Merleau-Ponty e o problema fenomenológico: inerência e transcendência

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Neves, José Luiz Bastos
Data de Publicação: 2016
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8133/tde-27092016-122810/
Resumo: O presente trabalho pretende ser uma elucidação dos problemas que estão na origem da transição de uma fenomenologia da percepção à ontologia do ser sensível. Para tanto, concentramo-nos sobre os primeiros livros de Merleau-Ponty, delineando como se forma ali o projeto que irá ocupar a obra inteira, a saber, o de conciliar a inerência da subjetividade ao mundo e a capacidade intencional de fazê-lo aparecer em sua transcendência. Mostramos como a crítica à assimetria transcendental da correlação intencional husserliana conduz Merleau-Ponty a entendê-la não mais como aquela que se estabelece entre a consciência e o objeto, mas sim entre o corpo próprio e o mundo percebido, correlação na qual não mais apenas se anuncia a relatividade do objeto à subjetividade, mas uma dimensão de pertencimento desta última ao mundo sensível. Analisamos a partir de então os instrumentos conceituais, largamente debitários da fenomenologia husserliana da passividade, que entram em cena para dar conta desse projeto: a compreensão do mundo como estrutura de horizonte, a descoberta das sensações como portadoras de uma intencionalidade original, a da temporalidade como instância na qual fenomenalização do ser e enraizamento subjetivo nele devem poder coincidir. Mostramos, todavia, que a realização do projeto se encontra comprometida, nas primeiras obras, pela manutenção do postulado classicamente fenomenológico segundo o qual deve existir uma diferença irredutível entre a consciência e o aparecer como condição para que subsista, do lado objetivo da correlação, a transcendência do aparecente em relação ao aparecer. A dificuldade das primeiras obras para dar conta de uma relação de diferença que é também a de uma identidade entre a consciência e o aparecer se traduz nas aporias da encarnação e do cogito tácito, e implica que não consigam pensar a unidade de inerência e transcendência. A esse respeito, mostramos que a doutrina da temporalidade apenas amaina a dificuldade e não a resolve, na medida em que pressuporá um olho fora do tempo para o qual o tempo se temporaliza. Por fim, evidenciamos como o conceito de reversibilidade na última fase da obra torna- se compreensível como resposta a esse problema evidenciado nos primeiros livros.
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Mostramos como a crítica à assimetria transcendental da correlação intencional husserliana conduz Merleau-Ponty a entendê-la não mais como aquela que se estabelece entre a consciência e o objeto, mas sim entre o corpo próprio e o mundo percebido, correlação na qual não mais apenas se anuncia a relatividade do objeto à subjetividade, mas uma dimensão de pertencimento desta última ao mundo sensível. Analisamos a partir de então os instrumentos conceituais, largamente debitários da fenomenologia husserliana da passividade, que entram em cena para dar conta desse projeto: a compreensão do mundo como estrutura de horizonte, a descoberta das sensações como portadoras de uma intencionalidade original, a da temporalidade como instância na qual fenomenalização do ser e enraizamento subjetivo nele devem poder coincidir. Mostramos, todavia, que a realização do projeto se encontra comprometida, nas primeiras obras, pela manutenção do postulado classicamente fenomenológico segundo o qual deve existir uma diferença irredutível entre a consciência e o aparecer como condição para que subsista, do lado objetivo da correlação, a transcendência do aparecente em relação ao aparecer. A dificuldade das primeiras obras para dar conta de uma relação de diferença que é também a de uma identidade entre a consciência e o aparecer se traduz nas aporias da encarnação e do cogito tácito, e implica que não consigam pensar a unidade de inerência e transcendência. A esse respeito, mostramos que a doutrina da temporalidade apenas amaina a dificuldade e não a resolve, na medida em que pressuporá um olho fora do tempo para o qual o tempo se temporaliza. Por fim, evidenciamos como o conceito de reversibilidade na última fase da obra torna- se compreensível como resposta a esse problema evidenciado nos primeiros livros.This work aims at elucidating the problems underlying Merleau-Pontys transition from a phenomenology of perception to an ontology of sensible being. By means of an analysis of his first books, we try to apprehend the sense of the philosophical task he will pursue throughout his career, namely to reconcile the inherence of subjectivity in the world and its intentional ability to make it appear in its transcendence. We show that Merleau-Pontys critique of Husserls transcendental idealism leads him to interpret intentional correlation not as one established between consciousness and object, but as one established between lived body and perceived world. This correlation no longer sustains exclusively the thesis of the objects dependence on transcendental subjectivity, but also implicates a dimension of subjectivitys belonging to the sensible world and hence to some form of objectivity. We then analyze the conceptual tools, widely taken from Husserl\'s phenomenology of passivity, that come into play to account for this project: the world as horizon structure, the sensations as bearing an original form of intentionality, temporality as the instance in which beings phenomenalisation and subjectivitys rooting in it should be reconciled. However, we try to demonstrate that Merleau-Pontys project is not fully achieved in his first works. This is mainly due to the phenomenological principle according to which there must be some sort of difference between consciousness and appearance in order for the thing that appears to maintain its intentional transcendence in relation to phenomena. In his first books, Merleau-Ponty is incapable of accounting for this difference between consciousness and appearance as being also some sort of identity between them. This renders the notions of lived boy and incarnation conceptually instable, and ultimately implies an antinomy between inherence and transcendence. In that sense, we show that the doctrine of temporality only lessens the difficulty without actually solving it. In conclusion, we sketch how the concept of reversibility in Meleau-Pontys later works only becomes fully understandable as a response to the difficulties revealed in his earlier books.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPChaui, Marilena de SouzaNeves, José Luiz Bastos2016-06-03info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8133/tde-27092016-122810/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2017-09-04T21:05:29Zoai:teses.usp.br:tde-27092016-122810Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212017-09-04T21:05:29Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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