Trabalhadores rurais volantes da Região de Jaboticabal: crescimento, características e aspectos organizacionais

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Baccarin, Jose Giacomo
Data de Publicação: 1985
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/11/11132/tde-20210918-201553/
Resumo: Este trabalho trata do trabalhador volante ou bóia-fria na agricultura, tomando-se como universo empírico basicamente o município de Jaboticabal (SP). Foram analisadas as transformações da agricultura do município a partir de 1940 e seus efeitos sobre a formação da categoria dos volantes local, as condições atuais de vida e trabalho dos bóias-frias bem como as suas reivindicações e a sua organização política. Além de dados de Censos Agropecuários, foram utilizados dados primários obtidos através de questionários aplicados a 50 trabalhadores bóias-frias em agosto de 1983. Destes, 11 foram selecionados e acompanhados com entrevistas bimensais até agosto de 1984. A análise permitiu chegar a alguns resultados e conclusões, apresentados a seguir. De 1940 em diante as principais alterações observadas na agricultura do município foram a expansão da cultura da cana-de-açúcar, o aumento do tamanho médio dos estabelecimentos, o crescimento na utilização de técnicas químicas e mecânicas e o aumento da participação do trabalho assalariado, especialmente o temporário, na força de trabalho da agricultura. Em 1980, mais da metade da força de trabalho agrícola do município se constituia de bóias-frias. As condições de trabalho dos bóias-frias apresentam variações ao longo de um ano, podendo considerar-se dois períodos básicos. Um deles, o da safra da cana-de-açúcar e da laranja, onde o mercado de trabalho volante é mais organizado, com maiores vínculos formais de emprego, maior estabilidade e com pequena participação do empreiteiro individual de mão-de-obra. No outro período, a entressafra, ocorre maior instabilidade de emprego, os contratos de trabalho, em sua maior parte, não são formalizados e o empreiteiro individual volta a ter importância fundamental na organização deste mercado deste mercado. Dos volantes entrevistados, 94% revelaram ganhar menos que 3 salários mínimos no período da safra, sendo que na entressafra a tendência observada foi de achatamento deste nível salarial. As condições de vida dos entrevistados revelaram-se precárias, caracterizando-se principalmente pelo alto grau de analfabetismo e semi-analfabetismo e por problemas de deficiência nutricional. A fome foi constatada várias vezes, especialmente na entressafra. Os movimentos reivindicatórios dos bóias-frias observados na região sempre se caracterizaram por envolverem pequeno número de trabalhadores e serem isolados. Na safra de 1984, ocorreram movimentos abrangentes, iniciados pelos apanhadores de laranja em Bebedouro e pelos cortadores de cana de Guariba e que tenderam a envolver toda a categoria de trabalhadores volantes. As relações entre empresários e trabalhadores mudaram a partir de então, com início de negociações coletivas sobre as condições dos contratos de trabalho.
id USP_e3913aa53e0c7c3bbb076279d1bf3525
oai_identifier_str oai:teses.usp.br:tde-20210918-201553
network_acronym_str USP
network_name_str Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
repository_id_str 2721
spelling Trabalhadores rurais volantes da Região de Jaboticabal: crescimento, características e aspectos organizacionaisRural temporary workers in the Region of Jaboticabal: growth, characteristics, and organizationJABOTICABAL-SPTRABALHADOR RURAL VOLANTEEste trabalho trata do trabalhador volante ou bóia-fria na agricultura, tomando-se como universo empírico basicamente o município de Jaboticabal (SP). Foram analisadas as transformações da agricultura do município a partir de 1940 e seus efeitos sobre a formação da categoria dos volantes local, as condições atuais de vida e trabalho dos bóias-frias bem como as suas reivindicações e a sua organização política. Além de dados de Censos Agropecuários, foram utilizados dados primários obtidos através de questionários aplicados a 50 trabalhadores bóias-frias em agosto de 1983. Destes, 11 foram selecionados e acompanhados com entrevistas bimensais até agosto de 1984. A análise permitiu chegar a alguns resultados e conclusões, apresentados a seguir. De 1940 em diante as principais alterações observadas na agricultura do município foram a expansão da cultura da cana-de-açúcar, o aumento do tamanho médio dos estabelecimentos, o crescimento na utilização de técnicas químicas e mecânicas e o aumento da participação do trabalho assalariado, especialmente o temporário, na força de trabalho da agricultura. Em 1980, mais da metade da força de trabalho agrícola do município se constituia de bóias-frias. As condições de trabalho dos bóias-frias apresentam variações ao longo de um ano, podendo considerar-se dois períodos básicos. Um deles, o da safra da cana-de-açúcar e da laranja, onde o mercado de trabalho volante é mais organizado, com maiores vínculos formais de emprego, maior estabilidade e com pequena participação do empreiteiro individual de mão-de-obra. No outro período, a entressafra, ocorre maior instabilidade de emprego, os contratos de trabalho, em sua maior parte, não são formalizados e o empreiteiro individual volta a ter importância fundamental na organização deste mercado deste mercado. Dos volantes entrevistados, 94% revelaram ganhar menos que 3 salários mínimos no período da safra, sendo que na entressafra a tendência observada foi de achatamento deste nível salarial. As condições de vida dos entrevistados revelaram-se precárias, caracterizando-se principalmente pelo alto grau de analfabetismo e semi-analfabetismo e por problemas de deficiência nutricional. A fome foi constatada várias vezes, especialmente na entressafra. Os movimentos reivindicatórios dos bóias-frias observados na região sempre se caracterizaram por envolverem pequeno número de trabalhadores e serem isolados. Na safra de 1984, ocorreram movimentos abrangentes, iniciados pelos apanhadores de laranja em Bebedouro e pelos cortadores de cana de Guariba e que tenderam a envolver toda a categoria de trabalhadores volantes. As relações entre empresários e trabalhadores mudaram a partir de então, com início de negociações coletivas sobre as condições dos contratos de trabalho.This study dealt with the rural hired labor force in the municipality of Jaboticabal, State of São Paulo. The changes which have taken place in the agriculture of that municipality from 1940 to date, and the effects of these changes on the local labor force and on worker's current living and working conditions, as well as their demands and political organization were analyzed. The data utilized in this study was taken from the IBGE Agricultural Census and also primary data were obtained by interviewing fifty temporary workers in August, 1983. In addition, eleven workers were selected from that group to be interviewed every two months, up to August 1984. The main changes which occurred in agriculture in that municipality are: the expansion of sugarcane cropping: increased utilization of chemical and mechanical techniques; increased participation of hired labor force, especially of temporary workers; in fact, in 1980 over half of the rural labor force in that municipality was made up of temporary workers. The working conditions of temporary workers change during the year, where two basic distinct periods may be considered: a) the sugarcane and orange harvest seasons, in which the temporary worker market is better organized, and there are formal employment links, a higher stability and a lower participation of contractors; b) the off-season, in which there is a greater employment instability, most employment contracts are not formalized, and contractors once again gain importance in organizing the market. It was found that 94% of the workers interviewed earned less than three times the value of the minimum wage during the harvest season, and much less in the off-season. The high illiteracy of quasi-illiteracy levels found, along with mal nutrition are associated with the very poor living conditions of the workers interviewed. Several cases of near-starvation were found, mainly in the off-season period. Although there have been some temporary worker picketing and other claim movements in the region, these have been of a dispersed nature and involved a low number of workers. In the 1984 harvest season, however, movements tending to involve the whole class of temporary workers were initiated by orange pickers in Bebedouro and sugarcane harvesters in Guariba. After that, the relationship between employers and temporary workers has changed, and employment contract arrangements are being negotiated collectively.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPQueda, OriowaldoBaccarin, Jose Giacomo1985-09-13info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttps://teses.usp.br/teses/disponiveis/11/11132/tde-20210918-201553/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2021-09-19T16:38:02Zoai:teses.usp.br:tde-20210918-201553Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212021-09-19T16:38:02Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
dc.title.none.fl_str_mv Trabalhadores rurais volantes da Região de Jaboticabal: crescimento, características e aspectos organizacionais
Rural temporary workers in the Region of Jaboticabal: growth, characteristics, and organization
title Trabalhadores rurais volantes da Região de Jaboticabal: crescimento, características e aspectos organizacionais
spellingShingle Trabalhadores rurais volantes da Região de Jaboticabal: crescimento, características e aspectos organizacionais
Baccarin, Jose Giacomo
JABOTICABAL-SP
TRABALHADOR RURAL VOLANTE
title_short Trabalhadores rurais volantes da Região de Jaboticabal: crescimento, características e aspectos organizacionais
title_full Trabalhadores rurais volantes da Região de Jaboticabal: crescimento, características e aspectos organizacionais
title_fullStr Trabalhadores rurais volantes da Região de Jaboticabal: crescimento, características e aspectos organizacionais
title_full_unstemmed Trabalhadores rurais volantes da Região de Jaboticabal: crescimento, características e aspectos organizacionais
title_sort Trabalhadores rurais volantes da Região de Jaboticabal: crescimento, características e aspectos organizacionais
author Baccarin, Jose Giacomo
author_facet Baccarin, Jose Giacomo
author_role author
dc.contributor.none.fl_str_mv Queda, Oriowaldo
dc.contributor.author.fl_str_mv Baccarin, Jose Giacomo
dc.subject.por.fl_str_mv JABOTICABAL-SP
TRABALHADOR RURAL VOLANTE
topic JABOTICABAL-SP
TRABALHADOR RURAL VOLANTE
description Este trabalho trata do trabalhador volante ou bóia-fria na agricultura, tomando-se como universo empírico basicamente o município de Jaboticabal (SP). Foram analisadas as transformações da agricultura do município a partir de 1940 e seus efeitos sobre a formação da categoria dos volantes local, as condições atuais de vida e trabalho dos bóias-frias bem como as suas reivindicações e a sua organização política. Além de dados de Censos Agropecuários, foram utilizados dados primários obtidos através de questionários aplicados a 50 trabalhadores bóias-frias em agosto de 1983. Destes, 11 foram selecionados e acompanhados com entrevistas bimensais até agosto de 1984. A análise permitiu chegar a alguns resultados e conclusões, apresentados a seguir. De 1940 em diante as principais alterações observadas na agricultura do município foram a expansão da cultura da cana-de-açúcar, o aumento do tamanho médio dos estabelecimentos, o crescimento na utilização de técnicas químicas e mecânicas e o aumento da participação do trabalho assalariado, especialmente o temporário, na força de trabalho da agricultura. Em 1980, mais da metade da força de trabalho agrícola do município se constituia de bóias-frias. As condições de trabalho dos bóias-frias apresentam variações ao longo de um ano, podendo considerar-se dois períodos básicos. Um deles, o da safra da cana-de-açúcar e da laranja, onde o mercado de trabalho volante é mais organizado, com maiores vínculos formais de emprego, maior estabilidade e com pequena participação do empreiteiro individual de mão-de-obra. No outro período, a entressafra, ocorre maior instabilidade de emprego, os contratos de trabalho, em sua maior parte, não são formalizados e o empreiteiro individual volta a ter importância fundamental na organização deste mercado deste mercado. Dos volantes entrevistados, 94% revelaram ganhar menos que 3 salários mínimos no período da safra, sendo que na entressafra a tendência observada foi de achatamento deste nível salarial. As condições de vida dos entrevistados revelaram-se precárias, caracterizando-se principalmente pelo alto grau de analfabetismo e semi-analfabetismo e por problemas de deficiência nutricional. A fome foi constatada várias vezes, especialmente na entressafra. Os movimentos reivindicatórios dos bóias-frias observados na região sempre se caracterizaram por envolverem pequeno número de trabalhadores e serem isolados. Na safra de 1984, ocorreram movimentos abrangentes, iniciados pelos apanhadores de laranja em Bebedouro e pelos cortadores de cana de Guariba e que tenderam a envolver toda a categoria de trabalhadores volantes. As relações entre empresários e trabalhadores mudaram a partir de então, com início de negociações coletivas sobre as condições dos contratos de trabalho.
publishDate 1985
dc.date.none.fl_str_mv 1985-09-13
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/masterThesis
format masterThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv https://teses.usp.br/teses/disponiveis/11/11132/tde-20210918-201553/
url https://teses.usp.br/teses/disponiveis/11/11132/tde-20210918-201553/
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.relation.none.fl_str_mv
dc.rights.driver.fl_str_mv Liberar o conteúdo para acesso público.
info:eu-repo/semantics/openAccess
rights_invalid_str_mv Liberar o conteúdo para acesso público.
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.coverage.none.fl_str_mv
dc.publisher.none.fl_str_mv Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
publisher.none.fl_str_mv Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
dc.source.none.fl_str_mv
reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
instname:Universidade de São Paulo (USP)
instacron:USP
instname_str Universidade de São Paulo (USP)
instacron_str USP
institution USP
reponame_str Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
collection Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
repository.name.fl_str_mv Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)
repository.mail.fl_str_mv virginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.br
_version_ 1815257209927368704