Personagens machadianas e suas constelações em Ressurreição, Helena e Dom Casmurro

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Teles, Ana Carolina Sa
Data de Publicação: 2018
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8149/tde-27112018-114358/
Resumo: A tese aborda os modos de composição e caracterização das personagens nos romances Ressurreição (1872), Helena (1876) e Dom Casmurro (1899), de Machado de Assis, considerando seus aspectos relacionais. A partir da crítica e correspondência de autoria do escritor nas décadas de 1860 e 1870, mapeamos como ele concebe e analisa a questão da personagem de ficção. Machado de Assis prioriza a personagem em seus textos críticos, tendendo a analisá-la pelos critérios dos caracteres e dos sentimentos. Os caracteres são um costume retórico que visa ao desenho de tipos, remontando a Teofrasto (séc. VI a.C.) e a uma rede de letrados como os satiristas ingleses dos séculos 16 e 17 e La Bruyère (séc. 17). Por um lado, Machado mobiliza essa técnica para a concepção das personagens. Por outro lado, notamos a ironia no procedimento, dada a sua contradição com a figuração dos sentimentos e a diferença implicada no recuo temporal às letras antigas. A partir desse problema de tensão que concerne à personagem machadiana, analiso a referência aos caracteres e retratos antigos e a figuração de um mundo imaginário, que recorre a processos psicanalíticos, enquanto eixos que atuam na composição e caracterização. De forma coerente com a defesa de Machado de Assis em sua própria crítica, nos romances abordados as personagens são compostas de maneira contextual, relacionando-se com a estrutura da trama e com seu meio social no universo narrativo. Ou seja, com a sua constelação de personagens. Observamos que Félix, Estácio e Bento/Santiago/Casmurro/Dom Casmurro organizam em torno de si suas respectivas constelações de personagens, de forma hierárquica. No entanto, eles compõem heróis falhados para esses grupos, agindo não apenas para a própria aniquilação, como também para a anulação dos demais. Especialmente, eles se desenvolvem por meio de enganos e autoenganos quanto a serem excluídos e traídos pelo par amoroso. Assim, a constelação de personagens desses romances machadianos Ressurreição, Helena e Dom Casmurro arranja-se, igualmente, por referência à organização social da família brasileira patriarcal, que persiste no oitocentos, bem como às dinâmicas de ciúme e inveja sistematizadas pela teoria psicanalítica. Ao considerar a trajetória de Ressurreição, Helena e Dom Casmurro, visualizou-se um processo de complexidade crescente na composição e caracterização das personagens, conforme a exploração de alguns temas-chave e a experimentação no âmbito de suas constelações.
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VI a.C.) e a uma rede de letrados como os satiristas ingleses dos séculos 16 e 17 e La Bruyère (séc. 17). Por um lado, Machado mobiliza essa técnica para a concepção das personagens. Por outro lado, notamos a ironia no procedimento, dada a sua contradição com a figuração dos sentimentos e a diferença implicada no recuo temporal às letras antigas. A partir desse problema de tensão que concerne à personagem machadiana, analiso a referência aos caracteres e retratos antigos e a figuração de um mundo imaginário, que recorre a processos psicanalíticos, enquanto eixos que atuam na composição e caracterização. De forma coerente com a defesa de Machado de Assis em sua própria crítica, nos romances abordados as personagens são compostas de maneira contextual, relacionando-se com a estrutura da trama e com seu meio social no universo narrativo. Ou seja, com a sua constelação de personagens. Observamos que Félix, Estácio e Bento/Santiago/Casmurro/Dom Casmurro organizam em torno de si suas respectivas constelações de personagens, de forma hierárquica. No entanto, eles compõem heróis falhados para esses grupos, agindo não apenas para a própria aniquilação, como também para a anulação dos demais. Especialmente, eles se desenvolvem por meio de enganos e autoenganos quanto a serem excluídos e traídos pelo par amoroso. Assim, a constelação de personagens desses romances machadianos Ressurreição, Helena e Dom Casmurro arranja-se, igualmente, por referência à organização social da família brasileira patriarcal, que persiste no oitocentos, bem como às dinâmicas de ciúme e inveja sistematizadas pela teoria psicanalítica. Ao considerar a trajetória de Ressurreição, Helena e Dom Casmurro, visualizou-se um processo de complexidade crescente na composição e caracterização das personagens, conforme a exploração de alguns temas-chave e a experimentação no âmbito de suas constelações.This dissertation approaches characters composition and characterization in Machado de Assis novels Resurrection (1872), Helena (1876), and Dom Casmurro (1899) by considering characters relational aspects. We map how Machado de Assis perceives characters in his own critics and letters from the 1860s and the 1870s. The writer stresses the issue of characters as he analyzes them by the criteria of Theophrastian characters and of emotions. The Theophrastian character is a rhetorical genre for drawing types. It goes back to Theophrastus (IV BC) and to a network that includes English Theophrastian character books (16th and 17th centuries), La Bruyère (17th century), among others. On one hand, Machado evokes this technique for characters composition and characterization. On the other hand, theres an irony to this stylistic gesture for its chronological misplacement. Moreover, for the eventual contradiction between Theophrastian characters and the picturing of particular emotions. With this tension in mind, I analyze Machadian characters references to Theophrastian characters and to old portraits, as well as the imagination of these figures according to the literary figuration of psychoanalytical processes. Both orientations take part in the composition of Machados characters. In a coherent relation with the writers own critical essays, in the novels here approached characters are connected to their plots and societies. This means that their composition is entangled with their character constellation. We observe that Félix, Estácio, Bento/Santiago/Casmurro/Dom Casmurro constitute the central reference for their respective character constellation in a hierarchical way. Nonetheless, they prove to be fail heroes for their groups. Not only do they act for self-destruction, but also for the annihilation of others. Thus, each character constellation in these three novels Resurrection, Helena, and Dom Casmurro is equally arranged in relation with references to the Brazilian patriarchal family that remains in the eighteenth century, and to the dynamics of jealousy and envy systemized by psychoanalytic theories. By considering the trajectory of Resurrection, Helena, and Dom Casmurro, we have viewed a process of growing complexity in Machadian characters composition and characterization, which is developed from the exploration of key narrative themes and from the literary experimentation concerning character constellations.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPGuimarães, Hélio de SeixasTeles, Ana Carolina Sa2018-08-17info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8149/tde-27112018-114358/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2019-04-10T00:06:19Zoai:teses.usp.br:tde-27112018-114358Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212019-04-10T00:06:19Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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