Virtude e conhecimento no Prótagoras de Platão
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2018 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
Texto Completo: | http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8133/tde-31082018-115459/ |
Resumo: | Do conjunto dos chamados primeiros diálogos de Platão, o Protágoras destaca-se como a obra em que é apresentada mais sistematicamente a doutrina conhecida como intelectualismo ético. Grosso modo, trata-se de compreender os temas éticos, como as virtudes ou excelências morais (justiça, piedade, sabedoria, temperança e coragem), exclusivamente como resultado de um processo cognitivo; em outros termos, trata-se de afirmar que os assuntos éticos para uma correta apreciação exigem a consideração de um tipo de conhecimento, que, sob esse diapasão, mostrar-se-á como o conhecimento do bem. O final do Protágoras apresenta esse ponto com clareza. Ali, as virtudes discutidas ao longo do diálogo são, a rigor, uma só coisa, a saber, conhecimento. A doutrina ética intelectualista conduz a consequências que não deixaram de ser exploradas por Platão nos primeiros diálogos, notadamente no Protágoras. Primeiramente, reduz-se com isso a multiplicidade das manifestações da excelência humana à posse de um conhecimento, problema que deixará sua herança à literatura antiga e que chega aos estudos eruditos contemporâneos como a questão da unidade das virtudes; em segundo lugar, o papel destacado do conhecimento na compreensão da vida ética requer a compreensão da relação deste com outros elementos fundamentais e reconhecidos, igualmente decisivos para a alma humana e para determinação das ações, como os apetites e as paixões. Este último ponto surge devido à constatação abundante nos diálogos da primeira fase de Platão, corroborada exemplarmente pelo Protágoras, de que o conhecimento é condição não apenas necessária, mas também suficiente para a obtenção e o exercício das virtudes, de modo que nenhum elemento extracognitivo (como o são paixões e apetites) é capaz de desviar a rota de ação indicada pelo conhecimento. Sendo o conhecimento do bem que caracteriza a virtude, hegemônico quando presente na alma humana, qual papel, portanto, seria reservado para paixões e apetites na ética dos primeiros diálogos? Uma doutrina que articula esses dois pontos é avançada no Protágoras, sendo este o diálogo que sistematiza e aprofunda as teorias socráticas presentes nos demais diálogos do conjunto. Nesse sentido, proponho um exame da relação entre virtude e conhecimento no Protágoras, dividido em duas partes: a primeira parte lidando mais diretamente com o problema da unidade das virtudes, enquanto a segunda investigará o sentido do intelectualismo ético segundo a relação entre conhecimento e elementos não cognitivos, parte na qual o exame de uma virtude particular receberá destaque: a coragem. |
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Virtude e conhecimento no Prótagoras de PlatãoVirtue andknowledge in Platos ProtagorasConhecimentoCoragemCourageKnowledgePlatãoPlatoProtagorasProtágorasVirtudeVirtueDo conjunto dos chamados primeiros diálogos de Platão, o Protágoras destaca-se como a obra em que é apresentada mais sistematicamente a doutrina conhecida como intelectualismo ético. Grosso modo, trata-se de compreender os temas éticos, como as virtudes ou excelências morais (justiça, piedade, sabedoria, temperança e coragem), exclusivamente como resultado de um processo cognitivo; em outros termos, trata-se de afirmar que os assuntos éticos para uma correta apreciação exigem a consideração de um tipo de conhecimento, que, sob esse diapasão, mostrar-se-á como o conhecimento do bem. O final do Protágoras apresenta esse ponto com clareza. Ali, as virtudes discutidas ao longo do diálogo são, a rigor, uma só coisa, a saber, conhecimento. A doutrina ética intelectualista conduz a consequências que não deixaram de ser exploradas por Platão nos primeiros diálogos, notadamente no Protágoras. Primeiramente, reduz-se com isso a multiplicidade das manifestações da excelência humana à posse de um conhecimento, problema que deixará sua herança à literatura antiga e que chega aos estudos eruditos contemporâneos como a questão da unidade das virtudes; em segundo lugar, o papel destacado do conhecimento na compreensão da vida ética requer a compreensão da relação deste com outros elementos fundamentais e reconhecidos, igualmente decisivos para a alma humana e para determinação das ações, como os apetites e as paixões. Este último ponto surge devido à constatação abundante nos diálogos da primeira fase de Platão, corroborada exemplarmente pelo Protágoras, de que o conhecimento é condição não apenas necessária, mas também suficiente para a obtenção e o exercício das virtudes, de modo que nenhum elemento extracognitivo (como o são paixões e apetites) é capaz de desviar a rota de ação indicada pelo conhecimento. Sendo o conhecimento do bem que caracteriza a virtude, hegemônico quando presente na alma humana, qual papel, portanto, seria reservado para paixões e apetites na ética dos primeiros diálogos? Uma doutrina que articula esses dois pontos é avançada no Protágoras, sendo este o diálogo que sistematiza e aprofunda as teorias socráticas presentes nos demais diálogos do conjunto. Nesse sentido, proponho um exame da relação entre virtude e conhecimento no Protágoras, dividido em duas partes: a primeira parte lidando mais diretamente com o problema da unidade das virtudes, enquanto a segunda investigará o sentido do intelectualismo ético segundo a relação entre conhecimento e elementos não cognitivos, parte na qual o exame de uma virtude particular receberá destaque: a coragem.Among Platos first dialogues, the Protagoras stands out as the work in which the so called ethical intellectualism is exposed in the most systematic manner. Roughly, in ethical intellectualism, ethical themes such as virtues or moral excellences (justice, piety, wisdom, temperance and courage) are defined exclusively as the result of a cognitive process; in other terms, for ethical matters to be correctly understood, a certain knowledge must be considered; in this case, knowledge of the good. This point is made clear at the end of the Protagoras: all virtues discussed throughout the dialogue are strictly one thing, namely knowledge. The consequences of the intellectualist ethical doctrine were also explored by Plato in his first dialogues, especially in the Protagoras. First, the multiplicity of different manifestations of human excellence are thus reduced to the possession of a knowledge, a problem that was thoroughly explored in ancient literature and resulted, contemporarily, in the question of the unity of virtue. Secondly, the central role of knowledge in the comprehension of the ethical life requires the comprehension of the relation between knowledge and other admittedly fundamental aspects such as appetites and passions that are decisive to the human soul and crucial to determine ones actions. This latter point arises from the abundant observation in Platos first dialogues, especially in the Protagoras, that knowledge is not only a necessary condition but also a sufficient condition to obtain and exercise virtue in such a way that no extracognitive element (such as passions and appetites) is able to interfere in the path of action indicated by knowledge. If knowledge of the good is what defines virtue and if it is hegemonic when present in the human soul, what role is left to passions and appetites in the ethics of the first dialogues? These two points are articulated in the doctrine that is exposed in the Protagoras, a dialogue that deepens and systematizes Socrates theories discussed in the other dialogues from this period. Therefore, I intend to examine the relation between virtue and knowledge in the Protagoras. This work is divided in two parts: in the first, I deal with the problem of the unity of virtues; in the second part, I investigate the meaning of ethical intellectualism in view of the relation between knowledge and non-cognitive elements, and one particular virtue shall be examined: courage.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPZingano, Marco Antonio de AvilaMiranda, Marcos Tadeu Neira2018-03-13info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8133/tde-31082018-115459/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2018-10-03T01:45:28Zoai:teses.usp.br:tde-31082018-115459Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212018-10-03T01:45:28Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false |
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Do conjunto dos chamados primeiros diálogos de Platão, o Protágoras destaca-se como a obra em que é apresentada mais sistematicamente a doutrina conhecida como intelectualismo ético. Grosso modo, trata-se de compreender os temas éticos, como as virtudes ou excelências morais (justiça, piedade, sabedoria, temperança e coragem), exclusivamente como resultado de um processo cognitivo; em outros termos, trata-se de afirmar que os assuntos éticos para uma correta apreciação exigem a consideração de um tipo de conhecimento, que, sob esse diapasão, mostrar-se-á como o conhecimento do bem. O final do Protágoras apresenta esse ponto com clareza. Ali, as virtudes discutidas ao longo do diálogo são, a rigor, uma só coisa, a saber, conhecimento. A doutrina ética intelectualista conduz a consequências que não deixaram de ser exploradas por Platão nos primeiros diálogos, notadamente no Protágoras. Primeiramente, reduz-se com isso a multiplicidade das manifestações da excelência humana à posse de um conhecimento, problema que deixará sua herança à literatura antiga e que chega aos estudos eruditos contemporâneos como a questão da unidade das virtudes; em segundo lugar, o papel destacado do conhecimento na compreensão da vida ética requer a compreensão da relação deste com outros elementos fundamentais e reconhecidos, igualmente decisivos para a alma humana e para determinação das ações, como os apetites e as paixões. Este último ponto surge devido à constatação abundante nos diálogos da primeira fase de Platão, corroborada exemplarmente pelo Protágoras, de que o conhecimento é condição não apenas necessária, mas também suficiente para a obtenção e o exercício das virtudes, de modo que nenhum elemento extracognitivo (como o são paixões e apetites) é capaz de desviar a rota de ação indicada pelo conhecimento. Sendo o conhecimento do bem que caracteriza a virtude, hegemônico quando presente na alma humana, qual papel, portanto, seria reservado para paixões e apetites na ética dos primeiros diálogos? Uma doutrina que articula esses dois pontos é avançada no Protágoras, sendo este o diálogo que sistematiza e aprofunda as teorias socráticas presentes nos demais diálogos do conjunto. Nesse sentido, proponho um exame da relação entre virtude e conhecimento no Protágoras, dividido em duas partes: a primeira parte lidando mais diretamente com o problema da unidade das virtudes, enquanto a segunda investigará o sentido do intelectualismo ético segundo a relação entre conhecimento e elementos não cognitivos, parte na qual o exame de uma virtude particular receberá destaque: a coragem. |
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