Estrutura fundiária da Amazônia Legal: território em (re)conhecimento

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Coutinho, Pedro Alves Quilici
Data de Publicação: 2023
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/11/11140/tde-05022024-110555/
Resumo: A estrutura fundiária no Brasil se desenvolveu de forma desordenada e confusa. A terra, um recurso natural que tem como dever cumprir uma função social, foi historicamente dividida e distribuída de forma desigual e conflituosa entre os diferentes grupos sociais. A governança de terras, que abarca tanto os marcos jurídicos e normativos sobre a terra como as práticas tradicionais e informais que contam com legitimidade social não conta, no Brasil, com um sistema de informação espacial capaz de identificar todas as divisões do território nacional. O desconhecimento espacial de uma nação abre brechas para a ocorrência de desmatamento ilegal e para o conflito pelo direito de uso e posse da terra. Particularmente na Amazônia Legal, os conflitos pela terra são recorrentes e o (re)conhecimento do seu território se faz necessário para garantir a preservação ambiental e a manutenção dos direitos dos povos originários. O objetivo deste trabalho foi construir uma malha fundiária para a Amazônia Legal, definindo os conceitos para a divisão do território em categorias fundiárias. A definição levou em conta todo o conjunto de normas legais e consuetudinárias. As bases de dados oficiais foram utilizadas para a construção da malha fundiária. Cerca de 77,3%, ou 387,4 Mha, do território da Amazônia Legal é conhecido. Essa porção é composta por imóveis rurais (22,2%), Terras Indígenas (20,4%), glebas públicas (12,2%), Unidades de Conservação (13,7%), assentamentos (6,1%), áreas militares (0,5%), territórios quilombolas (0,1%) e massas dágua (2,1%). Por outro lado, 22,6% do território da Amazônia Legal é preenchido por áreas com vácuos ou fragilidades de governança, isto é, por áreas sem nenhum cadastro (vazios cadastrais) e por zonas de sobreposição entre categorias fundiárias. As áreas totalmente desconhecidas somam 57,1 Mha (equivalente a área territorial da França). Os estados de Mato Grosso, Amazonas e Pará representam cerca de 68% do total da área de vazio cadastral, ou seja, são estados com territórios ainda desconhecidos. Outros 56,6 Mha contém sobreposições cadastrais, ou seja, são possíveis áreas de conflito. A sobreposição entre assentamentos e Unidades de Conservação de Uso Sustentável correspondem a 50% do total da área de sobreposição da Amazônia Legal. As sobreposições entre Terras Indígenas, imóvel rural ou território quilombola com Unidades de Conservação de Uso Integral correspondem a cerca de 16,1% do total da área de sobreposição (9 Mha). A sobreposição entre imóveis rurais e Terras Indígenas é de 0,8 Mha. A definição conceitual das categorias fundiárias, que permita a identificação de possíveis conflitos, é uma potente ferramenta para a gestão de terras no país.
id USP_8e2ff145352a9ebb9ade2dc59d9ba0a5
oai_identifier_str oai:teses.usp.br:tde-05022024-110555
network_acronym_str USP
network_name_str Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
repository_id_str 2721
spelling Estrutura fundiária da Amazônia Legal: território em (re)conhecimentoLegal Amazon land structure: territory in (re)cognitionAmazônia LegalCategorias fundiáriasCategories of tenureGovernança de terrasLand GovernanceLand tenureLand tenureLegal AmazonA estrutura fundiária no Brasil se desenvolveu de forma desordenada e confusa. A terra, um recurso natural que tem como dever cumprir uma função social, foi historicamente dividida e distribuída de forma desigual e conflituosa entre os diferentes grupos sociais. A governança de terras, que abarca tanto os marcos jurídicos e normativos sobre a terra como as práticas tradicionais e informais que contam com legitimidade social não conta, no Brasil, com um sistema de informação espacial capaz de identificar todas as divisões do território nacional. O desconhecimento espacial de uma nação abre brechas para a ocorrência de desmatamento ilegal e para o conflito pelo direito de uso e posse da terra. Particularmente na Amazônia Legal, os conflitos pela terra são recorrentes e o (re)conhecimento do seu território se faz necessário para garantir a preservação ambiental e a manutenção dos direitos dos povos originários. O objetivo deste trabalho foi construir uma malha fundiária para a Amazônia Legal, definindo os conceitos para a divisão do território em categorias fundiárias. A definição levou em conta todo o conjunto de normas legais e consuetudinárias. As bases de dados oficiais foram utilizadas para a construção da malha fundiária. Cerca de 77,3%, ou 387,4 Mha, do território da Amazônia Legal é conhecido. Essa porção é composta por imóveis rurais (22,2%), Terras Indígenas (20,4%), glebas públicas (12,2%), Unidades de Conservação (13,7%), assentamentos (6,1%), áreas militares (0,5%), territórios quilombolas (0,1%) e massas dágua (2,1%). Por outro lado, 22,6% do território da Amazônia Legal é preenchido por áreas com vácuos ou fragilidades de governança, isto é, por áreas sem nenhum cadastro (vazios cadastrais) e por zonas de sobreposição entre categorias fundiárias. As áreas totalmente desconhecidas somam 57,1 Mha (equivalente a área territorial da França). Os estados de Mato Grosso, Amazonas e Pará representam cerca de 68% do total da área de vazio cadastral, ou seja, são estados com territórios ainda desconhecidos. Outros 56,6 Mha contém sobreposições cadastrais, ou seja, são possíveis áreas de conflito. A sobreposição entre assentamentos e Unidades de Conservação de Uso Sustentável correspondem a 50% do total da área de sobreposição da Amazônia Legal. As sobreposições entre Terras Indígenas, imóvel rural ou território quilombola com Unidades de Conservação de Uso Integral correspondem a cerca de 16,1% do total da área de sobreposição (9 Mha). A sobreposição entre imóveis rurais e Terras Indígenas é de 0,8 Mha. A definição conceitual das categorias fundiárias, que permita a identificação de possíveis conflitos, é uma potente ferramenta para a gestão de terras no país.The landholding structure in Brazil has developed in a disorderly and confusing way. Land, a natural resource that has to fulfill a social function, has historically been divided and distributed in an unequal and conflictual way among different social groups. Land governance, which encompasses both the legal and normative land frameworks and the traditional and informal practices that have social legitimacy, does not have, in Brazil, a spatial information system capable of identifying all divisions of the national territory. The lack of spatial knowledge of a nation opens gaps for the occurrence of illegal deforestation and for the conflict over the right to land use and tenure. Particularly in the Legal Amazon, land conflicts are recurrent and the (re)knowledge of its territory is necessary to ensure environmental preservation and the maintenance of the rights of native peoples. The objective of this work was to construct a land tenure grid for the Legal Amazon, defining the concepts for the division of the territory into land tenure categories. The definition took into account the entire set of legal and customary norms. The official databases were used for the construction of the land network. About 77.3%, or 387.4 Mha, of the territory of the Legal Amazon is known. This portion is composed of rural properties (22.2%), Indigenous Lands (20.4%), public land (12.2%), Conservation Units (13.7%), settlements (6.1%), military areas (0.5%), quilombola territories (0.1%) and water bodies (2.1%). On the other hand, 22.6% of the Legal Amazon territory is filled by areas with governance vacuums or fragilities, that is, by areas without any land registry (cadastral vacuums) and by overlapping zones between landholding categories. The totally unknown areas add up to 57.1 Mha (equivalent to the territorial area of France). The states of Mato Grosso, Amazonas and Pará represent about 68% of the total area of cadastral voids, that is, they are states with still unknown territories. Another 56.6 Mha contain cadastral overlaps, i.e., they are possible areas of conflict. The overlap between settlements and Sustainable Use Conservation Units correspond to 50% of the total overlapping area in the Legal Amazon. The overlaps between Indigenous Lands, rural property, or quilombola territory with Full Use Conservation Units correspond to about 16.1% of the total overlap area (9 Mha). The overlap between rural properties and Indigenous Lands is 0.8 Mha. The conceptual definition of landholding categories, which allows the identification of possible conflicts, is a powerful tool for land management in the country.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPSparovek, GerdCoutinho, Pedro Alves Quilici2023-11-16info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/11/11140/tde-05022024-110555/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2024-02-06T13:19:02Zoai:teses.usp.br:tde-05022024-110555Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212024-02-06T13:19:02Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
dc.title.none.fl_str_mv Estrutura fundiária da Amazônia Legal: território em (re)conhecimento
Legal Amazon land structure: territory in (re)cognition
title Estrutura fundiária da Amazônia Legal: território em (re)conhecimento
spellingShingle Estrutura fundiária da Amazônia Legal: território em (re)conhecimento
Coutinho, Pedro Alves Quilici
Amazônia Legal
Categorias fundiárias
Categories of tenure
Governança de terras
Land Governance
Land tenure
Land tenure
Legal Amazon
title_short Estrutura fundiária da Amazônia Legal: território em (re)conhecimento
title_full Estrutura fundiária da Amazônia Legal: território em (re)conhecimento
title_fullStr Estrutura fundiária da Amazônia Legal: território em (re)conhecimento
title_full_unstemmed Estrutura fundiária da Amazônia Legal: território em (re)conhecimento
title_sort Estrutura fundiária da Amazônia Legal: território em (re)conhecimento
author Coutinho, Pedro Alves Quilici
author_facet Coutinho, Pedro Alves Quilici
author_role author
dc.contributor.none.fl_str_mv Sparovek, Gerd
dc.contributor.author.fl_str_mv Coutinho, Pedro Alves Quilici
dc.subject.por.fl_str_mv Amazônia Legal
Categorias fundiárias
Categories of tenure
Governança de terras
Land Governance
Land tenure
Land tenure
Legal Amazon
topic Amazônia Legal
Categorias fundiárias
Categories of tenure
Governança de terras
Land Governance
Land tenure
Land tenure
Legal Amazon
description A estrutura fundiária no Brasil se desenvolveu de forma desordenada e confusa. A terra, um recurso natural que tem como dever cumprir uma função social, foi historicamente dividida e distribuída de forma desigual e conflituosa entre os diferentes grupos sociais. A governança de terras, que abarca tanto os marcos jurídicos e normativos sobre a terra como as práticas tradicionais e informais que contam com legitimidade social não conta, no Brasil, com um sistema de informação espacial capaz de identificar todas as divisões do território nacional. O desconhecimento espacial de uma nação abre brechas para a ocorrência de desmatamento ilegal e para o conflito pelo direito de uso e posse da terra. Particularmente na Amazônia Legal, os conflitos pela terra são recorrentes e o (re)conhecimento do seu território se faz necessário para garantir a preservação ambiental e a manutenção dos direitos dos povos originários. O objetivo deste trabalho foi construir uma malha fundiária para a Amazônia Legal, definindo os conceitos para a divisão do território em categorias fundiárias. A definição levou em conta todo o conjunto de normas legais e consuetudinárias. As bases de dados oficiais foram utilizadas para a construção da malha fundiária. Cerca de 77,3%, ou 387,4 Mha, do território da Amazônia Legal é conhecido. Essa porção é composta por imóveis rurais (22,2%), Terras Indígenas (20,4%), glebas públicas (12,2%), Unidades de Conservação (13,7%), assentamentos (6,1%), áreas militares (0,5%), territórios quilombolas (0,1%) e massas dágua (2,1%). Por outro lado, 22,6% do território da Amazônia Legal é preenchido por áreas com vácuos ou fragilidades de governança, isto é, por áreas sem nenhum cadastro (vazios cadastrais) e por zonas de sobreposição entre categorias fundiárias. As áreas totalmente desconhecidas somam 57,1 Mha (equivalente a área territorial da França). Os estados de Mato Grosso, Amazonas e Pará representam cerca de 68% do total da área de vazio cadastral, ou seja, são estados com territórios ainda desconhecidos. Outros 56,6 Mha contém sobreposições cadastrais, ou seja, são possíveis áreas de conflito. A sobreposição entre assentamentos e Unidades de Conservação de Uso Sustentável correspondem a 50% do total da área de sobreposição da Amazônia Legal. As sobreposições entre Terras Indígenas, imóvel rural ou território quilombola com Unidades de Conservação de Uso Integral correspondem a cerca de 16,1% do total da área de sobreposição (9 Mha). A sobreposição entre imóveis rurais e Terras Indígenas é de 0,8 Mha. A definição conceitual das categorias fundiárias, que permita a identificação de possíveis conflitos, é uma potente ferramenta para a gestão de terras no país.
publishDate 2023
dc.date.none.fl_str_mv 2023-11-16
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/masterThesis
format masterThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/11/11140/tde-05022024-110555/
url https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/11/11140/tde-05022024-110555/
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.relation.none.fl_str_mv
dc.rights.driver.fl_str_mv Liberar o conteúdo para acesso público.
info:eu-repo/semantics/openAccess
rights_invalid_str_mv Liberar o conteúdo para acesso público.
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.coverage.none.fl_str_mv
dc.publisher.none.fl_str_mv Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
publisher.none.fl_str_mv Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
dc.source.none.fl_str_mv
reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
instname:Universidade de São Paulo (USP)
instacron:USP
instname_str Universidade de São Paulo (USP)
instacron_str USP
institution USP
reponame_str Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
collection Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
repository.name.fl_str_mv Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)
repository.mail.fl_str_mv virginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.br
_version_ 1815256685248249856