Da Fartura à Escassez: a agroindústria de celulose e o fim dos territórios comunais no extremo norte do Espirito Santo
Autor(a) principal: | |
---|---|
Data de Publicação: | 2002 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
Texto Completo: | http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8136/tde-04042005-104838/ |
Resumo: | Até meados do século XX, a região fronteiriça entre o Espírito Santo e a Bahia era predominantemente ocupada por comunidades camponesas, caboclas, pescadoras e quilombolas que tiravam seu sustento do uso extrativista do meio natural. Aqui, a rica floresta tropical atlântica, agrupando mata densa nos terrenos sedimentares terciários e áreas alagadiças nas planícies de inundação dos rios, apresentava a fartura suficiente para suprir estas comunidades de água, peixe, carne, frutos, madeira, ervas e raízes medicinais. A fartura estendia-se à terra: no \"sertão\" de Itaúnas, a \"terra era a rola\" e apropriada pelas posses que passavam de pai para filho. Esta situação favorecia o uso comunal dos recursos oferecidos pela floresta e assim concretizava o território das comunidades. A partir da década de 1950, as áreas da floresta passam a adquirir valor comercial. O crescimento urbano-industrial do centro-sul do país tem fome de madeira, que começa a ser saciada pela exuberância da Mata Atlântica do norte capixaba. Em meados da década de 1970, as terras que ainda apresentavam exemplares da floresta concentravam-se no município litorâneo de Conceição da Barra e, a partir de então, passam a ser inseridas no projeto estatal de plantio de eucalipto para produção de celulose do II Plano Nacional de Desenvolvimento (1974). A implantação das monoculturas da Aracruz Celulose nesta região a partir de 1974 traz a transformação no uso da terra, incentivada e legitimada pelo Estado através de legislações específicas, e impõe uma nova lógica de apropriação do espaço, ditada pela propriedade privada, pelo uso restrito, pela acumulação e pelo lucro. Junto dela, o manejo extremamente impactante, com o plantio em nascentes e zonas de recarga hídrica, a retirada de matas ciliares, a exploração da areia e argila encontradas no fundo das antigas lagoas e agora utilizadas na manutenção das estradas, a capina e o controle químico de pragas com elevadas doses de agrotóxicos e herbicidas. Danificando o meio natural, a nova situação passa a desestruturar o modo de vida das comunidades locais, outrora estruturado numa forma de manejo que mantinha os ciclos reprodutivos da vida. A investigação destas histórias de vida tomou corpo coletivo no Movimento Alerta contra o Deserto Verde, formado por entidades e ONGs do Espírito Santo e sul da Bahia em meados de 1999 e que tem como prática o questionamento político do projeto celulósico aí implantado. O Deserto Verde vem estimulando a discussão dos problemas trazidos pela agroindústria de celulose às comunidades locais e tem contribuído com algumas conquistas, como a lei estadual que determina o zoneamento agroecológico do Espírito Santo e outras recentes leis municipais que proíbem o plantio do eucalipto para a produção de celulose. |
id |
USP_a8e2f22079d4647fe590ee40331000c9 |
---|---|
oai_identifier_str |
oai:teses.usp.br:tde-04042005-104838 |
network_acronym_str |
USP |
network_name_str |
Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
repository_id_str |
2721 |
spelling |
Da Fartura à Escassez: a agroindústria de celulose e o fim dos territórios comunais no extremo norte do Espirito SantoFrom plenty to scarcity: the pulp\'s agrarian-industry and the end of customers territories in the Espírito Santo\'s border northagrarian-industry of eucalyptus pulpagroindústria de celulosecustomer territoryimpactos socioambientaislife's modemodo de vidasocial and environmental impactsterritório de uso comumAté meados do século XX, a região fronteiriça entre o Espírito Santo e a Bahia era predominantemente ocupada por comunidades camponesas, caboclas, pescadoras e quilombolas que tiravam seu sustento do uso extrativista do meio natural. Aqui, a rica floresta tropical atlântica, agrupando mata densa nos terrenos sedimentares terciários e áreas alagadiças nas planícies de inundação dos rios, apresentava a fartura suficiente para suprir estas comunidades de água, peixe, carne, frutos, madeira, ervas e raízes medicinais. A fartura estendia-se à terra: no \"sertão\" de Itaúnas, a \"terra era a rola\" e apropriada pelas posses que passavam de pai para filho. Esta situação favorecia o uso comunal dos recursos oferecidos pela floresta e assim concretizava o território das comunidades. A partir da década de 1950, as áreas da floresta passam a adquirir valor comercial. O crescimento urbano-industrial do centro-sul do país tem fome de madeira, que começa a ser saciada pela exuberância da Mata Atlântica do norte capixaba. Em meados da década de 1970, as terras que ainda apresentavam exemplares da floresta concentravam-se no município litorâneo de Conceição da Barra e, a partir de então, passam a ser inseridas no projeto estatal de plantio de eucalipto para produção de celulose do II Plano Nacional de Desenvolvimento (1974). A implantação das monoculturas da Aracruz Celulose nesta região a partir de 1974 traz a transformação no uso da terra, incentivada e legitimada pelo Estado através de legislações específicas, e impõe uma nova lógica de apropriação do espaço, ditada pela propriedade privada, pelo uso restrito, pela acumulação e pelo lucro. Junto dela, o manejo extremamente impactante, com o plantio em nascentes e zonas de recarga hídrica, a retirada de matas ciliares, a exploração da areia e argila encontradas no fundo das antigas lagoas e agora utilizadas na manutenção das estradas, a capina e o controle químico de pragas com elevadas doses de agrotóxicos e herbicidas. Danificando o meio natural, a nova situação passa a desestruturar o modo de vida das comunidades locais, outrora estruturado numa forma de manejo que mantinha os ciclos reprodutivos da vida. A investigação destas histórias de vida tomou corpo coletivo no Movimento Alerta contra o Deserto Verde, formado por entidades e ONGs do Espírito Santo e sul da Bahia em meados de 1999 e que tem como prática o questionamento político do projeto celulósico aí implantado. O Deserto Verde vem estimulando a discussão dos problemas trazidos pela agroindústria de celulose às comunidades locais e tem contribuído com algumas conquistas, como a lei estadual que determina o zoneamento agroecológico do Espírito Santo e outras recentes leis municipais que proíbem o plantio do eucalipto para a produção de celulose.In the beginning twenty century, the frontier\'s region between Espírito Santo and Bahia was taken of peasants, natives, fishermen and antique slaves communities that took your maintenance from the use of natural environment. Here, the fruitful tropical forest, counting compact wood in the sedimentaries soils and inundate zones in the flood\'s plains of rivers, had the sufficient abundance to provide these communities with water, fish, meat, fruits, wood, herbs and medicinal roots. The plenty extended to land: in the Itaúnas hinterland, the \"land was glutted\" and suitable by hereditaries tenures. This situation fomented the customary use of resorts presented to forest and then make concrete the communities territories. Since 1950, the forest\'s zones start to acquire commercial value. The profuse Mata Atlântica of Espírito Santo\'s north was used in the urbane-industrial increase of centre-south\'s country. In the middle of 1970, the lands of still had forest\'s exemplars group was in the coast town of Conceição da Barra. Then, this lands was inserteds in the Brazilian\'s project of eucalyptus\' plantation to pulp\'s production of II Plano Nacional de Desenvolvimento de 1974 (National Environment Plane). The monocultures consolidation of Aracruz Celulose since 1974 produce the transformation in the land\'s use, incentived and legitimised to Brazilian country through of specifies laws, and impose a new logic of spaces appropriation, dictated for private propriety, restricted use, accumulation and profit. The destroyed management, with the plantation in the sources, the retreat of vegetation around the rivers, the exploration of sand and clay placed in the olds lakes bottom and in this moment utilised in the roads\' maintenance, the clearing woodland and the chemical\'s control of pests with large parts of poisons. The new situation damage the natural environment, and change the life\'s mode of local communities, formerly structured in the management that sustained the life\'s reproductives cycles. The participant search\'s character in the investigation of these life\'s histories increased collectively of the Movimento Alerta contra o Deserto Verde (Alert against Green Wilderness Movement), established for entities and ONG\'s of Espírito Santo and Bahia\'s south in the middle of 1999. This movement quarrels the project of eucalyptus pulp\'s production there consolidated, encourage the discussion of the problems produced for pulp agrarian-industry to local communities and had contributed with some conquests like the state law that determine the agrarian-ecological plan of Espírito Santo and others municipal laws that prohibit the eucalyptus plantation to pulp\'s production.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPOliveira, Ariovaldo Umbelino deFerreira, Simone Raquel Batista2002-05-28info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8136/tde-04042005-104838/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2016-07-28T16:09:49Zoai:teses.usp.br:tde-04042005-104838Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212016-07-28T16:09:49Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false |
dc.title.none.fl_str_mv |
Da Fartura à Escassez: a agroindústria de celulose e o fim dos territórios comunais no extremo norte do Espirito Santo From plenty to scarcity: the pulp\'s agrarian-industry and the end of customers territories in the Espírito Santo\'s border north |
title |
Da Fartura à Escassez: a agroindústria de celulose e o fim dos territórios comunais no extremo norte do Espirito Santo |
spellingShingle |
Da Fartura à Escassez: a agroindústria de celulose e o fim dos territórios comunais no extremo norte do Espirito Santo Ferreira, Simone Raquel Batista agrarian-industry of eucalyptus pulp agroindústria de celulose customer territory impactos socioambientais life's mode modo de vida social and environmental impacts território de uso comum |
title_short |
Da Fartura à Escassez: a agroindústria de celulose e o fim dos territórios comunais no extremo norte do Espirito Santo |
title_full |
Da Fartura à Escassez: a agroindústria de celulose e o fim dos territórios comunais no extremo norte do Espirito Santo |
title_fullStr |
Da Fartura à Escassez: a agroindústria de celulose e o fim dos territórios comunais no extremo norte do Espirito Santo |
title_full_unstemmed |
Da Fartura à Escassez: a agroindústria de celulose e o fim dos territórios comunais no extremo norte do Espirito Santo |
title_sort |
Da Fartura à Escassez: a agroindústria de celulose e o fim dos territórios comunais no extremo norte do Espirito Santo |
author |
Ferreira, Simone Raquel Batista |
author_facet |
Ferreira, Simone Raquel Batista |
author_role |
author |
dc.contributor.none.fl_str_mv |
Oliveira, Ariovaldo Umbelino de |
dc.contributor.author.fl_str_mv |
Ferreira, Simone Raquel Batista |
dc.subject.por.fl_str_mv |
agrarian-industry of eucalyptus pulp agroindústria de celulose customer territory impactos socioambientais life's mode modo de vida social and environmental impacts território de uso comum |
topic |
agrarian-industry of eucalyptus pulp agroindústria de celulose customer territory impactos socioambientais life's mode modo de vida social and environmental impacts território de uso comum |
description |
Até meados do século XX, a região fronteiriça entre o Espírito Santo e a Bahia era predominantemente ocupada por comunidades camponesas, caboclas, pescadoras e quilombolas que tiravam seu sustento do uso extrativista do meio natural. Aqui, a rica floresta tropical atlântica, agrupando mata densa nos terrenos sedimentares terciários e áreas alagadiças nas planícies de inundação dos rios, apresentava a fartura suficiente para suprir estas comunidades de água, peixe, carne, frutos, madeira, ervas e raízes medicinais. A fartura estendia-se à terra: no \"sertão\" de Itaúnas, a \"terra era a rola\" e apropriada pelas posses que passavam de pai para filho. Esta situação favorecia o uso comunal dos recursos oferecidos pela floresta e assim concretizava o território das comunidades. A partir da década de 1950, as áreas da floresta passam a adquirir valor comercial. O crescimento urbano-industrial do centro-sul do país tem fome de madeira, que começa a ser saciada pela exuberância da Mata Atlântica do norte capixaba. Em meados da década de 1970, as terras que ainda apresentavam exemplares da floresta concentravam-se no município litorâneo de Conceição da Barra e, a partir de então, passam a ser inseridas no projeto estatal de plantio de eucalipto para produção de celulose do II Plano Nacional de Desenvolvimento (1974). A implantação das monoculturas da Aracruz Celulose nesta região a partir de 1974 traz a transformação no uso da terra, incentivada e legitimada pelo Estado através de legislações específicas, e impõe uma nova lógica de apropriação do espaço, ditada pela propriedade privada, pelo uso restrito, pela acumulação e pelo lucro. Junto dela, o manejo extremamente impactante, com o plantio em nascentes e zonas de recarga hídrica, a retirada de matas ciliares, a exploração da areia e argila encontradas no fundo das antigas lagoas e agora utilizadas na manutenção das estradas, a capina e o controle químico de pragas com elevadas doses de agrotóxicos e herbicidas. Danificando o meio natural, a nova situação passa a desestruturar o modo de vida das comunidades locais, outrora estruturado numa forma de manejo que mantinha os ciclos reprodutivos da vida. A investigação destas histórias de vida tomou corpo coletivo no Movimento Alerta contra o Deserto Verde, formado por entidades e ONGs do Espírito Santo e sul da Bahia em meados de 1999 e que tem como prática o questionamento político do projeto celulósico aí implantado. O Deserto Verde vem estimulando a discussão dos problemas trazidos pela agroindústria de celulose às comunidades locais e tem contribuído com algumas conquistas, como a lei estadual que determina o zoneamento agroecológico do Espírito Santo e outras recentes leis municipais que proíbem o plantio do eucalipto para a produção de celulose. |
publishDate |
2002 |
dc.date.none.fl_str_mv |
2002-05-28 |
dc.type.status.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/publishedVersion |
dc.type.driver.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/masterThesis |
format |
masterThesis |
status_str |
publishedVersion |
dc.identifier.uri.fl_str_mv |
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8136/tde-04042005-104838/ |
url |
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8136/tde-04042005-104838/ |
dc.language.iso.fl_str_mv |
por |
language |
por |
dc.relation.none.fl_str_mv |
|
dc.rights.driver.fl_str_mv |
Liberar o conteúdo para acesso público. info:eu-repo/semantics/openAccess |
rights_invalid_str_mv |
Liberar o conteúdo para acesso público. |
eu_rights_str_mv |
openAccess |
dc.format.none.fl_str_mv |
application/pdf |
dc.coverage.none.fl_str_mv |
|
dc.publisher.none.fl_str_mv |
Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP |
publisher.none.fl_str_mv |
Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP |
dc.source.none.fl_str_mv |
reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP instname:Universidade de São Paulo (USP) instacron:USP |
instname_str |
Universidade de São Paulo (USP) |
instacron_str |
USP |
institution |
USP |
reponame_str |
Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
collection |
Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
repository.name.fl_str_mv |
Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP) |
repository.mail.fl_str_mv |
virginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.br |
_version_ |
1815256652191891456 |