"Corpos sonhados - vividos: A questão do corpo em Foucault e Merleau-Ponty".

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Silveira, Fernando de Almeida
Data de Publicação: 2005
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59137/tde-09062006-162253/
Resumo: A obra de Michel Foucault destaca o corpo como expressão e sustentáculo das forças de poder e de saber, que se articulam estrategicamente, na história da sociedade ocidental. A corporeidade ocupa uma posição central na obra de Foucault, que a ressalta como realidade bio-política-histórica, isto é, como "interpenetrada de história" e ponto de apoio de complexas correlações de forças, sobre a qual incidem inúmeras conformações discursivas produtoras de "verdades" que tanto podem reafirmar como recriar o sentido do corpo presente, ou a sensibilidade individual/coletiva nele imanente. No caso, não é o sujeito epistemológico autônomo que produz um saber útil ou arredio ao poder, mas o poder-saber, os processos e as lutas que o atravessam e que o constituem que representam as formas e os campos possíveis do conhecimento. Na medida em que Foucault retira do sujeito autônomo de conhecimento seu papel central no processo de produção do saber, o corpo adquire uma importância renovada. O corpo é uma peça dentro de um jogo de dominações e submissões presente em toda a rede social, que o torna depositário de marcas e de sinais que nele se inscrevem, de acordo com as efetividades desses embates que, por sua vez, têm na corporeidade seu "campo de prova". Ora, se comparada com a genealogia de Foucault, a perspectiva merleau-pontyana é, por um lado, mais “psicológica", isto é, procura apreender “por dentro" como o corpo vive esses sentidos. Por outro, Merleau-Ponty visa à experiência sensível como uma região de sentidos que não se limita a seus significados histórico-culturais porque representa nossa abertura ao Ser em geral. É o que ele denomina de região do Ser bruto. Nesse sentido, as construções lingüísticas da “realidade", inclusive do próprio corpo, partem de uma experiência que elas não abriram e nem podem fechar, porque o sentido da experiência sensível encontra-se sempre além dos significados da linguagem, e por isso pensamos, construímos e “desenvolvemos" linguagens. Devido à importância crescente das noções de corpo tanto nos trabalhos de Merleau-Ponty como nos de Michel Foucault, este projeto de pesquisa visa comparar a ordem do discurso foucaultiano com a descrição do vivido por Merleau-Ponty, para avaliar em que medida sua perspectiva genealógica é capaz de dissolver a noção de subjetividade que reside, em Merleau-Ponty, na experiência do corpo próprio. Verificou-se que Foucault foi o filósofo do corpo enredado pelas forças de poder/saber na constituição da identidade histórica do sujeito, relacionando-o às rupturas e descontinuidades dos tensos embates que arruinam o corpo histórico. Em Merleau-Ponty, a enunciação da corporeidade se refere principalmente a brotamentos e a germinações, na articulação do corpo próprio enquanto estrato originário dos corpos científicos e cotidianos, em sua relação deiscente. Por sua vez, é somente Merleau-Ponty que propõe uma articulação entre enredamento e corpo germinado através da qual percepção e subjetivação podem se remeter mutuamente. Neste sentido, a tentativa de Foucault, em suas analíticas, de submeter o corpo germinante de Merleau-Ponty à mesma pressuposição discursiva do seu corpo enredado, é uma forma de desconsiderar as singularidades da paisagem enunciativa da corporeidade na fenomenologia merleau-pontyana. Através da leitura de bibliografia dos referidos autores, comentaristas e de outros autores da filosofia moderna, em um enfoque transdisciplinar, que se remete tanto ao campo da psicologia como da filosofia, na medida em que se analisa a complexa correlação entre o corpo vivido e o processo de construção da identidade sóciohistórica do sujeito moderno (Agência Financiadora: FAPESP).
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No caso, não é o sujeito epistemológico autônomo que produz um saber útil ou arredio ao poder, mas o poder-saber, os processos e as lutas que o atravessam e que o constituem que representam as formas e os campos possíveis do conhecimento. Na medida em que Foucault retira do sujeito autônomo de conhecimento seu papel central no processo de produção do saber, o corpo adquire uma importância renovada. O corpo é uma peça dentro de um jogo de dominações e submissões presente em toda a rede social, que o torna depositário de marcas e de sinais que nele se inscrevem, de acordo com as efetividades desses embates que, por sua vez, têm na corporeidade seu "campo de prova". Ora, se comparada com a genealogia de Foucault, a perspectiva merleau-pontyana é, por um lado, mais “psicológica", isto é, procura apreender “por dentro" como o corpo vive esses sentidos. Por outro, Merleau-Ponty visa à experiência sensível como uma região de sentidos que não se limita a seus significados histórico-culturais porque representa nossa abertura ao Ser em geral. É o que ele denomina de região do Ser bruto. Nesse sentido, as construções lingüísticas da “realidade", inclusive do próprio corpo, partem de uma experiência que elas não abriram e nem podem fechar, porque o sentido da experiência sensível encontra-se sempre além dos significados da linguagem, e por isso pensamos, construímos e “desenvolvemos" linguagens. Devido à importância crescente das noções de corpo tanto nos trabalhos de Merleau-Ponty como nos de Michel Foucault, este projeto de pesquisa visa comparar a ordem do discurso foucaultiano com a descrição do vivido por Merleau-Ponty, para avaliar em que medida sua perspectiva genealógica é capaz de dissolver a noção de subjetividade que reside, em Merleau-Ponty, na experiência do corpo próprio. Verificou-se que Foucault foi o filósofo do corpo enredado pelas forças de poder/saber na constituição da identidade histórica do sujeito, relacionando-o às rupturas e descontinuidades dos tensos embates que arruinam o corpo histórico. Em Merleau-Ponty, a enunciação da corporeidade se refere principalmente a brotamentos e a germinações, na articulação do corpo próprio enquanto estrato originário dos corpos científicos e cotidianos, em sua relação deiscente. Por sua vez, é somente Merleau-Ponty que propõe uma articulação entre enredamento e corpo germinado através da qual percepção e subjetivação podem se remeter mutuamente. Neste sentido, a tentativa de Foucault, em suas analíticas, de submeter o corpo germinante de Merleau-Ponty à mesma pressuposição discursiva do seu corpo enredado, é uma forma de desconsiderar as singularidades da paisagem enunciativa da corporeidade na fenomenologia merleau-pontyana. Através da leitura de bibliografia dos referidos autores, comentaristas e de outros autores da filosofia moderna, em um enfoque transdisciplinar, que se remete tanto ao campo da psicologia como da filosofia, na medida em que se analisa a complexa correlação entre o corpo vivido e o processo de construção da identidade sóciohistórica do sujeito moderno (Agência Financiadora: FAPESP).Michel Foucault’s work highlights body as expression and support from forces of power and knowledge, which get strategically articulated, in occidental society’s history. Embodiment occupies a central position in Foucault’s work, which points it out as a bio-political-historical reality; that is, as “interpenetrated by history" and a point of support of complex forces correlations, over which fall upon multiple discursive conformations productive of truths that either can reaffirm as recreate the meaning of the present body, or an individual / collective sensibility immanent in it. In this case, it is not the autonomous epistemological subject who produces a useful or lonesome knowledge to the power, but the power-knowledge, the processes and fights which traverse it and that constitute it, and which represent the forms and possible fields of knowledge. In the proportion Foucault takes out from the autonomous subject of knowledge the central role in the process of knowledge production, the body acquires a renewal importance. The body is a piece within a domination and submission play which is present in the whole social net, which turns the body the depository of marks and signs that are inscribed in it, according to the impacts effectiveness, which for their turn has on embodiment its “rehearsal field". If compared with Foucault’s genealogy, Merleau-Ponty’s perspective is, for one side, more psychological; that is, it seeks to apprehend from inside as the body lives these senses. For the other side, Merleau-Ponty seeks the sensible experience as a region of senses that does not limit itself to historical-cultural meanings, as embodiment represents our opening to being in general. It is what he names as region of the raw Being. In this sense, the linguistic constructions of reality, also of the body itself, depart from one experience from which they cannot either open or close, as the meaning of the sensible experience always finds itself beyond language meanings; this would the reason we think, construct and “develop" languages. Due to the increasing importance of the body notions either on Merleau-Ponty’s or Michel Foucault’s work, this research project aims to compare Foucault’s discourse order with Merleau-Ponty’s lived description, to evaluate in which extent his genealogical perspective is capable to dissolve the subjective notion that resides on Merleau-Ponty’s proper body experience. It was verified that Foucault was the philosopher of the body entangled by power and knowledge forces, in the constitution of the subjects’ historic identity, relating it to the ruptures and discontinuities of tense collisions that ruin the historical body. In Merleau-Ponty, the embodiment enunciation refers to the grooming and the germinations, within the articulation of the proper body, while an originary stratum of the scientific and daily bodies, on their dehiscent relation. In another turn, it is only Merleau-Ponty that considers a joint articulation between entanglement and germinated body through which perception and subjetivation can be mutually alluded. In this direction, the attempt of Foucault, in his analytical, to submit Merleau-Ponty’s germinant body to the same discursive presupposition of his entangled body is a form of not considering the singularities of the enunciative landscape of the body in the Merleau-Ponty’s phenomenology. Through bibliographic readings of the authors, commentators and other modern philosophy authors, through a transdisciplinar approach, which refers itself either to the Psychology or Philosophy field, as it analyzes the complex relation among the lived body and the process of the socio-historical construction of the modern subject. 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