Artes marciais chinesas: histórias de vida de mestres brasileiros e as tensões entre a tradição e o modelo esportivo

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Tralci Filho, Marcio Antonio
Data de Publicação: 2014
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/39/39133/tde-01082014-094628/
Resumo: Essa dissertação se propôs a discutir o conceito de tradição, bem como a sua importância, no campo das artes marciais chinesas (Kung Fu) no Brasil. Para tanto, recorri às histórias orais de vida de cinco mestres brasileiros, discípulos de chineses, como fontes primárias para contribuir com essa discussão. Essas narrativas foram cotejadas com os referenciais teóricos a respeito da relação mestre-discípulo, da relação entre tradição e autoridade e de certos momentos da história do Kung Fu, com destaque para o intenso processo de transformação sofrido por essas práticas ao longo do século XX, o que abarcou, inclusive, a migração de alguns mestres para o Brasil. Em concordância com o esboço metodológico proposto por Pierre Bourdieu, a análise desse elemento específico do Kung Fu, a tradição, foi precedida por um delineamento de seu - campo esportivo, o qual revelou que as artes marciais chinesas apresentam, de fato, uma grande dispersão em suas denominações, não somente em relação às suas diversas manifestações, mas também pelas experiências de vida dos mestres de cada denominação e sua relação com questões de classe social, de capital social, de gênero, de raça/etnia e de territorialidade. A respeito da tradição, é unânime a consideração dos entrevistados de que se trata de um elemento fundamental no Kung Fu, sendo que um estilo, escola ou família podem ser denominados tradicionais em razão de sua antiguidade e de sua genealogia. Entretanto, é a justificação da importância do conceito de tradição que demarca dois discursos distintos: o primeiro, remetendo-se à ancestralidade, à fundação e a elementos simbólicos, se volta para a tradição enquanto manutenção do legado dos mestres; o segundo, referendando-se no caráter intrínseco da relação entre mestres e discípulos e em contextualizações histórico-políticas das artes marciais, alude para um processo interpretativo em relação aos elementos considerados tradicionais. Chama a atenção o fato de que ambos os discursos são reticentes em relação ao modelo esportivo, mas sob perspectivas diferentes: se um enfatiza os conteúdos simbólicos e filosóficos em resistência ao tecnicismo, à competitividade e ao apelo estético das manifestações esportivas, o outro pontua as questões que permearam as artes marciais chinesas em relação à dominação política e cultural que sofreram em determinados momentos da história. Desse modo, a presente pesquisa evidenciou que essa circulação de narrativas é relevante para a compreensão do campo esportivo do Kung Fu no Brasil. Além disso, as artes marciais chinesas demonstraram ser um campo privilegiado que permite aos envolvidos entrarem em contato com questões sofisticadas a respeito das relações estreitas que a história, a política, a cultura e a sociedade podem estabelecer com as práticas corporais. Ainda que não sejam nomeados, mitologia e história, sincronia e diacronia, estrutura e transformação, tradição e autoridade são conceitos circulantes caros ao campo esportivo do Kung Fu e que não podem ser negligenciados quando se aborda essa prática de maneira rigorosa e crítica.
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Essas narrativas foram cotejadas com os referenciais teóricos a respeito da relação mestre-discípulo, da relação entre tradição e autoridade e de certos momentos da história do Kung Fu, com destaque para o intenso processo de transformação sofrido por essas práticas ao longo do século XX, o que abarcou, inclusive, a migração de alguns mestres para o Brasil. Em concordância com o esboço metodológico proposto por Pierre Bourdieu, a análise desse elemento específico do Kung Fu, a tradição, foi precedida por um delineamento de seu - campo esportivo, o qual revelou que as artes marciais chinesas apresentam, de fato, uma grande dispersão em suas denominações, não somente em relação às suas diversas manifestações, mas também pelas experiências de vida dos mestres de cada denominação e sua relação com questões de classe social, de capital social, de gênero, de raça/etnia e de territorialidade. A respeito da tradição, é unânime a consideração dos entrevistados de que se trata de um elemento fundamental no Kung Fu, sendo que um estilo, escola ou família podem ser denominados tradicionais em razão de sua antiguidade e de sua genealogia. Entretanto, é a justificação da importância do conceito de tradição que demarca dois discursos distintos: o primeiro, remetendo-se à ancestralidade, à fundação e a elementos simbólicos, se volta para a tradição enquanto manutenção do legado dos mestres; o segundo, referendando-se no caráter intrínseco da relação entre mestres e discípulos e em contextualizações histórico-políticas das artes marciais, alude para um processo interpretativo em relação aos elementos considerados tradicionais. Chama a atenção o fato de que ambos os discursos são reticentes em relação ao modelo esportivo, mas sob perspectivas diferentes: se um enfatiza os conteúdos simbólicos e filosóficos em resistência ao tecnicismo, à competitividade e ao apelo estético das manifestações esportivas, o outro pontua as questões que permearam as artes marciais chinesas em relação à dominação política e cultural que sofreram em determinados momentos da história. Desse modo, a presente pesquisa evidenciou que essa circulação de narrativas é relevante para a compreensão do campo esportivo do Kung Fu no Brasil. Além disso, as artes marciais chinesas demonstraram ser um campo privilegiado que permite aos envolvidos entrarem em contato com questões sofisticadas a respeito das relações estreitas que a história, a política, a cultura e a sociedade podem estabelecer com as práticas corporais. Ainda que não sejam nomeados, mitologia e história, sincronia e diacronia, estrutura e transformação, tradição e autoridade são conceitos circulantes caros ao campo esportivo do Kung Fu e que não podem ser negligenciados quando se aborda essa prática de maneira rigorosa e crítica.This dissertation aimed to discuss the concept of tradition as well as its importance in the field of Chinese martial arts (Kung Fu) in Brazil. To this end, I resorted to the oral life histories of five Brazilian masters, disciples of Chinese ones, as primary sources to contribute to this discussion. These narratives has been confronted with the theoretical background about the master-disciple relationship, the relationship between tradition and authority and certain moments in the history of Kung Fu, especially the intense process of transformation undergone by these practices throughout the twentieth century, which encompassed even the migration of some masters to Brazil. In accordance with the methodological outline proposed by Pierre Bourdieu, the analysis of this particular element of Kung Fu, the tradition, was preceded by a design of its \"sports field\", which revealed that Chinese martial arts have, in fact, a great dispersion in their denominations, not only in relation to their different names and manifestations, but also by the life experiences of the masters of each denomination and its relation to issues of social class, social capital, gender, race/ethnicity and territoriality. Regarding the tradition is unanimous the consideration of the interviewed that it is a fundamental element in Kung Fu, and a style, school or family can be called traditional because of its antiquity and its genealogy. However , is the justification of the importance of the tradition\'s concept that demarcates two distinct discourses: the first, referring to the ancestry, the foundation and symbolic elements, turns to tradition while the maintaining of the masters\' legacy; the second, endorsing on the intrinsic character of the relationship between masters and disciples and the historical and political contextualization of martial arts, refers to an interpretive process in relation to the elements considered traditionals. It calls atention the fact that both discourses are reticent about the sports model but from different perspectives: the first one emphasizes thee symbolic and philosophical content in resistance to the technicality, competitiveness and aesthetic appeal of the sports, the another one points out the issues involved in the Chinese martial arts in relation to political and cultural domination suffered at certain times in it history. Thus, the present study showed that this movement of narratives is relevant for understanding the sports field of Kung Fu in Brazil. Moreover, Chinese martial arts have shown to be a privileged field that allows the subjects involved on it to get in touch with sophisticated issues about the close relations that history, politics, culture and society can be established with body practices. Although not named, mythology and history, synchrony and diachrony, structure and transformation, tradition and authority are circulating concepts valued to the sports field of Kung Fu and that can not be overlooked when discussing this practice rigorously and critically.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPRubio, KatiaTralci Filho, Marcio Antonio2014-06-25info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/39/39133/tde-01082014-094628/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2016-07-28T16:11:54Zoai:teses.usp.br:tde-01082014-094628Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212016-07-28T16:11:54Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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