Filmes arruinados: a corrosão de imagens no cinema na era de sua transição analógico-digital

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Santos, Rodrigo Faustini dos
Data de Publicação: 2018
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27161/tde-12032019-114633/
Resumo: A recorrência, no cinema experimental contemporâneo, de obras que enfatizam a instabilidade material da película - tal como Decasia, de Bill Morrison e Materia Obscura, de Jürgen Reble e Thomas Köner - vem sendo apontada por alguns autores como um retorno às questões da materialidade cinematográfica (outrora empregada pelo Cinema Estrutural) na era da passagem do analógico ao digital. Tal ênfase material se dá, em obras como essas, através do emprego de imagens degradadas, por vezes permeado de um caráter nostálgico e mórbido, que põe em cena a perda do corpo orgânico da película a partir de sua obsolescência. Ao se voltarem ao corpo analógico na era digital, essas obras tensionam, assim, imaginários associados a ambas tecnologias, criando cruzamentos que ultrapassam a mera associação do digital com o imaterial e com a película enquanto fixadora do real, numa \"alquimia de mídias\" como caracteriza Giuliana Bruno (2014). Cruzando noções de \"velho\" e \"novo\", num engajamento direto com o aparato e suporte das imagens, aproximamos essas obras das discussões de arqueologia das mídias em Thomas Elsaesser (2016) e Jussi Parikka (2015), bem como avaliamos seus procedimentos estéticos e investimento sensorial nas imagens, a partir de suas afinidades com a questão do informe nas artes e na visualidade háptica, como propõe Laura U. Marks (2002). Assim, esta pesquisa abordará a passagem, por esses trabalhos, da materialidade da película à materialidade do digital, a partir da análise de obras-chave do cinema experimental contemporâneo, de forma a destacar os fenômenos sensíveis de \"tensão superficial\" evocados nas texturas ruidosas dessas obras, que, em suas existências híbridas e fragmentadas, surgem como ruínas, entre obsolescência e renovação. Buscamos, enfim, atribuir à passagem do cinema analógico para o digital esse lugar paradoxal da ruína que, em sua complexa materialidade, oscila entre o material e o imaterial - e que, tal como dessas imagens em dissolução, instiga considerações acerca de um reconhecimento da efemeridade do mundo (e cultura), seja em modo melancólico ou afirmativo (como observaremos em Buci-Glucksmann), permitindo observar as mudanças tecnológicas do cinema sob um eixo de transmutações e passagens.
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Ao se voltarem ao corpo analógico na era digital, essas obras tensionam, assim, imaginários associados a ambas tecnologias, criando cruzamentos que ultrapassam a mera associação do digital com o imaterial e com a película enquanto fixadora do real, numa \"alquimia de mídias\" como caracteriza Giuliana Bruno (2014). Cruzando noções de \"velho\" e \"novo\", num engajamento direto com o aparato e suporte das imagens, aproximamos essas obras das discussões de arqueologia das mídias em Thomas Elsaesser (2016) e Jussi Parikka (2015), bem como avaliamos seus procedimentos estéticos e investimento sensorial nas imagens, a partir de suas afinidades com a questão do informe nas artes e na visualidade háptica, como propõe Laura U. Marks (2002). Assim, esta pesquisa abordará a passagem, por esses trabalhos, da materialidade da película à materialidade do digital, a partir da análise de obras-chave do cinema experimental contemporâneo, de forma a destacar os fenômenos sensíveis de \"tensão superficial\" evocados nas texturas ruidosas dessas obras, que, em suas existências híbridas e fragmentadas, surgem como ruínas, entre obsolescência e renovação. Buscamos, enfim, atribuir à passagem do cinema analógico para o digital esse lugar paradoxal da ruína que, em sua complexa materialidade, oscila entre o material e o imaterial - e que, tal como dessas imagens em dissolução, instiga considerações acerca de um reconhecimento da efemeridade do mundo (e cultura), seja em modo melancólico ou afirmativo (como observaremos em Buci-Glucksmann), permitindo observar as mudanças tecnológicas do cinema sob um eixo de transmutações e passagens.The recurrence, in contemporary experimental cinema, of works that emphasize the material instability of film - such as Decasia, by Bill Morrison, and Materia Obscura by Jürgen Reble and Thomas Köner - has been pointed by certain authors as a return to issues regarding the materiality of cinema (once a resource of Structural Film) in an era of passages between analog and digital media. Such material emphasis occurs, in these works, through the use of degraded images, often marked by a morbid and nostalgic character, that sets in scene the loss of the organic body of analog film in its obsolescence. By turning to this analog body in the digital age, these works put into friction the imaginary associated with each set of technologies, establishing intersections that go beyond the mere association of digital with the imaterial and film as \"fixer of the real\", in a form of \"media alchemy\", as put forth by Giuliana Bruno (2014). Crossing over notions of \"old\" and \"new\", in direct engagement with the apparatuses and the physical substrata of images, we relate these works through discussions of media archeology of Thomas Elsaesser (2016) and Jussi Parikka (2015) and approach their aesthetic processes and sensorial engagement through their affinities with the question of the formless and of haptic visuality in art, as discussed by Laura U. Marks (2002). This research, then, observes the passage from the materiality of film to the materiality of digital, through the analysis of key works in recent experimental cinema, highlighting the sensible phenomena of \"surface tension\" evoked in the noisy textures of these works, which, in their hybrid and fragmented existences, emerge as ruins between obsolescence and renovation. We search, finally, to attribute to this passing of film to digital media this paradoxical space of the ruin, which, in its complex materiality, oscillates between the material and the virtual - such as these images in dissolution, it instigates reflections on the ephemerality of the world (and our culture), be it in a melancholic or affirmative mode (as we learn from Buci-Glucksmann), allowing for a particular way of observing the technological change in cinema, in this axis of transmutation and transit.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPBorges, Cristian da SilvaSantos, Rodrigo Faustini dos2018-11-06info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27161/tde-12032019-114633/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2019-04-09T23:21:59Zoai:teses.usp.br:tde-12032019-114633Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212019-04-09T23:21:59Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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