Raça e comportamento político em perspectiva comparada: evidências de Belo Horizonte e da Cidade do Cabo

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Bueno, Natalia Salgado
Data de Publicação: 2010
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8131/tde-12112010-120405/
Resumo: O objetivo deste trabalho é discutir a relação entre raça e comportamento político, em especial o papel da raça na participação política não eleitoral (organizações políticas e ativismo político). A partir da abordagem baseada em recursos, estabelecem-se os estatutos analíticos imputados à raça através, principalmente, dos trabalhos de Sidney Verba e seus colaboradores. Para além de identificar as contribuições (e as críticas a essas contribuições) sobre o papel da raça na participação política na abordagem dos recursos, foram identificadas as proposições das literaturas sobre Brasil e África do Sul, uma vez que foram analisados os casos de Belo Horizonte e da Cidade do Cabo. Para qualificar a análise empírica, lançou-se mão da literatura sobre categorização racial no Brasil e na África do Sul, com o intuito de qualificar as hipóteses e proposições da literatura sobre raça e comportamento político a partir dos significados de raça em cada país. Em síntese, encontrou-se que, na Cidade do Cabo, a probabilidade de participar politicamente aumenta substantivamente quando um indivíduo se identifica como African, enquanto ter mais recursos como escolaridade e renda não afeta a probabilidade de participar. Já em Belo Horizonte a posse de recursos como renda e escolaridade eleva substantivamente a probabilidade de participar ao passo que a identificação racial não distingue quem participa e quem não participa. Em ambas as cidades, participar em organizações não políticas eleva a probabilidade de participar politicamente. A partir dos resultados, foram defendidos os quatro pontos principais. Em primeiro lugar, diferentemente do esperado pela literatura brasileira sobre raça e comportamento político, a experiência individualizada de discriminação por negros não leva a comportamento político diferenciado entre negros e brancos. Em segundo lugar, os resultados com relação à Cidade do Cabo permitem conjecturar plausivelmente que são fatores próprios ao sistema político derivado da maneira com que a clivagem racial se reflete nas bases sociais de instituições políticas que explicam a relevância da raça no comportamento político nessa cidade Em terceiro lugar, defendeu-se que o movimento de endogeneização da raça nos últimos trabalhos de Verba e seus colaboradores, para o desenvolvimento do Modelo do Voluntarismo Cívico (CVM), apesar de tornar o modelo mais preciso e coerente, não trouxe benefícios heurísticos para a compreensão dos casos aqui analisados em especial em comparação aos primeiros trabalhos de Verba e colaboradores. Por fim, argumentou-se que para o desenvolvimento da teorização sobre a relação entre raça e política é necessário levar em consideração os processos de constituição de raça em cada país, de modo que os mecanismos imputados à raça tenham maior capacidade explicativa.
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Para além de identificar as contribuições (e as críticas a essas contribuições) sobre o papel da raça na participação política na abordagem dos recursos, foram identificadas as proposições das literaturas sobre Brasil e África do Sul, uma vez que foram analisados os casos de Belo Horizonte e da Cidade do Cabo. Para qualificar a análise empírica, lançou-se mão da literatura sobre categorização racial no Brasil e na África do Sul, com o intuito de qualificar as hipóteses e proposições da literatura sobre raça e comportamento político a partir dos significados de raça em cada país. Em síntese, encontrou-se que, na Cidade do Cabo, a probabilidade de participar politicamente aumenta substantivamente quando um indivíduo se identifica como African, enquanto ter mais recursos como escolaridade e renda não afeta a probabilidade de participar. Já em Belo Horizonte a posse de recursos como renda e escolaridade eleva substantivamente a probabilidade de participar ao passo que a identificação racial não distingue quem participa e quem não participa. Em ambas as cidades, participar em organizações não políticas eleva a probabilidade de participar politicamente. A partir dos resultados, foram defendidos os quatro pontos principais. Em primeiro lugar, diferentemente do esperado pela literatura brasileira sobre raça e comportamento político, a experiência individualizada de discriminação por negros não leva a comportamento político diferenciado entre negros e brancos. Em segundo lugar, os resultados com relação à Cidade do Cabo permitem conjecturar plausivelmente que são fatores próprios ao sistema político derivado da maneira com que a clivagem racial se reflete nas bases sociais de instituições políticas que explicam a relevância da raça no comportamento político nessa cidade Em terceiro lugar, defendeu-se que o movimento de endogeneização da raça nos últimos trabalhos de Verba e seus colaboradores, para o desenvolvimento do Modelo do Voluntarismo Cívico (CVM), apesar de tornar o modelo mais preciso e coerente, não trouxe benefícios heurísticos para a compreensão dos casos aqui analisados em especial em comparação aos primeiros trabalhos de Verba e colaboradores. Por fim, argumentou-se que para o desenvolvimento da teorização sobre a relação entre raça e política é necessário levar em consideração os processos de constituição de raça em cada país, de modo que os mecanismos imputados à raça tenham maior capacidade explicativa.The main goal of this thesis is to discuss races role in non-electoral political behavior (participation in political organizations and political activism). Based on the resource-based approach to political participation, especially on works done by Sidney Verba and his coauthors, we describe and discuss the analytical meanings given to race in the debate on political participation. We not only identified the way race was dealt with in the resource-based approach, but we also discussed the main hypotheses on race and political behavior found in the literature on Brazil and South Africa since our empirical cases are Belo Horizonte and Cape Town. In order to further specify our empirical hypotheses on both cases, we discussed the literature on racial classification in Brazil and South Africa. In summary, we found that, in Cape Town, identifying oneself as African greatly increases the probability of participating politically, whereas having resources such as income and schooling does not affect ones likelihood of being political active. On the other hand, in Belo Horizonte, resources such as income and schooling substantively increase ones probability of participating politically while race does not seem to affect an individuals probability of being politically active. In both cities, taking part in non-political organizations plays an important role in determining who participates. Based on these findings, we argue four main points. Firstly, the experience of racial discrimination and prejudice suffered by negros in Brazil does not seem lead to a distinctive pattern of political behavior between negros e brancos differently from what the literature on race and political behavior in Brazil had expected. Secondly, our findings in Cape Town allow us to plausibly argue that are factors related to the way how racial cleavages and social bases of political institutions greatly overlap in South Africa which leads to the prominence of race in Cape Town. Thirdly, we argue that, even though by incorporating race as an endogenous variable in the model developed by Verba in his last works, makes his own model more accurate and internally coherent, his last model did not seem to be more analytically accurate to understand our findings when compared to Verbas first models. Finally, we argue that in order to development a more robust theory on the roles race play in political behavior, one has to take seriously into account that varied meanings of race in different polities, so that the explanatory mechanisms are more precise and accurate.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPLavalle, Adrian GurzaBueno, Natalia Salgado2010-09-16info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8131/tde-12112010-120405/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2016-07-28T16:10:12Zoai:teses.usp.br:tde-12112010-120405Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212016-07-28T16:10:12Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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