Reatando as pontas da rama: a inserção dos alunos da etnia indígena Pankararu em uma escola pública na cidade de São Paulo
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2009 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
Texto Completo: | http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-03092009-133442/ |
Resumo: | A presente dissertação de mestrado teve como objetivo pesquisar a inserção de alunos da etnia indígena Pankararu em uma escola municipal da cidade de São Paulo, que atende aos jovens moradores dos bairros Jardim Panorama, Paraisópolis e Real Parque. Uma peculiaridade dessas localidades é a existência de uma comunidade indígena Pankararu, o que nos direcionou a estudar um fenômeno social recente: os indígenas urbanos. Migrantes de terras tradicionais do Nordeste, em que vivenciaram um processo histórico de emergência étnica, os Pankararu vêm se constituindo na cidade de São Paulo como um grupo étnico politicamente atuante que, por meio de suas associações, têm reivindicado direitos diferenciados para sua etnia na metrópole. O estudo acerca da realidade vivida pelos Pankararu esteve ancorado em diversos estudos antropológicos a respeito dos indígenas do Nordeste (Arruti e Oliveira Filho), além de uma pesquisa documental, acompanhamento e registro das atividades da comunidade Pankararu de São Paulo. Como método de pesquisa na escola, que incluiu questionários e intervenções em sala de aula em conjunto com professores da escola, foi adotado o olho participante, de Massimo Canevacci, a partir do qual pudemos obter uma ampla compreensão da realidade vivida pelos alunos Pankararu na escola. O trabalho com os professores envolveu tentativas sucessivas de constituição de comunidades interpretativas (Boaventura Santos), no interior das quais fosse possível repensar suas visões de mundo e práticas pedagógicas, podendo assumir então o papel de intelectuais transformadores (Henry Giroux). As pesquisas evidenciaram a marginalização e exclusão da cultura indígena da ordem hegemônica da cultura escolar, além da predominância de uma visão marcada pela representação estereotipada dos indígenas, que tem contribuído para fomentar a discriminação dos alunos Pankararu. Em decorrência disso, observamos uma relação ambivalente dos alunos Pankararu com sua própria identidade étnica, seja por não possuírem um sentimento de pertença à comunidade, seja por não desejarem se declarar como indígenas na escola. Uma atitude que é possivelmente expressão de uma autodefesa, em razão do receio da discriminação exercida sobre eles pela comunidade escolar. Tornou-se assim evidente que as escolas presentes em um contexto urbano não estão preparadas pedagogicamente para acolher estudantes de etnias minoritárias de modo a respeitar suas culturas, tradições e identidades peculiares.Como forma de reverter este quadro, foi realizada uma Semana de Diversidade e Cultura, cuja organização incluiu a própria comunidade Pankararu, pesquisadores e corpo docente, tendo como objetivo instituir um diálogo entre as culturas indígenas e afro-brasileiras e a cultura escolar por meio de debates sobre a legislação que obriga o ensino da história e culturas indígenas e afro-brasileiras. Foram ainda realizadas diversas atividades com os alunos e a comunidade, abordando as produções culturais e formas de organização política da comunidade Pankararu na cidade. Os resultados dessa Semana foram importantes para a afirmação étnica dos alunos Pankararu, assim como uma maior conscientização dos alunos não-indígenas a respeito da temática indígena e afro-brasileira, mas evidenciaram também a necessidade de se repensar os princípios norteadores das práticas da escola pública. |
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Reatando as pontas da rama: a inserção dos alunos da etnia indígena Pankararu em uma escola pública na cidade de São PauloReconnecting branches to trunk: the insertion of Pankararu indigenous students in a public school of São Paulo citycultural diversitydiscriminaçãodiscriminationdiversidade culturaleducação indígenaidentidadeidentityindigenous educationpreconceitoprejudicepsicologia socialsocial psychologyA presente dissertação de mestrado teve como objetivo pesquisar a inserção de alunos da etnia indígena Pankararu em uma escola municipal da cidade de São Paulo, que atende aos jovens moradores dos bairros Jardim Panorama, Paraisópolis e Real Parque. Uma peculiaridade dessas localidades é a existência de uma comunidade indígena Pankararu, o que nos direcionou a estudar um fenômeno social recente: os indígenas urbanos. Migrantes de terras tradicionais do Nordeste, em que vivenciaram um processo histórico de emergência étnica, os Pankararu vêm se constituindo na cidade de São Paulo como um grupo étnico politicamente atuante que, por meio de suas associações, têm reivindicado direitos diferenciados para sua etnia na metrópole. O estudo acerca da realidade vivida pelos Pankararu esteve ancorado em diversos estudos antropológicos a respeito dos indígenas do Nordeste (Arruti e Oliveira Filho), além de uma pesquisa documental, acompanhamento e registro das atividades da comunidade Pankararu de São Paulo. Como método de pesquisa na escola, que incluiu questionários e intervenções em sala de aula em conjunto com professores da escola, foi adotado o olho participante, de Massimo Canevacci, a partir do qual pudemos obter uma ampla compreensão da realidade vivida pelos alunos Pankararu na escola. O trabalho com os professores envolveu tentativas sucessivas de constituição de comunidades interpretativas (Boaventura Santos), no interior das quais fosse possível repensar suas visões de mundo e práticas pedagógicas, podendo assumir então o papel de intelectuais transformadores (Henry Giroux). As pesquisas evidenciaram a marginalização e exclusão da cultura indígena da ordem hegemônica da cultura escolar, além da predominância de uma visão marcada pela representação estereotipada dos indígenas, que tem contribuído para fomentar a discriminação dos alunos Pankararu. Em decorrência disso, observamos uma relação ambivalente dos alunos Pankararu com sua própria identidade étnica, seja por não possuírem um sentimento de pertença à comunidade, seja por não desejarem se declarar como indígenas na escola. Uma atitude que é possivelmente expressão de uma autodefesa, em razão do receio da discriminação exercida sobre eles pela comunidade escolar. Tornou-se assim evidente que as escolas presentes em um contexto urbano não estão preparadas pedagogicamente para acolher estudantes de etnias minoritárias de modo a respeitar suas culturas, tradições e identidades peculiares.Como forma de reverter este quadro, foi realizada uma Semana de Diversidade e Cultura, cuja organização incluiu a própria comunidade Pankararu, pesquisadores e corpo docente, tendo como objetivo instituir um diálogo entre as culturas indígenas e afro-brasileiras e a cultura escolar por meio de debates sobre a legislação que obriga o ensino da história e culturas indígenas e afro-brasileiras. Foram ainda realizadas diversas atividades com os alunos e a comunidade, abordando as produções culturais e formas de organização política da comunidade Pankararu na cidade. Os resultados dessa Semana foram importantes para a afirmação étnica dos alunos Pankararu, assim como uma maior conscientização dos alunos não-indígenas a respeito da temática indígena e afro-brasileira, mas evidenciaram também a necessidade de se repensar os princípios norteadores das práticas da escola pública.The present dissertation aimed to research the integration of students from a Pankararu indigenous ethnic group in a public school in São Paulo, which usually receives the youth living in the neighborhoods of Jardim Panorama, Paraisopolis and Real Parque. These regions peculiarity is their indigenous community Pankararu which led us to study a recent social phenomenon: the urban Brazilian Indians. They migrated from traditional lands in the Northeast of Brazil where they had lived a historical process of ethnic emergency. They have established in São Paulo city as an ethnic group politically engaged who has demanded special rights in the metropolis by means of associations. This study about Pankararus living reality is anchored in several anthropological studies about the indigenous people from the Northeast of Brazil (Arruti and Oliveira Filho) in addition to researches on documentation and follow-up and records of Pankararu communitys activities in São Paulo. At school the methodology included questionnaires and intervention in class along with the teachers the participating look [regard in French] by Massimo Canevacci was adopted in order to have broader understanding of the reality as lived by Pankararu students at school. The work with the teachers involved successive attempts to form interpretive communities (Boaventura Santos), inside which they would be able to think over their views of the world and pedagogical practices in order to take up their role of transformative intellectuals (Henry Giroux). The surveys brought to light the marginalization and exclusion of the indigenous culture from the hegemonic school culture, as well as the predominance of a view marked by the stereotyped representation of the Indians which has contributed to promote Pankararu students discrimination. Face to this we observed an ambivalent relation of Pankararu students with their own ethnic identity, either because they feel they dont belong to the community or because they dont want to call themselves Indians at school. This attitude is probably their expression of self-defense as they are afraid of suffering discrimination by the school community. Therefore it was clearly shown that the schools in an urban context are not pedagogically prepared to welcome students from ethnical minorities in a way their peculiar culture, tradition and identity are respected. An attempt to reverse this picture was the organization of the Week on Diversity and Culture including Pankararu community, researchers and teachers with the intention to promote a dialogue among the Indigenous and African-Brazilian cultures and school culture by means of a debate about the legislation which established as obligatory the teaching of Indigenous and African-Brazilian history and culture. Also, several activities were performed with the students and the community about Pankararus cultural production and forms of political organization in the city. This Weeks results were important to Pankararu students ethnic affirmation as well as non- Indians awareness of the Indigenous and African-Brazilian theme, but also revealed the need to think over the principles guiding the practices at public school.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPAmaral, Monica Guimaraes Teixeira doNakashima, Edson Yukio2009-03-25info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-03092009-133442/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2016-07-28T16:10:00Zoai:teses.usp.br:tde-03092009-133442Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212016-07-28T16:10Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false |
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