Sob o signo de Caim: o uso da Bíblia por Machado de Assis

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Paulo Sergio de Proença
Data de Publicação: 2011
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://doi.org/10.11606/T.8.2011.tde-21102011-084130
Resumo: Propõe-se, neste trabalho, averiguar o papel que os escritos bíblicos desempenham na construção e na sustentação das principais ênfases da obra de Machado de Assis. Dois princípios constituem o guia teórico desta investigação. O primeiro refere-se à noção bakhtiniana de polifonia e a seus desdobramentos, constantes nos termos intertextualidade e interdiscursividade. A noção de contrato semiótico (Fiorin, 2003) é o segundo. Conceitos auxiliares serão pontualmente utilizados, como o de sátira menipeia, que terá base em autores como Griffin (2005), Sá Rego (1989) e Óliver (2008). A juventude de Machado caracterizou-se por uma atividade liberal de razoável envergadura. Charles Ribeyrolles e Renan foram influências decisivas para a consolidação dessas convicções. Essa tendência destaca a presença da Bíblia, evocada como fonte dos princípios que defendia. A portentosa obra de ficção, desde suas primeiras manifestações, testemunha grande fascínio pela Escritura, sob diversas formas. Uma delas foi a retomada de mitos bíblicos, que servem de vínculo para aproximação entre os eventos originários e os acontecimentos comezinhos do dia a dia em que ocorre ressignificação das narrativas míticas. Esse olhar para o passado, guiado pela Bíblia, ajusta-se à ênfase machadiana na eterna mesmice do drama humano. Temas sapienciais aparecem invariavelmente diluídos nos escritos machadianos. A sabedoria tem seu lugar de destaque, com Eclesiastes e Jó. Também os escritos bíblicos são aplicados à reinterpretação de temas caros aos seres humanos. Isso é feito com liberdade de quem tem elevado tino ficcional. Machado joga com palavras e expressões, torce, retorce e distorce sequências linguísticas e narrativas para, dando a elas um lustro diferente, projetar novos e relevantes sentidos. Machado, além de temas bíblicos, serve-se de personagens e eventos diversos, de forma livre, para ressiginificá-los, quase sempre em dissonância com a tradição religiosa e teológica. O amparo teórico bakhtiniano e a noção de contrato semiótico ajustam-se à análise desse diálogo frutífero com as fontes bíblicas, sob a motivação estética da crise da representação presente nos escritos machadianos.
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Conceitos auxiliares serão pontualmente utilizados, como o de sátira menipeia, que terá base em autores como Griffin (2005), Sá Rego (1989) e Óliver (2008). A juventude de Machado caracterizou-se por uma atividade liberal de razoável envergadura. Charles Ribeyrolles e Renan foram influências decisivas para a consolidação dessas convicções. Essa tendência destaca a presença da Bíblia, evocada como fonte dos princípios que defendia. A portentosa obra de ficção, desde suas primeiras manifestações, testemunha grande fascínio pela Escritura, sob diversas formas. Uma delas foi a retomada de mitos bíblicos, que servem de vínculo para aproximação entre os eventos originários e os acontecimentos comezinhos do dia a dia em que ocorre ressignificação das narrativas míticas. Esse olhar para o passado, guiado pela Bíblia, ajusta-se à ênfase machadiana na eterna mesmice do drama humano. Temas sapienciais aparecem invariavelmente diluídos nos escritos machadianos. A sabedoria tem seu lugar de destaque, com Eclesiastes e Jó. Também os escritos bíblicos são aplicados à reinterpretação de temas caros aos seres humanos. Isso é feito com liberdade de quem tem elevado tino ficcional. Machado joga com palavras e expressões, torce, retorce e distorce sequências linguísticas e narrativas para, dando a elas um lustro diferente, projetar novos e relevantes sentidos. Machado, além de temas bíblicos, serve-se de personagens e eventos diversos, de forma livre, para ressiginificá-los, quase sempre em dissonância com a tradição religiosa e teológica. O amparo teórico bakhtiniano e a noção de contrato semiótico ajustam-se à análise desse diálogo frutífero com as fontes bíblicas, sob a motivação estética da crise da representação presente nos escritos machadianos. It is intended, in this work, to investigate the role that the biblical writings play both in the constructions and in the support of the main emphasis of Machado de Assiss work. Two principles constitute the theoretical guide of this investigation. The first is Bakhtins notion of polyphony and its unfoldings, constant in the terms intertextuality and interdiscursivity. The notion of semiotics contract (Fiorin, 2003) is the second. Other auxiliary concepts will be punctually used, such as the Menippuss satire, which will have grounds in authors like Griffin (2005), Sá Rego (1989) and Óliver (2008). Machados youth was characterized by a liberal activity of reasonable capacity. Charles Ribeiyrolles and Renan were decisive influences for the consolidation of these convictions. This tendency highlights the presence of the Bible, evoked as the source of principles that he defended. The prodigious work of fiction, since its first manifestations, bears witness to his great fascination towards the Scriptures, in several ways; one of them was the recapture of biblical myths, which acts as a link for the closeness between the native events and the plain day-to-day occurrences in which the resignificance of the mythical narratives take place. This look towards the past, guided by the Bible, suits well with the machadian emphasis in the eternal monotony of the human drama. Sapiential themes appear invariably diluted in the machadian writings. Wisdom has its place of prominence, with Ecclesiastes and Job. Also the biblical writings are applied to the reinterpretation of dear subjects to the human beings. This is done with the freedom of one who has a great fictional tact. Machado plays with words and expressions. He twists, contorts and distorts linguistics sequences and narratives, giving them a different brightness thus projecting new and relevant meanings. Machado, besides biblical themes, makes use of characters and several events, in a free way, to resignify them, almost always in dissonance with the religious and theological tradition. The bakhtinian theoretical support and the notion of semiotic contract fits with the analysis of this fruitful dialogue with the biblical sources, under the esthetical motivation of the crisis of the representation which is present in the machadian writings. https://doi.org/10.11606/T.8.2011.tde-21102011-084130info:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USP2023-12-21T19:48:50Zoai:teses.usp.br:tde-21102011-084130Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212023-12-22T13:06:16.038733Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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