O regionalismo de Hugo de Carvalho Ramos (literatura e identidade)

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Assumpção, Albertina Vicentini
Data de Publicação: 1996
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8151/tde-07092022-110241/
Resumo: O projeto estético de Hugo de Carvalho Ramos situa-o como um escritor que esteve a meio caminho entre o passado e o futuro da narrativa regionalista no Brasil. No passado, pela reiteração de características típicas dessa corrente: a centralização no coletivo; a preponderância etnográfica; a nostalgia romântico-regressiva do sertão; o narrador distanciado; a reprodução da narrativa comunitária do sertão. No futuro, pela recusa da épica; pela denúncia social com base nas relações de trabalho; pela descoletivização de certos personagens, tomando-os personagens mais singulares; pelo narrador desentendido, humanizador do sertão; e pela incipiente estilística do discurso indireto livre, em que homem do sertão e homem da cidade mesclam sua fala - todas características que seriam mais contundentes a partir do regionalismo de 30. O seu realismo-naturalismo expressa também essa ambivalência: embora eximindose do determinismo e já centralizando-se nas forças sociais, a fatalidade macabra de forças superiores ainda se dissemina pelo livro. No entanto, ela mantém uma certa frieza e uma racionalização grotesca, que só viriam a aparecer na corrente, com ênfase, a partir da década de 40. E mesmo certa despreocupação com o récit, certa fragmentação de textos o situam como um escritor ligado às correntes narrativas que se oporiam à narrativa realista do final do século passado. Essas características de obra apontam Hugo de Carvalho Ramos como um autor de transição na corrente, dando ao seu regionalismo tardio um lugar que pode ser balizado por três grandes escritores brasileiros: Euclides da Cunha, Graciliano Ramos e Guimarães Rosa. Quanto ao seu projeto ideológico, este foi o de positivai\' a figura do sertanejo, registrando a sua face produtiva e denunciando a sua sub-condição de vida - estamento, escravidão e abandono como resposta às detratações que sofria o homem do sertão ao seu tempo, tido como elemento problemático às propostas de modernização do país. Com isso, Hugo de Carvalho Ramos produz um efeito de obra que constrói uma identidade agrária também positiva para o Estado de Goiás, que, daí a pouco, se tomaria uma das fronteiras de expansão económica para o desenvolvimento da nação, atenuando sua situação de Estado periférico à época. E também constrói a sua identidade de escritor regionalista imerso nas discussões levadas pelos escritores das províncias frente aos grupos hegemónicos de escritores da capital
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O seu realismo-naturalismo expressa também essa ambivalência: embora eximindose do determinismo e já centralizando-se nas forças sociais, a fatalidade macabra de forças superiores ainda se dissemina pelo livro. No entanto, ela mantém uma certa frieza e uma racionalização grotesca, que só viriam a aparecer na corrente, com ênfase, a partir da década de 40. E mesmo certa despreocupação com o récit, certa fragmentação de textos o situam como um escritor ligado às correntes narrativas que se oporiam à narrativa realista do final do século passado. Essas características de obra apontam Hugo de Carvalho Ramos como um autor de transição na corrente, dando ao seu regionalismo tardio um lugar que pode ser balizado por três grandes escritores brasileiros: Euclides da Cunha, Graciliano Ramos e Guimarães Rosa. Quanto ao seu projeto ideológico, este foi o de positivai\' a figura do sertanejo, registrando a sua face produtiva e denunciando a sua sub-condição de vida - estamento, escravidão e abandono como resposta às detratações que sofria o homem do sertão ao seu tempo, tido como elemento problemático às propostas de modernização do país. Com isso, Hugo de Carvalho Ramos produz um efeito de obra que constrói uma identidade agrária também positiva para o Estado de Goiás, que, daí a pouco, se tomaria uma das fronteiras de expansão económica para o desenvolvimento da nação, atenuando sua situação de Estado periférico à época. E também constrói a sua identidade de escritor regionalista imerso nas discussões levadas pelos escritores das províncias frente aos grupos hegemónicos de escritores da capitalHugo de Carvalho Ramos aesthetic project locates him as a writer who worked halfway between the past and the future of the Regionalistic narrative in Brazil. He is in the past for the reiteration of typical characteristics of that trend: concentration in the collective; etnographic predominance; Romantic-regressive nostalgia of the backlands; use of omniscient narrator; reproduction of the community narrative of the backlands. He is in the past for his refusal of the Epic; his social denouncement based on farm working conditions; his decollectiviza- tion of certain characters, by making them more individualized; his creation of a non-understanding narrator, who, nevertheless, humanizes the backlands; his incipient stylistic use of free indirect speech, through which the rural and the urban men mingle their speech-acts. All these characteristics would be much more evident in the Regionalism of the Thirties. His Realism-Naturalism also expresses that ambivalence: although refusing determinism and yet focusing on social forces, a gruesome fatality of superior forces still permeates his book. However, it maintains a certain coldness and a grotesque rationalization, which would emphatically be brought to life in Regionalism only from the Forties on. There is a carelessness with the récit, a certain fragmenta- tion in Hugo de Carvalho Ramos\' narrativés, which locates him as a writer linked to the narrative tendencies opposed to those from the Realistic narrative of the end of last century. These characteristics of his work point out Hugo de Carvalho Ramos as a transitional writer in his own trend, giving to his late Regionalism a place which would be distinguished or noted by three great Brazilian writers: Euclides da Cunha, Graciliano Ramos e Guimarães Rosa. As to his ideologic project, it was that of laying bare the figure of the man from the backlands, stating his productive aspects as well as denouncing his sub-human living conditions----- social situation, slavery and destitution----- as a means to answer the accusations against him, considered at that time as a disturbing and/or unstable element which could help to disrupt the modemizing proposals for the country. Because of all that, Hugo de Carvalho Ramos produces in His literary work a single effect which helps to establish a positive agrarian identity for the State of Goiás. The State of Goiás, just a short time later, would become one of the frontiers of economical expantion and development in the country, attenuating its situation as a peripheric State at that time. He also creates and/or establishes his own identity as a Regionalistic writer absorbed in the discussions taking place amongst the writers from the provinces and the hegemonic groups of writers from the metropolis (as a matter of fact, Rio de Janeiro, then the Capital of Brazil)Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPLeite, Ligia Chiappini MoraesAssumpção, Albertina Vicentini1996-04-22info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8151/tde-07092022-110241/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2022-09-15T12:36:59Zoai:teses.usp.br:tde-07092022-110241Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212022-09-15T12:36:59Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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