Caretas e zambiapungas: a influência centro-africana na cultura do Baixo Sul (BA) e a história da região

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Carvalho, Cristina Astolfi
Data de Publicação: 2020
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-01122020-185306/
Resumo: Esta pesquisa tem como objeto de estudo a festa dos caretas que acontece anualmente na sede de Cairu (BA), sendo considerados espaços a ela circunvizinhos - Morro de São Paulo, Boipeba e Galeão (Cairu); Taperoá; Valença; e Nilo Peçanha - uma vez que compõem, a despeito das atuais divisões políticas, uma unidade dotada de traços culturais, sociais, ecológicos, econômicos e históricos comuns. Festas similares à dos caretas ocorrem nessas localidades com o nome de zambiapunga. Em um diálogo entre Antropologia e História, a partir de fontes etnográficas, documentais e bibliográficas, procura-se compreender como era e como é organizada essa manifestação vivenciada há, no mínimo, duzentos anos pela população do Baixo Sul baiano: como ela se constituiu e se transformou ao longo dos anos; como se deu a interação das matrizes culturais que a ensejaram, com enfoque na congo-angolana. Além disso, procurou-se descrever a atuação de sujeitos e instituições nela envolvidos; os significados que a festa assume para participantes e espectadores; a memória social e a individual representada não só por palavras, mas por gestos, corpos e objetos (máscaras, vestimentas, instrumentos musicais) que a compõem. A hipótese que se aventa é que tais festas, atualmente de caráter lúdico e identitário, com forte base territorial, têm origem em rituais mágico-religiosos, surgidos entre o final do século XVIII e início do XIX, nas terras continentais das antigas vilas de Nossa Senhora do Rosário de Cairu e Espírito Santo de Boipeba, pertencentes à capitania de Ilhéus. Elas resultaram de um processo em que homens centro-africanos e seus descendentes (escravizados, forros e aquilombados) reelaboraram práticas e ideias religiosas bantu - relacionadas a espíritos antepassados e territoriais - a partir do contato com o catolicismo e conformando-se ao contexto da escravidão. Aos poucos, tais rituais passaram a ocorrer periodicamente em datas litúrgicas católicas, justapondo-se às celebrações e missas realizadas nas áreas urbanas desses territórios; ao mesmo tempo em que a divisão política da região se transformou, os rituais foram sendo ressignificados por integrantes e comunidades como festas tradicionais, folclóricas, transmitidas de pai para filho, ganhando, em cada localidade, especificidades, mas mantendo uma estrutura rítmica, instrumental e coreográfica comum.
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Em um diálogo entre Antropologia e História, a partir de fontes etnográficas, documentais e bibliográficas, procura-se compreender como era e como é organizada essa manifestação vivenciada há, no mínimo, duzentos anos pela população do Baixo Sul baiano: como ela se constituiu e se transformou ao longo dos anos; como se deu a interação das matrizes culturais que a ensejaram, com enfoque na congo-angolana. Além disso, procurou-se descrever a atuação de sujeitos e instituições nela envolvidos; os significados que a festa assume para participantes e espectadores; a memória social e a individual representada não só por palavras, mas por gestos, corpos e objetos (máscaras, vestimentas, instrumentos musicais) que a compõem. A hipótese que se aventa é que tais festas, atualmente de caráter lúdico e identitário, com forte base territorial, têm origem em rituais mágico-religiosos, surgidos entre o final do século XVIII e início do XIX, nas terras continentais das antigas vilas de Nossa Senhora do Rosário de Cairu e Espírito Santo de Boipeba, pertencentes à capitania de Ilhéus. Elas resultaram de um processo em que homens centro-africanos e seus descendentes (escravizados, forros e aquilombados) reelaboraram práticas e ideias religiosas bantu - relacionadas a espíritos antepassados e territoriais - a partir do contato com o catolicismo e conformando-se ao contexto da escravidão. Aos poucos, tais rituais passaram a ocorrer periodicamente em datas litúrgicas católicas, justapondo-se às celebrações e missas realizadas nas áreas urbanas desses territórios; ao mesmo tempo em que a divisão política da região se transformou, os rituais foram sendo ressignificados por integrantes e comunidades como festas tradicionais, folclóricas, transmitidas de pai para filho, ganhando, em cada localidade, especificidades, mas mantendo uma estrutura rítmica, instrumental e coreográfica comum.This research has as object of study the party of caretas, that happens every year in the city of Cairu (BA), considering its surroundings - Morro de São Paulo, Boipeba and Galeão; Taperoá; Valença; and Nilo Peçanha -since they integrate, despite the current political division, an unity endowed with common cultural, social, ecological, economic and historical features. Feasts similar to caretas take place in these locations with the name of zambiapunga. In a dialogue between Anthropology and History, based on ethnographic, documentary and bibliographic sources, we seek to understand how this manifestation - experienced by at least two hundred years ago by the population of Baixo Sul - was organized; how it was constituted and transformed over the years; and how did the interaction of cultural matrices that gave rise to it take place, with a focus on Congo-Angolan. In addition, an attempt was made to describe the performance of subjects and institutions involved in it; the meanings the party assumes for participants and spectators; the social and individual memory represented not only by words, but by gestures, bodies and objects (masks, clothes, musical instruments) that compose it. The hypothesis that is suggested is that such parties, currently playful and identity-based, with a strong territorial base, originate in magical-religious rituals, which arose between the end of the 18th century and the beginning of the 19th, in the continental lands of the old villages of \"Nossa Senhora do Rosário de Cairu\" and \"Espírito Santo de Boipeba\", belonging to the \"capitania de Ilhéus\". It resulted from a process in which Central African men and their descendants (enslaved, freed slaves and quilombola people) reelaborated Bantu religious practices and ideas - related to ancestral and territorial spirits - from contact with Catholicism and conforming to the context of slavery. Gradually, such rituals began to take place periodically on Catholic liturgical dates, juxtaposing celebrations and masses held in the urban areas of these territories; at the same time that the political division of the region was transformed, the rituals were resignified by members and communities as traditional, folkloric parties, transmitted from father to son, gaining specificities in each location, but maintaining a rhythmic, instrumental and common choreographic.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPSouza, Marina de Mello eCarvalho, Cristina Astolfi2020-09-21info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-01122020-185306/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2020-12-02T00:36:01Zoai:teses.usp.br:tde-01122020-185306Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212020-12-02T00:36:01Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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