\"Mulher joga filho na lixeira\": a discursivização da mulher-mãe infanticida na mídia
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2015 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
Texto Completo: | http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59137/tde-18052016-144036/ |
Resumo: | Este trabalho parte de uma inquietação acerca dos dizeres que vêm se constituindo na mídia sobre a mulher em seu papel de mãe em nossa sociedade. Trabalhando na articulação entre a Análise do Discurso (Pêcheux, 2008, 2009) e a psicanálise lacaniana, nosso corpus de pesquisa constituiu-se de manchetes sobre abandono e infanticídio, divulgadas em portais eletrônicos de notícias. Tivemos como objetivo central analisar a discursivização da mulhermãe pela mídia na contemporaneidade, a partir do conceito de genéricos discursivos (Tfouni, 2004) e também observar se as manchetes das notícias analisadas produzem efeitos que podem ser compreendidos como elementos indiciários de que A mulher, enquanto conjunto, não existe, conforme preconizou Lacan (2008b). A análise partiu da consideração de que as notícias constituem-se como acontecimentos que fogem ao discurso vigente e colocam-se como indícios a serem observados, por apontarem para um processo discursivo da/na contemporaneidade. Os efeitos da discursivização dos atos cruéis realizados por essas mães, em contraposição ao grupo de todas as mães, repousam nos genéricos que circulam pelo interdiscurso e comparecem na produção de sentidos. Ao narrar um caso fora do conjunto das mulheres-mães, a manchete e a notícia apontam para o pré-construído que se (re) afirma em torno da maternidade como algo inerente ao feminino. Por outro lado, o fato de ser possível dizer algo como o que é dito nessas notícias indica um furo no grupo de todas as mulheres e mães, um menos-um que não permite que a unidade se perpetue. Paradoxalmente, há o recobrimento dessa falta, presente na própria língua(gem), que não dá conta de nomear sujeitos como essas mulheres, se não em contraposição ao conjunto (supostamente homogêneo) de mulheres-mães. Ressaltamos ainda a construção da figura do monstro (Foucault, 2001) produzido pela mídia, que se ancora em um discurso relacionado à natureza e à cultura e produz, mais uma vez, a homogeneização, agora do grupo das mulheres-mãesmonstros. A noção de público e privado também comparece tangencialmente aos outros elementos da análise. Quando passamos do singular para o universal, estamos também passando do privado para o público e é nesse sentido que a mídia tem um papel fundamental. Se partimos da premissa de que mulheres sempre abandonaram ou mataram seus filhos, podemos também afirmar que o estranhamento de notícias como as das manchetes que trouxemos como corpus deste trabalho indiciam que tais acontecimentos ficavam na esfera privada. Ao passar, então, para o domínio público, via midiatização, produz-se o espetáculo (Rubim, 2004). E, ao produzir-se o espetáculo, produz-se o efeito de singularidade, exceção que reafirma o conjunto, com base no pré-construído que se reativa a partir dos genéricos e do interdiscurso. Desse modo, as manchetes produzem um efeito paradoxal: ao trazerem a exceção, corroboram para a afirmação de que A mulher, enquanto conjunto, não existe; ao mesmo tempo em que, ao considerarem a exceção tratam logo de universalizarem, criando uma outra categoria homogênea, a das mulheres-mães-monstros, recobrindo novamente o furo do grupo e escamoteando a fórmula lacaniana |
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\"Mulher joga filho na lixeira\": a discursivização da mulher-mãe infanticida na mídia\"Women throws son away in the trash can\": The discoursivization of the infanticide mother-woman on mediaAnálise do discursoDiscourse analysisDiscourse genericsGenéricos discursivosInfanticideInfanticídioLacanian psychoanalysisMother-womanMulher-mãePsicanálise lacanianaEste trabalho parte de uma inquietação acerca dos dizeres que vêm se constituindo na mídia sobre a mulher em seu papel de mãe em nossa sociedade. Trabalhando na articulação entre a Análise do Discurso (Pêcheux, 2008, 2009) e a psicanálise lacaniana, nosso corpus de pesquisa constituiu-se de manchetes sobre abandono e infanticídio, divulgadas em portais eletrônicos de notícias. Tivemos como objetivo central analisar a discursivização da mulhermãe pela mídia na contemporaneidade, a partir do conceito de genéricos discursivos (Tfouni, 2004) e também observar se as manchetes das notícias analisadas produzem efeitos que podem ser compreendidos como elementos indiciários de que A mulher, enquanto conjunto, não existe, conforme preconizou Lacan (2008b). A análise partiu da consideração de que as notícias constituem-se como acontecimentos que fogem ao discurso vigente e colocam-se como indícios a serem observados, por apontarem para um processo discursivo da/na contemporaneidade. Os efeitos da discursivização dos atos cruéis realizados por essas mães, em contraposição ao grupo de todas as mães, repousam nos genéricos que circulam pelo interdiscurso e comparecem na produção de sentidos. Ao narrar um caso fora do conjunto das mulheres-mães, a manchete e a notícia apontam para o pré-construído que se (re) afirma em torno da maternidade como algo inerente ao feminino. Por outro lado, o fato de ser possível dizer algo como o que é dito nessas notícias indica um furo no grupo de todas as mulheres e mães, um menos-um que não permite que a unidade se perpetue. Paradoxalmente, há o recobrimento dessa falta, presente na própria língua(gem), que não dá conta de nomear sujeitos como essas mulheres, se não em contraposição ao conjunto (supostamente homogêneo) de mulheres-mães. Ressaltamos ainda a construção da figura do monstro (Foucault, 2001) produzido pela mídia, que se ancora em um discurso relacionado à natureza e à cultura e produz, mais uma vez, a homogeneização, agora do grupo das mulheres-mãesmonstros. A noção de público e privado também comparece tangencialmente aos outros elementos da análise. Quando passamos do singular para o universal, estamos também passando do privado para o público e é nesse sentido que a mídia tem um papel fundamental. Se partimos da premissa de que mulheres sempre abandonaram ou mataram seus filhos, podemos também afirmar que o estranhamento de notícias como as das manchetes que trouxemos como corpus deste trabalho indiciam que tais acontecimentos ficavam na esfera privada. Ao passar, então, para o domínio público, via midiatização, produz-se o espetáculo (Rubim, 2004). E, ao produzir-se o espetáculo, produz-se o efeito de singularidade, exceção que reafirma o conjunto, com base no pré-construído que se reativa a partir dos genéricos e do interdiscurso. Desse modo, as manchetes produzem um efeito paradoxal: ao trazerem a exceção, corroboram para a afirmação de que A mulher, enquanto conjunto, não existe; ao mesmo tempo em que, ao considerarem a exceção tratam logo de universalizarem, criando uma outra categoria homogênea, a das mulheres-mães-monstros, recobrindo novamente o furo do grupo e escamoteando a fórmula lacanianaThis essay arises from a concern about the sayings about woman as regards her societal role of mother, conveyed on media. Our research corpus was composed of headlines about abandonment and infanticide conveyed on news online homepages, based on the articulation of Discourse Analysis (Pêcheux, 2008, 2009) and lacanian psychoanalysis. Our main objective was to analyze the discoursivization about mother-woman by media in contemporaneity, based on the concept of discoursive generics (Tfouni, 2004) and to observe if the analyzed headlines produce effects that may be understood as index elements that The woman, as a group, does not exist, such as advocated by Lacan (2008b). Analysis was based on the consideration that news are events that are beyond the current discourses and are index to be observed, since they point to a discursive process of/in contemporaneity. The effects of the discoursivization of the cruel acts performed by such mothers, counterposing the group of all mothers, lays on the generics that are present in the interdiscourse and act on sense production. When narrating a different case from the group mothers-women, the headlines and the news point the preconceived that is (re)affirmed about maternity as something womanly. On the other hand, the fact that it is possible to say something such as what is said on this news highlights a puncture in the group of all women and mothers, a less-one that does not allow unity to perpetuate. Paradoxically, there is the covering of such lack, existing in language itself, that does not allow to name subjects such as those women, if not against the (supposedly homogeneous) group of women-mothers. Moreover, we underline the construction of the monster figure (Foucault, 2001) produced by media, rooted to a discourse related to nature and culture, and produces, once more, homogenization, regarding the group of monsters-mothers-women. The notion of public and private is tangentially present on other elements of analysis. When we go from singular to universal, we are also moving from private to public and, in such sense, media has an essential role. If we assume that women always abandoned or killed their children, we can also state that the strangeness of news such as those of the headlines we cite as corpus of analysis, indicate that those events were kept to the private sphere. When it is conveyed to public knowledge, via media, the spectacle is produced (Rubim, 2004). And, when producing the spectacle, the effect of singularity is produced, exception that underlines the group, based on the preconceived material that is reactivated from the generics and the interdiscourse. Thus, the headlines produce a paradoxical effect: when mentioning the exception, corroborate the statement that The woman, as a group, does not exist, at the same time as, when considering the exception, make it universal, creating another homogeneous category, of the monsters-mothers-women, covering again the puncture of the group and concealing the lacanian formulaBiblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPTfouni, Leda VerdianiSantos, Kátia Alexsandra dos2015-03-31info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59137/tde-18052016-144036/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2017-09-04T21:05:29Zoai:teses.usp.br:tde-18052016-144036Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212017-09-04T21:05:29Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false |
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Este trabalho parte de uma inquietação acerca dos dizeres que vêm se constituindo na mídia sobre a mulher em seu papel de mãe em nossa sociedade. Trabalhando na articulação entre a Análise do Discurso (Pêcheux, 2008, 2009) e a psicanálise lacaniana, nosso corpus de pesquisa constituiu-se de manchetes sobre abandono e infanticídio, divulgadas em portais eletrônicos de notícias. Tivemos como objetivo central analisar a discursivização da mulhermãe pela mídia na contemporaneidade, a partir do conceito de genéricos discursivos (Tfouni, 2004) e também observar se as manchetes das notícias analisadas produzem efeitos que podem ser compreendidos como elementos indiciários de que A mulher, enquanto conjunto, não existe, conforme preconizou Lacan (2008b). A análise partiu da consideração de que as notícias constituem-se como acontecimentos que fogem ao discurso vigente e colocam-se como indícios a serem observados, por apontarem para um processo discursivo da/na contemporaneidade. Os efeitos da discursivização dos atos cruéis realizados por essas mães, em contraposição ao grupo de todas as mães, repousam nos genéricos que circulam pelo interdiscurso e comparecem na produção de sentidos. Ao narrar um caso fora do conjunto das mulheres-mães, a manchete e a notícia apontam para o pré-construído que se (re) afirma em torno da maternidade como algo inerente ao feminino. Por outro lado, o fato de ser possível dizer algo como o que é dito nessas notícias indica um furo no grupo de todas as mulheres e mães, um menos-um que não permite que a unidade se perpetue. Paradoxalmente, há o recobrimento dessa falta, presente na própria língua(gem), que não dá conta de nomear sujeitos como essas mulheres, se não em contraposição ao conjunto (supostamente homogêneo) de mulheres-mães. Ressaltamos ainda a construção da figura do monstro (Foucault, 2001) produzido pela mídia, que se ancora em um discurso relacionado à natureza e à cultura e produz, mais uma vez, a homogeneização, agora do grupo das mulheres-mãesmonstros. A noção de público e privado também comparece tangencialmente aos outros elementos da análise. Quando passamos do singular para o universal, estamos também passando do privado para o público e é nesse sentido que a mídia tem um papel fundamental. Se partimos da premissa de que mulheres sempre abandonaram ou mataram seus filhos, podemos também afirmar que o estranhamento de notícias como as das manchetes que trouxemos como corpus deste trabalho indiciam que tais acontecimentos ficavam na esfera privada. Ao passar, então, para o domínio público, via midiatização, produz-se o espetáculo (Rubim, 2004). E, ao produzir-se o espetáculo, produz-se o efeito de singularidade, exceção que reafirma o conjunto, com base no pré-construído que se reativa a partir dos genéricos e do interdiscurso. Desse modo, as manchetes produzem um efeito paradoxal: ao trazerem a exceção, corroboram para a afirmação de que A mulher, enquanto conjunto, não existe; ao mesmo tempo em que, ao considerarem a exceção tratam logo de universalizarem, criando uma outra categoria homogênea, a das mulheres-mães-monstros, recobrindo novamente o furo do grupo e escamoteando a fórmula lacaniana |
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