Manipulação, tonicidade, ajustamento: o discurso de mulheres atuantes na campanha presidencial de 2018

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Silva, Cleide Lima da
Data de Publicação: 2023
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-11012024-194630/
Resumo: A manipulação é, para a semiótica narrativa, a etapa de um esquema narrativo canônico em que um destinador busca levar um destinatário a querer e dever realizar uma determinada ação. No entanto, esta tese explora o conceito de manipulação (GREIMAS; COURTÉS, 2016) na fronteira com a noção de regimes de sentido, postulada por Landowski (2014a) como \"interações de risco\". Além disso, pensamos em campo de presença, remetendo às tensões do afeto na correlação entre intensidade e extensidade na apreensão das coisas do mundo, conforme proposta de Zilberberg (2011a). Para investigação desses princípios, faremos uma revisão da literatura teórica e elucidaremos o desenvolvimento da teoria semiótica. Começaremos pela abordagem centrada nos elementos inteligíveis, a semiótica da ação, e avançaremos em direção a uma perspectiva teórica que trata o elemento sensível, baseada nos fundamentos da fenomenologia, conforme propostas de Greimas (2017) e Greimas e Fontanille (1993). Por fim, abordaremos a semiótica da interação (LANDOWSKI, 2014a) e a semiótica tensiva (ZILBERBERG, 2011a). A partir desses pressupostos teóricos, analisaremos e descreveremos como se constituem os actantes coletivos identificados pelas hashtags #EleNão e #EleSim, grupos compostos por mulheres contrárias ou favoráveis ao ator discursivo Jair Bolsonaro, então candidato à presidência da República nas eleições de 2018. Para a análise do discurso do eleitorado feminino, selecionamos quatro reportagens, sendo uma da revista Marie Claire, uma do periódico AzMina e duas do site HuffPost Brasil. Esses enunciados colocam em confronto as vozes femininas e a voz de Bolsonaro. A partir dos temas identificados nessas reportagens, e, portanto, das vozes dos actantes coletivos apreendidas nesses enunciados, investigamos o discurso do destinador-manipulador. Por meio da análise de entrevistas e declarações públicas proferidas ao longo de sua extensa trajetória política, com destaque para o período eleitoral em questão, examinamos o discurso populista do então candidato, que se apoia em intrincadas relações intersubjetivas de contágio (LANDOWSKI, 2020), sendo capaz de submeter uma massa de sujeitos ao seu próprio sentir. Ao renovar discursos populistas de outrora, o ator discursivo capacita o sujeito-manipulado de uma competência estésica fundamentada em discursos de ódio, intolerância e autoritarismo. Dessa forma, surgem dois programas narrativos opostos, o que nos faz deparar com uma estrutura polêmica que coloca um sujeito (o povo) e um antissujeito (a elite) frente a frente como actantes incompatíveis. Ao examinarmos essa interação entre os sujeitos, especialmente, por meio dos conceitos de ajustamento (semiótica da interação) e tonicidade (semiótica tensiva), podemos inferir que a manipulação, quando permeada por elementos sensíveis, tem o potencial de influenciar o destinatário a adotar uma postura menos ou mais subjetiva, menos ou mais presente. Dessa forma, esta pesquisa evidencia a importância de compreender como as estratégias discursivas do populismo têm a capacidade de influenciar as percepções dos indivíduos a ponto de provocar instabilidades em seu campo de presença.
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Para investigação desses princípios, faremos uma revisão da literatura teórica e elucidaremos o desenvolvimento da teoria semiótica. Começaremos pela abordagem centrada nos elementos inteligíveis, a semiótica da ação, e avançaremos em direção a uma perspectiva teórica que trata o elemento sensível, baseada nos fundamentos da fenomenologia, conforme propostas de Greimas (2017) e Greimas e Fontanille (1993). Por fim, abordaremos a semiótica da interação (LANDOWSKI, 2014a) e a semiótica tensiva (ZILBERBERG, 2011a). A partir desses pressupostos teóricos, analisaremos e descreveremos como se constituem os actantes coletivos identificados pelas hashtags #EleNão e #EleSim, grupos compostos por mulheres contrárias ou favoráveis ao ator discursivo Jair Bolsonaro, então candidato à presidência da República nas eleições de 2018. Para a análise do discurso do eleitorado feminino, selecionamos quatro reportagens, sendo uma da revista Marie Claire, uma do periódico AzMina e duas do site HuffPost Brasil. Esses enunciados colocam em confronto as vozes femininas e a voz de Bolsonaro. A partir dos temas identificados nessas reportagens, e, portanto, das vozes dos actantes coletivos apreendidas nesses enunciados, investigamos o discurso do destinador-manipulador. Por meio da análise de entrevistas e declarações públicas proferidas ao longo de sua extensa trajetória política, com destaque para o período eleitoral em questão, examinamos o discurso populista do então candidato, que se apoia em intrincadas relações intersubjetivas de contágio (LANDOWSKI, 2020), sendo capaz de submeter uma massa de sujeitos ao seu próprio sentir. Ao renovar discursos populistas de outrora, o ator discursivo capacita o sujeito-manipulado de uma competência estésica fundamentada em discursos de ódio, intolerância e autoritarismo. Dessa forma, surgem dois programas narrativos opostos, o que nos faz deparar com uma estrutura polêmica que coloca um sujeito (o povo) e um antissujeito (a elite) frente a frente como actantes incompatíveis. Ao examinarmos essa interação entre os sujeitos, especialmente, por meio dos conceitos de ajustamento (semiótica da interação) e tonicidade (semiótica tensiva), podemos inferir que a manipulação, quando permeada por elementos sensíveis, tem o potencial de influenciar o destinatário a adotar uma postura menos ou mais subjetiva, menos ou mais presente. Dessa forma, esta pesquisa evidencia a importância de compreender como as estratégias discursivas do populismo têm a capacidade de influenciar as percepções dos indivíduos a ponto de provocar instabilidades em seu campo de presença.Manipulation is, in narrative semiotics, the stage of a canonical narrative schema in which an addresser seeks to make an addressee want and need to perform a certain action. However, this thesis explores the concept of manipulation (GREIMAS; COURTÉS, 2016) at the border with the notion of regimes of meaning, postulated by Landowski (2014a) as \"interactions of risk.\" Furthermore, we consider the field of presence, referring to the tensions of affect in the correlation between intensity and extensity of things in the world, as proposed by Zilberberg (2011a). To investigate these principles, we will conduct a literature review and elucidate the development of semiotic theory. We will start with the approach centered on intelligible elements, the semiotics of action, and advance towards a theoretical perspective that deals with the sensible element, based on the foundations of phenomenology, as proposed by Greimas (2017) and Greimas and Fontanille (1993). Finally, we will address the semiotics of interaction (LANDOWSKI, 2014a) and tensive semiotic (ZILBERBERG, 2011a). Based on these theoretical assumptions, we will analyze and describe how the collective actants identified by the hashtags #NotHim and #YesHim are constituted, groups composed of women who are opposed or in favor of the discursive actor Jair Bolsonaro, who was a candidate for the presidency of Brazil in the 2018 elections. For the analysis of the discourse of the female electorate, we selected four articles, one from Marie Claire, one from AzMina, and two from HuffPost Brazil website. These statements confront the female voices with Bolsonaro\'s voice. Based on the themes identified in these discourses and, therefore, the voices of the collective actants apprehended in these statements, we investigate the discourse of the manipulatingaddresser. Through the analysis of interviews and public statements made throughout his extensive political career, with emphasis on the electoral period in question, we examine the populist discourse of the then-candidate, which relies on intricate intersubjective relations of contagion (LANDOWSKI, 2020), being capable of submit a mass of subjects to its own feelings. By renewing past populist discourses, the discursive actor empowers the manipulated subject with an esthetic skill based on discourses of hatred, intolerance, and authoritarianism. Thus, two opposing narrative programs emerge, leading us to encounter a polemical structure that places a subject (the people) and an anti-subject (the elite) face to face as incompatible collective actants. By examining this interaction between the subjects, especially through the concepts of adjustment (semiotics of interaction) and tonicity (tensive semiotics), we can infer that manipulation, when permeated by sensitive elements, has the potential to influence the addressee to adopt a less or more subjective, less or more present stance. In this way, this research highlights the importance of understanding how populism discursive strategies have the ability to influence individuals\' perceptions to the point of causing instabilities in their field of presence.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPCampos, Norma Discini deSilva, Cleide Lima da2023-08-14info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-11012024-194630/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2024-01-11T22:00:02Zoai:teses.usp.br:tde-11012024-194630Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212024-01-11T22:00:02Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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