Michel Butor e a parole em cores: das entrevistas literárias à criação

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Koyano, Amayi Luiza Soares
Data de Publicação: 2020
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8146/tde-26052021-184835/
Resumo: Esta dissertação tem por objetivo apresentar a relação entre imagem e palavra, aqui denominada de parole em cores, na obra de Michel Butor. Trata-se de um estudo sobre a relação entre as imagens autorais e a criação de Butor. Parte-se, para tanto, da análise da argumentação e da coconstrução da imagem de si (YANOSHEVSKY 2011, 2014, 2018) em duas entrevistas literárias (dentre as muitas concedidas pelo autor), sendo uma de 1963, La leçon de Proust selon Michel Butor, e a outra, de 2013, À double titre - Michel Butor. Em seguida, são contrastadas as imagens de si coconstruídas ao longo de cinquenta anos, entre uma entrevista literária e outra, com elementos composicionais das obras La Modification (BUTOR, 1980 [1957]) e da organização das obras completas de Michel Butor, tomando Mobile. Étude pour une représentation des États-Unis (BUTOR, 2007a [1962]) como ponto central de análise. Por fim, chega-se à ficcionalização da entrevista literária presente no filme Michel Butor Mobile (COULIBEUF, 2001), no qual atuam Mireille Calle-Gruber e Michel Butor, e da representação do feminino da transposição para o cinema da escrita experimental butoriana. Visa, sobretudo, a propor com este trabalho uma resposta à pergunta central de pesquisa: qual a relação da voz com o pintar com palavras de Michel Butor? Ou ainda, mais especificamente: qual a relação das imagens de si coconstruídas nas duas entrevistas literárias selecionadas com a criação literária das obras La Modification (BUTOR, 1980 [1957]) e Mobile (BUTOR, 2007a [1962])? E como ambas as obras se relacionam com o filme Michel Butor Mobile (COULIBEUF, 2001)? Na primeira entrevista, as imagens se coconstroem como uma reação do escritor à única pergunta enunciada pelo entrevistador, que vincula, por meio da técnica argumentativa de ligação, o ethos de Butor aos ethé do próprio Proust e ao de seu leitor ideal, que só encontra no romance proustiano contentamento, êxtase e maravilhamento. A partir dos argumentos de dissociação, Butor apresenta seus ethé de: leitor e estudioso esforçado, apto a superar as próprias dificuldades em prol da literatura; aluno dedicado e humilde perante seu mestre (apesar de na época já ser um escritor aclamado tanto pelo público quanto pela crítica); escritor-construtor, que aprendeu com Proust a erigir um livro. Já na segunda entrevista, a imagem do escritor é coconstruída tanto por meio de elementos de dissociação argumentativa quanto por analogia e ligação argumentativas. O espaço de coconstrução imagética é, portanto, de grande importância justamente pela constante presença da entrevistadora, que traz para a cena enunciativa diversas informações do escritor que não estariam presentes na entrevista se não fossem por ela. A criação butoriana acompanhou as mudanças culturais, incorporou o audiovisual como prática literária e estabeleceu novas possibilidades de parceiras artísticas, incluindo cineastas, como é o caso do filme de Coulibeuf (2001), recriando a experimentação literária através da tela e da ficcionalização da imagem do escritor através da performance. É nesse espaço de fronteira que Butor se encontra e se expressa. É nele também que ele enquadra sua experimentação literária.
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spelling Michel Butor e a parole em cores: das entrevistas literárias à criaçãoMichel Butor and the parole in colour: from literary interviews to creationEthosArgumentaçãoArgumentationEntrevista literáriaEthosExperimentação literáriaLiterary ExperimentationLiterary interviewLiteratura e outras artesLiterature and other ArtsMichel ButorMichel ButorEsta dissertação tem por objetivo apresentar a relação entre imagem e palavra, aqui denominada de parole em cores, na obra de Michel Butor. Trata-se de um estudo sobre a relação entre as imagens autorais e a criação de Butor. Parte-se, para tanto, da análise da argumentação e da coconstrução da imagem de si (YANOSHEVSKY 2011, 2014, 2018) em duas entrevistas literárias (dentre as muitas concedidas pelo autor), sendo uma de 1963, La leçon de Proust selon Michel Butor, e a outra, de 2013, À double titre - Michel Butor. Em seguida, são contrastadas as imagens de si coconstruídas ao longo de cinquenta anos, entre uma entrevista literária e outra, com elementos composicionais das obras La Modification (BUTOR, 1980 [1957]) e da organização das obras completas de Michel Butor, tomando Mobile. Étude pour une représentation des États-Unis (BUTOR, 2007a [1962]) como ponto central de análise. Por fim, chega-se à ficcionalização da entrevista literária presente no filme Michel Butor Mobile (COULIBEUF, 2001), no qual atuam Mireille Calle-Gruber e Michel Butor, e da representação do feminino da transposição para o cinema da escrita experimental butoriana. Visa, sobretudo, a propor com este trabalho uma resposta à pergunta central de pesquisa: qual a relação da voz com o pintar com palavras de Michel Butor? Ou ainda, mais especificamente: qual a relação das imagens de si coconstruídas nas duas entrevistas literárias selecionadas com a criação literária das obras La Modification (BUTOR, 1980 [1957]) e Mobile (BUTOR, 2007a [1962])? E como ambas as obras se relacionam com o filme Michel Butor Mobile (COULIBEUF, 2001)? Na primeira entrevista, as imagens se coconstroem como uma reação do escritor à única pergunta enunciada pelo entrevistador, que vincula, por meio da técnica argumentativa de ligação, o ethos de Butor aos ethé do próprio Proust e ao de seu leitor ideal, que só encontra no romance proustiano contentamento, êxtase e maravilhamento. A partir dos argumentos de dissociação, Butor apresenta seus ethé de: leitor e estudioso esforçado, apto a superar as próprias dificuldades em prol da literatura; aluno dedicado e humilde perante seu mestre (apesar de na época já ser um escritor aclamado tanto pelo público quanto pela crítica); escritor-construtor, que aprendeu com Proust a erigir um livro. Já na segunda entrevista, a imagem do escritor é coconstruída tanto por meio de elementos de dissociação argumentativa quanto por analogia e ligação argumentativas. O espaço de coconstrução imagética é, portanto, de grande importância justamente pela constante presença da entrevistadora, que traz para a cena enunciativa diversas informações do escritor que não estariam presentes na entrevista se não fossem por ela. A criação butoriana acompanhou as mudanças culturais, incorporou o audiovisual como prática literária e estabeleceu novas possibilidades de parceiras artísticas, incluindo cineastas, como é o caso do filme de Coulibeuf (2001), recriando a experimentação literária através da tela e da ficcionalização da imagem do escritor através da performance. É nesse espaço de fronteira que Butor se encontra e se expressa. É nele também que ele enquadra sua experimentação literária.This master\'s thesis aims to introduce the relationship between image and word, henceforth parole in colour, in Michel Butor\'s oeuvre. This is a study on the relationship between authorial images and Butor\'s creations. The analysis departs, therefore, from discussing and co-constructing an image of the self (YANOSHEVSKY 2011, 2014, 2018) in two literary interviews (out of the many given by the author): one from 1963, La leçon de Proust selon Michel Butor, and another from 2013, À double titre - Michel Butor. Afterwards, these images of the self are contrasted and co-constructed across the period of fifty years that separates one interview from the other, with compositional elements from his works La Modification (BUTOR, 1980 [1957]) and organisational ones in a collection of Butor\'s complete works that includes Mobile. Étude pour une représentation des États-Unis (BUTOR, 2007a [1962]), considered the central focus of analysis. Finally, the fictionalisation of a literary interview that composes the movie Michel Butor Mobile (COULIBEUF, 2001) is analysed, in which Mireille Calle-Gruber e Michel Butor act; an analysis of the female body in the transposition of Butor\'s experimental writing into film is also included. The central research question to be answered tentatively is: what is the relationship between the voice and Butor\'s practice of painting with words? Yet more specifically: what is the relationship of these co-construed images in both selected interviews with literary creation in the works La Modification (BUTOR, 1980 [1957]) and Mobile (BUTOR, 2007a [1962])? How do both works relate to the movie Michel Butor Mobile (COULIBEUF, 2001)? In the first interview, these images are co-construed as the writer\'s reaction to a single question posed by the interviewer that bonds, through linking argumentative techniques, Butor\'s ethos to Proust\'s own ethé to that of the ideal reader, who would only find in Proust\'s novel a sense of contentment, ecstasy, and wonderment. Based on arguments of dissociation, Butor introduces his ethé: reader and dedicated reader, apt to overcome his own hardship for literature; a devoted and humble student in front of his master (although, at the time, he was already critically and publicly acclaimed); a writer-builder, who would have learned from Proust how to erect a book. On the second interview, on the other hand, the image of the writer is co-construed both through argumentative dissociative elements and through argumentative analogies and linking. The space of imagetic co-construction is, therefore, of great importance exactly due to the constant presence of the interviewer, who brings to the enunciative scene several pieces of information on the author that would not be part of the interview if it were not for her. Butor\'s creation has kept in touch with cultural changes, incorporating audio-visual media as literary practices, and it has established new possibilities for artistic partnerships, including film-makers, like in Coulibeuf\'s movie (2001), in turn recreating literary experimentation through the screen and the fictionalisation of the writer\'s image by means of performance. It is at that frontier space that Butor finds and expresses himself. It is thus that he frames his literary experimentation.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPPino, Claudia Consuelo AmigoKoyano, Amayi Luiza Soares2020-12-04info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8146/tde-26052021-184835/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2021-05-27T02:04:02Zoai:teses.usp.br:tde-26052021-184835Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212021-05-27T02:04:02Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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