O selvagem repousa em toda alma: o desajustamento social e a emergência da Psicologia Social no Brasil

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Nascimento, Fernando A. Figueira do
Data de Publicação: 2024
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47134/tde-13062024-092750/
Resumo: Esta é uma pesquisa no campo da História da Psicologia e nela nos dedicamos a traçar perspectivas sobre a constituição da Psicologia Social no Brasil entre os anos de 1920 e 1940. Para isso, temos como obra central a Introdução à Psicologia Social de Arthur Ramos (1903- 1949), lançada em 1936. O método genealógico, como forma de história crítica, serviu-nos como referência para o desenvolvimento dos procedimentos de pesquisa e para a elaboração de nossas categorias. Elegemos o desajustamento social como categoria fundamental, da qual derivam outras duas: a identidade social e a dualidade primitivo-civilizado. Para que a psicologia social se colocasse como um dispositivo social que atuasse no ajustamento das pessoas à vida e à moral burguesa que se formavam, muito contribuiu a emergência da população como objeto para as ciências médicas. Assim, desde o fim do século XIX, encontramos um vívido interesse pela psicologia dos povos e a psicologia dos grupos: a população dos sertões e aquelas que encontravam suas raízes na África tornavam-se objeto para as ciências médicas e os seus estudos sobre a psicologia coletiva. Ainda que a doença mental, a paranoia, a histeria e a melancolia fossem de interesse para as primeiras teses de medicina publicadas no país e apresentassem algumas reflexões sobre a população, foi somente entre os anos de 1933 e 1937 que os cursos de psicologia social começaram a ser ministrados em São Paulo e no Rio de Janeiro. Essa psicologia social no Brasil encontrava raízes na Europa e nos Estados Unidos da América. Arthur Ramos (1936/2003) esforçou-se por construir um campo de combinações teóricas que não deixava de posicionar a Psicanálise como elemento importante, ao lado da Higiene Mental, da Antropologia e da Psiquiatria. A Psicologia Social convertia-se em uma forma de higiene mental aplicada ao ajustamento dos indivíduos e, nesse sentido, colocava-se em compasso com os ideais da Liga Brasileira de Higiene Mental, pelo menos com aqueles que diziam respeito às possibilidades de elaborar dispositivos terapêuticos para o ajustamento como forma de prevenção e promoção de saúde. O conceito de desajustamento social era capaz de revelar os elementos implicados no funcionamento mental dos indivíduos, inclusive os seus processos identitários e a emergência de possibilidades de expressão da mentalidade primitiva que supostamente habitava a personalidade
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Elegemos o desajustamento social como categoria fundamental, da qual derivam outras duas: a identidade social e a dualidade primitivo-civilizado. Para que a psicologia social se colocasse como um dispositivo social que atuasse no ajustamento das pessoas à vida e à moral burguesa que se formavam, muito contribuiu a emergência da população como objeto para as ciências médicas. Assim, desde o fim do século XIX, encontramos um vívido interesse pela psicologia dos povos e a psicologia dos grupos: a população dos sertões e aquelas que encontravam suas raízes na África tornavam-se objeto para as ciências médicas e os seus estudos sobre a psicologia coletiva. Ainda que a doença mental, a paranoia, a histeria e a melancolia fossem de interesse para as primeiras teses de medicina publicadas no país e apresentassem algumas reflexões sobre a população, foi somente entre os anos de 1933 e 1937 que os cursos de psicologia social começaram a ser ministrados em São Paulo e no Rio de Janeiro. Essa psicologia social no Brasil encontrava raízes na Europa e nos Estados Unidos da América. Arthur Ramos (1936/2003) esforçou-se por construir um campo de combinações teóricas que não deixava de posicionar a Psicanálise como elemento importante, ao lado da Higiene Mental, da Antropologia e da Psiquiatria. A Psicologia Social convertia-se em uma forma de higiene mental aplicada ao ajustamento dos indivíduos e, nesse sentido, colocava-se em compasso com os ideais da Liga Brasileira de Higiene Mental, pelo menos com aqueles que diziam respeito às possibilidades de elaborar dispositivos terapêuticos para o ajustamento como forma de prevenção e promoção de saúde. O conceito de desajustamento social era capaz de revelar os elementos implicados no funcionamento mental dos indivíduos, inclusive os seus processos identitários e a emergência de possibilidades de expressão da mentalidade primitiva que supostamente habitava a personalidadeThis is a research project in the field of the History of Psychology and it is dedicated to outlining perspectives on the constitution of Social Psychology in Brazil between the 1920s and 1940s. To do this, we have as our central work for analysis the Introduction to Social Psychology by Arthur Ramos (1903-1949), launched in 1936. The genealogical method, as a form of critical history, served as a reference for the development of research procedures and for the unfolding of our categories. Thus, we chose social maladjustment as the fundamental category, from which two others derive: social identity and the primitivecivilized duality. The emergence of the population as an object for the medical sciences helped social psychology to become a social device that acted to adjust people to the bourgeois life and morals that were being formed in the period. Thus, since the end of the 19th century, we find a vivid interest in the psychology of peoples and the psychology of groups: the population of the hinterlands and those who found their roots in Africa became objects for the medical sciences and their studies on collective psychology. Although mental illness, paranoia, hysteria and melancholy were of interest in the first medical theses published in the country and presented some reflections on the population, it was only between 1933 and 1937 that courses in social psychology were given in São Paulo and Rio de Janeiro. Social psychology in Brazil found its roots in Europe and the United States. In particular, Ramos (1936/2003) strove to build a field of theoretical combinations that did not fail to position Psychoanalysis as an important element, alongside Mental Hygiene, Anthropology and Psychiatry. Social psychology became a form of mental hygiene applied to the adjustment of individuals and, in this sense, was in line with the ideals of the Brazilian Mental Hygiene League, at least those related to the possibilities of developing therapeutic devices for adjustment as a form of prevention and health promotion. The concept of social maladjustment revealed the elements involved in the mental functioning of individuals, including their identity processes and the emergence of possibilities for expressing the primitive mentality that supposedly inhabited their personality.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPMandelbaum, Belinda Piltcher HaberNascimento, Fernando A. 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