Qual é a ética da empresa ética? Contradições na vivência de trabalhadores de grandes empresas contemporâneas

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Farina, Henrique Carlo
Data de Publicação: 2015
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47134/tde-13072015-163232/
Resumo: Este trabalho propõe um estudo crítico da ética empresarial. Para tal nos valemos de três fontes de informação: a produção acadêmica referente ao tema, nove códigos de ética fornecidos publicamente por empresas do setor bancário e a realização de conversas com trabalhadores de grandes empresas do mesmo setor. Na análise da produção acadêmica entendemos que a melhor maneira de compreender a ética empresarial é vê-la como inserida num jogo de forças, onde o poder de barganha de cada um dos envolvidos e afetados pela atuação empresarial (clientes, acionistas, trabalhadores, sociedade, etc.) exerce força para adoção de padrões éticos mais, ou menos, exigentes. Da leitura crítica dos materiais de ética empresarial, verificamos diversos pontos na prática da ética empresarial que mereciam ser mais detidamente analisados: a promoção de valores que privilegiam a empresa em detrimento de outros envolvidos por suas ações; a atribuição das exigências éticas a instâncias abstratas, a tendência a mesclar as figuras do empresário e do trabalhador, encobrindo conflitos de interesse, o privilégio da normatividade em contraposição à ética como reflexão e a interferência da empresa em aspectos da vida pessoal do trabalhador. Nas conversas com trabalhadores verificamos que a maioria dos pontos anteriormente identificada era, de fato, vivenciada como conflituosa. Encontramos uma variedade de ações que, segundo nossa definição, se configuravam como transgressões à ética, a maioria se enquadrando em dois dos principais tipos de transgressão. A primeira, em que práticas lesam o cliente em privilégio da empresa e do funcionário. E a segunda, em que o funcionário é lesado em benefício da empresa. Concluímos que o jogo de forças segundo o qual optamos compreender a ética empresarial se encontra deslocado em benefício da empresa. Também notamos que a opção por não tomar parte em práticas que transgridem a ética é algo prejudicial ao trabalhador que o opta. No entanto, verificamos que a maioria dos trabalhadores, ao transgredir a ética, vivencia grande desconforto, o que demonstra que a tentativa da empresa de mudar o ser do trabalhador não foi eficiente, estando esses mais atrelados aos valores de justiça e reciprocidade, que aos valores que privilegiam a empresa. Tal constatação demonstra que a figura do cidadão, embora enfraquecida, não foi totalmente apagada e aponta para a possibilidade da construção de um agir mais ético no trabalho
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Na análise da produção acadêmica entendemos que a melhor maneira de compreender a ética empresarial é vê-la como inserida num jogo de forças, onde o poder de barganha de cada um dos envolvidos e afetados pela atuação empresarial (clientes, acionistas, trabalhadores, sociedade, etc.) exerce força para adoção de padrões éticos mais, ou menos, exigentes. Da leitura crítica dos materiais de ética empresarial, verificamos diversos pontos na prática da ética empresarial que mereciam ser mais detidamente analisados: a promoção de valores que privilegiam a empresa em detrimento de outros envolvidos por suas ações; a atribuição das exigências éticas a instâncias abstratas, a tendência a mesclar as figuras do empresário e do trabalhador, encobrindo conflitos de interesse, o privilégio da normatividade em contraposição à ética como reflexão e a interferência da empresa em aspectos da vida pessoal do trabalhador. Nas conversas com trabalhadores verificamos que a maioria dos pontos anteriormente identificada era, de fato, vivenciada como conflituosa. Encontramos uma variedade de ações que, segundo nossa definição, se configuravam como transgressões à ética, a maioria se enquadrando em dois dos principais tipos de transgressão. A primeira, em que práticas lesam o cliente em privilégio da empresa e do funcionário. E a segunda, em que o funcionário é lesado em benefício da empresa. Concluímos que o jogo de forças segundo o qual optamos compreender a ética empresarial se encontra deslocado em benefício da empresa. Também notamos que a opção por não tomar parte em práticas que transgridem a ética é algo prejudicial ao trabalhador que o opta. No entanto, verificamos que a maioria dos trabalhadores, ao transgredir a ética, vivencia grande desconforto, o que demonstra que a tentativa da empresa de mudar o ser do trabalhador não foi eficiente, estando esses mais atrelados aos valores de justiça e reciprocidade, que aos valores que privilegiam a empresa. Tal constatação demonstra que a figura do cidadão, embora enfraquecida, não foi totalmente apagada e aponta para a possibilidade da construção de um agir mais ético no trabalhoThis research proposes a critical study of business ethics. For this matter we rely on three sources of information: the academic production about this subject, nine ethical codes publicly provided by banking companies and the realization of conversations with workers from large companies of this same sector. On the analysis of the academic production we defend that the best way to understand corporate ethics is by seeing it as inserted in a play of forces, where the bargaining power of each stakeholder (clients, shareholders, workers, society, etc.) exerts pressure that leads to the adoption of a more, or less, exigent ethical standard. On the critical reading of the materials we verified several points in the practices of corporate ethics that deserved a more careful analysis: the promotion of values that favor enterprises over other stakeholders, the attribution of ethical standards to abstract instances, the tendency to merge the roles of the entrepreneur and of the worker, concealing conflicts of interest, the privileging of normativity over reflection in the ethical theme and the interference of the enterprises in aspects of the personal life of workers. On the conversations with workers we verified that the majority of points previously identified were, in fact, experienced as conflicting. We found several actions that, according to our definition, were considered ethical transgressions, the majority of which fitted in to two main kinds of transgression. The first characterized by practices that prejudices the client in privilege of the companies and of the worker. The second characterized by practices that prejudices the workers in privilege of the companies. We concluded that the play of forces we chose to understand corporate ethics is actually unbalanced in favor of the companies. We also noted that the option of not taking part in practices that figure as ethical transgressions is something prejudicial to the worker that opts so. However, we verified that the majority of workers, when transgressing ethical standards, experiences a great deal of discomfort, what shows that the intent made by the companies to change the workers being was not completely efficient, showing that the workers are more tied to values of justice and reciprocity than to the values that favor the companies. This finding shows that the role of citizen although weakened was not completely erased and points to the possibility of the construction of a more ethical way of acting in workBiblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPSato, LenyFarina, Henrique Carlo2015-05-25info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47134/tde-13072015-163232/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2017-07-20T06:00:03Zoai:teses.usp.br:tde-13072015-163232Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212017-07-20T06:00:03Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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