No limiar do silêncio e da letra: traços da autoria em Clarice Lispector

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Homem, Maria Lúcia Stacchini Ferreira
Data de Publicação: 2001
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8151/tde-17102011-104726/
Resumo: O campo da literatura é o campo da mimesis. Para que esta ocorra é necessário um objeto passível de ser representado, um sujeito que a exerça, uma linguagem que a viabilize e, ainda, um leitor que a receba. O objeto a ser recriado pode ser real ou virtual, o meio de sua recriação é a palavra. Palavra que busca transpassar o enigma do real. Ao longo dos tempos, constituíram-se diversas formas de representação, variando, de maneiras diferentes, as diversas instâncias narrativas. Essa variação esteve atrelada à concepção de sujeito e de possibilidade de uso da linguagem que ganhava corpo em determinado momento da arte e da literatura. Clarice Lispector insere-se nessa história e tradição. O sujeito uno, racional e esclarecido, \"autor\" que começa a se esboçar na transição para a modernidade, em linhas gerais, tinha como ferramenta uma linguagem quase transparente a fim de delinear a paisagem que se apresentava a seus olhos. No entanto, com o passar dos séculos, esses pólos foram se complexificando. O sujeito revelou-se descentrado, fragmentado, desconhecido de si próprio. Quem narra? Passou-se a desconfiar da palavra. Pôr em palavras é aniquilar o objeto? Seria melhor calar o que não se pode dizer? O objeto desvela sua opacidade, sua estranheza. O que seria passível de representação? São essas as questões privilegiadas neste trabalho que animam a obra clariceana, notadamente seus últimos romances: Água viva, A hora da estrela e Um sopro de vida. A própria forma do romance contemporâneo segue paralela e se alimenta dessas questões. O romance estruturalmente clássico que visava representar o universo subjetivo do herói individualizado que nasce com a modernidade fica estremecido em suas bases sólidas e já estabelecidas. Acentua-se uma maneira de compor em que personagem, narrador e autor se interceptam continuamente e na qual o silêncio aparece como ponto de fuga do enquadre narrativo, vórtice que parece arrastar o próprio movimento da escritura. O pacto ficcional se altera, o jogo entre silêncio e palavra se revela pontos centrais dos romances em questão, que serão enfocados na interface literatura / psicanálise.
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O sujeito uno, racional e esclarecido, \"autor\" que começa a se esboçar na transição para a modernidade, em linhas gerais, tinha como ferramenta uma linguagem quase transparente a fim de delinear a paisagem que se apresentava a seus olhos. No entanto, com o passar dos séculos, esses pólos foram se complexificando. O sujeito revelou-se descentrado, fragmentado, desconhecido de si próprio. Quem narra? Passou-se a desconfiar da palavra. Pôr em palavras é aniquilar o objeto? Seria melhor calar o que não se pode dizer? O objeto desvela sua opacidade, sua estranheza. O que seria passível de representação? São essas as questões privilegiadas neste trabalho que animam a obra clariceana, notadamente seus últimos romances: Água viva, A hora da estrela e Um sopro de vida. A própria forma do romance contemporâneo segue paralela e se alimenta dessas questões. O romance estruturalmente clássico que visava representar o universo subjetivo do herói individualizado que nasce com a modernidade fica estremecido em suas bases sólidas e já estabelecidas. Acentua-se uma maneira de compor em que personagem, narrador e autor se interceptam continuamente e na qual o silêncio aparece como ponto de fuga do enquadre narrativo, vórtice que parece arrastar o próprio movimento da escritura. O pacto ficcional se altera, o jogo entre silêncio e palavra se revela pontos centrais dos romances em questão, que serão enfocados na interface literatura / psicanálise.The field of literature is the field of mimesis. So that it occurs, an object suitable for depiction, a subject that performs it and a language that makes it viable as well as a reader to receive it are imperative. The object to be re-created can be real or virtual and the means for its re-creation is the word. Words aimed at reaching beyond the threshold of real. Throughout the times several forms of representation were created varying, in different ways, the diverse narrative instances. This variation has been attached to the concept of subject and the language usage possibilities that gained momentum at certain periods of art and literature. Clarice Lispector fits in this stream of history and tradition. The conspicuous rational individual subject, the \"author\" that begins to be outlined in the transition to modernity had, generally speaking, a transparent language as a tool in order to reveal the landscape that unfolded before his eyes. These poles have become more complex through the centuries notwithstanding. The subject showed himself decentralized and fragmented, unknown to his own self. Who narrates? Words had become suspicious. Putting it in words is to annihilate the object? Would it be better to gag what cannot be said? The object showed its opacity and oddness. What would be fitting for depiction? These are the questions highlighted in this work that animate Clarices oeuvre, notably in her last novels: The stream of life [Água viva], The hour of the star [A hora da estrela] and A breath of life [Um sopro de vida]. The very format of contemporary novel goes parallel and feeds itself on these queries. The structurally classical novel that envisaged rendering the subjective universe of the individual hero that is born with modernity was shaken in its rock-steady foundations. A composing manner, which not only continuously intertwines character and narrator and author but also makes use of silence as a vanishing point for the narrative framework as a vortex that seems to drag the writings own movement, becomes more acute. The fictional pact alters itself, the silence and word play brings itself to light central points in the novels analyzed that will be focused through the literature/psychoanalysis interface.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPPassos, Cleusa Rios PinheiroHomem, Maria Lúcia Stacchini Ferreira2001-12-06info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8151/tde-17102011-104726/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2016-07-28T16:10:30Zoai:teses.usp.br:tde-17102011-104726Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212016-07-28T16:10:30Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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