Trânsitos em texto: uma análise comparada de biografias e autobiografias de pessoas trans no Brasil e nos Estados Unidos

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Lima, Luiza Ferreira
Data de Publicação: 2022
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8134/tde-07102022-095544/
Resumo: Esta tese tem por objetivo mapear, em uma perspectiva comparada, a trajetória de imaginários e saberes inscritos em e produzidos por biografias e autobiografias elaboradas ou planejadas por pessoas trans e publicadas no Brasil e nos Estados Unidos. Ao longo de décadas marcadas pela patologização da transexualidade e da travestilidade, pela emergência e consolidação do movimento trans, pelo aumento da visibilidade e ocupação por pessoas trans de espaços historicamente a elas negados, pelo acirramento de projetos políticos de destituição de direitos e humanidade a tal comunidade, e pela profusão de produções artísticas e acadêmicas por elas idealizadas, o enquadramento de sentido das categorias transexualidade, travestilidade e transgeneridade mudou consideravelmente; subjacente a tal processo, se deu, ademais, uma constante reestruturação dos regimes de produção de conhecimento e de produção literária. Considerando o desenrolar de tais dinâmicas de modos e em ritmos distintos, atravessados diferencialmente por marcadores sociais da diferença no Brasil e nos Estados Unidos, fiz a indagação: qual o papel que escritas auto/biográficas trans têm nessa configuração contínua? Pretendi respondê-la através da utilização de referenciais da teoria antropológica e dos estudos queer e trans, bem como da realização de pesquisa documental tendo como recorte tanto autobiografias e biografias publicadas em ambos os países entre 1967 e 2019 quanto arquivos de imprensa e veículos de mídia de acesso digital livre. Paralelamente, também submeti o processo de escrita da biografia da militante travesti Fernanda Benvenutty, realizado por ela, por mim e por minha orientadora Silvana Nascimento de 2016 a 2022, a um olhar autoetnográfico. O argumento que sustento, ao longo da tese, é: ao longo de três gerações de escrita auto/biográfica no Brasil e nos Estados Unidos, o empreendimento de tornar a si e à própria trajetória socialmente inteligíveis se deu em reação a enquadramentos hegemônicos de transexualidade, travestilidade e transgeneridade no debate púbico. Ao fazê-lo, autôries negociam, expõem, rearranjam e desafiam tais enquadramentos, fornecendo não só contra-discursos acerca de subjetividades trans mas também outros modos de imaginar estruturações do tempo, narrativas de processos de subjetivação, e articulações entre fantasia e realidade, identidade individual e coletiva, produzir e representar, verdade e mentira, masculinidades e feminilidades, entre outros. Nesse aspecto, os exercícios inventivos do gênero auto/biográfico se constituem, ao longo do tempo, em redes de saber subjuntivo, consideradas aqui berço dos estudos trans institucionalizados. Seu desenvolvimento se dá em paralelo ao reconhecimento acadêmico deste campo de trabalho científico
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Ao longo de décadas marcadas pela patologização da transexualidade e da travestilidade, pela emergência e consolidação do movimento trans, pelo aumento da visibilidade e ocupação por pessoas trans de espaços historicamente a elas negados, pelo acirramento de projetos políticos de destituição de direitos e humanidade a tal comunidade, e pela profusão de produções artísticas e acadêmicas por elas idealizadas, o enquadramento de sentido das categorias transexualidade, travestilidade e transgeneridade mudou consideravelmente; subjacente a tal processo, se deu, ademais, uma constante reestruturação dos regimes de produção de conhecimento e de produção literária. Considerando o desenrolar de tais dinâmicas de modos e em ritmos distintos, atravessados diferencialmente por marcadores sociais da diferença no Brasil e nos Estados Unidos, fiz a indagação: qual o papel que escritas auto/biográficas trans têm nessa configuração contínua? Pretendi respondê-la através da utilização de referenciais da teoria antropológica e dos estudos queer e trans, bem como da realização de pesquisa documental tendo como recorte tanto autobiografias e biografias publicadas em ambos os países entre 1967 e 2019 quanto arquivos de imprensa e veículos de mídia de acesso digital livre. Paralelamente, também submeti o processo de escrita da biografia da militante travesti Fernanda Benvenutty, realizado por ela, por mim e por minha orientadora Silvana Nascimento de 2016 a 2022, a um olhar autoetnográfico. O argumento que sustento, ao longo da tese, é: ao longo de três gerações de escrita auto/biográfica no Brasil e nos Estados Unidos, o empreendimento de tornar a si e à própria trajetória socialmente inteligíveis se deu em reação a enquadramentos hegemônicos de transexualidade, travestilidade e transgeneridade no debate púbico. Ao fazê-lo, autôries negociam, expõem, rearranjam e desafiam tais enquadramentos, fornecendo não só contra-discursos acerca de subjetividades trans mas também outros modos de imaginar estruturações do tempo, narrativas de processos de subjetivação, e articulações entre fantasia e realidade, identidade individual e coletiva, produzir e representar, verdade e mentira, masculinidades e feminilidades, entre outros. Nesse aspecto, os exercícios inventivos do gênero auto/biográfico se constituem, ao longo do tempo, em redes de saber subjuntivo, consideradas aqui berço dos estudos trans institucionalizados. Seu desenvolvimento se dá em paralelo ao reconhecimento acadêmico deste campo de trabalho científicoThis thesis has as its goal to map, on a comparative perspective, the trajectory of imaginaries and knowledges inscribed in and created by biographies and autobiographies elaborated or planned by trans people and published in Brazil and in the United States. Through decades marked by the pathologization of transsexuality and travestilidade, by the emergence and consolidation of the trans movement, by the increase of visibility in and occupation of spaces historically denied to trans people, by the escalation of political projects aiming to destitute them of their rights and humanity, and by the profusion of artistic and academic productions idealized by them, the frame of meaning of the categories transsexuality, travestilidade and transgender has considerably changed; underlining such process, a constant restructuration of the knowledge production and the literary production regimes took place. Considering the unfolding of such dynamics occurring in distinct ways and rhythms, differentially crossed by social markers of difference in Brazil and In the United States, I posed the question: what is the role of trans auto/biographical writings in such continuous configuration? I intended to answer such question through the mobilization of references from anthropological theory as well as from queer and trans studies, and through the carrying out of documentary research, having as focus of investigation autobiographies and biographies published in both countries between 1967 and 2019 as well as press archives and media outlets with free digital access. Simultaneously, I also submitted the process of writing the travesti activist Fernanda Benvenuttys biography, carried out by her, me, and my supervisor Silvana Nascimento, to an autoethnographic lens. The argument that I sustain, throughout this thesis, is the following: along three generations of trans auto/biographical writing in Brazil and in the United States, the endeavor of rendering oneself and ones trajectory socially intelligible occurred in reaction to hegemonic frameworks of transsexuality, travestilidade and transgender prevailing in public debate. By doing so, authors negotiate, expose, rearrange and defy such frameworks, providing not only counter-discourses regarding trans subjectivities but also other ways of imagining the structuration of time, subjectivation processes narratives, and articulations between fantasy and reality, individual and collective identities, creating and representing, truth and false, masculinities and femininities, among others. In this respect, the inventive exercises of the trans auto/biographical genre take form into networks of subjunctive knowledge, understood here as the birthplace of institutionalized trans studies. Its development occurs in parallel to the academic acknowledgement of this scientific body of workBiblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPNascimento, Silvana de SouzaLima, Luiza Ferreira2022-06-21info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8134/tde-07102022-095544/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2022-10-07T12:56:44Zoai:teses.usp.br:tde-07102022-095544Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212022-10-07T12:56:44Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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