Corpo, mente e coração: saúde mental de mulheres muçulmanas brasileiras

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Paiva, Camila Motta
Data de Publicação: 2023
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59142/tde-10032023-075246/
Resumo: A religião é uma das formas mais tradicionais de explicar o mundo e dar sentido aos fenômenos da vida, incluindo os processos relativos à saúde e à doença. Apesar de sua centralidade, esta relação foi por muito tempo tomada como problemática pela Psicologia e por outras áreas adjacentes e, de forma geral, ainda hoje menor atenção é dada à religião nas pesquisas psicológicas sobre saúde mental. Em trabalho acadêmico anterior, constatou-se que experiências de sofrimento levam algumas mulheres a buscar novas concepções de mundo no sistema simbólico islâmico e que, após a reversão, esse sofrimento vai sendo (re)significado por meio das regras e rituais religiosos, visto que o Islã é entendido como um código de conduta que rege todas as áreas da vida de seus seguidores. Como se trata de uma religião prescritiva, cujas regras são entendidas como vindas de Deus para garantir a felicidade, a satisfação e a saúde dos seres humanos, supõe-se que a religião gera uma série de efeitos sobre a saúde mental de muçulmanos e muçulmanas. Por um lado, por ser uma religião minoritária, ainda cercada de estereótipos e preconceitos, é escassa a literatura sobre Islã e saúde mental no panorama acadêmico nacional. Por outro, discutir abertamente o tema é uma demanda entendida pelos-as próprios-as muçulmanos-as como necessária. Assim, o objetivo desta pesquisa é o de compreender as concepções e as experiências de mulheres muçulmanas brasileiras em relação à saúde mental. Para alcançar este entendimento, adotou-se para este estudo o método clínico-qualitativo. A primeira etapa da pesquisa envolveu a presença da pesquisadora em campo islâmico para apreender os discursos religiosos que ali circulavam sobre saúde, doença e sofrimento. Em fase posterior, para aprofundar o tema junto ao grupo de interesse, foram realizadas nove entrevistas abertas com mulheres muçulmanas brasileiras, além de entrevistas complementares com um sheikh, líder religioso islâmico, e com uma profissional de saúde mental que faz parte da comunidade muçulmana. Devido à pandemia de Covid-19, todas as interlocuções aconteceram em ambiente digital, por meio de plataformas como Google Meet, Skype e WhatsApp. Visto que os fenômenos estudados são complexos e demandam olhares ampliados, os dados foram analisados à luz de referenciais psicológicos, psicanalíticos e antropológicos, bem como de seus diálogos com os saberes tradicionais islâmicos. Os dados obtidos foram distribuídos ao redor de três eixos principais, cada qual agrupando um conjunto distinto de sentidos sobre a saúde mental, a saber: (a) a visão biomédica: sintomatologia, diagnósticos e intervenções; (b) a espiritualidade e a religiosidade como fontes de cuidado; (c) a dimensão sociopolítica do sofrimento. Além da religião, as interlocutoras acionaram outros marcadores que se interseccionam a ela, como raça, gênero e classe. Dessa maneira, trouxeram matizes ao tema, sinalizando como a saúde mental é ressignificada no Islã, pelo Islã e para além do Islã, e permitindo traçar um panorama que coloca em evidência quais são as questões mais urgentes que estão se manifestando dentro das comunidades muçulmanas no Brasil.
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Em trabalho acadêmico anterior, constatou-se que experiências de sofrimento levam algumas mulheres a buscar novas concepções de mundo no sistema simbólico islâmico e que, após a reversão, esse sofrimento vai sendo (re)significado por meio das regras e rituais religiosos, visto que o Islã é entendido como um código de conduta que rege todas as áreas da vida de seus seguidores. Como se trata de uma religião prescritiva, cujas regras são entendidas como vindas de Deus para garantir a felicidade, a satisfação e a saúde dos seres humanos, supõe-se que a religião gera uma série de efeitos sobre a saúde mental de muçulmanos e muçulmanas. Por um lado, por ser uma religião minoritária, ainda cercada de estereótipos e preconceitos, é escassa a literatura sobre Islã e saúde mental no panorama acadêmico nacional. Por outro, discutir abertamente o tema é uma demanda entendida pelos-as próprios-as muçulmanos-as como necessária. Assim, o objetivo desta pesquisa é o de compreender as concepções e as experiências de mulheres muçulmanas brasileiras em relação à saúde mental. Para alcançar este entendimento, adotou-se para este estudo o método clínico-qualitativo. A primeira etapa da pesquisa envolveu a presença da pesquisadora em campo islâmico para apreender os discursos religiosos que ali circulavam sobre saúde, doença e sofrimento. Em fase posterior, para aprofundar o tema junto ao grupo de interesse, foram realizadas nove entrevistas abertas com mulheres muçulmanas brasileiras, além de entrevistas complementares com um sheikh, líder religioso islâmico, e com uma profissional de saúde mental que faz parte da comunidade muçulmana. Devido à pandemia de Covid-19, todas as interlocuções aconteceram em ambiente digital, por meio de plataformas como Google Meet, Skype e WhatsApp. Visto que os fenômenos estudados são complexos e demandam olhares ampliados, os dados foram analisados à luz de referenciais psicológicos, psicanalíticos e antropológicos, bem como de seus diálogos com os saberes tradicionais islâmicos. Os dados obtidos foram distribuídos ao redor de três eixos principais, cada qual agrupando um conjunto distinto de sentidos sobre a saúde mental, a saber: (a) a visão biomédica: sintomatologia, diagnósticos e intervenções; (b) a espiritualidade e a religiosidade como fontes de cuidado; (c) a dimensão sociopolítica do sofrimento. Além da religião, as interlocutoras acionaram outros marcadores que se interseccionam a ela, como raça, gênero e classe. Dessa maneira, trouxeram matizes ao tema, sinalizando como a saúde mental é ressignificada no Islã, pelo Islã e para além do Islã, e permitindo traçar um panorama que coloca em evidência quais são as questões mais urgentes que estão se manifestando dentro das comunidades muçulmanas no Brasil.Religion is one of the most traditional ways of explaining the world and giving meaning to the phenomena of life, including processes related to health and illness. Despite its centrality, this relationship has been understood as problematic by Psychology and other areas, and less attention is given to religion in psychological research on mental health. It was found in previous work that experiences of suffering may lead some women to seek new conceptions in the Islamic symbolic universe, and, after embracing religion, suffering is (re)signified through religious rules and rituals, since Islam is acknowledged as a complete code of conduct that governs all aspects of its followers\' lives. As a prescriptive religion, whose rules come from God to ensure happiness, satisfaction, and health of human beings, it is assumed that religion could influence the mental health of Muslims. On the one hand, Islam, which is a minority religion in Brazil, still surrounded by stereotypes and prejudices, has been neglected from the national academic literature. On the other hand, Muslims themselves have been claiming the need for openly discussing the issue of mental health in Islam. Thus, this study aims to investigate Brazilian Muslim women\'s views and experiences on mental health. In order to achieve it, the clinical-qualitative method was adopted. The first stage of the research involved the presence of the researcher in the Islamic field to apprehend the religious discourses that circulates about health, illness and suffering. Then, to better understand the topic, a total of eleven interviews were conducted: nine with Brazilian Muslim women, one with a sheikh, an Islamic religious leader, and one with a mental health professional, herself part of the community. Due to the Covid-19 pandemic, all activities were performed online through platforms such as Google Meet, Skype and WhatsApp. Assuming the complexity of the issue, the data were analyzed by psychological, psychoanalytic and anthropological lens, and their articulation with Islamic traditional knowledge as well. The findings were divided into three main axes, each making reference to a distinct set of meanings about mental health: (a) biomedical model: symptomatology, diagnoses and interventions; (b) spirituality and religiosity as sources of mental healthcare; (c) the sociopolitical dimension of suffering. The interviewees triggered markers that intersect with religion, such as race, gender and class. This way, they pointed out how mental health is signified in Islam, through Islam and beyond Islam, drawing a panoramic view of the most urgent issues that need to receive more attention within the Brazilian religious communities.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPBarbosa, Francirosy CamposPaiva, Camila Motta2023-01-31info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59142/tde-10032023-075246/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2023-03-22T13:26:32Zoai:teses.usp.br:tde-10032023-075246Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212023-03-22T13:26:32Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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