Converter civilizar comunicar. Considerações sobre religião, direito e linguagem no Peru colonial
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2012 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
Texto Completo: | https://doi.org/10.11606/D.8.2012.tde-30102012-092546 |
Resumo: | O objetivo desta pesquisa é traçar um panorama das transformações ocorridas no Peru na segunda metade do século XVI. Em primeiro lugar, o trabalho busca analisar as reorientações sofridas pelo clero local a partir da década de 1560, quando se observou uma virada ortodoxa no domínio missionário. Uma posição mais dura em relação às idolatrias indígenas passou a ser complementada pela insistência no conhecimento da doutrina e na explicitação da fé por meio dos sacramentos. Essas modificações seriam cristalizadas por ocasião do III Concílio Provincial de Lima (1582-1583), bem como nas obras do jesuíta José de Acosta. A preocupação conciliar com o governo das almas, contudo, não pode ser compreendido a contento sem uma análise do contexto administrativo e jurídico peruano. Nesse campo, aliás, processavam-se transformações análogas a partir de 1569, quando da chegada à região do vice-rei Francisco de Toledo. Por um lado, esse governante foi o artífice de um processo de centralização política em torno das instituições imperiais. Por outro lado, sua legislação permite compreender alguns aspectos do funcionamento de um dispositivo jurídico fundado numa concepção qualitativa de sociedade e no caráter ritualístico do direito. Ao lado dessa legislação, obras de autores centrais do período como Pedro Sarmiento de Gamboa, Polo de Ondegardo, Juan de Matienzo e Pedro de Quiroga permitem compreender a organicidade existente entre as discussões missionárias em torno da conversão dos indígenas e o processo civilizador que pretendia se instituir no plano político. Ao mesmo tempo, esse momento da exposição revela o quanto se interligavam essas questões ao estado da economia peruana, particularmente no que toca às variações da produção mineira. Por fim, para complementar esse panorama, realiza-se uma pequena incursão no campo linguístico, com o fim de analisar as transformações contemporâneas ocorridas nos quadros de um processo de gramatização do quíchua e do aimará. Por meio da mobilização de alguns vocabulários então produzidos, a análise desse fenômeno permite relevar o quão conectado estava esse processo com relação ao campo missionário e à administração civil. Traçado esse panorama, o trabalho passa à reflexão acerca de algumas categorias de análise religião, índio, direito, mestiço etc. amplamente utilizadas pela historiografia contemporânea. Esse exercício tem por objetivo avaliar algumas implicações do uso de determinados conceitos sem a devida referência ao seu caráter histórico. Restituir a formação conceitual ao seu contexto específico permite, por fim, enfatizar a historicidade dos próprios processos de generalização de determinados códigos culturais que, a princípio, pertenceram à civilização cristã europeia. |
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info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesis Converter civilizar comunicar. Considerações sobre religião, direito e linguagem no Peru colonial Convert civilize communicate. Considerations on religion, law and language in colonial Peru 2012-08-21Adone AgnolinAna Raquel Marques da Cunha Martins PortugalCarlos Alberto de Moura Ribeiro ZeronVictor Santos Vigneron de La JousselandiereUniversidade de São PauloHistória SocialUSPBR Colonização Colonization Direito Language Law Linguagem Religião Religion Rite Rito O objetivo desta pesquisa é traçar um panorama das transformações ocorridas no Peru na segunda metade do século XVI. Em primeiro lugar, o trabalho busca analisar as reorientações sofridas pelo clero local a partir da década de 1560, quando se observou uma virada ortodoxa no domínio missionário. Uma posição mais dura em relação às idolatrias indígenas passou a ser complementada pela insistência no conhecimento da doutrina e na explicitação da fé por meio dos sacramentos. Essas modificações seriam cristalizadas por ocasião do III Concílio Provincial de Lima (1582-1583), bem como nas obras do jesuíta José de Acosta. A preocupação conciliar com o governo das almas, contudo, não pode ser compreendido a contento sem uma análise do contexto administrativo e jurídico peruano. Nesse campo, aliás, processavam-se transformações análogas a partir de 1569, quando da chegada à região do vice-rei Francisco de Toledo. Por um lado, esse governante foi o artífice de um processo de centralização política em torno das instituições imperiais. Por outro lado, sua legislação permite compreender alguns aspectos do funcionamento de um dispositivo jurídico fundado numa concepção qualitativa de sociedade e no caráter ritualístico do direito. Ao lado dessa legislação, obras de autores centrais do período como Pedro Sarmiento de Gamboa, Polo de Ondegardo, Juan de Matienzo e Pedro de Quiroga permitem compreender a organicidade existente entre as discussões missionárias em torno da conversão dos indígenas e o processo civilizador que pretendia se instituir no plano político. Ao mesmo tempo, esse momento da exposição revela o quanto se interligavam essas questões ao estado da economia peruana, particularmente no que toca às variações da produção mineira. Por fim, para complementar esse panorama, realiza-se uma pequena incursão no campo linguístico, com o fim de analisar as transformações contemporâneas ocorridas nos quadros de um processo de gramatização do quíchua e do aimará. Por meio da mobilização de alguns vocabulários então produzidos, a análise desse fenômeno permite relevar o quão conectado estava esse processo com relação ao campo missionário e à administração civil. Traçado esse panorama, o trabalho passa à reflexão acerca de algumas categorias de análise religião, índio, direito, mestiço etc. amplamente utilizadas pela historiografia contemporânea. Esse exercício tem por objetivo avaliar algumas implicações do uso de determinados conceitos sem a devida referência ao seu caráter histórico. Restituir a formação conceitual ao seu contexto específico permite, por fim, enfatizar a historicidade dos próprios processos de generalização de determinados códigos culturais que, a princípio, pertenceram à civilização cristã europeia. The objective of this research is to provide an overview of the transformations that took place in Peru during the second half of XVI century. First, the work aims to analyze the reorientations of local clergy from the decade of 1560, when an orthodox turn could be observed in the missionary domination. A harder position concerning indigenous idolatries was complemented by the insistence on the doctrine knowledge and the explanation in faith based on the sacraments. These changes would be solidified during the Third Council of Lima (1582- 1583), as well as in the works of the Jesuit Jose de Acosta. The Council concern with governing the souls, however, cannot be understood properly without an analysis of the legal and administrative context of Peru. Also in this field similar changes were taking place, since the arrival of Viceroy Francisco de Toledo in 1569. On the one hand, this governor was the creator of a political centralization process around the imperial institutions. On the other hand, his ruling allows us to understand some features of a legal mechanism founded on a qualitative conception of society and ritualistic nature of law. Along with that legislation, works of main authors from that period like Pedro Sarmiento de Gamboa, Polo de Ondegardo, Juan de Matienzo and Pedro de Quiroga allow the understanding of the organic characteristic presented within the missionary discussions concerning indigenous conversion and the civilizing process intended to be instituted on the political plan. At the same time, this moment of exposure reveals the amount of interconnection between those questions and the condition of Peruvian economy, especially in which refers to the variations of mining production. Finally, to complete the picture, there is a little incursion in the linguistic field to analyze the contemporary changes that occurred in the grammatization process of quíchua and aimará languages. For mobilizing some lexical then produced, the analysis of this phenomenon reveals as much it was connected to the missionary field and civil administration. After this overview, the work goes toward the reflection upon some categories of analysis religion, Indian, law, mestizo etc. widely used by contemporary historiography. This exercise aims to evaluate some implication of using certain concepts without the proper reference to its historical feature. Restoring the concept formation to its specific context allows, at last, to emphasize the historicity of the own generalization processes of specific cultural codes that, originally, belonged to European Christian civilization. https://doi.org/10.11606/D.8.2012.tde-30102012-092546info:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USP2023-12-21T20:27:35Zoai:teses.usp.br:tde-30102012-092546Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212023-12-22T13:33:05.175390Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false |
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O objetivo desta pesquisa é traçar um panorama das transformações ocorridas no Peru na segunda metade do século XVI. Em primeiro lugar, o trabalho busca analisar as reorientações sofridas pelo clero local a partir da década de 1560, quando se observou uma virada ortodoxa no domínio missionário. Uma posição mais dura em relação às idolatrias indígenas passou a ser complementada pela insistência no conhecimento da doutrina e na explicitação da fé por meio dos sacramentos. Essas modificações seriam cristalizadas por ocasião do III Concílio Provincial de Lima (1582-1583), bem como nas obras do jesuíta José de Acosta. A preocupação conciliar com o governo das almas, contudo, não pode ser compreendido a contento sem uma análise do contexto administrativo e jurídico peruano. Nesse campo, aliás, processavam-se transformações análogas a partir de 1569, quando da chegada à região do vice-rei Francisco de Toledo. Por um lado, esse governante foi o artífice de um processo de centralização política em torno das instituições imperiais. Por outro lado, sua legislação permite compreender alguns aspectos do funcionamento de um dispositivo jurídico fundado numa concepção qualitativa de sociedade e no caráter ritualístico do direito. Ao lado dessa legislação, obras de autores centrais do período como Pedro Sarmiento de Gamboa, Polo de Ondegardo, Juan de Matienzo e Pedro de Quiroga permitem compreender a organicidade existente entre as discussões missionárias em torno da conversão dos indígenas e o processo civilizador que pretendia se instituir no plano político. Ao mesmo tempo, esse momento da exposição revela o quanto se interligavam essas questões ao estado da economia peruana, particularmente no que toca às variações da produção mineira. Por fim, para complementar esse panorama, realiza-se uma pequena incursão no campo linguístico, com o fim de analisar as transformações contemporâneas ocorridas nos quadros de um processo de gramatização do quíchua e do aimará. Por meio da mobilização de alguns vocabulários então produzidos, a análise desse fenômeno permite relevar o quão conectado estava esse processo com relação ao campo missionário e à administração civil. Traçado esse panorama, o trabalho passa à reflexão acerca de algumas categorias de análise religião, índio, direito, mestiço etc. amplamente utilizadas pela historiografia contemporânea. Esse exercício tem por objetivo avaliar algumas implicações do uso de determinados conceitos sem a devida referência ao seu caráter histórico. Restituir a formação conceitual ao seu contexto específico permite, por fim, enfatizar a historicidade dos próprios processos de generalização de determinados códigos culturais que, a princípio, pertenceram à civilização cristã europeia. |
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