Sensorialidade e consciência nas experiências alimentares: um estudo de intervenção

• Autor(a) principal: Palazzo, Carina Carlucci
• Data de Publicação: 2023
• Tipo de documento: Tese
• Idioma: por
• Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
• Texto Completo: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/17/17138/tde-11102023-101056/
• topic: Comportamento alimentar; Consciência; Consciousness; Eating behavior; Exterocepção; Exteroception; Interocepção; Interoception; Intervenção nutricional; Nutritional intervention

A percepção e processamento de estímulos sensoriais ambientais (exterocepção) e a percepção do estado interno do corpo (interocepção) são fundamentais para a consciência das experiências vividas e agem em conjunto para modular os comportamentos adaptativos, incluindo o comportamento alimentar. As intervenções nutricionais tradicionais têm se mostrado ineficientes frente aos desafios de manter mudanças alimentares em contextos de estímulos constantes ao consumo alimentar, havendo uma demanda para o desenvolvimento e avaliação de estratégias não baseadas no paradigma tradicional das dietas. O objetivo deste estudo é desenvolver e avaliar o Programa de Educação Alimentar e Nutricional com Exercícios Sensoriais e Cognitivos (PESC) para promoção da consciência das experiências alimentares em mulheres com dificuldade na manutenção do peso corporal. O PESC tem como referencial teórico a teoria da consciência Monismo de Triplo Aspecto. O programa consiste em quatro oficinas com até duas horas de duração nas quais são propostos exercícios que exploram os aspectos sensoriais, cognitivos e emocionais das experiências alimentares contemporâneas a partir dos temas: (1) os sentidos e o prazer alimentar, (2) os sentidos e o desejo alimentar, (3) fome e saciedade - como lidamos com os sinais corporais e (4) como gravamos as experiências no corpo. Trata-se de um ensaio controlado conduzido por meio de metodologia mista. 37 participantes foram divididas entre o grupo intervenção (n = 19), avaliado antes da primeira oficina (T0) e após a última oficina (T1) e o grupo controle (n = 18), que não participou das oficinas e foi avaliado duas vezes (T0 e T1), com intervalo de 3 a 4 semanas. Em T0 e T1 foram avaliados a sensibilidade interoceptiva, por meio de teste de percepção dos batimentos cardíacos; a expressão da percepção de aspectos exteroceptivos, por meio da produção de um texto descrevendo três alimentos após degustá-los, o comer intuitivo por meio da Escala do Comer Intuitivo (IES-2) e o comportamento alimentar por meio do Three-Factor Eating Questionnaire (TFEQ-R21). Em T1, o grupo intervenção participou também de uma entrevista qualitativa para compreensão da experiência de participação nas oficinas do PESC na perspectiva das participantes. Após a intervenção, as participantes mostraram aumento na sensibilidade interoceptiva, aumento na expressão da percepção de estímulos exteroceptivos, aumento no score total do IES-2, e diminuição no score da escala do comer emocional (sub-escala do TFEQ-R21). A análise das entrevistas revelou o processo de auto-observação praticado pelas participantes que levou à percepção das próprias práticas, prioridades, intenções e dificuldades alimentares, e também à conexão entre estes aspectos com questões ambientais. Foram considerados os temas: \"manejo/controle da alimentação\", \"insatisfação corporal\", \"reflexão/ressignificação\" e \"diferentes formas de estar em contextos já conhecidos\". Em conjunto, os resultados permitem inferir que, após a participação no PESC, a intenção de manejo e controle da alimentação passou a ser potencialmente mais efetiva, menos suscetível às oscilações impostas pelo ambiente externo e mais amparada por recursos internos. Este trabalho é pioneiro na avaliação conjunta de aspectos interoceptivos, exteroceptivos e relacionados ao comportamento alimentar, além de trazer contribuições teóricas e metodológicas para o desenvolvimento de intervenções nutricionais inovadoras centradas nos aspectos sensoriais da alimentação, e com potencial de tornar os indivíduos menos vulneráveis aos estímulos ambientais do consumo excessivo de alimentos.