A privação tem rosto de mulher: gestão da pobreza e segregação socioespacial na periferia de São Paulo
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2022 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
Texto Completo: | https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8136/tde-01032023-170352/ |
Resumo: | O objetivo desta pesquisa é compreender como a reprodução do modo de produção capitalista reproduz a privação e como esta aparece e se realiza na vida cotidiana, de modo a revelar a segregação socioespacial e a contradição centro-periferia na cidade. Para tanto, esta tese tem como objeto de análise três políticas públicas de gestão da pobreza, mais especificamente aquelas de transferência de renda: o Programa Bolsa Família, o Auxílio Emergencial e o Auxílio Brasil. A partir da análise dessas políticas, argumentamos que o Estado brasileiro considera que a ausência de renda é a principal característica da pobreza. Consequentemente, escolhe a transferência de renda para combatê-la, revelando a concepção liberal de que o mercado seria o principal organizador da sociedade e, portanto, responsável pela sua regulação. Em outra perspectiva, compreendemos que a essência da pobreza é a propriedade privada, cuja existência garante a ampliação constante das condições de expropriação e exploração da classe trabalhadora que vive a privação do urbano. Nesse sentido, concluímos que a política de transferência de renda opera como uma estratégia de financiamento da reprodução social com foco no consumo das famílias. O tema da reprodução social é analisado nesta tese por uma perspectiva de gênero, de modo a descortinar a seguinte contradição: por um lado, essas políticas implicam em uma autonomia financeira das mulheres, reconhecendo sua importância como chefes de família; por outro, reificam os papeis de gênero que responsabilizam a mulher pelo cuidado do lar e dos filhos. Nessa trajetória, argumentamos que há um equilíbrio tênue e conflituoso entre o papel do Estado e o papel do capital na garantia da reprodução social: quanto mais o primeiro se ausenta dessa garantia, mais o segundo impõe que a mesma aconteça de modo privatizado e privado, ou seja, mercantilizado e restrito ao espaço doméstico. Chegamos a tais conclusões a partir de pesquisa realizada em cinco bairros da Zona Leste da cidade de São Paulo. Nesses bairros, fizemos pesquisa de cunho etnográfico, pois consideramos que a etnografia desvenda as práticas sociais e os seus significados, revelando as contradições que emergem na vida cotidiana. |
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A privação tem rosto de mulher: gestão da pobreza e segregação socioespacial na periferia de São PauloGendered deprivation: poverty management and socio-spatial segregation in São Paulos peripheryPeriferiaPeripheryPobrezaPovertyReprodução socialSão PauloSão PauloSegregaçãoSegregationSocial reproductionO objetivo desta pesquisa é compreender como a reprodução do modo de produção capitalista reproduz a privação e como esta aparece e se realiza na vida cotidiana, de modo a revelar a segregação socioespacial e a contradição centro-periferia na cidade. Para tanto, esta tese tem como objeto de análise três políticas públicas de gestão da pobreza, mais especificamente aquelas de transferência de renda: o Programa Bolsa Família, o Auxílio Emergencial e o Auxílio Brasil. A partir da análise dessas políticas, argumentamos que o Estado brasileiro considera que a ausência de renda é a principal característica da pobreza. Consequentemente, escolhe a transferência de renda para combatê-la, revelando a concepção liberal de que o mercado seria o principal organizador da sociedade e, portanto, responsável pela sua regulação. Em outra perspectiva, compreendemos que a essência da pobreza é a propriedade privada, cuja existência garante a ampliação constante das condições de expropriação e exploração da classe trabalhadora que vive a privação do urbano. Nesse sentido, concluímos que a política de transferência de renda opera como uma estratégia de financiamento da reprodução social com foco no consumo das famílias. O tema da reprodução social é analisado nesta tese por uma perspectiva de gênero, de modo a descortinar a seguinte contradição: por um lado, essas políticas implicam em uma autonomia financeira das mulheres, reconhecendo sua importância como chefes de família; por outro, reificam os papeis de gênero que responsabilizam a mulher pelo cuidado do lar e dos filhos. Nessa trajetória, argumentamos que há um equilíbrio tênue e conflituoso entre o papel do Estado e o papel do capital na garantia da reprodução social: quanto mais o primeiro se ausenta dessa garantia, mais o segundo impõe que a mesma aconteça de modo privatizado e privado, ou seja, mercantilizado e restrito ao espaço doméstico. Chegamos a tais conclusões a partir de pesquisa realizada em cinco bairros da Zona Leste da cidade de São Paulo. Nesses bairros, fizemos pesquisa de cunho etnográfico, pois consideramos que a etnografia desvenda as práticas sociais e os seus significados, revelando as contradições que emergem na vida cotidiana.This research aims to understand how the reproduction of the capitalist mode of production reproduces deprivation and how it appears and takes place in everyday life to reveal the city\'s socio-spatial segregation and center-periphery contradiction. Therefore, this thesis analyses three public policies of poverty management, specifically those of income transfer: the Bolsa Família Program, the Auxílio Emergencial, and the Auxílio Brasil. Based on the analysis of these policies, we argue that the Brazilian state considers the absence of income to be the main characteristic of poverty. Consequently, it chooses income transfer to mitigate it, revealing the liberal conception that the market would be the main organizer of society and, therefore, responsible for its regulation. From another perspective, we understand that the essence of poverty is private property, whose existence guarantees the constant expansion of the conditions of expropriation and exploitation of the working class that experiences urban deprivation. Hence, we conclude that the income transfer policy operates as a financing strategy for social reproduction focusing on household consumption. The concept of social reproduction is analyzed in this thesis from a gender perspective in order to reveal the following contradiction: on the one hand, these policies imply women\'s financial autonomy, recognizing their importance as heads of families; on the other hand, they reify the gender roles that make women responsible for the care of the home and children. Therefore, we argue that there is a tenuous and conflicting balance between the role of the State and the role of capital in guaranteeing social reproduction: the more the former is absent from it, the more the latter imposes that it happens in a privatized and private way, that is, commodified and restricted to the domestic space. We arrived at such conclusions from research conducted in five East Zone of São Paulo neighborhoods. In these neighborhoods, we conducted ethnographic research, as we believe that ethnography reveals social practices and their meanings, revealing the contradictions that emerge in everyday life.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPCarlos, Ana Fani AlessandriVerdi, Elisa Favaro2022-12-07info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8136/tde-01032023-170352/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2023-03-01T20:23:48Zoai:teses.usp.br:tde-01032023-170352Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212023-03-01T20:23:48Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false |
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