Vogais anteriores arredondadas no crioulo haitiano: um índice social (?)
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2022 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
Texto Completo: | https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-07112022-145908/ |
Resumo: | Nosso maior objetivo foi o de contribuir com o avanço do entendimento de certos aspectos da fonologia do crioulo haitiano com base em investigação instrumental e experimental. Apesar de o crioulo haitiano estar entre as línguas crioulas mais bem descritas, essa língua ainda é subestudada, especialmente no que diz respeito à fonologia, como a maioria dos crioulos (MUYSKEN; VEENSTRA, 1994; SMITH, 2008). A partir da nossa revisita à literatura da fonologia do crioulo haitiano, encontramos mais pontos a serem aprofundados do que seria possível dar conta. Assim, elegemos uma questão específica. Na presente pesquisa, investigamos as vogais anteriores arredondadas [y ø oe], que já foram descritas como fonemas negligenciados no crioulo haitiano (ALPHONSE-FÉRÈRE, 1977), apesar de não criarem oposição com as anteriores não arredondadas, a saber, [i e ], o que tornaria questionável o estatuto fonológico dessas vogais para algumas teorias fonológicas. Schieffelin e Doucet (1994) apontam que o uso dessas vogais se dá por razões sociolinguísticas, especialmente em razão do prestígio da língua francesa na sociedade haitiana, reconhecendo o prestígio das variedades ditas acroletais (mais próximas do francês) em relação às variedades basiletais (mais afastadas do francês). O presente estudo adota a abordagem dos Modelos de Exemplares, em que a representação fonológica detalhada capta aspectos de indexação social e de identidade sociolinguística do falante (JOHNSON, 1997; BYBEE, 2001; PIERREHUMBERT, 2001; FOULKES; DOCHERTY, 2006). Para investigar essa questão experimentalmente, utilizamos a técnica conhecida em inglês como Verbal Guise Technique (VGT), uma variante da Matched-Guise Technique (MGT) (LAMBERT ET AL., 1960; BALL; GILES, 1988), com o intuito de averiguar se a avaliação dos sujeitos que usam vogais anteriores arredondadas seria diferente quando comparada à avaliação de sujeitos que não fazem uso dessas vogais. Os resultados estatístico-inferenciais do experimento não apontaram diferença na avaliação. No entanto, a experiência que tivemos na aplicação do experimento nos leva a interpretar com cautela esses resultados, e sugerimos que a questão seja aprofundada em outros tipos de testes, que sejam adequados à cultura haitiana, o que só foi possível perceber após a aplicação do experimento. Diante do que experienciamos, trazemos reflexões sobre como proceder em futuras pesquisas dessa mesma natureza |
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Vogais anteriores arredondadas no crioulo haitiano: um índice social (?)Front rounded vowels in Haitian creole: a social index (?)Crioulo HaitianoExemplar modelsFonologia de laboratórioHaitian creoleLaboratory phonologyModelos de exemplaresSociofonéticaSociophoneticsVogaisVowelsNosso maior objetivo foi o de contribuir com o avanço do entendimento de certos aspectos da fonologia do crioulo haitiano com base em investigação instrumental e experimental. Apesar de o crioulo haitiano estar entre as línguas crioulas mais bem descritas, essa língua ainda é subestudada, especialmente no que diz respeito à fonologia, como a maioria dos crioulos (MUYSKEN; VEENSTRA, 1994; SMITH, 2008). A partir da nossa revisita à literatura da fonologia do crioulo haitiano, encontramos mais pontos a serem aprofundados do que seria possível dar conta. Assim, elegemos uma questão específica. Na presente pesquisa, investigamos as vogais anteriores arredondadas [y ø oe], que já foram descritas como fonemas negligenciados no crioulo haitiano (ALPHONSE-FÉRÈRE, 1977), apesar de não criarem oposição com as anteriores não arredondadas, a saber, [i e ], o que tornaria questionável o estatuto fonológico dessas vogais para algumas teorias fonológicas. Schieffelin e Doucet (1994) apontam que o uso dessas vogais se dá por razões sociolinguísticas, especialmente em razão do prestígio da língua francesa na sociedade haitiana, reconhecendo o prestígio das variedades ditas acroletais (mais próximas do francês) em relação às variedades basiletais (mais afastadas do francês). O presente estudo adota a abordagem dos Modelos de Exemplares, em que a representação fonológica detalhada capta aspectos de indexação social e de identidade sociolinguística do falante (JOHNSON, 1997; BYBEE, 2001; PIERREHUMBERT, 2001; FOULKES; DOCHERTY, 2006). Para investigar essa questão experimentalmente, utilizamos a técnica conhecida em inglês como Verbal Guise Technique (VGT), uma variante da Matched-Guise Technique (MGT) (LAMBERT ET AL., 1960; BALL; GILES, 1988), com o intuito de averiguar se a avaliação dos sujeitos que usam vogais anteriores arredondadas seria diferente quando comparada à avaliação de sujeitos que não fazem uso dessas vogais. Os resultados estatístico-inferenciais do experimento não apontaram diferença na avaliação. No entanto, a experiência que tivemos na aplicação do experimento nos leva a interpretar com cautela esses resultados, e sugerimos que a questão seja aprofundada em outros tipos de testes, que sejam adequados à cultura haitiana, o que só foi possível perceber após a aplicação do experimento. Diante do que experienciamos, trazemos reflexões sobre como proceder em futuras pesquisas dessa mesma naturezaOur main objective was to contribute to the advancement of the understanding of certain aspects of the phonology of Haitian Creole grounded on instrumental and experimental research. Although Haitian Creole is among the best described Creole languages, this language is still understudied, especially with regard to phonology, like most Creoles (MUYSKEN; VEENSTRA, 1994; SMITH, 2008). From our review of the literature on the phonology of Haitian Creole, we found more issues to deal with than what we could address and therefore chose a single issue to work with. In the present research, we investigate how front rounded vowels [y ø oe], which have already been described as \"neglected phonemes in Haitian Creole\" (ALPHONSE-FÉRÈRE, 1977), although they do not create opposition with their unrounded counterparts, namely, [i e ], which would make the phonemic status of these vowels questionable for some phonological theories. Schieffelin and Doucet (1994) point out that the use of these vowels is due to sociolinguistic reasons, especially due to the prestige of the French language in Haitian society, recognizing the prestige of the so-called acrolectal varieties (those closer to French) in relation to basilectal varieties (distanced from French). The present study adopts the Exemplar-based Models approach, in which the detailed phonological representation captures aspects of social indexation and sociolinguistic identity of the speaker (JOHNSON, 1997; BYBEE, 2001; PIERREHUMBERT, 2001; FOULKES; DOCHERTY, 2006). To investigate this issue experimentally, we used the technique known as Verbal Guise Technique (VGT), a variant of the Matched-Guise Technique (MGT) (LAMBERT ET AL., 1960; BALL; GILES, 1988), in order to verify whether the evaluation of subjects using front rounded vowels would differ when compared to the evaluation of subjects who do not make use of these vowels. The statistical-inferential results of the experiment showed no difference in the evaluation. However, the experience we had while conducting the experiment leads us to interpret these results with caution, and we suggest that this issue be explored in other types of tests, which are appropriate to the Haitian culture. In view of what we experienced, we offer some consideration on how to approach future research of the same kindBiblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPSouza, Paulo Chagas deSilva, Bruno Pinto2022-07-22info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-07112022-145908/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2022-11-07T17:01:17Zoai:teses.usp.br:tde-07112022-145908Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212022-11-07T17:01:17Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false |
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Nosso maior objetivo foi o de contribuir com o avanço do entendimento de certos aspectos da fonologia do crioulo haitiano com base em investigação instrumental e experimental. Apesar de o crioulo haitiano estar entre as línguas crioulas mais bem descritas, essa língua ainda é subestudada, especialmente no que diz respeito à fonologia, como a maioria dos crioulos (MUYSKEN; VEENSTRA, 1994; SMITH, 2008). A partir da nossa revisita à literatura da fonologia do crioulo haitiano, encontramos mais pontos a serem aprofundados do que seria possível dar conta. Assim, elegemos uma questão específica. Na presente pesquisa, investigamos as vogais anteriores arredondadas [y ø oe], que já foram descritas como fonemas negligenciados no crioulo haitiano (ALPHONSE-FÉRÈRE, 1977), apesar de não criarem oposição com as anteriores não arredondadas, a saber, [i e ], o que tornaria questionável o estatuto fonológico dessas vogais para algumas teorias fonológicas. Schieffelin e Doucet (1994) apontam que o uso dessas vogais se dá por razões sociolinguísticas, especialmente em razão do prestígio da língua francesa na sociedade haitiana, reconhecendo o prestígio das variedades ditas acroletais (mais próximas do francês) em relação às variedades basiletais (mais afastadas do francês). O presente estudo adota a abordagem dos Modelos de Exemplares, em que a representação fonológica detalhada capta aspectos de indexação social e de identidade sociolinguística do falante (JOHNSON, 1997; BYBEE, 2001; PIERREHUMBERT, 2001; FOULKES; DOCHERTY, 2006). Para investigar essa questão experimentalmente, utilizamos a técnica conhecida em inglês como Verbal Guise Technique (VGT), uma variante da Matched-Guise Technique (MGT) (LAMBERT ET AL., 1960; BALL; GILES, 1988), com o intuito de averiguar se a avaliação dos sujeitos que usam vogais anteriores arredondadas seria diferente quando comparada à avaliação de sujeitos que não fazem uso dessas vogais. Os resultados estatístico-inferenciais do experimento não apontaram diferença na avaliação. No entanto, a experiência que tivemos na aplicação do experimento nos leva a interpretar com cautela esses resultados, e sugerimos que a questão seja aprofundada em outros tipos de testes, que sejam adequados à cultura haitiana, o que só foi possível perceber após a aplicação do experimento. Diante do que experienciamos, trazemos reflexões sobre como proceder em futuras pesquisas dessa mesma natureza |
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