Entre o dito e o maldito: humanismo erasmiano, ortodoxia e heresia nos processos de confessionalização do Ocidente, 1530-1685

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Rui Luis Rodrigues
Data de Publicação: 2012
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://doi.org/10.11606/T.8.2012.tde-06112012-092834
Resumo: Esta tese procura estudar as relações entre o humanismo erasmiano e os processos de confessionalização desenvolvidos no contexto da Europa ocidental a partir da década de 1530. Um dos pressupostos da investigação é a existência de grande distância entre as perspectivas de Erasmo, moldadas segundo as noções de minima dogmata (a definição de um conjunto de dogmas reduzido ao mínimo essencial) e de condescendência para com as diferenças secundárias de doutrina dentro da fé cristã, e a atitude que norteou os processos confessionais, assinalada pelo enrijecimento doutrinário e pela multiplicação de dogmas. Apesar dessa distância, o humanismo erasmiano foi elemento importante na configuração da atitude confessional, tanto pela centralidade que deu à pregação enquanto instrumento catequético, quanto pelo estímulo que proporcionou à abordagem filológica nos estudos bíblicos. Nesse processo frustrou-se o projeto da minima dogmata: a multiplicação de dogmas trouxe, também, a multiplicação das acusações de heresia. Esse resultado ambíguo nos ensina algo sobre as ambiguidades de Erasmo e do seu humanismo. Ambos encontravam-se num contexto de enormes mudanças em todas as áreas, mas ligavam-se profundamente a estruturas sociais e a formas de pensamento do passado. A luta de Erasmo contra a tirania, marcada pela defesa dos antigos privilégios dos ordines contra as intromissões da centralização política, representou uma apropriação criativa dos valores que caracterizaram, cento e cinquenta anos antes, o humanismo cívico florentino; mas se revelou também um programa desprovido de qualquer viabilidade. Como humanista, Erasmo procurava adequar o mundo ao livro (à sabedoria dos Antigos, somada à sabedoria da fé cristã); nesse processo, deu respostas inadequadas aos problemas de sua própria época. Situado num momento de contrastes, na confluência de dois mundos e pertencendo, por formação e por convicção, ao mundo que se dissolvia, o humanismo erasmiano nos ensina muito, tanto sobre as estruturas do mundo medieval em crise como sobre as novas realidades que despontavam.
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Um dos pressupostos da investigação é a existência de grande distância entre as perspectivas de Erasmo, moldadas segundo as noções de minima dogmata (a definição de um conjunto de dogmas reduzido ao mínimo essencial) e de condescendência para com as diferenças secundárias de doutrina dentro da fé cristã, e a atitude que norteou os processos confessionais, assinalada pelo enrijecimento doutrinário e pela multiplicação de dogmas. Apesar dessa distância, o humanismo erasmiano foi elemento importante na configuração da atitude confessional, tanto pela centralidade que deu à pregação enquanto instrumento catequético, quanto pelo estímulo que proporcionou à abordagem filológica nos estudos bíblicos. Nesse processo frustrou-se o projeto da minima dogmata: a multiplicação de dogmas trouxe, também, a multiplicação das acusações de heresia. Esse resultado ambíguo nos ensina algo sobre as ambiguidades de Erasmo e do seu humanismo. Ambos encontravam-se num contexto de enormes mudanças em todas as áreas, mas ligavam-se profundamente a estruturas sociais e a formas de pensamento do passado. A luta de Erasmo contra a tirania, marcada pela defesa dos antigos privilégios dos ordines contra as intromissões da centralização política, representou uma apropriação criativa dos valores que caracterizaram, cento e cinquenta anos antes, o humanismo cívico florentino; mas se revelou também um programa desprovido de qualquer viabilidade. Como humanista, Erasmo procurava adequar o mundo ao livro (à sabedoria dos Antigos, somada à sabedoria da fé cristã); nesse processo, deu respostas inadequadas aos problemas de sua própria época. Situado num momento de contrastes, na confluência de dois mundos e pertencendo, por formação e por convicção, ao mundo que se dissolvia, o humanismo erasmiano nos ensina muito, tanto sobre as estruturas do mundo medieval em crise como sobre as novas realidades que despontavam. This thesis aims to study the relations between Erasmian humanism and the processes of confessionalization developed in Western Europe context from the 1530s. One of the assumptions of the research is that there are great distances between the perspectives and ideas of Erasmus, molded according to the notions of minimal dogmata (defining a set of dogmas reduced to a minimum) and condescension toward the minor differences of doctrine within the Christian faith, and the attitude that guided these confessional processes, marked by doctrinal rigidity and by multiplication of dogmas. This distances notwithstanding, Erasmian humanism was an important element in shaping the confessional attitude, both by the centrality that it gave to catechetical preaching and by the stimulus to philologycal approach in biblical studies. But the project for minima dogmata was thwarted; the multiplication of dogmas brought also the multiplication of heresys accusations. This ambiguous outcome teaches us something about the ambiguities of Erasmus and his humanism. Both were in a context of profound changes in all areas; but both were deeply linked to social structures and ways of thinking of the past. Erasmuss struggle against tyranny, marked by the defense of ordiness ancient privileges against the intrusions of political centralization, represented a criative appropriation of the values of old Florentine civic humanism; but it also revealed a program lacking any viability. As a humanist, Erasmus sought to adapt the world to the book (the wisdom of the Ancients, and the wisdom of the Christian faith); in doing so, Erasmus gave inadequate answers to the problems of his own time. Set in a time of contrasts, at the confluence of two worlds and belonging, by formation and conviction, to the fading world, Erasmian humanism teaches us a lot about the structures of the medieval world in crisis, and about the new realities that was about to breaking out. https://doi.org/10.11606/T.8.2012.tde-06112012-092834info:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USP2023-12-21T18:21:05Zoai:teses.usp.br:tde-06112012-092834Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212023-12-22T12:14:48.671239Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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