Por uma estória outra da literatura: à guisa de um almanaque sobre os discursos de posse da Academia Brasileira de Letras (1897-2014)

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Santos, Gustavo Henrique Guiral dos
Data de Publicação: 2014
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-05022015-134523/
Resumo: Almejando uma problematização geral do encontro entre as práticas educacionais e as literárias, a presente dissertação oferece uma especulação estórica sobre determinadas formas vigentes de governo das forças escriturais. Para tanto, investiga a figura pública do literato, tomando-a como catalisadora dos ditames relativos a um suposto bem escrever, os quais caberia à pedagogia transmitir, prescrever e disseminar para uma população de leitores eficazes, bem como de escreventes virtuais. Municiando-se do aporte analítico de Michel Foucault, o trabalho apropria-se especialmente das noções de função-autor e de sociedade de discurso, a fim de interpelar as investidas governamentalizadoras incidentes no ato de escrever, as quais tanto permitiriam-no e proliferariam-no dentro de alguns limites veridictivos, quanto distribuiriam-no apenas entre alguns eleitos e, assim, rarefariam-no. Dedicando-se, sobretudo, ao gesto procedimental foucaultiano, a pesquisa procura endereçar-se a seu locus empírico à moda arqueogenealógica, forjando um approach analítico que pudesse almanaquear as fontes de pesquisa, cobiçando minorá-las, esgueirando-se do que nelas houver de imperativo e potencializando suas adjacências, de modo a dar conta de seu nomadismo, sem a pretensão de totalizá-las. Constituem a superfície empírica da dissertação os discursos de posse da Academia Brasileira de Letras, contabilizados em 408 textos, no arco de 117 anos. Diante da massa discursiva aí presente, quis-se confeccionar, fragmentariamente e sem pretensão cronológica, uma história outra da literatura brasileira, menos fadada à lógica interna da instituição literária, e mais ocupada com as relações de poder que atravessam suas práticas, provocando efeitos tão exteriores quanto, à primeira sensação, desvinculados delas. Tratou-se, ali, não de isolar os preceitos do bem escrever relacionados às condições propriamente da lavra escritural, tais como o emprego de determinadas técnicas, nem a quantidade de escritos, sequer sua qualidade, mas de perspectivar o direito às belas-letras, o qual foi concedido, ao que parece, a quem pudesse exibir uma biografia tida por extravagante ou muito correta, quer escrevesse à moda de Machado de Assis, de Paulo Coelho ou, ainda, de Adelino Fontoura, quem sequer escreveu senão em cadernos particulares, encontrados e publicados apenas décadas após seu falecimento e eleição para a Academia. Desta feita, nos discursos de posse, nota-se que três vetores concorrem em grande medida para a governança da escrita, todos eles concernentes à esfera privada dos literatos: a) suas relações interpessoais, com destaque para sua atuação em família; b) os locais onde nasceram, residem e que frequentam; e c) a maneira de trajarem-se e de portarem-se em público. Conclui-se, assim, que os modos de governo da escrita, tal como se pôde compreendê-los, redundam em uma severa restrição do gesto escrevente, porque nem mesmo se trata de estipular genialidade ou engenhosidade, mas de forjar adequação e incorporação ao meio literário ou, então, o consentimento à condição de irrequieto consumidor da produção cultural.
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Municiando-se do aporte analítico de Michel Foucault, o trabalho apropria-se especialmente das noções de função-autor e de sociedade de discurso, a fim de interpelar as investidas governamentalizadoras incidentes no ato de escrever, as quais tanto permitiriam-no e proliferariam-no dentro de alguns limites veridictivos, quanto distribuiriam-no apenas entre alguns eleitos e, assim, rarefariam-no. Dedicando-se, sobretudo, ao gesto procedimental foucaultiano, a pesquisa procura endereçar-se a seu locus empírico à moda arqueogenealógica, forjando um approach analítico que pudesse almanaquear as fontes de pesquisa, cobiçando minorá-las, esgueirando-se do que nelas houver de imperativo e potencializando suas adjacências, de modo a dar conta de seu nomadismo, sem a pretensão de totalizá-las. Constituem a superfície empírica da dissertação os discursos de posse da Academia Brasileira de Letras, contabilizados em 408 textos, no arco de 117 anos. Diante da massa discursiva aí presente, quis-se confeccionar, fragmentariamente e sem pretensão cronológica, uma história outra da literatura brasileira, menos fadada à lógica interna da instituição literária, e mais ocupada com as relações de poder que atravessam suas práticas, provocando efeitos tão exteriores quanto, à primeira sensação, desvinculados delas. Tratou-se, ali, não de isolar os preceitos do bem escrever relacionados às condições propriamente da lavra escritural, tais como o emprego de determinadas técnicas, nem a quantidade de escritos, sequer sua qualidade, mas de perspectivar o direito às belas-letras, o qual foi concedido, ao que parece, a quem pudesse exibir uma biografia tida por extravagante ou muito correta, quer escrevesse à moda de Machado de Assis, de Paulo Coelho ou, ainda, de Adelino Fontoura, quem sequer escreveu senão em cadernos particulares, encontrados e publicados apenas décadas após seu falecimento e eleição para a Academia. Desta feita, nos discursos de posse, nota-se que três vetores concorrem em grande medida para a governança da escrita, todos eles concernentes à esfera privada dos literatos: a) suas relações interpessoais, com destaque para sua atuação em família; b) os locais onde nasceram, residem e que frequentam; e c) a maneira de trajarem-se e de portarem-se em público. Conclui-se, assim, que os modos de governo da escrita, tal como se pôde compreendê-los, redundam em uma severa restrição do gesto escrevente, porque nem mesmo se trata de estipular genialidade ou engenhosidade, mas de forjar adequação e incorporação ao meio literário ou, então, o consentimento à condição de irrequieto consumidor da produção cultural.Aiming at a general problematization of the encounter between the educational and the literary practices, this dissertation offers a story in a speculative manner about certain existing forms of governing the writing forces. To do so, this study investigates the public figure of the man of letters, taking it as the catalyzer of the precepts related to a supposed good writing, which presumably the pedagogy would transmit it, prescribe it and disseminate it for a population of effective readers and virtual writers. Based on the analytical contribution of Michel Foucault, this work specially makes use of the author-function and society of discourse notions in order to question the governmentalized assaults invested in the act of writing, which would allow and spread the act of writing within veridictive limits, as well as would distribute it across a few chosen persons, reducing its chance of creation. Committed to the Foucauldian procedural gesture, the research seeks to address to its empirical locus in an arche-genealogic mode, forging an analytical approach that could produce a kind of almanac effect on the sources, aiming at minimizing them, avoiding their imperative effects and enhancing their surroundings, in order to comprehend their nomadism, without totalizing them. The empirical surface of this dissertation are the inauguration speeches of the Academia Brasileira de Letras (Brazilian Academy of Letters, or ABL), summing 408 texts in a 117 year span. Given this discursive material, it was intended to fabricate, in a fragmented way and with no chronological pretension, a kind of other history of the Brazilian literature, diminishing its relation to the internal logic of the literary institution while paying attention to its power relations which prevails in its practices, generating effects such exterior as, by first sight, unrelated to them. The intent was not a matter of isolating the precepts of a good writing related to the conditions of a proper scriptural process, such as the use of certain techniques, nor the quantity or quality of the writings, but to foresee the right to belles-lettres, which was granted, it seems, to whom could display a biography taken by fancy or very correct, even if he would write according to the style of Machado de Assis, Paulo Coelho, or even of Adelino Fontoura who just wrote only in private notebooks, found and published only decades after his death and nomination to the ABL. It is possible to assume, from these inauguration speeches, that are three factors that contribute greatly to the governance of the writing, all of them pertaining to the private sphere of the men of letters: a) their interpersonal relationships, especially his family role; b) the places where they were born, living and attending; and c) their public behavior and clothing. Thus, to conclude, the ways of governing the writing, such as this study could understand them, results in a severe restriction of the scriptural gesture, for it has nothing to do with the supposed genius or cleverness, but with forging adequacy and incorporation to the literary milieu or, otherwise, forging a consent to the condition of a restless consumer of cultural productions.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPAquino, Julio Roberto GroppaSantos, Gustavo Henrique Guiral dos2014-10-20info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-05022015-134523/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2016-07-28T16:11:56Zoai:teses.usp.br:tde-05022015-134523Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212016-07-28T16:11:56Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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