Socioecologia de Sapajus xanthosternos na Reserva Biológica de Una, sul da Bahia
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2014 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
Texto Completo: | http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47132/tde-02102014-110852/ |
Resumo: | A socioecologia investiga o efeito de fatores ecológicos sobre padrões de sistema social. Para muitos animais, o risco de predação tem sido apontado como a principal força seletiva favorecendo a sociabilidade. Entretanto, como determinante na variação dos sistemas sociais de primatas, esse fator tem sido considerado menos importante do que a competição por alimento. Os objetivos deste estudo foram (1) investigar a influência da disponibilidade de alimento e do risco de predação no uso do habitat pelo grupo estudado, para avaliarmos se o risco de predação é um fator relevante para essa população, (2) caracterizar o sistema social e (3) investigar se o risco de predação e/ou a oferta de alimento afetam o sistema social de Sapajus xanthosternos, espécie Criticamente ameaçada devido à caça e destruição do seu habitat, o que a torna relevante para o teste de hipóteses. Esta pesquisa foi realizada na Reserva Biológica de Una, cuja vegetação é classificada como floresta de tabuleiro e, na qual a população estudada ainda sofre pressão de caça. Um grupo foi acompanhado por 16 meses, num total de 2126 horas. O risco de predação foi avaliado em função do comportamento de vigilância, vocalizações de alarme, encontros com predadores e indícios de caça. Por meio do método focal árvore alimentação avaliamos o tamanho e qualidade das fontes agregadas. As interações agonísticas e afiliativas foram registradas pelo método de todas as ocorrências. A área de vida e os percursos diários foram calculados para avaliarmos a competição indireta intra e entre grupos. Os resultados foram comparados com os obtidos para uma população de S. nigritus e uma de S. libidinosus. O uso do habitat pelo grupo foi influenciado tanto pela distribuição e disponibilidade de recursos alimentares quanto pelo risco de predação. Os macacos-prego na Rebio Una formam grupos grandes e coesos, com filopatria de fêmeas e, a população é caracterizada por fissão de grupos grandes. O grande tamanho dos grupos favorece a hipótese de que o tamanho mínimo de grupo é determinado pelo risco de predação. O grupo apresentou um elevado número de machos (esperado devido ao número de fêmeas), o que também é considerado por alguns estudos como evidência de alto risco de predação. A estratégia reprodutiva das fêmeas foi relacionada à organização social e, consequentemente, ao risco de predação. S. xanthosternos consome tanto recursos agregados quanto dispersos e despendeu uma alta proporção de tempo forrageando por invertebrados. A hierarquia de dominância entre fêmeas foi parcial e as fêmeas de alto posto alimentaram-se conjuntamente com as fêmeas de baixo posto em fontes agregadas, enfatizando que fêmeas apresentaram relações tolerantes. A maioria das fontes agregadas utilizadas foi de tamanho intermediário em relação ao tamanho do grupo e produtiva e a competição direta por alimento envolvendo fêmeas intra-grupo não foi baixa. A competição indireta intra-grupo foi elevada, o que se constata pelas altas taxas de deslocamento e pelas grandes distâncias diárias percorridas. A competição direta entre grupos foi baixa e o risco de predação percebido foi alto em comparação com outros estudos. O padrão de sistema social, com grupo grande, elevado número de machos, e fêmeas com alto grau de afiliação e tolerância não está de acordo com o esperado por modelos que só consideram o efeito da competição por alimento, e sugere que o risco de predação afeta os componentes que caracterizam o sistema social deste grupo. Em conclusão, o sistema social de S. xanthosternos nesta população é uma resposta à pressão de predação e à oferta de alimento |
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Socioecologia de Sapajus xanthosternos na Reserva Biológica de Una, sul da BahiaSocioecology of Sapajus xanthosternos at Una Biological Reserve, south of BahiaCapuchin monkeysCompetição alimentarDietDietaFood competitionMacacos-pregoPerceived predation riskPercepção de riscoPrimates social systemsRange useRelações sociaisSapajus xanthosternosSapajus xanthosternosSistemas sociais de primatasSocial relationshipsSocioecologiaSocioecologyUso do espaçoA socioecologia investiga o efeito de fatores ecológicos sobre padrões de sistema social. Para muitos animais, o risco de predação tem sido apontado como a principal força seletiva favorecendo a sociabilidade. Entretanto, como determinante na variação dos sistemas sociais de primatas, esse fator tem sido considerado menos importante do que a competição por alimento. Os objetivos deste estudo foram (1) investigar a influência da disponibilidade de alimento e do risco de predação no uso do habitat pelo grupo estudado, para avaliarmos se o risco de predação é um fator relevante para essa população, (2) caracterizar o sistema social e (3) investigar se o risco de predação e/ou a oferta de alimento afetam o sistema social de Sapajus xanthosternos, espécie Criticamente ameaçada devido à caça e destruição do seu habitat, o que a torna relevante para o teste de hipóteses. Esta pesquisa foi realizada na Reserva Biológica de Una, cuja vegetação é classificada como floresta de tabuleiro e, na qual a população estudada ainda sofre pressão de caça. Um grupo foi acompanhado por 16 meses, num total de 2126 horas. O risco de predação foi avaliado em função do comportamento de vigilância, vocalizações de alarme, encontros com predadores e indícios de caça. Por meio do método focal árvore alimentação avaliamos o tamanho e qualidade das fontes agregadas. As interações agonísticas e afiliativas foram registradas pelo método de todas as ocorrências. A área de vida e os percursos diários foram calculados para avaliarmos a competição indireta intra e entre grupos. Os resultados foram comparados com os obtidos para uma população de S. nigritus e uma de S. libidinosus. O uso do habitat pelo grupo foi influenciado tanto pela distribuição e disponibilidade de recursos alimentares quanto pelo risco de predação. Os macacos-prego na Rebio Una formam grupos grandes e coesos, com filopatria de fêmeas e, a população é caracterizada por fissão de grupos grandes. O grande tamanho dos grupos favorece a hipótese de que o tamanho mínimo de grupo é determinado pelo risco de predação. O grupo apresentou um elevado número de machos (esperado devido ao número de fêmeas), o que também é considerado por alguns estudos como evidência de alto risco de predação. A estratégia reprodutiva das fêmeas foi relacionada à organização social e, consequentemente, ao risco de predação. S. xanthosternos consome tanto recursos agregados quanto dispersos e despendeu uma alta proporção de tempo forrageando por invertebrados. A hierarquia de dominância entre fêmeas foi parcial e as fêmeas de alto posto alimentaram-se conjuntamente com as fêmeas de baixo posto em fontes agregadas, enfatizando que fêmeas apresentaram relações tolerantes. A maioria das fontes agregadas utilizadas foi de tamanho intermediário em relação ao tamanho do grupo e produtiva e a competição direta por alimento envolvendo fêmeas intra-grupo não foi baixa. A competição indireta intra-grupo foi elevada, o que se constata pelas altas taxas de deslocamento e pelas grandes distâncias diárias percorridas. A competição direta entre grupos foi baixa e o risco de predação percebido foi alto em comparação com outros estudos. O padrão de sistema social, com grupo grande, elevado número de machos, e fêmeas com alto grau de afiliação e tolerância não está de acordo com o esperado por modelos que só consideram o efeito da competição por alimento, e sugere que o risco de predação afeta os componentes que caracterizam o sistema social deste grupo. Em conclusão, o sistema social de S. xanthosternos nesta população é uma resposta à pressão de predação e à oferta de alimentoSocioecology studies the effect ecological factors have on social system patterns. The predation risk has been said as the main selective force to favoring the sociability in many animals. However, as a determinant in variation of primates social systems, this fact has been considered less important than competition for food. The objectives of this study were (1) investigating how much the availability of food and the predation risk affect the habitat use by the group followed, in order to evaluate if the predation risk is a relevant issue in this population, (2) characterizing the social system and (3) investigating if the predation risk and/or availability of food affect the social system of Sapajus xanthosternos, a critically endangered species, owing to its hunting and habitat destruction, such fact makes it relevant for the hypothesis test. This study was made at the Una Biological Reserve, where the vegetation is classified as tabuleiro forest. The population in focus suffers from hunting stress. A group was followed during 16 months, a total of 2126 hours. The predation risk was evaluated concerning their vigilance behaviour, alarm vocalization, encounters with predators and hunting indication. We evaluated the size and the quality of the clumped food sources through the focal tree food method. Agonistic and affiliative interactions were recorded through all occurrences method. Home range and the daily traveling distances were calculated to evaluate if females experienced scramble competition within and between groups. The results were compared to the ones that had been obtained from a previous study with the population of the species S. nigritus and S. libidinosus. The use of habitat by the group was not only influenced by the distribution and availability food resources but also by the predation risk. The capuchin monkeys in Rebio Una live in large and cohesive groups, show female philopatry, and fission of very large groups. The large size of the groups favours the hypothesis that the minimum size of a group is determined by the predation risk. The group has shown a high number of males (expected due to the high number of females), a fact that is also considered by some studies as evidence of high predation risk. Female reproductive strategies were related to social organization and, therefore, to predation risk. S. xanthosternos consumes clumped and dispersed resources and spent more time foraging for invertebrates. There was a partial dominance hierarchy among females and the high-ranking females ate with the low-ranking females in clumped food sources. Such fact emphasizes that females hold tolerant relations. The majority of used clumped food sources had an intermediate size, concerning the size of the group, and was productive. The contest competition within group for food involving females was not low. Scramble competition within group was high, as shown by the high moving rates and the long daily travel distance. Contest competition between groups was low and the perceived predation risk was high in comparison to other studies. The social system pattern - large group size, high sex ratio, and females that show a high level of affiliation and tolerance - is not in accordance with the expected by models that only consider the result of competition for food. It suggests that the risk of predation affects the elements of social system in this group. As a conclusion, the social system of S. xanthosternos is affected by the risk of predation and food availabilityBiblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPMauro, Patricia IzarGouveia, Priscila Suscke2014-04-10info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47132/tde-02102014-110852/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2016-10-06T06:00:06Zoai:teses.usp.br:tde-02102014-110852Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212016-10-06T06:00:06Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false |
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A socioecologia investiga o efeito de fatores ecológicos sobre padrões de sistema social. Para muitos animais, o risco de predação tem sido apontado como a principal força seletiva favorecendo a sociabilidade. Entretanto, como determinante na variação dos sistemas sociais de primatas, esse fator tem sido considerado menos importante do que a competição por alimento. Os objetivos deste estudo foram (1) investigar a influência da disponibilidade de alimento e do risco de predação no uso do habitat pelo grupo estudado, para avaliarmos se o risco de predação é um fator relevante para essa população, (2) caracterizar o sistema social e (3) investigar se o risco de predação e/ou a oferta de alimento afetam o sistema social de Sapajus xanthosternos, espécie Criticamente ameaçada devido à caça e destruição do seu habitat, o que a torna relevante para o teste de hipóteses. Esta pesquisa foi realizada na Reserva Biológica de Una, cuja vegetação é classificada como floresta de tabuleiro e, na qual a população estudada ainda sofre pressão de caça. Um grupo foi acompanhado por 16 meses, num total de 2126 horas. O risco de predação foi avaliado em função do comportamento de vigilância, vocalizações de alarme, encontros com predadores e indícios de caça. Por meio do método focal árvore alimentação avaliamos o tamanho e qualidade das fontes agregadas. As interações agonísticas e afiliativas foram registradas pelo método de todas as ocorrências. A área de vida e os percursos diários foram calculados para avaliarmos a competição indireta intra e entre grupos. Os resultados foram comparados com os obtidos para uma população de S. nigritus e uma de S. libidinosus. O uso do habitat pelo grupo foi influenciado tanto pela distribuição e disponibilidade de recursos alimentares quanto pelo risco de predação. Os macacos-prego na Rebio Una formam grupos grandes e coesos, com filopatria de fêmeas e, a população é caracterizada por fissão de grupos grandes. O grande tamanho dos grupos favorece a hipótese de que o tamanho mínimo de grupo é determinado pelo risco de predação. O grupo apresentou um elevado número de machos (esperado devido ao número de fêmeas), o que também é considerado por alguns estudos como evidência de alto risco de predação. A estratégia reprodutiva das fêmeas foi relacionada à organização social e, consequentemente, ao risco de predação. S. xanthosternos consome tanto recursos agregados quanto dispersos e despendeu uma alta proporção de tempo forrageando por invertebrados. A hierarquia de dominância entre fêmeas foi parcial e as fêmeas de alto posto alimentaram-se conjuntamente com as fêmeas de baixo posto em fontes agregadas, enfatizando que fêmeas apresentaram relações tolerantes. A maioria das fontes agregadas utilizadas foi de tamanho intermediário em relação ao tamanho do grupo e produtiva e a competição direta por alimento envolvendo fêmeas intra-grupo não foi baixa. A competição indireta intra-grupo foi elevada, o que se constata pelas altas taxas de deslocamento e pelas grandes distâncias diárias percorridas. A competição direta entre grupos foi baixa e o risco de predação percebido foi alto em comparação com outros estudos. O padrão de sistema social, com grupo grande, elevado número de machos, e fêmeas com alto grau de afiliação e tolerância não está de acordo com o esperado por modelos que só consideram o efeito da competição por alimento, e sugere que o risco de predação afeta os componentes que caracterizam o sistema social deste grupo. Em conclusão, o sistema social de S. xanthosternos nesta população é uma resposta à pressão de predação e à oferta de alimento |
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