Análise e identificação de microvestígios vegetais de cálculo dentário para a reconstrução de dieta sambaquieira: estudo de caso de Jabuticabeira II, SC
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2012 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
Texto Completo: | http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/41/41131/tde-16102012-102717/ |
Resumo: | Embora os indivíduos construtores dos sambaquis constituam o grupo pré-histórico brasileiro melhor estudado, várias questões continuam em aberto. Algumas delas estão ligadas a estratégias de subsistência. Sabe-se que a economia desses indivíduos era baseada na pesca e que a coleta de moluscos teria papel complementar na alimentação. Mas, atualmente, estudos antracológicos e de cálculo dentário vêm demonstrando a grande importância da utilização de plantas pelos sambaquieiros. Entretanto, pouco se conhece sobre as espécies consumidas e o modo de preparo dos alimentos. O sambaqui Jabuticabeira II, localizado na região sul de Santa Catarina, apresenta indícios da utilização de plantas que incluem: artefatos líticos que se acredita que tenham sido usados para raspar, moer e quebrar vegetais; sementes de famílias de plantas que produzem frutos comestíveis; coquinhos; e restos carbonizados de lenho de uma grande diversidade de espécies. Além disso, notou-se grande número e variedade de grãos de amido no cálculo dentário dos indivíduos sepultados nesse sambaqui, sugerindo que o consumo de vegetais ricos em amido teria sido grande. O presente estudo trata, portanto, da análise de 119 microvestígios vegetais de cálculo dentário de 19 adultos de Jabuticabeira II, objetivando avaliar se ocorria, de fato, um consumo de grande variedade de vegetais amiláceos, bem como identificar quais plantas foram consumidas. Para possibilitar tal identificação, foi iniciada a elaboração de uma coleção de referência de grãos de amido de plantas nativas da região. A partir dos resultados obtidos sugere-se que os sambaquieiros de Jabuticabeira II consumiam uma grande variedade de plantas ricas em amido. Embora o número de microrrestos vegetais variasse bastante entre os indivíduos, aparentemente, não ocorria diferença quanto a dieta vegetal de acordo com sexo, classe etária ou lócus de enterramento. A presença de diatomáceas de ambientes de água salobra indicam que os recursos faunísticos consumidos eram obtidos a partir da paleolaguna. Eram consumidos órgãos de reserva subterrâneos de aráceas (inhames), Dioscorea sp. (carás), Calathea SP. (ariá) e Ipomoea batatas (batata-doce) e, possivelmente, frutos das famílias Myrtaceae (incluindo Eugenia uniflora - pitanga) e Arecaceae (palmeiras). Acredita-se que o milho (Zea mays) também fazia parte da dieta, embora não tenha sido possível discernir se era cultivado nesse sitio, ou se foi obtido através de troca com grupos cultivadores de outras regiões. Ainda que fitólitos de gramíneas possam ter sido acidentalmente incorporados ao cálculo dentário dos indivíduos de Jabuticabeira II, sugere-se que algumas gramíneas poderiam ter sido utilizadas, não somente como alimento, mas também com fins medicinais ou de higiene oral. O alimento de origem vegetal parece ter sido processado através de moagem ou maceração, assado em brasas ou cinzas ou, ainda, preparado em fornos escavados. As evidências obtidas neste trabalho não apontam para o cultivo intensivo das plantas que eram utilizadas na dieta desse grupo, mas não corroboram, nem descartam a hipótese de que o manejo ou horticultura de alguns taxa florísticos importantes tenha ocorrido |
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Análise e identificação de microvestígios vegetais de cálculo dentário para a reconstrução de dieta sambaquieira: estudo de caso de Jabuticabeira II, SCAnalysis and identification of plant microfossils from dental calculus for the reconstruction of shellmound builder\'s diet: a case study from Jabuticabeira II, SCAmidoCálculo dentárioDental calculusFitólitoPaleodietPelodietaPhytolithSambaquiShellmoundStarchEmbora os indivíduos construtores dos sambaquis constituam o grupo pré-histórico brasileiro melhor estudado, várias questões continuam em aberto. Algumas delas estão ligadas a estratégias de subsistência. Sabe-se que a economia desses indivíduos era baseada na pesca e que a coleta de moluscos teria papel complementar na alimentação. Mas, atualmente, estudos antracológicos e de cálculo dentário vêm demonstrando a grande importância da utilização de plantas pelos sambaquieiros. Entretanto, pouco se conhece sobre as espécies consumidas e o modo de preparo dos alimentos. O sambaqui Jabuticabeira II, localizado na região sul de Santa Catarina, apresenta indícios da utilização de plantas que incluem: artefatos líticos que se acredita que tenham sido usados para raspar, moer e quebrar vegetais; sementes de famílias de plantas que produzem frutos comestíveis; coquinhos; e restos carbonizados de lenho de uma grande diversidade de espécies. Além disso, notou-se grande número e variedade de grãos de amido no cálculo dentário dos indivíduos sepultados nesse sambaqui, sugerindo que o consumo de vegetais ricos em amido teria sido grande. O presente estudo trata, portanto, da análise de 119 microvestígios vegetais de cálculo dentário de 19 adultos de Jabuticabeira II, objetivando avaliar se ocorria, de fato, um consumo de grande variedade de vegetais amiláceos, bem como identificar quais plantas foram consumidas. Para possibilitar tal identificação, foi iniciada a elaboração de uma coleção de referência de grãos de amido de plantas nativas da região. A partir dos resultados obtidos sugere-se que os sambaquieiros de Jabuticabeira II consumiam uma grande variedade de plantas ricas em amido. Embora o número de microrrestos vegetais variasse bastante entre os indivíduos, aparentemente, não ocorria diferença quanto a dieta vegetal de acordo com sexo, classe etária ou lócus de enterramento. A presença de diatomáceas de ambientes de água salobra indicam que os recursos faunísticos consumidos eram obtidos a partir da paleolaguna. Eram consumidos órgãos de reserva subterrâneos de aráceas (inhames), Dioscorea sp. (carás), Calathea SP. (ariá) e Ipomoea batatas (batata-doce) e, possivelmente, frutos das famílias Myrtaceae (incluindo Eugenia uniflora - pitanga) e Arecaceae (palmeiras). Acredita-se que o milho (Zea mays) também fazia parte da dieta, embora não tenha sido possível discernir se era cultivado nesse sitio, ou se foi obtido através de troca com grupos cultivadores de outras regiões. Ainda que fitólitos de gramíneas possam ter sido acidentalmente incorporados ao cálculo dentário dos indivíduos de Jabuticabeira II, sugere-se que algumas gramíneas poderiam ter sido utilizadas, não somente como alimento, mas também com fins medicinais ou de higiene oral. O alimento de origem vegetal parece ter sido processado através de moagem ou maceração, assado em brasas ou cinzas ou, ainda, preparado em fornos escavados. As evidências obtidas neste trabalho não apontam para o cultivo intensivo das plantas que eram utilizadas na dieta desse grupo, mas não corroboram, nem descartam a hipótese de que o manejo ou horticultura de alguns taxa florísticos importantes tenha ocorridoThe sambaqui (shellmound) builders are the best studied ancient human group from Brazil. However, much has still to be discovered about them. It is very well known that their subsistence was based on fishing and that molluscs\' gathering was a complement to their diet. Recently, anthracology and dental calculus studies have shown the importance of plants, but very little is known about the species eaten and the processes that were used for food preparation. The Jabuticabeira II sambaqui, located in southern Santa Catarina, shows evidences of plant use that include: lithic artifacts related to food processing; seeds from plant families that produce edible fruits; palm nuts; and remains from carbonized wood from a variety of species. Besides that, a high number and variety of starch grains were recovered from the dental calculus of some skeletons, suggesting that the consumption of starchy plants was important. For the present study, plant microfossils (n=119) recovered from the dental calculus from 19 adults exhumed from Jabuticabeira II shellmound were analysed, in order to identify the species consumed and to test if, in fact, their diet consisted of a high variety of starchy plants. To allow identification, the construction of a starch reference collection from plants from the studied region was initiated. The results suggest that the individuals buried at Jabuticabeira II indeed ate a high variety of starchy plants. Despite the inter- individual variation in the number of microfossils, there seems to be no difference in the plant intake according to sex, age class and burial site. The diatoms from brackish water that were also found indicate that the faunal resources consumed were obtained from the paleolagoon nearby. Underground storage organs from the Araceae family (arum family), Dioscorea sp. (yams), Calathea sp. (llerén), Ipomoea batatas (sweet potato), and possibly fruits from the Myrtaceae family, including Eugenia uniflora (pitanga), and Arecaceae family (palm trees) were eaten. Although corn starch (Zea mays) grains were also identified, it is not yet clear if it was cultivated in Jabuticabeira II, or if it was obtained through exchange with cultivators from other sites. The grass leaf phytoliths that were also recovered suggest that plants from the Poaceae family could have been used as medicine or for oral hygiene. Plant food seems to have been processed through grinding, toasting in ashes, and maybe in underground ovens. Finally, there is no evidence that suggests that plants were cultivated in Jabuticabeira II, but the management of some botanical taxa cannot be excludedBiblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPEggers, SabineBoyadjian, Célia Helena Cezar2012-06-26info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/41/41131/tde-16102012-102717/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2016-07-28T16:10:32Zoai:teses.usp.br:tde-16102012-102717Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212016-07-28T16:10:32Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false |
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Embora os indivíduos construtores dos sambaquis constituam o grupo pré-histórico brasileiro melhor estudado, várias questões continuam em aberto. Algumas delas estão ligadas a estratégias de subsistência. Sabe-se que a economia desses indivíduos era baseada na pesca e que a coleta de moluscos teria papel complementar na alimentação. Mas, atualmente, estudos antracológicos e de cálculo dentário vêm demonstrando a grande importância da utilização de plantas pelos sambaquieiros. Entretanto, pouco se conhece sobre as espécies consumidas e o modo de preparo dos alimentos. O sambaqui Jabuticabeira II, localizado na região sul de Santa Catarina, apresenta indícios da utilização de plantas que incluem: artefatos líticos que se acredita que tenham sido usados para raspar, moer e quebrar vegetais; sementes de famílias de plantas que produzem frutos comestíveis; coquinhos; e restos carbonizados de lenho de uma grande diversidade de espécies. Além disso, notou-se grande número e variedade de grãos de amido no cálculo dentário dos indivíduos sepultados nesse sambaqui, sugerindo que o consumo de vegetais ricos em amido teria sido grande. O presente estudo trata, portanto, da análise de 119 microvestígios vegetais de cálculo dentário de 19 adultos de Jabuticabeira II, objetivando avaliar se ocorria, de fato, um consumo de grande variedade de vegetais amiláceos, bem como identificar quais plantas foram consumidas. Para possibilitar tal identificação, foi iniciada a elaboração de uma coleção de referência de grãos de amido de plantas nativas da região. A partir dos resultados obtidos sugere-se que os sambaquieiros de Jabuticabeira II consumiam uma grande variedade de plantas ricas em amido. Embora o número de microrrestos vegetais variasse bastante entre os indivíduos, aparentemente, não ocorria diferença quanto a dieta vegetal de acordo com sexo, classe etária ou lócus de enterramento. A presença de diatomáceas de ambientes de água salobra indicam que os recursos faunísticos consumidos eram obtidos a partir da paleolaguna. Eram consumidos órgãos de reserva subterrâneos de aráceas (inhames), Dioscorea sp. (carás), Calathea SP. (ariá) e Ipomoea batatas (batata-doce) e, possivelmente, frutos das famílias Myrtaceae (incluindo Eugenia uniflora - pitanga) e Arecaceae (palmeiras). Acredita-se que o milho (Zea mays) também fazia parte da dieta, embora não tenha sido possível discernir se era cultivado nesse sitio, ou se foi obtido através de troca com grupos cultivadores de outras regiões. Ainda que fitólitos de gramíneas possam ter sido acidentalmente incorporados ao cálculo dentário dos indivíduos de Jabuticabeira II, sugere-se que algumas gramíneas poderiam ter sido utilizadas, não somente como alimento, mas também com fins medicinais ou de higiene oral. O alimento de origem vegetal parece ter sido processado através de moagem ou maceração, assado em brasas ou cinzas ou, ainda, preparado em fornos escavados. As evidências obtidas neste trabalho não apontam para o cultivo intensivo das plantas que eram utilizadas na dieta desse grupo, mas não corroboram, nem descartam a hipótese de que o manejo ou horticultura de alguns taxa florísticos importantes tenha ocorrido |
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