and esthetical appeal, was a necessity that influenced on national identity. The interpretations of this character agitated political opponents, and soon was created a negative version of the female model by the anti-nihilist writers, which had in Nikolai Leskov and Aleksei Píssemski their most engaged names. The construction of the nihilist female character reached a gigantic repercussion, becoming a Russian cultural symbol in the second half of the nineteenth century. The reinterpretations and deformations of the nihilist female model crossed the national borders and got the attention of many writers around the world because of the air of mystery and revolution that image evoked. Among them, the Irish writer Oscar Wilde and the Brazilian, Gonzaga Duque, whose contributions we will analyze in the last chapter of the thesis.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPVassina, ElenaFonseca Filho, Odomiro Barreiro2017-03-22info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8155/tde-08062020-151026/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2020-06-08T22:43:02Zoai:teses.usp.br:tde-08062020-151026Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212020-06-08T22:43:02Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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