Conforto térmico em habitações de favelas e possíveis correlações com sintomas respiratórios: o caso do Assentamento Futuro Melhor - SP

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Utimura, Isabel
Data de Publicação: 2011
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8135/tde-06072011-091727/
Resumo: O objetivo deste trabalho é verificar a influência do microclima no condicionamento do ambiente de residências representativas da favela do Assentamento Futuro Melhor do Município de São Paulo. A investigação procura isolar e caracterizar os controles climáticos cuja variação espaço-temporal seja significativa a ponto de influenciar a ocorrência e distribuição de doenças respiratórias em população de baixa renda. O estudo foi desenvolvido com base no conceito de ritmo climático e na concepção bioclimática do ambiente construído, que foram aplicados empiricamente em trabalho de campo. Foram realizados monitoramento e avaliação do conforto térmico em ambiente interno de longa permanência de oito habitações com tecnologia e padrão construtivos diferentes, usando mini-regitradores digitais de temperatura e umidade relativa do ar com frequência de amostragem de 1 hora durante o verão de 2009 ao inverno de 2010. Procurou-se isolar a influência topoclimática (orientação e posição da vertente), instalando-os num mesmo quarteirão com declividades muito baixas. Foi classificada, hora a hora, a combinação de temperatura e umidade relativa do ar resultando no índice de sensação térmica humana segundo a proposta de Olgyay (1963). A comparação do ambiente interior das habitações com o exterior foi realizada a partir de dados obtidos junto às estações meteorológicas do INMET - Mirante de Santana (SP) e do IAG-USP, e das informações da circulação secundária sobre a área de estudo obtida das cartas sinóticas da Marinha do Brasil, e imagens do satélite GOES no canal infravermelho (CPTEC/INPE). Para associar o fator conforto térmico com sintomas respiratórios recorreu-se à aplicação de questionários, buscando investigar in loco se havia uma variação da prevalência de sintomas respiratórios em função de atributos das habitações. Foram realizadas entrevistas sistemáticas com cada um dos indivíduos moradores de 150 habitações tomadas como universo amostral. Os dados dos sintomas respiratórios foram associados e agrupados segundo os tipos construtivos de habitações, o perfil socioeconômico e demográfico, além de hábitos da família que interferem no conforto térmico e/ou na saúde respiratória. Essas associações buscaram um controle das variáveis que poderiam influir na incidência de sintomas e serviram para isolar exclusivamente a influência das variáveis construtivas da habitação. Por fim, buscou-se incorporar os dados climáticos registrados às informações qualitativas levantadas junto à população moradora. Os resultados apontam para a influência do padrão construtivo nos níveis de conforto térmico, consistindo em fatores diferenciadores dos atributos microclimáticos do ambiente interior. As habitações em fechamento de madeira e cobertura de telha ondulada de fibrocimento apresentaram um isolamento menor dentre às habitações pesquisadas, sendo que a habitação em alvenaria com laje ofereceu um maior isolamento e inércia térmica em relação ao ambiente externo. As habitações em alvenaria com telha de fibrocimento apresentaram diferenças nas condições de conforto térmico em função das pequenas melhorias construtivas empregadas em cada caso. Verificou-se que nas habitações da favela ocorrem extremos de temperaturas, e que nas habitações localizadas fora do ambiente de favela, tomadas como posto de controle o mesmo não ocorreu. Sobre os efeitos meteorológicos no condicionamento do ambiente das habitações estudadas, verificou-se que os maiores resfriamentos estão associados à MPA; os maiores aquecimentos sob a ação dos sistemas tropicais TC e MTA, e as FFs criam uma situação de homogeneização nas variações das temperaturas médias horárias ao longo do dia. A análise integrada da variação horária de temperatura e umidade relativa do ar permitiu verificar que existe um ritmo sazonal nas condições de conforto térmico humano. No tocante à sensação térmica, todas as habitações da favela mostraram-se, na maior parte do tempo, fora da faixa de conforto proposta por Olgyay (1963), variando entre situações de desconforto ao calor-úmido e ao frio-úmido. Verificou-se que as habitações da favela condicionam ambientes propícios à ocorrência de sensações opostas e extremas no mesmo dia, o que não ocorre nas habitações localizadas fora do ambiente de favela. Os resultados das entrevistas indicam que nas habitações mais precárias, em madeira e alvenaria sem reboco, há maior prevalência de sintomas respiratórios do que nas habitações mais estruturadas em alvenaria com reboco. Houve associação entre a frequência e distribuição dos sintomas respiratórios e as variáveis climáticas e o índice de conforto de forma diferenciada por tipo de padrão construtivo. Os resultados corroboram a hipótese de que as habitações precárias de favelas apresentam maior impacto negativo à saúde respiratória dos moradores. As habitações da favela do Assentamento Futuro Melhor produzem o oposto daquilo que se espera de qualquer abrigo humano, pois pioram a condição do ambiente e prejudicam a saúde de seus ocupantes.
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O estudo foi desenvolvido com base no conceito de ritmo climático e na concepção bioclimática do ambiente construído, que foram aplicados empiricamente em trabalho de campo. Foram realizados monitoramento e avaliação do conforto térmico em ambiente interno de longa permanência de oito habitações com tecnologia e padrão construtivos diferentes, usando mini-regitradores digitais de temperatura e umidade relativa do ar com frequência de amostragem de 1 hora durante o verão de 2009 ao inverno de 2010. Procurou-se isolar a influência topoclimática (orientação e posição da vertente), instalando-os num mesmo quarteirão com declividades muito baixas. Foi classificada, hora a hora, a combinação de temperatura e umidade relativa do ar resultando no índice de sensação térmica humana segundo a proposta de Olgyay (1963). A comparação do ambiente interior das habitações com o exterior foi realizada a partir de dados obtidos junto às estações meteorológicas do INMET - Mirante de Santana (SP) e do IAG-USP, e das informações da circulação secundária sobre a área de estudo obtida das cartas sinóticas da Marinha do Brasil, e imagens do satélite GOES no canal infravermelho (CPTEC/INPE). Para associar o fator conforto térmico com sintomas respiratórios recorreu-se à aplicação de questionários, buscando investigar in loco se havia uma variação da prevalência de sintomas respiratórios em função de atributos das habitações. Foram realizadas entrevistas sistemáticas com cada um dos indivíduos moradores de 150 habitações tomadas como universo amostral. Os dados dos sintomas respiratórios foram associados e agrupados segundo os tipos construtivos de habitações, o perfil socioeconômico e demográfico, além de hábitos da família que interferem no conforto térmico e/ou na saúde respiratória. Essas associações buscaram um controle das variáveis que poderiam influir na incidência de sintomas e serviram para isolar exclusivamente a influência das variáveis construtivas da habitação. Por fim, buscou-se incorporar os dados climáticos registrados às informações qualitativas levantadas junto à população moradora. Os resultados apontam para a influência do padrão construtivo nos níveis de conforto térmico, consistindo em fatores diferenciadores dos atributos microclimáticos do ambiente interior. As habitações em fechamento de madeira e cobertura de telha ondulada de fibrocimento apresentaram um isolamento menor dentre às habitações pesquisadas, sendo que a habitação em alvenaria com laje ofereceu um maior isolamento e inércia térmica em relação ao ambiente externo. As habitações em alvenaria com telha de fibrocimento apresentaram diferenças nas condições de conforto térmico em função das pequenas melhorias construtivas empregadas em cada caso. Verificou-se que nas habitações da favela ocorrem extremos de temperaturas, e que nas habitações localizadas fora do ambiente de favela, tomadas como posto de controle o mesmo não ocorreu. Sobre os efeitos meteorológicos no condicionamento do ambiente das habitações estudadas, verificou-se que os maiores resfriamentos estão associados à MPA; os maiores aquecimentos sob a ação dos sistemas tropicais TC e MTA, e as FFs criam uma situação de homogeneização nas variações das temperaturas médias horárias ao longo do dia. A análise integrada da variação horária de temperatura e umidade relativa do ar permitiu verificar que existe um ritmo sazonal nas condições de conforto térmico humano. No tocante à sensação térmica, todas as habitações da favela mostraram-se, na maior parte do tempo, fora da faixa de conforto proposta por Olgyay (1963), variando entre situações de desconforto ao calor-úmido e ao frio-úmido. Verificou-se que as habitações da favela condicionam ambientes propícios à ocorrência de sensações opostas e extremas no mesmo dia, o que não ocorre nas habitações localizadas fora do ambiente de favela. Os resultados das entrevistas indicam que nas habitações mais precárias, em madeira e alvenaria sem reboco, há maior prevalência de sintomas respiratórios do que nas habitações mais estruturadas em alvenaria com reboco. Houve associação entre a frequência e distribuição dos sintomas respiratórios e as variáveis climáticas e o índice de conforto de forma diferenciada por tipo de padrão construtivo. Os resultados corroboram a hipótese de que as habitações precárias de favelas apresentam maior impacto negativo à saúde respiratória dos moradores. As habitações da favela do Assentamento Futuro Melhor produzem o oposto daquilo que se espera de qualquer abrigo humano, pois pioram a condição do ambiente e prejudicam a saúde de seus ocupantes.This study aims at verifying the influence of microclime on the conditioning of representative home environments of the Assentamento Futuro Melhor (\"Housing for a Better Future\") favela in the city of Sao Paulo. It is an investigation to isolate and characterize climatic controls whose space-time variation can be of significance in springing up respiratory diseases and disseminating them over a low-income population. The study was developed upon the concept of climatic rhythm as well as the bioclimatic conception of the built-on environment, applied empirically in the field work. Monitoring and evaluation of thermic comfort were carried out for long-term indoor environments in eight domiciles, each with distinct technologies and building patterns, using digital mini recorders for temperature and relative air humidity with sampling frequency of 1 hour, during the Summer of 2009 through the Winter of 2010. An attempt was made to isolate the topoclimatic influence (hogback orientation and position) by installing them in the same block, one with very little slope. The combination of temperature and relative air humidity was evaluated on an hour-to-hour basis, resulting in the human thermic sensitivity index, according to the method proposed by Olgyay (1963). The comparison between the indoor and outdoor environments of the domiciles was performed from data gathered by the meteorological stations of INMET - Mirante de Santana (SP) and of IAG-USP, along with information on secondary circulation over the area of study gathered from synoptical charts of the Brazilian Navy, as well as imagery from the GOES satellite infrared channel (CPTEC/INPE). In associating the thermic comfort factor with respiratory symptoms, question forms were handed out in loco to investigate whether a variation in the prevalence of respiratory symptoms as a function of features pertaining to the domiciles existed. Each individual dwelling in the 150 domiciles within the sample group was systematically interviewed. Data for respiratory symptoms were associated and grouped in accordance with building type, social, economic and demographic profile as well as family habits that interfer in thermic comfort and/or respiratory health. Such associations looked to control variables that could sway the incidence of symptoms, and served to exclusively isolate the influence of the domiciles\' building variables. Finally, a correlation was sought between the recorded climatic data and the qualitative information queried from the dwelling population. Results show the influence of building schemes on the level of thermic comfort, consisting in differing factors for indoor microclimatic attributes. Homes with wood enclosure, roofed with undulated, cemented fiber tiles showed the lowest isolation among the researched homes, whereas homes with mortar walls and ceiling displayed greater isolation and thermic inertia to the outer environment. Mortar homes with cemented fiber tiling showed discrepancies in the levels of thermic comfort as the result of small building improvements applied in each case. Temperature extremes were attested over the domiciles in the favela, but in domiciles outside the favela - used as \"control posts\" - such extremes could not be verified. Regarding the meteorological effects on the environment conditioning of the researched domiciles, the greatest levels in cooling were verified to be linked to MPA; the greatest levels in heating, to the action of tropical systems TC and MTA; FFs caused homogeneity in the variation of hourly average temperatures in the course of a day. Integrated analysis of hourly temperature variation and relative air humidity allowed for the conclusion that there exists a seasonal rhythm in the condition of human thermic comfort. As for thermic sensitivity, all domiciles in the favela showed for the most part as being without the comfort zone proposed by Olgyay (1963), ranging from uncomfortable conditions to humid heat and to humid cold. It was verified that the domiciles in the favela configure environments capable of offering opposite, extreme sensations within the same day, which does not occur in domiciles outside the favela environment. Interview results point to the prevalence of respiratory symptoms in the more poorly built domiciles, with wood or bricks with no plasterwork, rather than in the plasteredbrick homes. A correlation was attested among frequency and distribution of respiratory symptoms, climatic variables, and the differentiated comfort index by building pattern. The results corroborate the hypothesis that poorly built homes in favelas more negatively affect the respiratory health of their dwellers. The homes in the Assentamento Futuro Melhor favela yield the opposite of what is expected of any human shelter: worsening of environment conditions and health deterioration for their occupants.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPAzevedo, Tarik Rezende deUtimura, Isabel2011-02-18info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8135/tde-06072011-091727/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2016-07-28T16:10:29Zoai:teses.usp.br:tde-06072011-091727Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212016-07-28T16:10:29Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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Procurou-se isolar a influência topoclimática (orientação e posição da vertente), instalando-os num mesmo quarteirão com declividades muito baixas. Foi classificada, hora a hora, a combinação de temperatura e umidade relativa do ar resultando no índice de sensação térmica humana segundo a proposta de Olgyay (1963). A comparação do ambiente interior das habitações com o exterior foi realizada a partir de dados obtidos junto às estações meteorológicas do INMET - Mirante de Santana (SP) e do IAG-USP, e das informações da circulação secundária sobre a área de estudo obtida das cartas sinóticas da Marinha do Brasil, e imagens do satélite GOES no canal infravermelho (CPTEC/INPE). Para associar o fator conforto térmico com sintomas respiratórios recorreu-se à aplicação de questionários, buscando investigar in loco se havia uma variação da prevalência de sintomas respiratórios em função de atributos das habitações. Foram realizadas entrevistas sistemáticas com cada um dos indivíduos moradores de 150 habitações tomadas como universo amostral. Os dados dos sintomas respiratórios foram associados e agrupados segundo os tipos construtivos de habitações, o perfil socioeconômico e demográfico, além de hábitos da família que interferem no conforto térmico e/ou na saúde respiratória. Essas associações buscaram um controle das variáveis que poderiam influir na incidência de sintomas e serviram para isolar exclusivamente a influência das variáveis construtivas da habitação. Por fim, buscou-se incorporar os dados climáticos registrados às informações qualitativas levantadas junto à população moradora. Os resultados apontam para a influência do padrão construtivo nos níveis de conforto térmico, consistindo em fatores diferenciadores dos atributos microclimáticos do ambiente interior. As habitações em fechamento de madeira e cobertura de telha ondulada de fibrocimento apresentaram um isolamento menor dentre às habitações pesquisadas, sendo que a habitação em alvenaria com laje ofereceu um maior isolamento e inércia térmica em relação ao ambiente externo. As habitações em alvenaria com telha de fibrocimento apresentaram diferenças nas condições de conforto térmico em função das pequenas melhorias construtivas empregadas em cada caso. Verificou-se que nas habitações da favela ocorrem extremos de temperaturas, e que nas habitações localizadas fora do ambiente de favela, tomadas como posto de controle o mesmo não ocorreu. Sobre os efeitos meteorológicos no condicionamento do ambiente das habitações estudadas, verificou-se que os maiores resfriamentos estão associados à MPA; os maiores aquecimentos sob a ação dos sistemas tropicais TC e MTA, e as FFs criam uma situação de homogeneização nas variações das temperaturas médias horárias ao longo do dia. A análise integrada da variação horária de temperatura e umidade relativa do ar permitiu verificar que existe um ritmo sazonal nas condições de conforto térmico humano. No tocante à sensação térmica, todas as habitações da favela mostraram-se, na maior parte do tempo, fora da faixa de conforto proposta por Olgyay (1963), variando entre situações de desconforto ao calor-úmido e ao frio-úmido. Verificou-se que as habitações da favela condicionam ambientes propícios à ocorrência de sensações opostas e extremas no mesmo dia, o que não ocorre nas habitações localizadas fora do ambiente de favela. Os resultados das entrevistas indicam que nas habitações mais precárias, em madeira e alvenaria sem reboco, há maior prevalência de sintomas respiratórios do que nas habitações mais estruturadas em alvenaria com reboco. Houve associação entre a frequência e distribuição dos sintomas respiratórios e as variáveis climáticas e o índice de conforto de forma diferenciada por tipo de padrão construtivo. Os resultados corroboram a hipótese de que as habitações precárias de favelas apresentam maior impacto negativo à saúde respiratória dos moradores. As habitações da favela do Assentamento Futuro Melhor produzem o oposto daquilo que se espera de qualquer abrigo humano, pois pioram a condição do ambiente e prejudicam a saúde de seus ocupantes.
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