Sintomas depressivos em escolares na cidade de São Paulo: um estudo de análise fatorial

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Maia, Ana Paula Ferreira
Data de Publicação: 2022
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5142/tde-17042023-143133/
Resumo: A depressão é uma das principais causas de carga de doença entre os adolescentes. A identificação de sintomas depressivos, neste período de importantes transições de vida, constitui o primeiro passo para uma intervenção precoce, com potencial para mitigar resultados adversos no futuro. O Inventário de Depressão de Beck-II (BDI-II) é uma ferramenta amplamente utilizada para detectar e classificar a gravidade dos sintomas depressivos, com evidências de confiabilidade e validade entre diversas culturas. Em relação à validade fatorial do BDI-II em adolescentes, a solucao de dois fatores (dimensões cognitiva e somatico-afetiva) tem se mostrado a mais aceita. Recentemente, modelos bifatoriais são propostos como uma alternativa plausível em construtos psicológicos como a depressão. Os dados relacionados à invariância de mensuração do BDI-II entre os gêneros são limitados. Os objetivos deste trabalho foram (1) examinar a validade fatorial, e (2) avaliar a invariância das medidas do BDI-II entre os gêneros em adolescentes brasileiros. Trata-se de um estudo transversal com escolares, realizado na cidade de São Paulo, utilizando um desenho de amostragem multiestratificada e por conglomerado. Foram incluídos 1184 escolares, de 13 a 18 anos, composta por 59,1% de meninas e 72% provenientes de escolas públicas. As autoaplicações do BDI-II ocorreram em sala de aula, conduzidas por psicólogos. A validação cruzada do BDI-II foi realizada por meio de análise fatorial exploratória e confirmatória (AFE e AFC, respectivamente). Modelos bifatoriais foram estimados a partir de soluções da literatura. A invariância da medida foi avaliada usando AFC para múltiplos grupos (AFC-MG). O resultado da AFE revelou um modelo oblíquo de dois fatores (dimensões \"afetivo-cognitiva\" e \"somática\"). Quatro modelos concorrentes da literatura (três modelos simples e um bifatorial), o modelo AFE e seu modelo bifatorial correspondente foram ajustados e examinados. Todos os quatro modelos simples revelaram ajustes adequados (CFI 0,95, TLI 0,95 e RMSEA 0,06), fatores bem definidos e alta confiabilidade do conjunto de fatores. A qualidade de ajuste dos dois modelos bifatoriais foi ligeiramente superior quando comparada aos modelos simples. Análises estatísticas adicionais, como variância comum explicada, estimativa de ômega hierárquico, e percentual de correlações não contaminadas pela multidimensionalidade, indicaram um fator geral robusto com baixa confiabilidade da variância nas pontuações totais atribuída a multidimensionalidade causada pelos fatores específicos, em ambos os modelos bifatoriais. Portanto, os resultados evidenciaram a estrutura do BDI-II como, essencialmente, unidimensional. A invariância de medida foi estabelecida em nível de invariância configural, métrica e escalar. As conclusões do presente trabalho sobre a estrutura fatorial do BDI-II em escolares foram: (1) o modelo de um único fator se mostrou como a melhor representação do construto subjacente do BDI-II; (2) os índices bifatoriais revelaram um fator geral robusto e indicaram um valor limitado no uso das dimensões de depressão do BDI-II, tanto na pesquisa como na prática clínica; (3) a estrutura fatorial do BDI-II foi semelhante entre meninas e meninos adolescentes. Futuros estudo devem contemplar a diversidade etnocultural, examinar o efeito da puberdade e as dimensões de gênero
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Em relação à validade fatorial do BDI-II em adolescentes, a solucao de dois fatores (dimensões cognitiva e somatico-afetiva) tem se mostrado a mais aceita. Recentemente, modelos bifatoriais são propostos como uma alternativa plausível em construtos psicológicos como a depressão. Os dados relacionados à invariância de mensuração do BDI-II entre os gêneros são limitados. Os objetivos deste trabalho foram (1) examinar a validade fatorial, e (2) avaliar a invariância das medidas do BDI-II entre os gêneros em adolescentes brasileiros. Trata-se de um estudo transversal com escolares, realizado na cidade de São Paulo, utilizando um desenho de amostragem multiestratificada e por conglomerado. Foram incluídos 1184 escolares, de 13 a 18 anos, composta por 59,1% de meninas e 72% provenientes de escolas públicas. As autoaplicações do BDI-II ocorreram em sala de aula, conduzidas por psicólogos. A validação cruzada do BDI-II foi realizada por meio de análise fatorial exploratória e confirmatória (AFE e AFC, respectivamente). Modelos bifatoriais foram estimados a partir de soluções da literatura. A invariância da medida foi avaliada usando AFC para múltiplos grupos (AFC-MG). O resultado da AFE revelou um modelo oblíquo de dois fatores (dimensões \"afetivo-cognitiva\" e \"somática\"). Quatro modelos concorrentes da literatura (três modelos simples e um bifatorial), o modelo AFE e seu modelo bifatorial correspondente foram ajustados e examinados. Todos os quatro modelos simples revelaram ajustes adequados (CFI 0,95, TLI 0,95 e RMSEA 0,06), fatores bem definidos e alta confiabilidade do conjunto de fatores. A qualidade de ajuste dos dois modelos bifatoriais foi ligeiramente superior quando comparada aos modelos simples. Análises estatísticas adicionais, como variância comum explicada, estimativa de ômega hierárquico, e percentual de correlações não contaminadas pela multidimensionalidade, indicaram um fator geral robusto com baixa confiabilidade da variância nas pontuações totais atribuída a multidimensionalidade causada pelos fatores específicos, em ambos os modelos bifatoriais. Portanto, os resultados evidenciaram a estrutura do BDI-II como, essencialmente, unidimensional. A invariância de medida foi estabelecida em nível de invariância configural, métrica e escalar. As conclusões do presente trabalho sobre a estrutura fatorial do BDI-II em escolares foram: (1) o modelo de um único fator se mostrou como a melhor representação do construto subjacente do BDI-II; (2) os índices bifatoriais revelaram um fator geral robusto e indicaram um valor limitado no uso das dimensões de depressão do BDI-II, tanto na pesquisa como na prática clínica; (3) a estrutura fatorial do BDI-II foi semelhante entre meninas e meninos adolescentes. Futuros estudo devem contemplar a diversidade etnocultural, examinar o efeito da puberdade e as dimensões de gêneroDepression is one of the leading causes of disease burden among adolescents. The identification of depressive symptoms at this life stage constitutes the first step toward an early intervention with the potential to mitigate adverse outcomes later in life. The Beck Depression Inventory-II (BDI-II) is a widely used tool to detect and rate the severity of depressive symptoms, with evidence of reliability and validity across cultures. Regarding the factor validity of the BDI-II in adolescents, the two-factor solution (cognitive and somatic-affective dimensions) has been shown to the most representative. Recently, bifactor models have been proposed as a plausible alternative in psychological constructs such as depression. Data related to measurement invariance across gender is limited. This study aimed: (1) to examine the factor validity, and (2) to evaluate gender-related measurement invariance of the BDI-II in Brazilian adolescents. This was a cross-sectional school-based study, conducted in the city of Sao Paulo, using a multistage stratified cluster-randomized sampling design. A total of 1,184 scholars, aged 13-18 years, 59.1 % girls, and 72% from public schools were included. Self-report of the BDI-II took place in the classroom, conducted by psychologists. Cross-validation of the BDI-II was performed through exploratory and confirmatory factor analysis (EFA and CFA, respectively). Two bifactor models were estimated from solutions in the literature. Measurement invariance was evaluated using multigroup-CFA (MG-CFA). EFA suggested an oblique two-factor model (affective-cognitive and somatic\" dimensions). Four competing models from the literature (three simple models and one bifactor model), the EFA model and its corresponding bifactor model were fitted and examined. All four simple models revealed adequate and similar fitness (CFI 0,95, TLI 0,95 e RMSEA 0,06), well-defined factors, and good reliability. The goodness-of-fit of the two bifactor models was slightly superior when compared to simple models. Additional statistical analyses, such as common explained variance, hierarchical omega estimate, and percentage of correlations uncontaminated by multidimensionality, indicated a robust general factor with low reliable variance in total scores attributed to multidimensionality caused by the group factors in both bifactor models. Therefore, results supported an essentially unidimensional structure of the BDI-II. Measurement invariance was established at the level of configural, metric and scalar invariance. The conclusions of the present study on the factor structure of the BDI-II in school-age adolescents were: (1) the single-factor model proved to be the best representation of the underlying construct of the BDI-II; (2) the bifactor indices revealed a robust general factor and the use of the depression subgroups of the BDI-II appears therefore of limited value in research and in clinical practice; (3) the factor structure of the BDI-II was similar between female and male adolescents. Future studies should contemplate ethnocultural diversity, examine the effect of puberty and gender dimensionsBiblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPPang, Wang YuanMaia, Ana Paula Ferreira2022-12-01info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5142/tde-17042023-143133/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2023-05-05T17:55:01Zoai:teses.usp.br:tde-17042023-143133Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212023-05-05T17:55:01Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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description A depressão é uma das principais causas de carga de doença entre os adolescentes. A identificação de sintomas depressivos, neste período de importantes transições de vida, constitui o primeiro passo para uma intervenção precoce, com potencial para mitigar resultados adversos no futuro. O Inventário de Depressão de Beck-II (BDI-II) é uma ferramenta amplamente utilizada para detectar e classificar a gravidade dos sintomas depressivos, com evidências de confiabilidade e validade entre diversas culturas. Em relação à validade fatorial do BDI-II em adolescentes, a solucao de dois fatores (dimensões cognitiva e somatico-afetiva) tem se mostrado a mais aceita. Recentemente, modelos bifatoriais são propostos como uma alternativa plausível em construtos psicológicos como a depressão. Os dados relacionados à invariância de mensuração do BDI-II entre os gêneros são limitados. Os objetivos deste trabalho foram (1) examinar a validade fatorial, e (2) avaliar a invariância das medidas do BDI-II entre os gêneros em adolescentes brasileiros. Trata-se de um estudo transversal com escolares, realizado na cidade de São Paulo, utilizando um desenho de amostragem multiestratificada e por conglomerado. Foram incluídos 1184 escolares, de 13 a 18 anos, composta por 59,1% de meninas e 72% provenientes de escolas públicas. As autoaplicações do BDI-II ocorreram em sala de aula, conduzidas por psicólogos. A validação cruzada do BDI-II foi realizada por meio de análise fatorial exploratória e confirmatória (AFE e AFC, respectivamente). Modelos bifatoriais foram estimados a partir de soluções da literatura. A invariância da medida foi avaliada usando AFC para múltiplos grupos (AFC-MG). O resultado da AFE revelou um modelo oblíquo de dois fatores (dimensões \"afetivo-cognitiva\" e \"somática\"). Quatro modelos concorrentes da literatura (três modelos simples e um bifatorial), o modelo AFE e seu modelo bifatorial correspondente foram ajustados e examinados. Todos os quatro modelos simples revelaram ajustes adequados (CFI 0,95, TLI 0,95 e RMSEA 0,06), fatores bem definidos e alta confiabilidade do conjunto de fatores. A qualidade de ajuste dos dois modelos bifatoriais foi ligeiramente superior quando comparada aos modelos simples. Análises estatísticas adicionais, como variância comum explicada, estimativa de ômega hierárquico, e percentual de correlações não contaminadas pela multidimensionalidade, indicaram um fator geral robusto com baixa confiabilidade da variância nas pontuações totais atribuída a multidimensionalidade causada pelos fatores específicos, em ambos os modelos bifatoriais. Portanto, os resultados evidenciaram a estrutura do BDI-II como, essencialmente, unidimensional. A invariância de medida foi estabelecida em nível de invariância configural, métrica e escalar. As conclusões do presente trabalho sobre a estrutura fatorial do BDI-II em escolares foram: (1) o modelo de um único fator se mostrou como a melhor representação do construto subjacente do BDI-II; (2) os índices bifatoriais revelaram um fator geral robusto e indicaram um valor limitado no uso das dimensões de depressão do BDI-II, tanto na pesquisa como na prática clínica; (3) a estrutura fatorial do BDI-II foi semelhante entre meninas e meninos adolescentes. Futuros estudo devem contemplar a diversidade etnocultural, examinar o efeito da puberdade e as dimensões de gênero
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