Semiótica e polifonia na estética romanesca de Fiódor Dostoiévski

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Costa, Marcos Rogério Martins
Data de Publicação: 2014
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-01062015-172736/
Resumo: Na teoria musical, a polifonia remete a um estilo, criado na Idade Média em oposição ao canto monódico da Igreja, no qual as vozes se distinguem rítmica e melodicamente, permitindo que melodias diversas convivam no mesmo campo musical. Mikhail Bakhtin (1895-1975), resgatando o sentido musical do termo e baseando-se nele, cria uma metáfora conceitual da polifonia para definir um gênero discursivo que demonstra a coexistência de vozes plenivalentes na obra literária, inclusive entre a instância do autor-criador e a da personagem. O filósofo russo investiga esse fenômeno na estética de Fiódor Dostoiévski (1821-1881), reconhecendo esse autor como o criador do romance polifônico. Desde a difusão das ideias de Bakhtin (2010a), o conceito de polifonia foi mal compreendido e mal interpretado. Diante disso, o objetivo geral desta pesquisa é o de operacionalizar o conceito bakhtiniano de polifonia por meio de um viés discursivo específico: o da semiótica francesa (GREIMAS; COURTÉS, 2008). Por operacionalização, entendemos o processo científico de tornar coerente um conceito dentro de determinadas premissas teóricas e de acordo com as unidades de análise. Nossas fontes são três diálogos entre dois personagens diferentes contidos em três romances dostoievskianos: três encontros de Raskólnikov e Porfiri, em Crime e castigo; três de Ivan e Smierdiakóv, em Os irmãos Karamázov; e três de Aleksiéi e Polina, em Um jogador. Para investigar esse corpus, problematizamos a polifonia na arquitetônica do ator, seja o da enunciação (na teoria bakhtiniana, o autor-criador), seja o do enunciado (na concepção bakhtiniana, herói polifônico). Por isso, não buscamos as bases ontológicas do gênero romance polifônico, nem propomos um molde ou uma tipologia discursiva que sustente esse gênero. Tratamos a polifonia como uma estratégia discursiva do enunciador Dostoiévski. Buscamos, no corpus de Crime e castigo, os recursos que sustentam essa estratégia e validamos três procedimentos: a imiscibilidade, a interindependência e a equipolência de vozes. Em Os irmãos Karamázov, confirmamos esses procedimentos pela recorrência. Em Um jogador, constatamos, pela não recorrência dos procedimentos, a singularidade que os caracteriza na estética romanesca do escritor russo. Conseguimos, pela recorrência e pela diferença, examinar o estilo autoral de Dostoiévski, segundo uma estilística discursiva (DISCINI, 2009a; 2013). Conforme a proposta de Zilberberg (2004; 2011), investigamos os modos de eficiência, de junção e de existência de duas totalidades bem distintas: totalidade A (Crime e castigo; Os irmãos Karamázov) e totalidade B (Um jogador). Com esses dados, depreendemos que os romances de Dostoiévski podem ter ora traços mais polifônicos (totalidade A), ora traços menos polifônicos (totalidade B). Assim, respaldamos a gradação do conceito de polifonia na estética romanesca, em específico na totalidade Dostoiévski, operacionalizando a polifonia como uma categoria apreensível, repetível e de grandeza escalar.
id USP_c81398cd0c1825013d6a15cd3a30f4e1
oai_identifier_str oai:teses.usp.br:tde-01062015-172736
network_acronym_str USP
network_name_str Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
repository_id_str 2721
spelling Semiótica e polifonia na estética romanesca de Fiódor DostoiévskiSemiotics and Polyphony in the Fyodor Dostoyevsky\'s novelistic aestheticsActorAtorBakhtinian philosophyEnunciaçãoEnunciationFilosofia bakhtinianaPolifoniaPolyphonySemióticaSemioticsNa teoria musical, a polifonia remete a um estilo, criado na Idade Média em oposição ao canto monódico da Igreja, no qual as vozes se distinguem rítmica e melodicamente, permitindo que melodias diversas convivam no mesmo campo musical. Mikhail Bakhtin (1895-1975), resgatando o sentido musical do termo e baseando-se nele, cria uma metáfora conceitual da polifonia para definir um gênero discursivo que demonstra a coexistência de vozes plenivalentes na obra literária, inclusive entre a instância do autor-criador e a da personagem. O filósofo russo investiga esse fenômeno na estética de Fiódor Dostoiévski (1821-1881), reconhecendo esse autor como o criador do romance polifônico. Desde a difusão das ideias de Bakhtin (2010a), o conceito de polifonia foi mal compreendido e mal interpretado. Diante disso, o objetivo geral desta pesquisa é o de operacionalizar o conceito bakhtiniano de polifonia por meio de um viés discursivo específico: o da semiótica francesa (GREIMAS; COURTÉS, 2008). Por operacionalização, entendemos o processo científico de tornar coerente um conceito dentro de determinadas premissas teóricas e de acordo com as unidades de análise. Nossas fontes são três diálogos entre dois personagens diferentes contidos em três romances dostoievskianos: três encontros de Raskólnikov e Porfiri, em Crime e castigo; três de Ivan e Smierdiakóv, em Os irmãos Karamázov; e três de Aleksiéi e Polina, em Um jogador. Para investigar esse corpus, problematizamos a polifonia na arquitetônica do ator, seja o da enunciação (na teoria bakhtiniana, o autor-criador), seja o do enunciado (na concepção bakhtiniana, herói polifônico). Por isso, não buscamos as bases ontológicas do gênero romance polifônico, nem propomos um molde ou uma tipologia discursiva que sustente esse gênero. Tratamos a polifonia como uma estratégia discursiva do enunciador Dostoiévski. Buscamos, no corpus de Crime e castigo, os recursos que sustentam essa estratégia e validamos três procedimentos: a imiscibilidade, a interindependência e a equipolência de vozes. Em Os irmãos Karamázov, confirmamos esses procedimentos pela recorrência. Em Um jogador, constatamos, pela não recorrência dos procedimentos, a singularidade que os caracteriza na estética romanesca do escritor russo. Conseguimos, pela recorrência e pela diferença, examinar o estilo autoral de Dostoiévski, segundo uma estilística discursiva (DISCINI, 2009a; 2013). Conforme a proposta de Zilberberg (2004; 2011), investigamos os modos de eficiência, de junção e de existência de duas totalidades bem distintas: totalidade A (Crime e castigo; Os irmãos Karamázov) e totalidade B (Um jogador). Com esses dados, depreendemos que os romances de Dostoiévski podem ter ora traços mais polifônicos (totalidade A), ora traços menos polifônicos (totalidade B). Assim, respaldamos a gradação do conceito de polifonia na estética romanesca, em específico na totalidade Dostoiévski, operacionalizando a polifonia como uma categoria apreensível, repetível e de grandeza escalar.In music theory, the term polyphony designates a style, created during the Middle Ages in opposition to the Churchs monodic chanting; in polyphony, voices can be distinguished rhythmically and melodically, allowing different melodies cohabitatingthe same musical field. Mikhail Bakhtin (1895-1975), drawing out from the musical sense of the term and based on it, creates a conceptual metaphor of polyphony to define a discourse genre that shows the coexistence of plenivalent voices in the literary work, even the author-creator and the character instances. The Russian philosopher investigates this phenomenon in the novel aesthetics of Fyodor Dostoyevsky (1821-1881), recognizing this author as the creator of the polyphonic novel. Since the spreading of the ideas of Bakhtin (2010a), the concept of polyphony has been misunderstood and misinterpreted. With that been said, this researchs main goal is to make the bakhtinian concept operational by using a specific discursive point of view: French Semiotics (GREIMAS; COURTÉS, 2008). By making the concept operational we mean the scientific process of establishing the conditions that allow a concept to become coherent inside a theoretical framework and in relation to the unities of analysis. Our sources are three dialogues between two characters in three novels by Dostoyevsky (three in each, making a total of nine dialogues): Raskólnikov and Porfiri, in Crime and punishment; Ivan and Smierdiakóv, in The brothers Karamazov; and, finally, Aleksiéi and Polina, in The gambler. In order to investigate this corpus, we have reflected upon polyphony in the actors architectonic, be it the enunciations actor (in bakhtinian theory, the author-creator), or the enunciates actor (in bakhtinian conception, the polyphonic hero). Therefore, this research is not focused on the ontologic bases of the polyphonic novel genre, neither does it propose a mold or a discursive typology that supports this genre. We consider polyphony as a discursive strategy from the enunciator Dostoyevsky. We search, in the corpus extracted from Crime and punishment, the resources that support this strategy and we validate three procedures: immiscibility, interindependence and equipollence of voices. In The brothers Karamazov, these procedures were confirmed by recurrence. In The gambler, the fact that the recurrence does not occur is evidence of their singularity in the novel aesthetics of the Russian writer. Both the recurrence and the difference have made us able to examine Dostoyevskys author style in the terms of a discursive stylistic (DISCINI, 2009a; 2013). In conformity with the ideas of Zilberberg (2004; 2011), we have investigated the modes of efficiency, junction and existence of two very different totalities: totality A (Crime and punishment; The brothers Karamazov) and totality B (The gambler). With these data we were able to conclude that Dostoyevskys novels may present sometimes more polyphonic traits (totality A), sometimes less polyphonic traits (totality B). We thus support the idea of the polyphony concept in the novel aesthetics as something gradual, in particular in the Dostoyevsky totality, making polyphony operational as an apprehensible, repeatable and scalar category.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPCampos, Norma Discini deCosta, Marcos Rogério Martins2014-12-19info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-01062015-172736/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2016-07-28T16:11:57Zoai:teses.usp.br:tde-01062015-172736Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212016-07-28T16:11:57Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
dc.title.none.fl_str_mv Semiótica e polifonia na estética romanesca de Fiódor Dostoiévski
Semiotics and Polyphony in the Fyodor Dostoyevsky\'s novelistic aesthetics
title Semiótica e polifonia na estética romanesca de Fiódor Dostoiévski
spellingShingle Semiótica e polifonia na estética romanesca de Fiódor Dostoiévski
Costa, Marcos Rogério Martins
Actor
Ator
Bakhtinian philosophy
Enunciação
Enunciation
Filosofia bakhtiniana
Polifonia
Polyphony
Semiótica
Semiotics
title_short Semiótica e polifonia na estética romanesca de Fiódor Dostoiévski
title_full Semiótica e polifonia na estética romanesca de Fiódor Dostoiévski
title_fullStr Semiótica e polifonia na estética romanesca de Fiódor Dostoiévski
title_full_unstemmed Semiótica e polifonia na estética romanesca de Fiódor Dostoiévski
title_sort Semiótica e polifonia na estética romanesca de Fiódor Dostoiévski
author Costa, Marcos Rogério Martins
author_facet Costa, Marcos Rogério Martins
author_role author
dc.contributor.none.fl_str_mv Campos, Norma Discini de
dc.contributor.author.fl_str_mv Costa, Marcos Rogério Martins
dc.subject.por.fl_str_mv Actor
Ator
Bakhtinian philosophy
Enunciação
Enunciation
Filosofia bakhtiniana
Polifonia
Polyphony
Semiótica
Semiotics
topic Actor
Ator
Bakhtinian philosophy
Enunciação
Enunciation
Filosofia bakhtiniana
Polifonia
Polyphony
Semiótica
Semiotics
description Na teoria musical, a polifonia remete a um estilo, criado na Idade Média em oposição ao canto monódico da Igreja, no qual as vozes se distinguem rítmica e melodicamente, permitindo que melodias diversas convivam no mesmo campo musical. Mikhail Bakhtin (1895-1975), resgatando o sentido musical do termo e baseando-se nele, cria uma metáfora conceitual da polifonia para definir um gênero discursivo que demonstra a coexistência de vozes plenivalentes na obra literária, inclusive entre a instância do autor-criador e a da personagem. O filósofo russo investiga esse fenômeno na estética de Fiódor Dostoiévski (1821-1881), reconhecendo esse autor como o criador do romance polifônico. Desde a difusão das ideias de Bakhtin (2010a), o conceito de polifonia foi mal compreendido e mal interpretado. Diante disso, o objetivo geral desta pesquisa é o de operacionalizar o conceito bakhtiniano de polifonia por meio de um viés discursivo específico: o da semiótica francesa (GREIMAS; COURTÉS, 2008). Por operacionalização, entendemos o processo científico de tornar coerente um conceito dentro de determinadas premissas teóricas e de acordo com as unidades de análise. Nossas fontes são três diálogos entre dois personagens diferentes contidos em três romances dostoievskianos: três encontros de Raskólnikov e Porfiri, em Crime e castigo; três de Ivan e Smierdiakóv, em Os irmãos Karamázov; e três de Aleksiéi e Polina, em Um jogador. Para investigar esse corpus, problematizamos a polifonia na arquitetônica do ator, seja o da enunciação (na teoria bakhtiniana, o autor-criador), seja o do enunciado (na concepção bakhtiniana, herói polifônico). Por isso, não buscamos as bases ontológicas do gênero romance polifônico, nem propomos um molde ou uma tipologia discursiva que sustente esse gênero. Tratamos a polifonia como uma estratégia discursiva do enunciador Dostoiévski. Buscamos, no corpus de Crime e castigo, os recursos que sustentam essa estratégia e validamos três procedimentos: a imiscibilidade, a interindependência e a equipolência de vozes. Em Os irmãos Karamázov, confirmamos esses procedimentos pela recorrência. Em Um jogador, constatamos, pela não recorrência dos procedimentos, a singularidade que os caracteriza na estética romanesca do escritor russo. Conseguimos, pela recorrência e pela diferença, examinar o estilo autoral de Dostoiévski, segundo uma estilística discursiva (DISCINI, 2009a; 2013). Conforme a proposta de Zilberberg (2004; 2011), investigamos os modos de eficiência, de junção e de existência de duas totalidades bem distintas: totalidade A (Crime e castigo; Os irmãos Karamázov) e totalidade B (Um jogador). Com esses dados, depreendemos que os romances de Dostoiévski podem ter ora traços mais polifônicos (totalidade A), ora traços menos polifônicos (totalidade B). Assim, respaldamos a gradação do conceito de polifonia na estética romanesca, em específico na totalidade Dostoiévski, operacionalizando a polifonia como uma categoria apreensível, repetível e de grandeza escalar.
publishDate 2014
dc.date.none.fl_str_mv 2014-12-19
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/masterThesis
format masterThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-01062015-172736/
url http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-01062015-172736/
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.relation.none.fl_str_mv
dc.rights.driver.fl_str_mv Liberar o conteúdo para acesso público.
info:eu-repo/semantics/openAccess
rights_invalid_str_mv Liberar o conteúdo para acesso público.
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.coverage.none.fl_str_mv
dc.publisher.none.fl_str_mv Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
publisher.none.fl_str_mv Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
dc.source.none.fl_str_mv
reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
instname:Universidade de São Paulo (USP)
instacron:USP
instname_str Universidade de São Paulo (USP)
instacron_str USP
institution USP
reponame_str Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
collection Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
repository.name.fl_str_mv Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)
repository.mail.fl_str_mv virginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.br
_version_ 1809090274610118656