Injustiça na mobilidade urbana.
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2023 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
Texto Completo: | https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3138/tde-26102023-112014/ |
Resumo: | A justiça emergiu como uma preocupação na mobilidade e na acessibilidade urbana. Embora alguns pesquisadores tenham adotado a abordagem de \"justiça distributiva\" para estudar empiricamente a acessibilidade na escala urbana, parte da literatura teórica demonstrou as limitações desta abordagem para compreender a injustiça, afirmando assim a exigência de uma perspectiva de \"justiça de mobilidade\". Para a escala do corpo, propomos uma abordagem relacional de mobilidade urbana partindo de injustiças concretas, compreendidas através das lentes de opressão entre grupos sociais. Para operacionalizar esta abordagem para um estudo urbano, propomos uma novo enquadramento teórico que relaciona mobilidade e acessibilidade com o objetivo de desvendar possíveis inter-relações entre diferentes regimes de mobilidade urbana. Usando dados de transações de cartões eletrônicos de transporte público (Bilhete Único) da cidade de São Paulo (Brasil), realizamos uma avaliação empírica que mediu três dimensões centrais da mobilidade (duração do tempo, custo e taxa de ocupação) sob a perspectiva dos usuários de zonas com diferentes raças e classes. Com relação à duração das viagens, constatamos que em situações vantajosas de mobilidade (de 1h a 2h), todas as zonas são resididas por uma população majoritariamente branca, enquanto que nas situações de desvantagem (acima de 3h30), todas as zonas são resididas por populações majoritariamente negras. Com relação ao custo, nas tarifas vantajosas de mobilidade (abaixo de 9 reais), todas as zonas são majoritariamente brancas, enquanto em situações de desvantagem (acima de 18 reais), todas as zonas são majoritariamente negras. Finalmente, adotamos uma nova abordagem para capturar as condições de lotação pela perspectiva do usuário, considerando a duração do trajeto sob um limite de densidade de passageiros dentro do veículo. Esta análise revela que situações de não superlotação (abaixo de 6 passageiros/m²) são enfrentadas apenas por zonas majoritariamente brancas, enquanto deslocamentos acima de 30 minutos em veículos superlotados são enfrentadas apenas por zonas majoritariamente de classe baixa. Os resultados apresentados sugerem que raça e classe informam, em grande medida, os regimes de mobilidade por transporte público na cidade de São Paulo de hoje. O novo enquadramento teórico e as inovações metodológicas apresentadas apontam para uma nova perspectiva de pesquisa sobre mobilidade urbana e políticas de transporte preocupadas com mecanismos estruturais que reproduzem a injustiça da mobilidade urbana. |
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Injustiça na mobilidade urbana.Urban mobility injustice.AccessibilityAcessibilidade ao meio físicoJustiçaJusticeMobilidade urbanaUrban mobilityA justiça emergiu como uma preocupação na mobilidade e na acessibilidade urbana. Embora alguns pesquisadores tenham adotado a abordagem de \"justiça distributiva\" para estudar empiricamente a acessibilidade na escala urbana, parte da literatura teórica demonstrou as limitações desta abordagem para compreender a injustiça, afirmando assim a exigência de uma perspectiva de \"justiça de mobilidade\". Para a escala do corpo, propomos uma abordagem relacional de mobilidade urbana partindo de injustiças concretas, compreendidas através das lentes de opressão entre grupos sociais. Para operacionalizar esta abordagem para um estudo urbano, propomos uma novo enquadramento teórico que relaciona mobilidade e acessibilidade com o objetivo de desvendar possíveis inter-relações entre diferentes regimes de mobilidade urbana. Usando dados de transações de cartões eletrônicos de transporte público (Bilhete Único) da cidade de São Paulo (Brasil), realizamos uma avaliação empírica que mediu três dimensões centrais da mobilidade (duração do tempo, custo e taxa de ocupação) sob a perspectiva dos usuários de zonas com diferentes raças e classes. Com relação à duração das viagens, constatamos que em situações vantajosas de mobilidade (de 1h a 2h), todas as zonas são resididas por uma população majoritariamente branca, enquanto que nas situações de desvantagem (acima de 3h30), todas as zonas são resididas por populações majoritariamente negras. Com relação ao custo, nas tarifas vantajosas de mobilidade (abaixo de 9 reais), todas as zonas são majoritariamente brancas, enquanto em situações de desvantagem (acima de 18 reais), todas as zonas são majoritariamente negras. Finalmente, adotamos uma nova abordagem para capturar as condições de lotação pela perspectiva do usuário, considerando a duração do trajeto sob um limite de densidade de passageiros dentro do veículo. Esta análise revela que situações de não superlotação (abaixo de 6 passageiros/m²) são enfrentadas apenas por zonas majoritariamente brancas, enquanto deslocamentos acima de 30 minutos em veículos superlotados são enfrentadas apenas por zonas majoritariamente de classe baixa. Os resultados apresentados sugerem que raça e classe informam, em grande medida, os regimes de mobilidade por transporte público na cidade de São Paulo de hoje. O novo enquadramento teórico e as inovações metodológicas apresentadas apontam para uma nova perspectiva de pesquisa sobre mobilidade urbana e políticas de transporte preocupadas com mecanismos estruturais que reproduzem a injustiça da mobilidade urbana.Justice has emerged as a significant concern in urban mobility and accessibility. Although some scholars adopted the distributive justice approach to empirically study accessibility at the urban scale, a greater extent of theoretical literature has demonstrated the limitations of this approach to understanding injustice, thereby stating the requirement of a mobility justice perspective. For the bodily scale, we propose an urban mobility relational approach departing from concrete injustices, understood through the lenses of oppression between social groups. To operationalize this approach for an urban study, we propose a new mobility-accessibility juxtaposing framework that enables disentangling possible interrelations between various urban mobilities regimes. Using smart card data of public transport from the Global South city of São Paulo (Brazil), we performed an empirical evaluation that measured three central dimensions of mobility (time duration, fare cost, and crowding) from transit users that home zones have distinct shares of races and classes. Regarding the time duration of trips, we found that in advantageous mobility situations (from 1h to 2h), all the home zones are majority white, whereas in the disadvantageous (above 3h30), all the zones are majority black. Regarding cost, in advantageous mobility fares (below 9 Brazilian reals), all the zones are majority white, whereas at the disadvantageous (above 18 Brazilian reals), all the zones are majority black. Finally, we adopted a novel approach to capturing the crowding conditions from the users perspective, considering the commuting duration under a minimum in-vehicle passenger density threshold. This analysis reveals that situations of no overcrowding (below 6 passenger/m²) are faced only by majority white zones, whereas above 30 minutes in overcrowded vehicles are only faced by majority lower-class zones. The presented findings suggest that race and class inform, to a large extent, the mobility regimes by public transport in the city of São Paulo today. The new theoretical framework and the methodological innovations presented point towards a novel perspective for urban mobility research and transport policies concerned with structural mechanisms that reproduce urban mobility injustice.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPGiannotti, Mariana AbrantesLogiodice, Pedro da Cunha Rego2023-03-15info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3138/tde-26102023-112014/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2023-10-27T14:06:02Zoai:teses.usp.br:tde-26102023-112014Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212023-10-27T14:06:02Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false |
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