A outra face do pessimismo: entre radicalidade ascética e sabedoria de vida
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2013 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
Texto Completo: | http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8133/tde-27022014-101736/ |
Resumo: | Esta tese consiste numa interpretação da relação da eudemonologia e da filosofia prática com a ética desinteressada, com o pessimismo metafísico e com o ascetismo em Schopenhauer. Para tanto, o presente estudo assume a ótica da caracterologia schopenhaueriana e apresenta uma tentativa de resposta para a questão de como seria possível acomodar, por exemplo, uma arte de ser feliz diante de um pessimismo radical. Trata-se, sobretudo, de uma leitura da natureza da ética e do pessimismo quando estes são tomados sob o ponto de vista empírico-prático. Afinal, se Schopenhauer reconheceu na negação espontânea da vontade a única via de redenção do mundo intrinsecamente egoísta e doloroso, ele também se deteve numa teoria da felicidade em termos de sabedoria de vida e de prudência. Para tratar da questão, este trabalho i) empreende uma análise pormenorizada da noção de caráter (Charakter), tal como este se faz presente nas principais fases de produção do pensador - tanto a partir das obras publicadas, quanto dos manuscritos póstumos -, ii) enfatiza a preocupação do filósofo em estabelecer um desvio da metafísica para abordar sua eudemonologia frente à perspectiva superior de sua metafísica, e iii) defende que as esferas empírica e metafísica desta filosofia, apesar de apresentarem propósitos diversos, são suplementares. As distinções entre o que denomino de grande ética e de pequena ética e entre o que denomino de pessimismo metafísico e pessimismo pragmático - novidade propriamente dita deste estudo - permitiriam entender esta suplementaridade. Em ambas as diferenciações, a noção de caráter proporciona uma peculiar sutura entre as perspectivas metafísica (filosofia teorética) e empírica (filosofia prático-pragmática) deste pensamento: se os conceitos de caráter inteligível e de caráter empírico são centrais sob o viés metafísico da ética da compaixão e do ascetismo (tratados nos capítulos 1 e 2), a noção de caráter adquirido é fulcral na esfera da sabedoria de vida e da filosofia prática (tratada nos capítulos 3 e 4). Da mesma forma, se as ideias de negação imediata da vontade, de rompimento com a ilusão dos fenômenos e de supressão do caráter (Aufhebung des Charakters) compõem a esfera da metafísica da ética, as noções de ética da melhoria (bessernde Ethik), de motivações mediatas, de educação do intelecto (ativo), de ponderação (Überlegung) e de moral do como se (Als-Ob) configuram a dimensão empírica desta mesma ética. Pelo reconhecimento dessas duas perspectivas de consideração da ação e da existência humanas, o pensamento schopenhaueriano não se reduziria, ao contrário do que a doxografia e a historiografia geralmente apresentam, a um pessimismo metafísico e quietista; ou, no âmbito da ética, à radicalidade de uma ordem de salvação acessível a poucos. Isso, tão pouco, admitiria uma passagem do pessimismo a um otimismo, mas permitiria a constatação de uma face do pessimismo que não se restringe aos extremos de afirmação ou de negação da vontade. |
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A outra face do pessimismo: entre radicalidade ascética e sabedoria de vidaThe other side of pessimism: between ascetic radicalism and wisdom of lifeCaráterCharacterEthicsÉticaMetafísicaMetaphysicsPessimismPessimismoSabedoria de vidaSchopenhauerSchopenhauerWisdom of lifeEsta tese consiste numa interpretação da relação da eudemonologia e da filosofia prática com a ética desinteressada, com o pessimismo metafísico e com o ascetismo em Schopenhauer. Para tanto, o presente estudo assume a ótica da caracterologia schopenhaueriana e apresenta uma tentativa de resposta para a questão de como seria possível acomodar, por exemplo, uma arte de ser feliz diante de um pessimismo radical. Trata-se, sobretudo, de uma leitura da natureza da ética e do pessimismo quando estes são tomados sob o ponto de vista empírico-prático. Afinal, se Schopenhauer reconheceu na negação espontânea da vontade a única via de redenção do mundo intrinsecamente egoísta e doloroso, ele também se deteve numa teoria da felicidade em termos de sabedoria de vida e de prudência. Para tratar da questão, este trabalho i) empreende uma análise pormenorizada da noção de caráter (Charakter), tal como este se faz presente nas principais fases de produção do pensador - tanto a partir das obras publicadas, quanto dos manuscritos póstumos -, ii) enfatiza a preocupação do filósofo em estabelecer um desvio da metafísica para abordar sua eudemonologia frente à perspectiva superior de sua metafísica, e iii) defende que as esferas empírica e metafísica desta filosofia, apesar de apresentarem propósitos diversos, são suplementares. As distinções entre o que denomino de grande ética e de pequena ética e entre o que denomino de pessimismo metafísico e pessimismo pragmático - novidade propriamente dita deste estudo - permitiriam entender esta suplementaridade. Em ambas as diferenciações, a noção de caráter proporciona uma peculiar sutura entre as perspectivas metafísica (filosofia teorética) e empírica (filosofia prático-pragmática) deste pensamento: se os conceitos de caráter inteligível e de caráter empírico são centrais sob o viés metafísico da ética da compaixão e do ascetismo (tratados nos capítulos 1 e 2), a noção de caráter adquirido é fulcral na esfera da sabedoria de vida e da filosofia prática (tratada nos capítulos 3 e 4). Da mesma forma, se as ideias de negação imediata da vontade, de rompimento com a ilusão dos fenômenos e de supressão do caráter (Aufhebung des Charakters) compõem a esfera da metafísica da ética, as noções de ética da melhoria (bessernde Ethik), de motivações mediatas, de educação do intelecto (ativo), de ponderação (Überlegung) e de moral do como se (Als-Ob) configuram a dimensão empírica desta mesma ética. Pelo reconhecimento dessas duas perspectivas de consideração da ação e da existência humanas, o pensamento schopenhaueriano não se reduziria, ao contrário do que a doxografia e a historiografia geralmente apresentam, a um pessimismo metafísico e quietista; ou, no âmbito da ética, à radicalidade de uma ordem de salvação acessível a poucos. Isso, tão pouco, admitiria uma passagem do pessimismo a um otimismo, mas permitiria a constatação de uma face do pessimismo que não se restringe aos extremos de afirmação ou de negação da vontade.This thesis consists of an interpretation of the relationship between eudemonology and practical philosophy with uninterested ethics, with metaphysical pessimism and asceticism in Schopenhauer. Therefore, this study takes the Schopenhauerian perspective of characterology and presents a tentative answer to the question of how it could be possible to accommodate\", for example, an \"art of being happy\" before a radical pessimism. Its about, above all, a reading of the nature of ethics and pessimism when they are taken from the practical-empiric point of view. After all, if Schopenhauer recognized in spontaneous denial of the will the only way of redemption of the inherently selfish and hurtful world, he also stopped himself in a theory of happiness in terms of wisdom of life and prudence. To address the issue, this paper i) undertakes a detailed analysis of the notion of character (Charakter), as it is present in the main stage production of the thinker - both from published works, and the posthumous manuscripts -, ii) emphasizes the philosophers concern in establishing a \"metaphysics deviation\" to address theireudemonology front their top perspective metaphysics, and iii) argues that the empirical and metaphysical spheres of this philosophy, despite having different purposes, are supplementary. The distinctions between what I call great ethics and small ethics and between metaphysical pessimism and pragmatic pessimism - novelty of this study itself - would permit understanding this supplementarity. In both differentiations, the notion of character provides a peculiar suture between the metaphysical perspective (theoretical philosophy) and empirical perspective (practical-pragmatic philosophy) this thought: if the concepts of intelligible character and empirical character are central under the ethics of compassion and asceticism metaphysical bias (covered in Chapters 1 and 2), the notion of acquired character is essential in the sphere of life wisdom and practical philosophy (addressed in Chapters 3 and 4). Likewise, if the ideas of immediate denial of the will, disruption of the illusion of phenomena and character suppression (Aufhebung des Charakters) make up the sphere of ethical metaphysics, the notions of \"ethical improvement\" (bessernde Ethik), mediate motivations, education of the intellect (active), deliberation (Überlegung) and the \"as if\" moral (Als-Ob) configure the empirical dimension of this same ethic. By recognizing these two perspectives of human action and existence consideration, the Schopenhauer thought wouldnt reduce, on the contrary to what the doxography and the historiography generally present, to a metaphysical and quietist pessimism; or, in the ethics scope, to the radical \"order of salvation\" accessible to few. That would barely admit a passage from pessimism to \"optimism\", but would allow the finding of a \"side\" of pessimism that is not restricted to the extremes of affirmation or denial of the will.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPCacciola, Maria Lucia Mello de OliveiraDebona, Vilmar2013-12-17info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8133/tde-27022014-101736/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2016-07-28T16:11:47Zoai:teses.usp.br:tde-27022014-101736Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212016-07-28T16:11:47Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false |
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Esta tese consiste numa interpretação da relação da eudemonologia e da filosofia prática com a ética desinteressada, com o pessimismo metafísico e com o ascetismo em Schopenhauer. Para tanto, o presente estudo assume a ótica da caracterologia schopenhaueriana e apresenta uma tentativa de resposta para a questão de como seria possível acomodar, por exemplo, uma arte de ser feliz diante de um pessimismo radical. Trata-se, sobretudo, de uma leitura da natureza da ética e do pessimismo quando estes são tomados sob o ponto de vista empírico-prático. Afinal, se Schopenhauer reconheceu na negação espontânea da vontade a única via de redenção do mundo intrinsecamente egoísta e doloroso, ele também se deteve numa teoria da felicidade em termos de sabedoria de vida e de prudência. Para tratar da questão, este trabalho i) empreende uma análise pormenorizada da noção de caráter (Charakter), tal como este se faz presente nas principais fases de produção do pensador - tanto a partir das obras publicadas, quanto dos manuscritos póstumos -, ii) enfatiza a preocupação do filósofo em estabelecer um desvio da metafísica para abordar sua eudemonologia frente à perspectiva superior de sua metafísica, e iii) defende que as esferas empírica e metafísica desta filosofia, apesar de apresentarem propósitos diversos, são suplementares. As distinções entre o que denomino de grande ética e de pequena ética e entre o que denomino de pessimismo metafísico e pessimismo pragmático - novidade propriamente dita deste estudo - permitiriam entender esta suplementaridade. Em ambas as diferenciações, a noção de caráter proporciona uma peculiar sutura entre as perspectivas metafísica (filosofia teorética) e empírica (filosofia prático-pragmática) deste pensamento: se os conceitos de caráter inteligível e de caráter empírico são centrais sob o viés metafísico da ética da compaixão e do ascetismo (tratados nos capítulos 1 e 2), a noção de caráter adquirido é fulcral na esfera da sabedoria de vida e da filosofia prática (tratada nos capítulos 3 e 4). Da mesma forma, se as ideias de negação imediata da vontade, de rompimento com a ilusão dos fenômenos e de supressão do caráter (Aufhebung des Charakters) compõem a esfera da metafísica da ética, as noções de ética da melhoria (bessernde Ethik), de motivações mediatas, de educação do intelecto (ativo), de ponderação (Überlegung) e de moral do como se (Als-Ob) configuram a dimensão empírica desta mesma ética. Pelo reconhecimento dessas duas perspectivas de consideração da ação e da existência humanas, o pensamento schopenhaueriano não se reduziria, ao contrário do que a doxografia e a historiografia geralmente apresentam, a um pessimismo metafísico e quietista; ou, no âmbito da ética, à radicalidade de uma ordem de salvação acessível a poucos. Isso, tão pouco, admitiria uma passagem do pessimismo a um otimismo, mas permitiria a constatação de uma face do pessimismo que não se restringe aos extremos de afirmação ou de negação da vontade. |
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