A equivocidade do foco narrativo em O som ao redor: um exercício de crítica cultural

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Soster, Vitor
Data de Publicação: 2017
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8147/tde-02052018-180234/
Resumo: O exercício de crítica cultural aqui empreendido busca refletir sobre a contemporaneidade a partir da análise e interpretação do longa-metragem O som ao redor (2012) de Kleber Mendonça Filho. A fim de chegar a uma compreensão do que sua forma diz sobre o momento presente, realizamos uma investigação sobre o filme a partir das contribuições de diferentes disciplinas e também de abordagens analíticas da imprensa e da academia. A começar pelo estudo da forma narrativa, propomos definições para noções como autor, autor implícito, narrador, ponto de vista e foco narrativo. Essas noções se mostram úteis no desenvolvimento da análise com relação ao que entendemos como sendo o foco narrativo, uma relação de significação entre as instâncias da emissão e da recepção de uma narrativa. A focalização, assim compreendida, permitiu a identificação da produção de quatro espacialidades na trama da narrativa fílmica: (a) o espaço doméstico contemporâneo e as práticas de consumo, marcados pelo desejo e pelo medo; (b) o espaço de poder do homem cordial contemporâneo; (c) o espaço da propriedade e da auto-atribuição ambígua de um espaço de representação; e, por fim, (d) o espaço da subalternidade. Esses espaços, por sua vez, são articulados por meio de uma prática temporal contraditória, estabelecida entre passado e futuro, que mantém o presente em estado de suspensão crônica. Observa-se, nos termos de Jameson (2002 [1981]), o inconsciente político dessa narrativa: o reconhecimento do papel da classe média na manutenção de relações de mando arcaicas, lugar que o próprio narrador simula assumir e ao qual, por vezes, corre o risco de assimilar-se. Desse modo, a miragem da classe média quanto ao autocontrole econômico e simbólico e seu horror à expropriação e aos despossuídos continuam a contribuir para manter as desigualdades e injustiças sociais do país. Como forma de conclusão, indica-se, na leitura do filme, a possibilidade de entendimento do passado como uma simples permanência caso se veja o tempo (e a história) apenas como continuidade. Inversamente, se a dimensão temporal for compreendida como sujeita a simultaneidades, aberta, portanto, à equivocidade, possibilidades de futuro podem emergir, configurando-se uma outra leitura. Nesse sentido, práticas do passado no presente, sujeitas à continuidade e à transformação, dão a dimensão da importância das práticas presentes, já que, estas, antecipam, desde já, práticas futuras.
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Essas noções se mostram úteis no desenvolvimento da análise com relação ao que entendemos como sendo o foco narrativo, uma relação de significação entre as instâncias da emissão e da recepção de uma narrativa. A focalização, assim compreendida, permitiu a identificação da produção de quatro espacialidades na trama da narrativa fílmica: (a) o espaço doméstico contemporâneo e as práticas de consumo, marcados pelo desejo e pelo medo; (b) o espaço de poder do homem cordial contemporâneo; (c) o espaço da propriedade e da auto-atribuição ambígua de um espaço de representação; e, por fim, (d) o espaço da subalternidade. Esses espaços, por sua vez, são articulados por meio de uma prática temporal contraditória, estabelecida entre passado e futuro, que mantém o presente em estado de suspensão crônica. Observa-se, nos termos de Jameson (2002 [1981]), o inconsciente político dessa narrativa: o reconhecimento do papel da classe média na manutenção de relações de mando arcaicas, lugar que o próprio narrador simula assumir e ao qual, por vezes, corre o risco de assimilar-se. Desse modo, a miragem da classe média quanto ao autocontrole econômico e simbólico e seu horror à expropriação e aos despossuídos continuam a contribuir para manter as desigualdades e injustiças sociais do país. Como forma de conclusão, indica-se, na leitura do filme, a possibilidade de entendimento do passado como uma simples permanência caso se veja o tempo (e a história) apenas como continuidade. Inversamente, se a dimensão temporal for compreendida como sujeita a simultaneidades, aberta, portanto, à equivocidade, possibilidades de futuro podem emergir, configurando-se uma outra leitura. Nesse sentido, práticas do passado no presente, sujeitas à continuidade e à transformação, dão a dimensão da importância das práticas presentes, já que, estas, antecipam, desde já, práticas futuras.The exercise of cultural criticism undertaken here aims to reflect on contemporary temporality through an analysis and interpretation of the feature film Neighbouring Sounds (2012), directed by Kleber Mendonça Filho. To understand what its form says about the current moment, I investigate the structure of the film considering contributions from different disciplines and also analytical approaches, offered by the press and scholars. Starting with the study of the narrative form, I propose definitions for notions like author, implicit author, narrator and point of view. These notions have proved themselves useful in the development of an analysis of what is understood as the narrative focus. However, the Anglophone criticism does not use that term as often as point of view. Thus understanding point of view as a relationship of signification between the addresser and the addressee of a narrative, I observe the production of four spatialities in the plot of the film: (a) the contemporary domestic space and consumerist practices, marked by desire and fear; (b) the space of the power of the contemporary cordial man; (c) the space of property and of the ambiguous selfattribution of a representational space; and, finally, (d) the space of subalternity. These spaces, then, are articulated by a contradictory time practice, established between the past and the future, which keeps the present in a chronic suspension state. I observe, following Jamesons (2002 [1981]) expression, the political unconscious of that narrative: the recognition of the role of the middle class in the maintenance of the archaic power relations. The narrator, in simulating these power relations, runs the risk of reproducing them. Thus the middle-class mirage of economic and symbolic self-control, compounded by a middle-class horror of expropriation and of the destitute, perpetuate the inequalities and social injustices in Brazil. To conclude, I indicate, in this reading of the film, the possibility of understanding the past as simply permanence if time and history are only regarded as continuity. Conversely, if the temporal dimension is grasped as subject to simultaneities, therefore, open to the equivoque, a different possible future may emerge, creating another reading. In this new sense, practices of the past in the present, subject to continuity and to transformation, give importance to the present practices, since these ones anticipate future practices.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPCevasco, Maria Elisa Burgos Pereira da SilvaSoster, Vitor2017-09-29info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8147/tde-02052018-180234/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2018-09-20T19:49:24Zoai:teses.usp.br:tde-02052018-180234Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212018-09-20T19:49:24Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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