O novo engajamento cultural: militância e trabalho com políticas públicas em São Paulo

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Oliveira, Taiguara Belo de
Data de Publicação: 2018
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27154/tde-20072018-112445/
Resumo: Este trabalho investiga os processos constitutivos, as condições de atuação e o sentido político do que chama de novo engajamento cultural. Desde os anos 1990 surge na cidade de São Paulo um novo conjunto de experiências associativas informais, autodenominadas coletivos, que atualizam as formas de relacionamento entre o fazer cultural e a militância política. Essa nova configuração político-cultural notabiliza-se por se aliar a temáticas cotidianas que emanam do meio social dos públicos ou territórios com que estão envolvidos ao mesmo tempo em que direciona seus esforços para fazer do coletivo um espaço de experimentação de novas relações produtivas. Do mesmo modo, o fenômeno parece desenvolver-se nos termos de novas modalidades laborais, já que a formação de coletivos aparece também como via alternativa de acesso a subvenções públicas propiciadas pelas novas políticas culturais estruturadas por sistemas de financiamento direto a projetos selecionados através de editais públicos. A hipótese é de que a emergência do novo engajamento cultural é estreitamente vinculada com o paradigma antropológico de política cultural que se firmou no país ao longo dos anos 2000, favorecendo-se das modulações políticas operadas pela era de hegemonia dos governos progressistas. Para tanto, privilegia como arco histórico de análise os debates, formulações e impasses enfrentados pelas instâncias organizativas de dois movimentos culturais que se formaram ao redor de dois programas públicos municipais: o Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo, de 2002, e a breve experiência do Fomento à Cultura da Periferia de São Paulo, de 2016. Isso é feito através de observação direta participante (no período 2011-2017) em espaços organizativos dos movimentos; análise de dados secundários compostos por atas, legislações, projetos e outros documentos atinentes à relação entre coletivos e poder público; e pesquisa bibliográfica que permitiu pensar, por diferentes perspectivas, o atual papel da cultura frente às transformações mais recentes do sistema capitalista. Em seus resultados, a pesquisa sugere que a agenda cultural antropológica, forjada em sintonia com as novas estratégias de gerenciamento político global e com a centralidade assumida pela cultura na nova etapa de acumulação, degenera o sentido político destas pequenas experiências ao instrumentalizar a capacidade mobilizadora e auto-organizativa demonstrada por elas. Intrínsecos ao novo paradigma, os sistemas de financiamento baseado na forma-edital serviram a que a norma competitiva neoliberal se infiltrasse nestes pequenos ensaios organizativos informais, o que reduziu o potencial emancipador aí presente a uma forma subordinada de trabalho e transformou os processos interativos por eles produzidos em novas espécies de mercadoria.
id USP_dad44d1984fc43484564e18a69167f9c
oai_identifier_str oai:teses.usp.br:tde-20072018-112445
network_acronym_str USP
network_name_str Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
repository_id_str 2721
spelling O novo engajamento cultural: militância e trabalho com políticas públicas em São PauloThe new cultural engagement: militancy and work with public policies in São PauloAtivismo culturalColetivos culturaisCultural activismCultural collectivesCultural public policiesCultural workPolíticas públicas culturaisTrabalho culturalEste trabalho investiga os processos constitutivos, as condições de atuação e o sentido político do que chama de novo engajamento cultural. Desde os anos 1990 surge na cidade de São Paulo um novo conjunto de experiências associativas informais, autodenominadas coletivos, que atualizam as formas de relacionamento entre o fazer cultural e a militância política. Essa nova configuração político-cultural notabiliza-se por se aliar a temáticas cotidianas que emanam do meio social dos públicos ou territórios com que estão envolvidos ao mesmo tempo em que direciona seus esforços para fazer do coletivo um espaço de experimentação de novas relações produtivas. Do mesmo modo, o fenômeno parece desenvolver-se nos termos de novas modalidades laborais, já que a formação de coletivos aparece também como via alternativa de acesso a subvenções públicas propiciadas pelas novas políticas culturais estruturadas por sistemas de financiamento direto a projetos selecionados através de editais públicos. A hipótese é de que a emergência do novo engajamento cultural é estreitamente vinculada com o paradigma antropológico de política cultural que se firmou no país ao longo dos anos 2000, favorecendo-se das modulações políticas operadas pela era de hegemonia dos governos progressistas. Para tanto, privilegia como arco histórico de análise os debates, formulações e impasses enfrentados pelas instâncias organizativas de dois movimentos culturais que se formaram ao redor de dois programas públicos municipais: o Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo, de 2002, e a breve experiência do Fomento à Cultura da Periferia de São Paulo, de 2016. Isso é feito através de observação direta participante (no período 2011-2017) em espaços organizativos dos movimentos; análise de dados secundários compostos por atas, legislações, projetos e outros documentos atinentes à relação entre coletivos e poder público; e pesquisa bibliográfica que permitiu pensar, por diferentes perspectivas, o atual papel da cultura frente às transformações mais recentes do sistema capitalista. Em seus resultados, a pesquisa sugere que a agenda cultural antropológica, forjada em sintonia com as novas estratégias de gerenciamento político global e com a centralidade assumida pela cultura na nova etapa de acumulação, degenera o sentido político destas pequenas experiências ao instrumentalizar a capacidade mobilizadora e auto-organizativa demonstrada por elas. Intrínsecos ao novo paradigma, os sistemas de financiamento baseado na forma-edital serviram a que a norma competitiva neoliberal se infiltrasse nestes pequenos ensaios organizativos informais, o que reduziu o potencial emancipador aí presente a uma forma subordinada de trabalho e transformou os processos interativos por eles produzidos em novas espécies de mercadoria.This work researches the constitutive processes, the conditions of action and the political sense of what it calls a new cultural engagement. Since the 1990s a new set of informal associative experiences, self-described collectives, has emerged in the city of São Paulo and updated the forms of relationship between cultural making and political activism. This new political-cultural composition is notable for its alliance with the everyday themes emanating from the social milieu of the public or territory with which they are involved. At the same time, there are direct efforts to experiment new productive relations inside the collectives. Likewise, the phenomenon seems to develop in terms of new forms of labor, since constituting collectives also appears as an alternative way to access public subsidies through new cultural policies that fund projects which are selected in open calls. The hypothesis is that the emergence of the new cultural engagement is closely linked to the anthropological paradigm of cultural policy that was established in the country during the years 2000, favored by political modulations operated by an era of hegemony of progressive governments. In order to do so, it analises the historical arc of debates, formulations and impasses faced by the organizational instances of two cultural movements that were formed around two municipal public plans: Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo, established in 2002, and the brief experience of Fomento à Cultura da Periferia, established in 2016. This is done through participant direct observation in organizational spaces of the movements (during the period of 2011-2017); analysis of secondary data composed by minutes, laws, projects and other documents concerning the relationship between collectives and public power; and bibliographical research as subsidy to reflect, from different perspectives, on the current role of culture in face of the most recent transformations of the capitalist system. In its conclusions, this research suggests that the anthropological cultural agenda, forged in tune with the new global political management strategies and with the centrality assumed by culture in the new stage of accumulation, degenerates the political meaning of those small experiences by instrumentalizing their demonstrated mobilizing and self-organization capacity. The funding systems based on the open call form, intrinsic to the new paradigm, served to the infiltration of the neoliberal competitive norm into these small informal organizational experiments; reducing thus the emancipatory potential present there to a subordinate form of work and transforming the interactive processes they produced into new types of commodity.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPFrederico, CelsoOliveira, Taiguara Belo de2018-04-23info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27154/tde-20072018-112445/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2018-10-03T01:45:28Zoai:teses.usp.br:tde-20072018-112445Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212018-10-03T01:45:28Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
dc.title.none.fl_str_mv O novo engajamento cultural: militância e trabalho com políticas públicas em São Paulo
The new cultural engagement: militancy and work with public policies in São Paulo
title O novo engajamento cultural: militância e trabalho com políticas públicas em São Paulo
spellingShingle O novo engajamento cultural: militância e trabalho com políticas públicas em São Paulo
Oliveira, Taiguara Belo de
Ativismo cultural
Coletivos culturais
Cultural activism
Cultural collectives
Cultural public policies
Cultural work
Políticas públicas culturais
Trabalho cultural
title_short O novo engajamento cultural: militância e trabalho com políticas públicas em São Paulo
title_full O novo engajamento cultural: militância e trabalho com políticas públicas em São Paulo
title_fullStr O novo engajamento cultural: militância e trabalho com políticas públicas em São Paulo
title_full_unstemmed O novo engajamento cultural: militância e trabalho com políticas públicas em São Paulo
title_sort O novo engajamento cultural: militância e trabalho com políticas públicas em São Paulo
author Oliveira, Taiguara Belo de
author_facet Oliveira, Taiguara Belo de
author_role author
dc.contributor.none.fl_str_mv Frederico, Celso
dc.contributor.author.fl_str_mv Oliveira, Taiguara Belo de
dc.subject.por.fl_str_mv Ativismo cultural
Coletivos culturais
Cultural activism
Cultural collectives
Cultural public policies
Cultural work
Políticas públicas culturais
Trabalho cultural
topic Ativismo cultural
Coletivos culturais
Cultural activism
Cultural collectives
Cultural public policies
Cultural work
Políticas públicas culturais
Trabalho cultural
description Este trabalho investiga os processos constitutivos, as condições de atuação e o sentido político do que chama de novo engajamento cultural. Desde os anos 1990 surge na cidade de São Paulo um novo conjunto de experiências associativas informais, autodenominadas coletivos, que atualizam as formas de relacionamento entre o fazer cultural e a militância política. Essa nova configuração político-cultural notabiliza-se por se aliar a temáticas cotidianas que emanam do meio social dos públicos ou territórios com que estão envolvidos ao mesmo tempo em que direciona seus esforços para fazer do coletivo um espaço de experimentação de novas relações produtivas. Do mesmo modo, o fenômeno parece desenvolver-se nos termos de novas modalidades laborais, já que a formação de coletivos aparece também como via alternativa de acesso a subvenções públicas propiciadas pelas novas políticas culturais estruturadas por sistemas de financiamento direto a projetos selecionados através de editais públicos. A hipótese é de que a emergência do novo engajamento cultural é estreitamente vinculada com o paradigma antropológico de política cultural que se firmou no país ao longo dos anos 2000, favorecendo-se das modulações políticas operadas pela era de hegemonia dos governos progressistas. Para tanto, privilegia como arco histórico de análise os debates, formulações e impasses enfrentados pelas instâncias organizativas de dois movimentos culturais que se formaram ao redor de dois programas públicos municipais: o Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo, de 2002, e a breve experiência do Fomento à Cultura da Periferia de São Paulo, de 2016. Isso é feito através de observação direta participante (no período 2011-2017) em espaços organizativos dos movimentos; análise de dados secundários compostos por atas, legislações, projetos e outros documentos atinentes à relação entre coletivos e poder público; e pesquisa bibliográfica que permitiu pensar, por diferentes perspectivas, o atual papel da cultura frente às transformações mais recentes do sistema capitalista. Em seus resultados, a pesquisa sugere que a agenda cultural antropológica, forjada em sintonia com as novas estratégias de gerenciamento político global e com a centralidade assumida pela cultura na nova etapa de acumulação, degenera o sentido político destas pequenas experiências ao instrumentalizar a capacidade mobilizadora e auto-organizativa demonstrada por elas. Intrínsecos ao novo paradigma, os sistemas de financiamento baseado na forma-edital serviram a que a norma competitiva neoliberal se infiltrasse nestes pequenos ensaios organizativos informais, o que reduziu o potencial emancipador aí presente a uma forma subordinada de trabalho e transformou os processos interativos por eles produzidos em novas espécies de mercadoria.
publishDate 2018
dc.date.none.fl_str_mv 2018-04-23
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/doctoralThesis
format doctoralThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27154/tde-20072018-112445/
url http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27154/tde-20072018-112445/
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.relation.none.fl_str_mv
dc.rights.driver.fl_str_mv Liberar o conteúdo para acesso público.
info:eu-repo/semantics/openAccess
rights_invalid_str_mv Liberar o conteúdo para acesso público.
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.coverage.none.fl_str_mv
dc.publisher.none.fl_str_mv Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
publisher.none.fl_str_mv Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
dc.source.none.fl_str_mv
reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
instname:Universidade de São Paulo (USP)
instacron:USP
instname_str Universidade de São Paulo (USP)
instacron_str USP
institution USP
reponame_str Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
collection Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
repository.name.fl_str_mv Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)
repository.mail.fl_str_mv virginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.br
_version_ 1809090895414296576